Banido na crise
No Brasil e em outros países, a prática do guidance (“qualquer informação prospectiva de natureza quantitativa ou qualitativa fornecida pela companhia sobre seu desempenho futuro”, segundo o CODIM) está sendo abandonada. A justificativa é que o cenário atual é incerto demais para qualquer previsão por parte da empresa, que o erro de previsão seria muito grande. Em um artigo que eu comentei aqui, Alfred Rappaport já não recomendava o guidance porque os administradores poderiam gerenciar o lucro (de forma ruim ou menos ruim) de tal forma a artificialmente atingir as metas propostas. A reportagem fala dessa questão com o depoimento do diretor de RI de uma empresa brasileira.
A revisão do IAN (Nova 202) prevê que as empresas que desejarem divulgar guidance deverão fazê-lo no Formulário de Referência (o novo IAN) e devem seguir algumas regras, como divulgar metodologia e atualizar as informações.
Por fim, a reportagem fala de um estudo da Thompson Reuters que concluiu que as empresas que divulgam guidance possuem índice P/L 11% superior às empresas que não divulgam dentro de um setor onde a maioria não divulga, indicando a existência de um prêmio por risco (aumentando o custo de capital) nas empresas sem guidance. É para se tomar com ceticismo essa conclusão: pegar apenas empresas de um setor não controla por todas as diferenças que afetam o P/L ou qualquer outro múltiplo.
Governança de Ponta
A reportagem trata do King Report, o código de melhores práticas de governança da África do Sul, em vias de ter uma terceira edição, considerado como um dos mais avançados do mundo.
O código já recomendava a abertura individual de salários dos executivos em suas edições anteriores, algo que o código brasileiro do IBGC pensa em recomendar também e que a CVM estuda tornar lei ou não. Recomenda que a política de remuneração seja definida em assembleia, mas a terceira versão exclui a exigência de aprovação prévia do montante a ser pago (o say on pay), sob a alegação (pouco convincente) de que isso é desnecessário já que a maioria das empresas sulafricanas (como as brasileiras) têm um controlador definido.
O código ainda não recomenda que os conselheiros sejam remunerados com stock options. Ainda sobre os conselhos, o código recomenda maior transparência sobre o trabalho dos conselheiros e recomenda que executivos da diretoria façam parte do conselho, em especial o CEO e o CFO. Por fim (ao menos, o que consta na reportagem), o código propõe que números relativos à sustentabilidade constem das demonstrações financeiras (e não em um relatório separado) e que a administração divulgue suas estratégias sobre o assunto.
Fala-se muito em “sugerir” e “propor” já que os códigos de melhores práticas garantem certa flexibilidade às empresas quanto ao cumprimento das regras (já que não é uma lei). As empresas podem até não seguir as recomendações, mas deve explicar porque não o faz. É o conceito do “comply or explain” ou “apply or explain”, que dá nome à uma seção interessante da revista (Pratique ou Explique, não tão sonoro como em inglês).
Avaliação de Projetos e risco: Quando VPL não é o suficiente
A regra geral para se avaliar projetos de investimento é que o Valor Presente Líquido do projeto seja superior a 1 ou que a Taxa Interna de Retorno seja positiva (um resultado implica o outro). Mas o autor aponta uma situação exemplar: Imagine um projeto que exija investimento de $90 milhões e possa gerar $102 milhões em lucro ou $100 em perdas com igual probabilidade. O VPL do projeto é de $1 milhão, mas não parece sensato que uma empresa aceite esse projeto pelo seu elevado risco. Esse projeto aumenta o valor da empresa em R$ 1 milhão com os seus fluxos de caixa, mas diminui o valor da empresa ao aumentar o risco da empresa ter problemas financeiros.
Para solucionar a análise do investimento, o autor sugere o uso de técnicas como o Cash flow at Risk ou o Value at Risk para analisar o aumento de risco financeiro para a empresa e para medir a máxima volatilidade que poderia ser permitida. O uso de seguros poderia tornar um projeto arriscado mais atrativo; apesar do prêmio pago pelo seguro ser maior do que a perda esperada (diminuindo a rentabilidade do projeto), o seguro poderia diminuir o risco da empresa ter problemas financeiros por conta do projeto, criando valor dessa forma.
No Brasil e em outros países, a prática do guidance (“qualquer informação prospectiva de natureza quantitativa ou qualitativa fornecida pela companhia sobre seu desempenho futuro”, segundo o CODIM) está sendo abandonada. A justificativa é que o cenário atual é incerto demais para qualquer previsão por parte da empresa, que o erro de previsão seria muito grande. Em um artigo que eu comentei aqui, Alfred Rappaport já não recomendava o guidance porque os administradores poderiam gerenciar o lucro (de forma ruim ou menos ruim) de tal forma a artificialmente atingir as metas propostas. A reportagem fala dessa questão com o depoimento do diretor de RI de uma empresa brasileira.
A revisão do IAN (Nova 202) prevê que as empresas que desejarem divulgar guidance deverão fazê-lo no Formulário de Referência (o novo IAN) e devem seguir algumas regras, como divulgar metodologia e atualizar as informações.
Por fim, a reportagem fala de um estudo da Thompson Reuters que concluiu que as empresas que divulgam guidance possuem índice P/L 11% superior às empresas que não divulgam dentro de um setor onde a maioria não divulga, indicando a existência de um prêmio por risco (aumentando o custo de capital) nas empresas sem guidance. É para se tomar com ceticismo essa conclusão: pegar apenas empresas de um setor não controla por todas as diferenças que afetam o P/L ou qualquer outro múltiplo.
Governança de Ponta
A reportagem trata do King Report, o código de melhores práticas de governança da África do Sul, em vias de ter uma terceira edição, considerado como um dos mais avançados do mundo.
O código já recomendava a abertura individual de salários dos executivos em suas edições anteriores, algo que o código brasileiro do IBGC pensa em recomendar também e que a CVM estuda tornar lei ou não. Recomenda que a política de remuneração seja definida em assembleia, mas a terceira versão exclui a exigência de aprovação prévia do montante a ser pago (o say on pay), sob a alegação (pouco convincente) de que isso é desnecessário já que a maioria das empresas sulafricanas (como as brasileiras) têm um controlador definido.
O código ainda não recomenda que os conselheiros sejam remunerados com stock options. Ainda sobre os conselhos, o código recomenda maior transparência sobre o trabalho dos conselheiros e recomenda que executivos da diretoria façam parte do conselho, em especial o CEO e o CFO. Por fim (ao menos, o que consta na reportagem), o código propõe que números relativos à sustentabilidade constem das demonstrações financeiras (e não em um relatório separado) e que a administração divulgue suas estratégias sobre o assunto.
Fala-se muito em “sugerir” e “propor” já que os códigos de melhores práticas garantem certa flexibilidade às empresas quanto ao cumprimento das regras (já que não é uma lei). As empresas podem até não seguir as recomendações, mas deve explicar porque não o faz. É o conceito do “comply or explain” ou “apply or explain”, que dá nome à uma seção interessante da revista (Pratique ou Explique, não tão sonoro como em inglês).
Avaliação de Projetos e risco: Quando VPL não é o suficiente
A regra geral para se avaliar projetos de investimento é que o Valor Presente Líquido do projeto seja superior a 1 ou que a Taxa Interna de Retorno seja positiva (um resultado implica o outro). Mas o autor aponta uma situação exemplar: Imagine um projeto que exija investimento de $90 milhões e possa gerar $102 milhões em lucro ou $100 em perdas com igual probabilidade. O VPL do projeto é de $1 milhão, mas não parece sensato que uma empresa aceite esse projeto pelo seu elevado risco. Esse projeto aumenta o valor da empresa em R$ 1 milhão com os seus fluxos de caixa, mas diminui o valor da empresa ao aumentar o risco da empresa ter problemas financeiros.
Para solucionar a análise do investimento, o autor sugere o uso de técnicas como o Cash flow at Risk ou o Value at Risk para analisar o aumento de risco financeiro para a empresa e para medir a máxima volatilidade que poderia ser permitida. O uso de seguros poderia tornar um projeto arriscado mais atrativo; apesar do prêmio pago pelo seguro ser maior do que a perda esperada (diminuindo a rentabilidade do projeto), o seguro poderia diminuir o risco da empresa ter problemas financeiros por conta do projeto, criando valor dessa forma.
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