quinta-feira, 30 de abril de 2009

Balanços dos Clubes Paulistas de Futebol

Apresento alguns destaques dos demonstrativos financeiros dos quatro grandes clubes de futebol de São Paulo. Não trato dos demais clubes de São Paulo para não me estender muito. Não trato de clubes de outros estados não apenas por bairrismo, mas por não ter esses balanços. Os números do São Paulo, Corinthians e Santos foram tirados dos sites dos clubes (no caso do São Paulo, de outras fontes também) e os do Palmeiras do Diário Oficial de São Paulo. No Rio de Janeiro, apenas o Flamengo disponibiliza o balanço em seu site (ainda não divulgou o de 2008), em Minas Gerais apenas o Cruzeiro (sem 2008) e no Rio Grande do Sul não encontrei os balanços. Nos demais estados, não procurei.

Os valores estão sempre em R$ mil.



Nos últimos 6 anos, o São Paulo foi o que teve mais receita líquida exceto em 2005, quando o Santos teve a maior receita, mas por conta da venda de jogadores (como o Robinho). Tirando as receitas com venda de jogadores (valor muito volátil), o São Paulo sempre teve a maior receita.

Nesse quesito, a comparação com o Corinthians é importante, já que este possui, notoriamente, a maior torcida do estado. Nas receitas declaradas pelo Corinthians no departamento de futebol, os valores são próximos (entre parênteses, o quanto a receita do São Paulo é maior): Direitos de transmissão de TV (+1.689), Patrocínio, incluindo Lei de Incentivo (+2.717) e Arrecadação (+168), somando uma diferença de 4.574. Mas o São Paulo teve outras receitas como premiações em campeonatos (a premiação pela Série B do Corinthians deve estar em Outras Receitas), receita com Projeto Sócio Torcedor e Licenciamento de Marca. O Corinthians tem maior receita no clube social e esporte amador, mas o São Paulo tem receitas com o estádio (19.243).

Em 2004, o Palmeira tinha o maior Patrimônio Líquido, seguido de São Paulo e Santos. O São Paulo passou a ter mais Patrimônio por não ter tido prejuízo entre 2004 e 2008 e o Palmeiras ter tido vários prejuízos. O lucro somado de 2003 a 2008 do Palmeiras foi negativo (-82.422), assim como o lucro somado do Corinthians (-50.485). Apesar de ter acumulado lucro, o Santos teve o Patrimônio reduzido por conta da amortização de direitos federativos (o clube registrava os direitos federativos em seu ativo realizável a longo prazo, o que não é muito razoável).

Análises








Liquidez Circulante = Ativo Circulante/Passivo Circulante
D/K = Dívida Bancária/(Dívida Bancária + Patrimônio Líquido).
g = Crescimento (growth). O crescimento de 5 anos é uma média geométrica.

A liquidez circulante de todos esses clubes está abaixo de 1. Isso significa que tudo o que os clubes têm a receber até os próximos 360 dias é insuficiente para pagar tudo o que devem até os próximos 360 dias. Esse número, sendo realista, não é tão preocupante, já que os clubes há tempos adiam o pagamento de alguns passivos (direito de imagem, obrigações tributárias, etc.). Mais preocupante é a relação D/K, já que os bancos são credores menos complacentes. Santos e Corinthians estão em pior situação com um endividamento elevado. É pior para entidades sem fins lucrativos tomar empréstimo bancário já que não pagam imposto de renda e, por isso, não há benefício fiscal da dívida.

A Ponte Preta, não inclusa na análise, é um caso interessante (e trágico). A liquidez circulante é de 0,01, mas a dívida bancária é zero. Essa situação não é nova e não parece que vá mudar, mas os credores não requisitaram a falência do clube. Esse caso é parecido com a Pro-Metalurgia (antiga Bicicletas Caloi), só que com dívida elevadíssima com debêntures, que parece que nunca serão pagos, mas sem que os debenturistas peçam a falência da empresa.

O crescimento de receitas nos últimos 5 anos subiu em todos os casos, o São Paulo crescendo menos (por já ter uma receita elevada). Em 2008, o número apresentado é enganoso, já que leva em conta as receitas com venda de jogadores. Corinthians e São Paulo venderam bem menos jogadores, o que levou a uma queda na receita. Desconsiderando essas receitas, a receita de São Paulo, Palmeiras e Corinthians subiu (26,82%, 30,52% e 44,71% respectivamente) e a do Santos teve uma pequena queda (-1,83%). Não pude calcular o crescimento em 5 anos sem venda de jogadores para todos os clubes, já que apenas um clube divulgou esse número em 2003.

O crescimento de lucros em 2008 do São Paulo e do Palmeiras desconsidera em 2007 as despesas extraordinárias com Timemania (os demais não apresentaram esse número). O único resultado realmente positivo é o do Corinthians, com aumento no lucro. O que aconteceu com o Santos foi uma diminuição no prejuízo. Em 5 anos, o Corinthians foi do prejuízo ao lucro e o Palmeiras diminuiu o prejuízo.

Uma explicação sobre os cálculos. O prejuízo do Santos passou de -36.612 para -24.476. A redução no prejuízo (12.136) representa 32,41% do prejuízo de 2007. Em 2003, o lucro do Santos era de 42.956 e passou para -24.476. O lucro caiu 100% mais 43,02% (24.476/42.956) e isso representa uma queda de 20,83% ao ano. Esse número não faz tanto sentido, já que é equivalente a uma queda no lucro de 42.956 para 13.360, mas é o melhor número que consigo apresentar (com juros compostos, é impossível um número positivo se tornar um número negativo).

O prejuízo do Palmeiras em 2003 era de 15.254 e passou para 9.453. Isso representou uma redução de 38,03% entre os períodos. A média geométrica é (1-38,03%) elevado a 1/5 trocando o sinal.

Alguém poderia se perguntar porque uma entidade sem fins lucrativos deveria se importar com lucro. A diferença entre uma organização com e sem fins lucrativos é a destinação do lucro/superávit. Nas empresas, parte do lucro é reinvestida na empresa (aumentando o Patrimônio Líquido) e parte é distribuída aos acionistas. Em organizações sem fins lucrativos, todo o superávit é reinvestido na própria organização, nada indo, supõe-se, aos fundadores. Se um clube ou uma ONG sistematicamente gera déficit, ou terá problemas operacionais (não será competitivos ou não atenderá seu público de forma satisfatória) ou terá que ser financiado externamente (é como se um sócio tivesse que colocar dinheiro em uma empresa para que esta feche suas contas). Os clubes devem tentar sempre ter superávit para terem condições de financiar melhorias em seus times e não depender de dívida (que pode causar problemas financeiros para o clube) ou parceiros (que nem sempre honram essa denominação).

domingo, 26 de abril de 2009

Harvard Business Review Março/09

Caso HBR Brasil - O ano em que o crédito parou – Getúlio Bittencourt
O caso é sobre uma empresa moveleira que se encontra em dificuldades de financiar capital de giro por conta da crise de 2008. É uma empresa que vinha em franca expansão (cresceu 20 vezes em 20 anos, segundo o texto), com tecnologia de ponta e bem posicionada no mercado, atendendo a todas as classes sociais. Com a retração da indústria e os problemas de crédito, passou a ter dificuldades que podem comprometer o futuro da empresa.

O dono da empresa pensou em duas opções. Ou vende o controle para uma empresa estrangeira que tenha selecionado o Brasil como seu mercado-alvo ou faz uma parceira com um grupo de Curitiba que deseje atuar em São Paulo.

A pergunta final é qual das alternativas escolher, respondida por quatro comentaristas (três consultores e um sócio de banco). As opiniões foram em direção à parceira porque esse não parece ser o momento para vender a empresa e porque a empresa pode crescer mais fazendo a parceria para depois ir para o exterior. Como, ao que parece, o problema é de curto prazo, e não de longo prazo, a parceria seria suficiente para garantir a sobrevivência sem que o dono tenha que vender um ativo valioso a um baixo preço. Porém, a parceria pode não ser o suficiente ou pode trazer um alívio apenas temporário. A alternativa de vender a um grupo estrangeiro fica como uma opção caso a primeira falhe. Caso a primeira opção seja adotada e falhe, o dono da empresa pode ter que vender a empresa por menos ou a empresa pode ir à falência, o que não acontece na segunda opção (se a empresa continuar em dificuldades, os novos donos que resolvam).

Óbvio que os nomes reais foram mudados, assim como alguns dados para evitar que a empresa em questão fosse identificada.

6 grandes erros na gestão de riscos – René Stultz

O artigo trata de erros comuns na gestão de risco, tema que adquiriu maior relevância com a crise do subprime e todos os problemas do sistema financeiro. Para ser conciso, vou listar os seis erros a que o título se refere com breves explicações.

1) Depender de dados históricos: O principal problema de usar dados históricos para projetar médias, volatilidade e correlações futuras é que o futuro pode ser diferente do passado e a distribuição que se supõe (em geral, normal) pode ser outra no futuro. Isso foi especialmente problemático no caso do subprime, já que os dados ou não consideravam períodos de baixa (se muito curtos) ou não consideravam o efeito das inovações na securitização.

2) Usar indicadores limitados: O autor fala das limitações do Value-at-Risk (VaR), em especial não levar em conta o que acontece nas vezes em que o prejuízo supera o VaR e nem levar em conta a possibilidade de eventos catastróficos com baixa probabilidade. Uma outra deficiência dos indicadores diários (como o VaR costuma ser) é de supor que as posições podem sempre ser vendidas ou protegidas para abandonar uma posição que tenha excedido o VaR. Mas nas crises, a liquidez some e deixa os compradores de um ativo na posição de ter que segurar mais o ativo, mantendo-se exposto ao risco, ou ter que vendê-lo por um preço muito baixo.

3) Ignorar riscos identificáveis: O autor cita quatro problemas na escolha dos riscos a serem gerenciados. A) A categorização dos riscos (de crédito, operacional, de mercado, etc.) em compartimentos estanques, quando na verdade podem ser muito correlacionados. B) Risco trazido pelo hedging quando a contraparte pode ter problemas financeiros caso o risco se manifeste, como na crise da Rússia em 1998. C) Supõe-se que os participantes do mercado sejam muitos e que sejam tomadores de preços, mas em alguns casos essa premissa pode não ser verdadeira. D) O valor do ativo em questão pode não ter uma definição consensual (como das obrigações subprime securitizadas) ou o valor dos ativos da contraparte podem ser desconhecidos (problema que levou o Bear Stearns à falência).

4) Ignorar riscos ocultos: Quem gerencia o risco pode não estar com uma visão completa dos riscos aos quais a companhia está exposta. Os tomadores de risco dentro da empresa podem ocultar os riscos que tomaram, os sistemas internos podem ser ineficientes, o risco pode não estar sendo informado e os processos podem ser rápidos demais para serem monitorados.

5) Falhar na comunicação: A comunicação dos riscos entre o nível tático e o estratégico também pode falhar. A informação pode não fluir hierarquia acima, pode ser transmitida através de muitos intermediários ou simplesmente os altos administradores podem não se importar com isso. Outro problema é fazer com que o sistema de controle seja entendido, já que os altos administradores podem não entender totalmente os aspectos técnicos e ou aceitar ou rejeitar o sistema incondicionalmente.

6) Não gerenciar em tempo real: Certos riscos mudam rapidamente e nem sempre os sistemas de controle acompanham essa velocidade. Uma posição de hedge adequada no começo do dia pode se tornar perigosa no final do mesmo dia.

Jogos de opções – Nelson Ferreira, Jayanti Kar e Lenos Trigeorgis
O artigo apresenta uma técnica de avaliação de projetos que combina Opções Reais com Teoria dos Jogos. Os autores apontam as falhas do modelo de Fluxo de Caixa Descontado (falta de flexibilidade) e de Opções Reais (não leva em conta o movimento dos concorrentes). A vantagem da técnica apresentada e ilustrada é que combina a flexibilidade das Opções Reais e o modelamento do comportamento dos concorrentes da Teoria dos Jogos. A primeira técnica produz os resultados esperados para cada cenário (no exemplo, investir ou não) para cada empresa e a segunda analisa os resultados em uma matriz de resultados.

Apesar de apresentar uma ideia muito promissora, o artigo tem dois problemas. Um é que não usou propriamente Opções Reais, apenas Árvores de Decisões binominais. A primeira compara o projeto com uma opção (adiar o projeto, por exemplo) a uma carteira com o projeto sem opção e com ativos livre de risco. A segunda calcula as diferentes possibilidades e calcula um retorno esperado ponderado pelas probabilidades. Isso não torna a técnica pior, só não pode se dizer que usa Opções Reais. O segundo problema é usar uma taxa livre de risco para trazer os fluxos de caixa esperados a valor presente. Só se pode descontar à taxa livre de risco fluxos livres de risco ou equivalentes de certeza. Retornos ponderados pela probabilidade não são nem um nem o outro.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Abertura individual de salários nas companhias abertas

Na “Nova 202” que prevê substituir o Informativo Anual pelo Formulário de Referência, há a previsão de abertura individual dos salários dos altos executivos das companhias abertas, além da divulgação da proporção de remuneração fixa e variável e da política de remuneração da empresa.

Essa é uma proposta polêmica. A CVM abriu audiência pública para discutir essa e outras questões da “Nova 202”, audiência encerrada em 30/03, e agora analisa as sugestões. Abaixo, argumentos a favor e contrários a essa norma. Apesar de haver muitos argumentos contrários, há também muitos contra-argumentos a estes.

Argumentos a favor:
“Os acionistas têm direito de saber”:
Esse é um argumento totalmente válido. Como os salários (incluindo dos executivos) são despesas que reduzem o lucro dos acionistas, esses têm o direito de saber como essa verba está sendo gasta.

Antecipação de problemas: Nell Minow, em entrevista ao Valor Econômico do dia 4/03/09, argumentou que a divulgação individual ajudou a detectar mais precocemente o escândalo WorldCom.

Contra-argumento: A divulgação dos salários não evitou esse escândalo.

Relações: Os investidores fazem relações entre remuneração excessiva e governança fraca e o montante de remunerações com o risco da empresa.

Melhores práticas internacionais: Diversos países como Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha já adotam essa medida há tempos. O Brasil, seguindo o mesmo caminnho, estaria apenas adotando as “melhores práticas” de governança.

Argumentos contrários:
Segurança: A abertura individual dos salários iria expor os executivos a maiores riscos, já que os possíveis seqüestradores conheceriam seus salários.

Contra-argumento: Os executivos já estão expostos no momento em que são revelados seus nomes, locais de trabalho e, às vezes, seus rostos. Se o administrador for também acionista e tiver mais de 5% da companhia, essa participação consta no atual IAN e basta uma conta para se estimar seu patrimônio. Abrir os salários não adicionaria mais risco. Na África do Sul, que também tem problemas de segurança pública, não foi constatado um aumento nos crimes contra executivos por conta da abertura de salários.

Apenas política é suficiente: Alguns argumentam que divulgar apenas a política de remuneração (de que forma é estabelecida, proporção fixo/variável, forma de remuneração, etc.) já seria suficiente.

Contra-argumento: Papel aceita tudo. Sem abertura dos salários, não é possível certificar-se de que a política está sendo corretamente aplicada ou é como está descrita. É necessário os valores individuais para se verificar a eficiência das políticas de remuneração.

Agregado é o suficiente: Outros argumentam que a discriminação dos salários por grupos (diretoria, conselho de administração, conselho fiscal, etc.) já seria o suficiente.

Contra-argumento: Imagino que a variabilidade dos salários dentro desses grupos não seja tão grande, de forma que uma média revela o quanto cada um ganha.

Privacidade: É de se respeitar que as pessoas não desejem que os outros saibam o quanto ele ou ela ganha, principalmente em um país como o Brasil.

Contra-argumento: Mais importante ainda é o direito dos acionistas de saberem como o dinheiro deles é gasto.

Desvantagem competitiva: A abertura de salários refere-se apenas às companhias abertas, regulamentadas pela CVM. Dessa forma, as empresas fechadas não precisam divulgar essas informações e podem tirar vantagens com isso na competição por mercados e por executivos, que poderiam preferir trabalhar em uma empresa fechada por conta da privacidade.

Contra-argumento: A divulgação individual poderia tornar menos atraente ser alto executivo em uma empresa de capital aberto, mas há ainda certos benefícios, como os pacotes de remuneração variável. Segundo Hays Group (apud Capital Aberto nº. 66), a remuneração variável nas companhias abertas é por volta de 20% maior do que nas companhias fechadas. Além do mais, trabalhar em uma empresa aberta traz mais projeção ao executivo.

Não evitou a crise: Esse me parece o argumento mais forte. Nos Estados Unidos, há a abertura individual dos salários, há a divulgação das políticas e, apesar disso, houve o componente “remuneração variável” na crise do subprime. Alguns dos problemas que essa norma supostamente deveria resolver não serão resolvidos.

Escalada dos salários: Constatou-se que, nos Estados Unidos, as remunerações subiram com a divulgação individual. Como ninguém gostaria de ficar “abaixo da média”, os altos executivos poderiam exigir salários maiores, criando uma escalada de aumentos salariais.

Contra-argumento: Os lucros cresceram junto com os salários, não faço idéia se na mesma proporção. Ou seja, outros fatores além da abertura dos salários podem ter influenciado a elevação dos salários.

Os investidores não mostraram interesse: Segundo o presidente da Abrasca, os investidores perguntam sobre os tipos de remunerações que são pagas, mas não sobre o montante pago para cada administrador. Ele ainda diz que essa é mais uma questão de curiosidade do que de transparência, o que me parece um exagero.

Contra-argumento: Os investidores podem não estar perguntando isso por não saberem quão útil essa informação pode ser, não por achá-la inútil.

Controle concentrado: Um argumento é de que essa discussão é desnecessária, já que o controle acionário das empresas é concentrado e que os controladores já monitoram a remuneração dos administradores.

Contra-argumento: Há os casos em que o controlador é também administrador e poderia aumentar seu próprio salário.

Bibliografia sobre o tema:
Capital Aberto nº. 66
CVM: Edital de Audiência Pública nº 07/2008
Exame nº 936: Em nome da transparência
Folha de São Paulo: Empresas pagam R$ 1,2 bi a executivos
Valor Econômico: Empresas são contra abertura de salários – 7/01/2009. Comentado por César Tibúrcio em seu blog
-------------------Salários Polêmicos – 4/03/2009
-------------------Divulgação incentivou alta de salários – 4/03/2009

terça-feira, 14 de abril de 2009

Capital Aberto nº. 68

Banido na crise
No Brasil e em outros países, a prática do guidance (“qualquer informação prospectiva de natureza quantitativa ou qualitativa fornecida pela companhia sobre seu desempenho futuro”, segundo o CODIM) está sendo abandonada. A justificativa é que o cenário atual é incerto demais para qualquer previsão por parte da empresa, que o erro de previsão seria muito grande. Em um artigo que eu comentei aqui, Alfred Rappaport já não recomendava o guidance porque os administradores poderiam gerenciar o lucro (de forma ruim ou menos ruim) de tal forma a artificialmente atingir as metas propostas. A reportagem fala dessa questão com o depoimento do diretor de RI de uma empresa brasileira.

A revisão do IAN (Nova 202) prevê que as empresas que desejarem divulgar guidance deverão fazê-lo no Formulário de Referência (o novo IAN) e devem seguir algumas regras, como divulgar metodologia e atualizar as informações.

Por fim, a reportagem fala de um estudo da Thompson Reuters que concluiu que as empresas que divulgam guidance possuem índice P/L 11% superior às empresas que não divulgam dentro de um setor onde a maioria não divulga, indicando a existência de um prêmio por risco (aumentando o custo de capital) nas empresas sem guidance. É para se tomar com ceticismo essa conclusão: pegar apenas empresas de um setor não controla por todas as diferenças que afetam o P/L ou qualquer outro múltiplo.

Governança de Ponta
A reportagem trata do King Report, o código de melhores práticas de governança da África do Sul, em vias de ter uma terceira edição, considerado como um dos mais avançados do mundo.

O código já recomendava a abertura individual de salários dos executivos em suas edições anteriores, algo que o código brasileiro do IBGC pensa em recomendar também e que a CVM estuda tornar lei ou não. Recomenda que a política de remuneração seja definida em assembleia, mas a terceira versão exclui a exigência de aprovação prévia do montante a ser pago (o say on pay), sob a alegação (pouco convincente) de que isso é desnecessário já que a maioria das empresas sulafricanas (como as brasileiras) têm um controlador definido.

O código ainda não recomenda que os conselheiros sejam remunerados com stock options. Ainda sobre os conselhos, o código recomenda maior transparência sobre o trabalho dos conselheiros e recomenda que executivos da diretoria façam parte do conselho, em especial o CEO e o CFO. Por fim (ao menos, o que consta na reportagem), o código propõe que números relativos à sustentabilidade constem das demonstrações financeiras (e não em um relatório separado) e que a administração divulgue suas estratégias sobre o assunto.

Fala-se muito em “sugerir” e “propor” já que os códigos de melhores práticas garantem certa flexibilidade às empresas quanto ao cumprimento das regras (já que não é uma lei). As empresas podem até não seguir as recomendações, mas deve explicar porque não o faz. É o conceito do “comply or explain” ou “apply or explain”, que dá nome à uma seção interessante da revista (Pratique ou Explique, não tão sonoro como em inglês).

Avaliação de Projetos e risco: Quando VPL não é o suficiente
A regra geral para se avaliar projetos de investimento é que o Valor Presente Líquido do projeto seja superior a 1 ou que a Taxa Interna de Retorno seja positiva (um resultado implica o outro). Mas o autor aponta uma situação exemplar: Imagine um projeto que exija investimento de $90 milhões e possa gerar $102 milhões em lucro ou $100 em perdas com igual probabilidade. O VPL do projeto é de $1 milhão, mas não parece sensato que uma empresa aceite esse projeto pelo seu elevado risco. Esse projeto aumenta o valor da empresa em R$ 1 milhão com os seus fluxos de caixa, mas diminui o valor da empresa ao aumentar o risco da empresa ter problemas financeiros.

Para solucionar a análise do investimento, o autor sugere o uso de técnicas como o Cash flow at Risk ou o Value at Risk para analisar o aumento de risco financeiro para a empresa e para medir a máxima volatilidade que poderia ser permitida. O uso de seguros poderia tornar um projeto arriscado mais atrativo; apesar do prêmio pago pelo seguro ser maior do que a perda esperada (diminuindo a rentabilidade do projeto), o seguro poderia diminuir o risco da empresa ter problemas financeiros por conta do projeto, criando valor dessa forma.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Resultados 2008 (II)

Revisei os números para valor de mercado das companhias. O P/L agregado passou a ser de 10,96 (com a inclusão de Itaú Unibanco no lugar do Itaú, Unibanco já não constava na lista anterior) ou 10,74 contando com o Itaú separado. O P/VPA foi de 1,92 ou 1,89, nas mesmas condições acima. Só preciso confirmar as quantidades de ações das empresas em 31/03/2009 (confirmação que virá nos balanços do primeiro trimestre de 2009) para fechar de vez os números.

Não há um critério consensual de o que seria uma empresa grande (ou muito grande, se preferir). Nem qual medida usar (Receita, Ativo Total, Valor de Mercado, Patrimônio Líquido, etc.) nem qual parâmetro (acima de US$ 1 bilhão é um padrão comum, mas há muito tempo usa-se esse valor sem ajustá-lo!).

Sobre as medidas: Receita Líquida tem a fraqueza de não poder incluir bancos, Ativo Total privilegia indevidamente os bancos ou holdings de banco (por esse critério, a maior empresa seria a Itaúsa). Patrimônio Líquido poderia ser usado (pode ser aplicado para bancos e não privilegia os bancos), mas melhor ainda é usar o valor de mercado da empresa (mais precisamente, valor de mercado do Patrimônio Líquido), que leva em conta as expectativas futuras da empresa.

O parâmetro poderia ser, ao invés de um número fixo, uma porcentagem das empresas. Arbitrariamente, eu escolho 10%. Como, ao final do primeiro trimestre de 2009 (ou seja, que divulgaram balanços relativos a 2008 como companhias abertas) o total de empresas era (na minha base) 388, as empresas grandes são as 39 maiores.

Usando esse critério, a lista seria:

Com Itaú Unibanco:



(Clique na figura para poder enxergar alguma coisa)
Algumas empresas podem ser consideradas sobreposições: Itaúsa, Brasil Telecom Participações, Telemar NL, Bradespar e Metalúrgica Gerdau. Essas empresas têm participações em outras empresas da lista ou outras empresas da lista têm participações nessas empresas. O critério de escolha para Brasil Telecom, Gerdau e Telemar NL foi o tamanho (Gerdau e Brasil Telecom são controladas pela Metalúrgica Gerdau e pela Brasil Telecom Participações, mas são menores). Itaú e Vale são grande parte da carteira da Itaúsa e da Bradespar, por isso pode ser melhor tirá-las.

Substituindo as cinco sobreposições:




Mudanças na lista com Itaú e Unibanco como empresas separadas:



Saindo Metalúrgica Gerdau da lista anterior. As substituições que precisam ser feitas são quatro, já que Metalúrgica Gerdau nem entra na primeira lista, e são as quatro primeiras da lista apresentada (ou seja, sem Sabesp).

Auditores
Ranking das firmas de auditoria dentre as companhias abertas, excluindo as empresas que não divulgaram nem o balanço de 2007, mas incluindo as empresas que ainda não divulgaram o de 2008 (considerando o último balanço publicado).


7,76% das companhias trocaram de auditor em 2008.

Demonstração de Valor Adicionado
Os números do DVA, considerando apenas as empresas que divulgaram o balanço de 2008, excluindo as empresas com ano fiscal diferente de 31/12 e as empresas que não divulgaram os números do DVA e tirando as duplas contagens (Gerdau e Metalúrgica Gerdau, etc.).

Crescimento em 2008: 10,37% (considerando apenas as empresas que divulgaram os números de 2007 junto com os de 2008).

Participações:
Pessoal: 18,77%
Governo: 41,62%
Terceiros: 18,94% (inflado pelas perdas cambiais das empresas).
Acionista: 20,26%
Outros: 0,44%

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Resultados de 2008

31 de Março de cada ano é o prazo legal para a entrega dos demonstrativos financeiros anuais, apesar de algumas empresas entregarem atrasadas (não sei se há alguma punição por isso). Até 2 de Abril, 341 empresas de um total (na minha base) de 388 já entregaram seus demonstrativos.

Há um erro comum de se referir ao P/L de uma empresa em um dado ano dividindo o valor de mercado ao final do ano pelo lucro daquele ano. Quem parar para pensar vê a inconsistência: os preços das ações ao final do ano refletem as informações disponíveis naquela data, o que não inclui os resultados daquele ano que só serão divulgados no começo do ano seguinte. Claro que os preços incorporam expectativas sobre o lucro do ano seguinte, mas nesse caso teria que ser usado o lucro esperado (Preço 08/Lucro esperado 08), e não o lucro efetivo.

De uma forma agregada, calculo o P/L das empresas com base no valor de mercado conjunto das empresas no último dia de Março de cada ano e no lucro do ano passado (por exemplo, valor de mercado em 31/03/2009 / Lucros de 2008). Algumas empresas entregam os demonstrativos apenas quando o mercado já fechou e outras entregam atrasadas, mas não chega a comprometer tanto.

O P/L agregado:

Houve prejuízo na soma dos resultados líquidos das empresas em 1995 e 1996 por conta dos enormes prejuízos do Banco do Brasil. Excluindo o BB, o resultado agregado é positivo.

E a relação P/VPA:





Os dados de 2008 são ainda provisórios. O P/L ficou em 10,76 (um pouco acima do nível de 2004) e o P/VPA ficou em 1,86 (também um pouco acima de 2004).

O aumento na receita conjunta das empresas foi de 21,97%, a queda no lucro foi de 0,81% e o ROE de 14,14%. São ainda números preliminares que contam com duplas contagens (Gerdau e Metalúrgica Gerdau, por exemplo) e que precisam de um melhor tratamento dos efeitos do IFRS nos balanços.

Alguns destaques de 2008 (alguns importantes, outros meras curiosidades):
Aracruz: Sétimo maior prejuízo dentre todas as companhias de 1995 até 2008. com R$- 4,21 bi. Não é só isso que indica que algo não vai bem: a receita caiu 3,9%, o lucro bruto caiu 16,29% e o EBIT (levando em conta apenas despesas com Vendas e despesas gerais e administrativas) caiu 22,47%.

CSN: Conforme escrevi anteriormente, o lucro da CSN não praticamente duplicou. Tirando o ganho extraordinário com a Namisa, a alta fica em meros 4,31% no lucro.

Grandes Bancos: Também já tratei disso anteriormente. Bradesco e Itaú tiveram queda nos lucros não-ajustados e o Banco do Brasil expressiva alta. Se você ajustar, é um pouco diferente.

Eletrobrás: Expressiva alta de 296,45% no lucro líquido. No Relatório da Administração, a companhia não divulga nenhum ajuste a esse lucro, embora seja de imaginar que algum deva ser feito. Mesmo assim, o ROE de 7,17% é baixo, apesar de ser o maior de 1995 até 2008. A relação P/VPA é de 0,34 pelos motivos expostos alhures.

Papel e Celulose: A única empresa do setor que teve lucro foi a Melhoramentos de São Paulo. Porém, se for desconsiderado o ganho com realização do ágio da Melpaper de R$45 milhões, a empresa vai ao prejuízo. O prejuízo somado é de R$6,37 bi e o aumento na receita somada foi de 4,63% (em 2007 foi uma queda de 0,45%).

Petrobras e Vale: Como são grande parte do total das companhias abertas (seja por receita, lucro ou valor de mercado), é impossível ignorá-las. Já tratei das duas empresas em outros textos, mas não custa repetir.

Petrobras: Aumento de 26,11% na receita e 57,66% no lucro (sob a antiga legislação societária) e ROE de 23,84%.

Vale: Aumento de 8,92% na receita, 6,37% no lucro e ROE de 22,10%.

Prejuízos bilionários: O clube dos nada invejáveis prejuízos bilionários (em R$ mil):
Aracruz: 4.213.455
Braskem: 2.492.107
Sadia: 2.484.834
Cesp: 2.351.639
Gol: 1.384.743
Tam: 1.360.107
V C P: 1.310.347

O maior prejuízo em 2007 tinha sido da Cobrasma da ordem de R$ 313.830 mil (o prejuízo da Springs é menor do que o da Cobrasma eliminando os gastos com a IPO).

27 empresas tiveram lucro acima de 1 bilhão de reais, o mesmo número de 2007.

Tecelagem Blumenau: A empresa paralisou as atividades em Julho de 2008. O motivo, podemos supor, é que o preço que a empresa consegue cobrar é menor do que os custos variáveis de produção, resultando em um prejuízo maior produzindo do que não produzindo.

Tenda: Em grande parte dos casos, é possível afirmar que a receita líquida não pode ser negativa (a receita bruta certamente não pode). A Tenda, no terceiro trimestre de 2008, mostrou uma exceção. A empresa teve que fazer provisões de cancelamento para clientes com 3 parcelas ou mais em atraso e algumas devoluções para cancelamento de empreendimentos. Isso foi maior do que a receita bruta do período, gerando uma receita líquida de R$ -11.340 mil.

Valor Adicionado: O valor adicionado pelas empresas (contando apenas as empresas que divulgaram o DVA de 2008 e retrospectivamente de 2007) cresceu 9,8%, número abaixo do PIB nominal (11,25%). A Petrobras foi a que gerou mais valor, mais do que as quatro seguintes da lista juntas.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Mensais: Índices Internacionais (Mar/09)

Maiores altas (mês)
Peru: 38,46%
Rússia: 26,64%
Romênia: 24,66%
Chipre: 24,34%
Paquistão: 19,88%

Ibovespa: 27º lugar (maior alta – maior baixa)
Altas 56/95

Maiores altas (ano)
Peru: 31,06%
Venezuela: 24,46%
Israel: 17,96%
Paquistão: 16,97%
Palestina: 16,52%

Ibovespa: 8ª maior alta
Altas: 19/96

Maiores altas (12 meses)
Venezuela: 24,58%
Tunísia: 13,82%

Ibovespa: 26º (Maior Alta – Maior Baixa)

Maiores altas (Dez/04)
Mongólia: 759,51%
Malawai: 753,67%
Montenegro: 257,62%
Peru: 148,97%
Tunísia: 133,24%

Ibovespa: 15ª maior alta
Altas: 35/89

Maiores baixas (mês)
Costa Rica: -28,12%
Islândia: -21,81%
Nigéria:-15,86%
Bermudas: -15,78%
Macedônia: -13,67%

Maiores baixas (ano)
Costa Rica: -43,85%
Islândia: -38,26%
Nigéria: -36,87%
Sérvia: -32,62%
Bermudas: -30,87%

Maiores baixas (12 meses)
Islândia: -95,69%
Sérvia: -77,84%
Bulgária: -77,83%
Ucrânia: -76,30%
Macedônia: -71,59%

Maiores baixas (5 anos)
Islândia: -93,53%
Irlanda: -64,60%
Bulgária: -55,50%
Letônia: -49,50%
Itália: -48,63%

Maiores sequências:
Altas: Palestina (4)
Baixas: Malta (15)

Desvio-padrão (mensal)
S&P 500: 4,19%
Brasil: 7,16%
Rússia: 10,67%
Índia: 7,93%China: 10,11%

Corrigido em 02/05/2009

Mensais: Bovespa (Mar/09)

Ibovespa (2009): 8,99%
Ibovespa (12 meses): -32,87%
Ibovespa(topo): -44,64%

Ibovespa:
Maiores altas (2009):
NETC4: 28,72%
PETR3: 28,70%
ELPL6: 28,04%
CSNA3: 25,63%
PETR4: 25%

Maiores altas (12 meses)
BNCA3: 248,76%
NATU3: 34,14%
TRPL4: 30,65%
BRTP3: 26,13%
TLPP4: 21,15%

Maiores baixas (2009)
VCPA4: -60,63%
ARCZ6: -38,15%
GOLL4: -33,47%
TAMM4: -33,47%
SDIA4: -16,27%

Maiores baixas (12 meses):
ARCZ6: -86,71%
VCPA4: -85,94%
RSID3: -76,61%
GOLL4: -74,34%
SDIA4: -69,40%

Amostra de 132 ações:
Maiores altas em 5 anos
TELB4: 1.389,66%
RCSL4: 1.238,49%
SULT4: 888,28%
SHUL4: 786,05%
CEPE5: 761,80%

Maiores baixas 5 anos
CAFE4: -84,57%
ARCZ6: -82,15%
VPTA4: -80,55%
ESTR4: -79,90%
VCPA4: 78,64%

Maiores sequências (132 ações)
Alta: BRTP3 E CEPE5: 5 meses
Baixa: FESA4: 9 meses

Mensais IPOs (Mar/09)

Taxa a.m. Retorno desde o primeiro dia de negociações expresso em meses.
IBOV a.m. Retorno do Ibovespa desde o primeiro dia de negociações do ativo
Ganho s/ Ibov: Taxa a.m. – IBOV a.m.

5 maiores altas relativas ao Ibovespa



5 maiores baixas relativas ao Ibovespa



18/105 ações estão com ganhos relativos (17,14%)

16/105 ações estão com ganhos absolutos (15,24%)