quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Qual é o retorno mesmo?

Quanto determinado ativo rende em um determinado período? A pergunta parece simples, mas a distribuição de dividendos e bonificações acaba por torná-la mais complexa. O que determina qual será o retorno é o que será feito com os dividendos.

Fiz uma simulação com VALE5 imaginando um investidor que tenha comprado um lote de 100 ao preço de fechamento de 03/01/2000.

Primeiro, algumas informações sobre VALE5 como no dia 25/07/2008 (dia em que fiz essa análise):

O preço em 03/01/2000 era 48,60.
Ocorreram três desdobramentos, o primeiro em 18/08/2004 (1:3), o segundo em 19/05/2006 (1:2) e outro em 31/08/2007 (1:2).
Logo, o preço ajustado apenas por desdobramento é de 4,05.
Nesse período, foram distribuídos dividendos em 16 ocasiões.
O preço ajustado por todos os proventos é de 2,71193469
O preço do dia final da análise era de 37,98.

Todas as análises são feitas supondo não haver corretagem nem emolumentos.

Uma análise comum da hipótese do investidor não reaplicar os dividendos é dividir 37,98 por 4,05, dando um retorno de 837,78%. Essa análise é incorreta, pois implica que não apenas o investidor não reaplicou o dividendo, como o jogou fora. Não pode ser suposto que o investidor consumiu esse capital, já que devemos considerar tudo como um sistema fechado (ou a conclusão é óbvia: você terá mais dinheiro se reinvestir do que gastar). Chamemos essa alternativa de Fogueira, com os dividendos sendo reinvestidos a uma taxa de -100%.

Outra possibilidade é que o investidor pegue os dividendos e os guarde, sem investi-lo em nada (chamemos essa alternativa de Colchão). O cálculo do retorno é simples: dividir o capital no final (o valor das ações mais ou valor do “colchão”) e dividir pelo capital inicial (4860). Nesse caso, o retorno do investidor é de 941,77% e com R$ 5.053,92 no colchão. Na prática, o que se está fazendo é investindo os dividendos com retorno nominal de 0%.

Mas quem deixa dinheiro debaixo do colchão? Ninguém que saiba que dinheiro tem valor no tempo, ou seja, rende juros aplicado a baixo ou zero risco. Considere que o investidor possa investir à taxa CDI/CETIP. Nesse caso, o rendimento é de 1.014,63%, com R$ 8.954,87 em renda fica. Nos três casos, a quantidade final de ações é de 1.200 (os 100 originais vezes 3 vezes 2 vezes 2) valendo R$ 45.576.

Ou ainda, muito naturalmente o investidor poderia reaplicar comprando mais VALE5. A análise é feita supondo que o investidor receba o dinheiro no dia em que a ação fica ex-dividendo (o que nem sempre acontece) ou que possa tomar emprestado (talvez dele próprio) e comprar as ações. Também é suposto que o investidor compre ao preço da abertura do dia em que ficou ex-dividendo e que ele não tenha poder de mudar o preço do leilão de abertura. O resultado final é um rendimento de 1.252,52% com 1.730,22 ações. É ruim terminar com número quebrado, mas a solução desse problema tiraria generalidade. O exemplo é com 100, mas pode ser muito bem com outro número.

O retorno teórico usando o preço reajustado por proventos (2,71193469) resulta em um rendimento de 1.260,7%. A diferença é explicada pela diferença no preço reajustado do dia ex-dividendo e o preço de abertura do dia seguinte, por variações de mercado e arredondamento (não existe preço real de 2,71193469).

O investidor poderia, alternativamente, usar os dividendos para comprar ações de outra empresa. Nada impede, nem teoricamente nem na prática.

Que tal comprar a ação de maior liquidez no começo do estudo (2000), TNLP4? Se fizesse isso, reaplicando os dividendos da TNLP4 na própria, o retorno seria de 955,42%, pior do que se aplicasse os dividendos em renda fixa. Isso acontece porque o rendimento da TNLP4 no período, reaplicando os dividendos, foi de meros 49,87%.

Ou poderia investir em CSNA3. Se fizesse isso, reaplicando os dividendos da CSNA3 na própria, o retorno seria de 1.438,17%.

Claro que ex-ante não era possível saber os retornos de TNLP4, VALE5 e CSNA3. O quero dizer (e essa é a conclusão geral do post) é que o retorno no período depende do que o investidor faça com o dividendo e que continuar a investir na mesma empresa é só mais uma opção (talvez, a referência).

Ou seja, reinvestir os dividendos na mesma empresa nem sempre será a melhor alternativa. Se outros ativos subirem mais, teria sido melhor investir nesses outros ativos (pense no caso de o investidor em questão tivesse comprado TNLP4). Se o ativo tiver um desempenho pior do que renda fixa, teria sido melhor investir em renda fixa (o investidor tem prejuízo econômico). Se a ação só cai (ou mesmo quebre), até o bom e velho colchão seria uma boa. Nunca queimar os dividendos em uma fogueira é melhor (no máximo, empata no caso de reaplicação e a empresa quebrar).

Se alguém perguntar qual foi o rendimento de VALE5, o que responder? Ficamos com o retorno teórico, mesmo que ele raramente se realize pelas razões aludidas acima. Mas sabemos agora que nem todos que investiram em VALE5 no mesmo período tiveram o mesmo rendimento. Os controladores, por exemplo, certamente não tiveram, já que estes têm uma grande dificuldade em comprar mais ações. Ou, ainda, pense que nem todos podem reaplicar, senão não tem ações suficientes para todo mundo!

Resumindo (o Valor inicial era 4860). Para enxergar melhor, é só clicar na imagem.

Um comentário:

  1. Eu coloquei uma planilha no rapidshare para quem quiser entender melhor o que fiz

    http://rapidshare.com/files/180901605/Qual_e_mesmo_o_retorno.xls

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