quinta-feira, 2 de abril de 2009

Resultados de 2008

31 de Março de cada ano é o prazo legal para a entrega dos demonstrativos financeiros anuais, apesar de algumas empresas entregarem atrasadas (não sei se há alguma punição por isso). Até 2 de Abril, 341 empresas de um total (na minha base) de 388 já entregaram seus demonstrativos.

Há um erro comum de se referir ao P/L de uma empresa em um dado ano dividindo o valor de mercado ao final do ano pelo lucro daquele ano. Quem parar para pensar vê a inconsistência: os preços das ações ao final do ano refletem as informações disponíveis naquela data, o que não inclui os resultados daquele ano que só serão divulgados no começo do ano seguinte. Claro que os preços incorporam expectativas sobre o lucro do ano seguinte, mas nesse caso teria que ser usado o lucro esperado (Preço 08/Lucro esperado 08), e não o lucro efetivo.

De uma forma agregada, calculo o P/L das empresas com base no valor de mercado conjunto das empresas no último dia de Março de cada ano e no lucro do ano passado (por exemplo, valor de mercado em 31/03/2009 / Lucros de 2008). Algumas empresas entregam os demonstrativos apenas quando o mercado já fechou e outras entregam atrasadas, mas não chega a comprometer tanto.

O P/L agregado:

Houve prejuízo na soma dos resultados líquidos das empresas em 1995 e 1996 por conta dos enormes prejuízos do Banco do Brasil. Excluindo o BB, o resultado agregado é positivo.

E a relação P/VPA:





Os dados de 2008 são ainda provisórios. O P/L ficou em 10,76 (um pouco acima do nível de 2004) e o P/VPA ficou em 1,86 (também um pouco acima de 2004).

O aumento na receita conjunta das empresas foi de 21,97%, a queda no lucro foi de 0,81% e o ROE de 14,14%. São ainda números preliminares que contam com duplas contagens (Gerdau e Metalúrgica Gerdau, por exemplo) e que precisam de um melhor tratamento dos efeitos do IFRS nos balanços.

Alguns destaques de 2008 (alguns importantes, outros meras curiosidades):
Aracruz: Sétimo maior prejuízo dentre todas as companhias de 1995 até 2008. com R$- 4,21 bi. Não é só isso que indica que algo não vai bem: a receita caiu 3,9%, o lucro bruto caiu 16,29% e o EBIT (levando em conta apenas despesas com Vendas e despesas gerais e administrativas) caiu 22,47%.

CSN: Conforme escrevi anteriormente, o lucro da CSN não praticamente duplicou. Tirando o ganho extraordinário com a Namisa, a alta fica em meros 4,31% no lucro.

Grandes Bancos: Também já tratei disso anteriormente. Bradesco e Itaú tiveram queda nos lucros não-ajustados e o Banco do Brasil expressiva alta. Se você ajustar, é um pouco diferente.

Eletrobrás: Expressiva alta de 296,45% no lucro líquido. No Relatório da Administração, a companhia não divulga nenhum ajuste a esse lucro, embora seja de imaginar que algum deva ser feito. Mesmo assim, o ROE de 7,17% é baixo, apesar de ser o maior de 1995 até 2008. A relação P/VPA é de 0,34 pelos motivos expostos alhures.

Papel e Celulose: A única empresa do setor que teve lucro foi a Melhoramentos de São Paulo. Porém, se for desconsiderado o ganho com realização do ágio da Melpaper de R$45 milhões, a empresa vai ao prejuízo. O prejuízo somado é de R$6,37 bi e o aumento na receita somada foi de 4,63% (em 2007 foi uma queda de 0,45%).

Petrobras e Vale: Como são grande parte do total das companhias abertas (seja por receita, lucro ou valor de mercado), é impossível ignorá-las. Já tratei das duas empresas em outros textos, mas não custa repetir.

Petrobras: Aumento de 26,11% na receita e 57,66% no lucro (sob a antiga legislação societária) e ROE de 23,84%.

Vale: Aumento de 8,92% na receita, 6,37% no lucro e ROE de 22,10%.

Prejuízos bilionários: O clube dos nada invejáveis prejuízos bilionários (em R$ mil):
Aracruz: 4.213.455
Braskem: 2.492.107
Sadia: 2.484.834
Cesp: 2.351.639
Gol: 1.384.743
Tam: 1.360.107
V C P: 1.310.347

O maior prejuízo em 2007 tinha sido da Cobrasma da ordem de R$ 313.830 mil (o prejuízo da Springs é menor do que o da Cobrasma eliminando os gastos com a IPO).

27 empresas tiveram lucro acima de 1 bilhão de reais, o mesmo número de 2007.

Tecelagem Blumenau: A empresa paralisou as atividades em Julho de 2008. O motivo, podemos supor, é que o preço que a empresa consegue cobrar é menor do que os custos variáveis de produção, resultando em um prejuízo maior produzindo do que não produzindo.

Tenda: Em grande parte dos casos, é possível afirmar que a receita líquida não pode ser negativa (a receita bruta certamente não pode). A Tenda, no terceiro trimestre de 2008, mostrou uma exceção. A empresa teve que fazer provisões de cancelamento para clientes com 3 parcelas ou mais em atraso e algumas devoluções para cancelamento de empreendimentos. Isso foi maior do que a receita bruta do período, gerando uma receita líquida de R$ -11.340 mil.

Valor Adicionado: O valor adicionado pelas empresas (contando apenas as empresas que divulgaram o DVA de 2008 e retrospectivamente de 2007) cresceu 9,8%, número abaixo do PIB nominal (11,25%). A Petrobras foi a que gerou mais valor, mais do que as quatro seguintes da lista juntas.

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