quinta-feira, 22 de abril de 2010

Empregos Verdes

[Study of the effects on employment of public aid to renewable energy sources]
Gabriel Calzada Álvarez

Esse estudo procurou examinar as políticas de subsídio à energia renováveis adotadas na Espanha nos últimos anos. O foco principal é no efeito na criação de emprego que os incentivos governamentais tiveram. A ideia, muito em voga hoje em dia, é a de que o governo deve gastar dinheiro para incentivar a economia, se gastar em algo belo (a defesa do meio ambiente), melhor ainda, e o gasto em investimento irá gerar a necessidade de construção, e a construção vai gerar emprego e os gastos governamentais criarão empregos, o que aumentará a demanda, o que culminará no fim da recessão e prosperidade. Esse raciocínio encadeando causas e (uma) consequência parece fazer sentido. Mas produz os resultados desejados?

O problema de raciocínio, prontamente analisado pelos pesquisadores, é que a escolha não é entre gastar em investimentos em energia renovável ou não gastar em nada, deixar o dinheiro evaporar. Há infinitas destinações possíveis para o dinheiro que poderia ser investido, e o investimento em novas fontes de energia só seria vantajoso do ponto de vista econômico se gerar mais riqueza do que outras alternativas. Logo, o argumento “pense em toda a energia limpa que deixará de ser gerada” esbarra na parede do argumento inverso “pense em todos os investimentos alternativos que deixarão de ser feitos se investirmos em energia limpa”. Alocar recursos em algo será preferível se gerar mais resultados (geração de valor, de empregos etc.) do que uma alocação alternativa. Isso continua válido mesmo considerando que é o governo que irá gastar ou subsidiar já que o dinheiro do governo surge de algum lugar (ou de dívida ou de impostos), de forma que, nesse caso, a decisão é gastar ou deixar de se endividar ou de aumentar impostos. Certamente que investir em energia limpa (ou em qualquer outra coisa) irá produzir alguns resultados; a questão é se o mesmo montante investido de outra forma teria resultados melhores (mais produto, mais emprego etc.)

Evidências anteriores mostram que, a despeito das melhores intenções do mundo, a busca por energia limpa teve ou pode vir a ter efeitos colaterais indesejáveis. Essas medidas podem matar (há uma estimativa de 150.000 mortes extras só nos Estados Unidos), podem ter um efeito regressivo (pode prejudicar os pobres e beneficiar os ricos) e pode cortar empregos (discussão aprofundada no artigo).

O artigo apresenta as medidas políticas tomadas na Europa e na Espanha para aumentar a participação da energia limpa na matriz energética, incluindo uma meta de participação de 20% até 2020. O argumento da criação de empregos sempre esteve presente para cativar (ou subornar) politicamente. Em seguida, apresenta os números relacionados aos investimentos em energia eólica e solar, um avanço da geração de energia acelerado pela intervenção governamental na forma do estabelecimento de preços mínimos, de incentivos de crédito e de subsídios. Outro fator que contribuiu foi o ciclo de expansão da economia espanhola e da concessão de crédito no país, ciclo que encontrou o seu fim em 2008 (junto com o resto do mundo). O Plano de Energias Renováveis de 2005-2010 (políticos adoram planos de cinco anos) estabelecia que a participação deveria ser de 12% do total de energia primária (20% do consumo elétrico) até 2010.

Esses bastante generosos subsídios levaram a um crescimento porcentual de três (até quatro) dígitos na instalação de energia eólica e, principalmente, solar. O subsídio inicial era de 575% para instalações solares que gerassem até 100 kW e de “apenas” 300% para instalações maiores, o que gerava uma taxa interna de retorno de 17% (bastante elevada e com risco baixo, já que o negócio era garantido pelo governo). Isso levou qualquer um a investir nesse negócio e quando o incentivo passou a ser para operações maiores até grupos hoteleiros estavam investindo em energia solar. Porém, os custos de operação são elevados e os produtores sairiam dom negócio ou mudariam de operação não fossem os subsídios, de forma que a situação não parecia muito sustentável (paradoxalmente).

Não parece uma bolha: é uma bolha, que começou a ser estourada em 2008. Um novo decreto favoreceria as instalações solares em prédios e não no chão (em “fazendas solares”) dado o “movimento especulativo” que foi gerado nessa segunda forma (quem imaginaria que haveria um “movimento especulativo”?). Os subsídios foram reduzidos em quase 30%. Além disso, aplicou-se uma quota de capacidade para receber os subsídios. Tudo isso levou a uma redução nos investimentos e, surpresa!, perda de empregos.

Não foi só o governo que ajudou no crescimento dos investimentos. O crédito barato e farto na Espanha também ajudou, sendo canalizado em boa parte para o investimento em energias limpas. Isso começou a acabar em 2007 (com os primeiros sinais da crise) e piorou dali para frente. Mas nem tanto para o crédito para energias limpas, que manteve um elevado crescimento em 2008, às custas de um baixo crescimento do crédito para outras empresas. No fim, o investimento em energia subsidiada artificialmente atrativa acabou tirando crédito de investimentos que poderiam ser mais produtivos.

O resultado final foi a criação de 50.200 empregos diretos e indiretos por conta desses investimentos (segundo estimativas do estudo). O valor presente líquido dos subsídios foi de 28,6 bilhões de Euros, resultando em um custo de 571 mil euros por emprego gerado. Considerando que a média do estoque de capital por trabalhador era de 259 mil Euros, chega-se a um estimativa de perda de 2,2 postos de trabalho para cada emprego verde gerado. Outra forma de calcular essa perda ou ganho é comparar o subsídio anual por trabalhador com a produtividade média do trabalhador. A anuidade do subsídio calculada foi de 55.946€ e a produtividade média (renda com trabalho dividido pelo número de trabalhadores) é de 25.332€, resultando também em uma perda de 2,2 postos.

E quem paga a conta? Se os custos maiores forem absorvidos em tarifas maiores, isso afeta principalmente as indústrias que utilizam mais energia, como as siderúrgicas. Isso ocorreu, houve um aumento no preço da energia, e a última parte do artigo é dedicada à descrição dos efeitos dos maiores custos nas indústrias. Alternativamente, o governo poderia absorver “gratuitamente” esses subsídios via maior taxação ou maior endividamento (o que pode não ser uma boa ideia, vide eventos recentes envolvendo países europeus).

Os resultados da pesquisa mostram um ensinamento antigo em economia, que já deveria ter sido aprendido: não se cria empregos ou prosperidade estimulando a demanda ou aumentando custos (para supostamente aumentar a demanda), e sim aumentando a produtividade. Se a energia renovável é mais cara do que a energia convencional, é porque é menos eficiente e seu uso só serve para aumentar os custos. Preços de mercado mais elevados para esse tipo energia em comparação com outras fontes de energia mostram a desvantagem dessas fontes de energia, que exigem um maior “sacrifício” para serem utilizadas. Ou se tornam mais eficientes, ou não haverá espaço para essas tecnologias. E nada mudará isso.

A análise de várias falácias clássicas poderiam prever os resultados observados. A primeira análise é “A Lição” de Henry Hazlitt: é necessário não ver apenas os efeitos imediatos, mas também os de longo prazo de qualquer política e também o efeito para todos, não para apenas um grupo. Thomas Sowell classificaria as falácias empregadas no grupo de “Falácias de recursos ilimitados”, ignorar que os recursos possuem aplicações alternativas.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Dividendos: O ideal desconhecido

No que se refere a investimentos/poupança, nada causa mais confusão do que os dividendos. Nesse texto, algumas dessas confusões.

1) Rendimento com dividendos (dividend yield) elevados, mais do que SELIC, é como se fosse renda fixa, contando ainda com o ganho de capital como um extra

É comum ver argumentos como o enunciado acima. Uma ação que pague dividendos elevados é comparado com a renda fixa e o ganho de capital viria como um brinde, um “plus a mais”, como diria o outro.

O rendimento de uma ação é o rendimento com dividendos mais ganho de capital em qualquer caso, a empresa pagando muito ou pouco dividendo em relação ao seu valor de mercado. Se a empresa estiver corretamente precificada, seus rendimentos totais serão iguais ao custo de capital próprio (ver item abaixo). Se o rendimento for diferente, é porque a ação estava incorretamente precificada (ou novas informações mudaram o valor da empresa), não porque pagou mais ou menos dividendos.

2) Reinvestir dividendos aumenta o rendimento.

Isso é incorreto, como já mostrado aqui.

3) Quem reinvestir dividendos terá mais dinheiro do que quem não reinveste.

Essa afirmação até é correta, mas, de tão óbvia, é completamente inútil. Terá mais quem manter todo o dinheiro investido (que é o que acontece quando se reinveste) do que quem gastar um pouco de vez em quando (como acontece quando se usa dividendos para outra destinação). Se eu tenho um bolo e abdico de consumi-lo hoje, não surpreendentemente poderei comer mais bolo no futuro do que poderia se comesse um pedaço dele hoje.

Porém, não preciso reinvestir na mesma empresa, posso investir em qualquer outra e manter o mesmo capital aplicado. Procedendo dessa forma, posso ter mais ou menos no futuro do que se reinvestisse, dependendo do outro investimento render mais ou menos.

Ver aqui.

4) Quem não reinveste dividendos será aniquilado no longo prazo.

Essa é uma das frases mais curiosas que já li em tempos recentes, e também enormemente errada. Ora, se todos reinvestirem os dividendos para comprar mais ações, quem vai vender? Se é do maior interesse dos acionistas reinvestir os dividendos (o instinto mais básico é o de garantir a sobrevivência, não ser aniquilado), então para que distribuir, em primeiro lugar? Ao invés de distribuir dividendos, a empresa poderia aumentar o capital e distribuir ações para seus acionistas e todos garantirão que não serão aniquilados a um custo muito menor.

Os grandes acionistas não reinvestem dividendos, já que teriam que ficar informando isso à CVM e seus movimentos podem afetar muito o mercado. Agentes interno (diretores, conselheiros etc.) à empresa talvez não possam reinvestir o dividendo assim que a ação se tornar ex-dividendo. Não conheço grande acionista ou agente interno que tenha sido aniquilado por ter deixado de reinvestir seus dividendos.

A frase é bonitinha, mas altamente ordinária.

5) Se eu reinvestir os dividendos, terei uma proporção maior do capital da empresa.

Como mostrado acima, isso não aumenta nem diminui o retorno da carteira do acionista. O fato da proporção aumentar só seria significativo se as ações tivessem valor além do valor monetário. Com coleções sem a intenção de vender os objetos, quanto mais objetos tivermos, melhor. Porém, ação não é objeto de coleção e o único valor que possui é seu valor monetário. Poderia ser relevante pelo poder de voto que a ação possui (se possuir), porém, para o pequeno acionista o aumento via reinvestimento de dividendos será pequeno demais para aumentar seu poder de voto.

6) Quando a ação fica ex-dividendo, há oportunidades de ganho sem risco.

O erro mais comum no começo da prática de qualquer investidor. Também, tema de um dos primeiros textos deste blog.

7) Quando a ação fica ex-dividendo, o valor não é afetado, mas o preço fica mais atrativo porque o PL caiu.

Isso também já foi mostrado aqui, mas implicitamente. Um menor P/L por conta de um menor preço ex-dividendo não significa que a ação ficou mais barata. Se corretamente precificada, o rendimento esperado é o custo do capital próprio. A ação pode não estar corretamente precificada, mas a distribuição de dividendos, por si só, não causa nenhuma distorção nos preços.

8) “Invista em empresas boas pagadoras de dividendos”. “Hm... e se a empresa não distribuir dividendos?”. “Não invista em empresas que não distribuem dividendos !!!”

Esse enunciado é a transcrição (nada fiel) de um diálogo envolvendo um analista (“analista”?) de mercado.

Sim, por exemplo: a Microsoft abriu capital em 1986 e ficou por 17 anos sem distribuir dividendos. Essa empresa má pagadora de dividendos transformou seu principal acionista e fundador no homem mais rico do mundo. Porém, não é boa o suficiente para o nosso simpaticíssimo analista.

9) Pagando dividendos, a empresa reparte seu lucro com os acionistas

A leitura de um outro texto meu deixa claro que essa frase não possui sentido algum. A empresa não tem lucro, o lucro é dos acionistas. E o verbo “repartir” tem uma conotação de altruísmo, ou seja, parece dizer que a empresa ou seus administradores distribuem dividendos por bondade no coração, para compartilhar a riqueza deles com outros, o que não ocorre.

10) Empresas boas pagadoras de dividendo são melhores

Os três principais critérios que utilizam para definir uma boa empresa (seja lá o que isso for) são: sólida, de bons fundamentos e boa pagadora de dividendos. Seja lá o que esses três critérios signifiquem, o último não é procedente.

Empresas não são “más pagadoras” de dividendos porque são más empresas ou malvadas. As empresas retêm dividendos caso precisem desse dinheiro para investir em projetos rentáveis (com VPL positivo, com taxa interna de retorno superior ao custo de capital etc.) ou mesmo para reinvestirem na manutenção da empresa. Há uma certa discricionariedade nas decisões de dividendos, mas, de forma geral, não se distribui pouco dividendo porque alguém quis, mas porque é necessário e vantajoso fazer isso.

Claro que também falam e escrevem muitas coisas verdadeiras sobre esse assunto, tema de um futuro (possível) texto.

domingo, 11 de abril de 2010

Opiniões sobre o objetivo das empresas

Esse texto analisa duas pesquisas de opinião relevantes para o assunto que vinha sendo discutido aqui. A primeira é uma extensa pesquisa que resultou no livro “A cabeça do Brasileiro” de Alberto Carlos Almeida. A segunda é uma pesquisa já antiga da revista Exame.

A pesquisa do livro de Almeida conclui que o brasileiro ama o Estado, inclusive em questões econômicas. Em uma pergunta sobre quais áreas o Estado deveria ter controle, só empresas transporte, de telefonia fixa e móvel e fabricantes de carros não foram consideradas como áreas onde o governo deveria predominar. 71% dos entrevistados acreditam que o governo deveria predominar no setor de saúde, 69% no de educação, 68% em estradas e rodovias, 64% no setor de energia elétrica e 51% nos bancos, para citar os setores com companhias privadas de capital aberto. A única divergência por conta da renda se dá na opinião sobre os bancos, menos da metade dos que ganham acima de R$ 801 por mês tendo a opinião de que o governo deve predominar no setor.

A maioria também concordou que o Estado deveria estabelecer preços dos produtos oferecidos pelas empresas, impondo limites máximos (imagino). Mais da metade das pessoas acredita fortemente que o governo deveria controlar os preços, não só de serviços básicos, mas de todos os produtos. Só faltou perguntar quantas pessoas concordariam que o Governo determinasse um preço máximo para o preço do trabalho delas.

Além disso, há mais concordância do que discordância no que diz respeito às afirmações: “O governo deve dizer tudo o que as empresas têm que fazer”, “só as empresas devem treinar os trabalhadores” e “o governo deveria definir o valor dos salários”.

Por outro lado, a maioria das pessoas considerou que as empresas de todos os portes são eficientes, considerando ineficientes as instituições públicas ou privadas com fins públicos (partidos políticos). A avaliação positiva a respeito da eficiência das grandes empresas soma 69%, das pequenas e médias 83% e da imprensa 80%. Por outro lado, as avaliações positivas do Congresso somam 36%, do Governo Federal 51% e dos partidos políticos 28% (a pior avaliação). Considere-se que isso se trata de opinião e impressões, não de fatos.

Também, as entidades privadas são consideradas mais confiáveis do que as públicas. A única instituição a receber mais de 51% de avaliações positivas a respeito de confiança é a Igreja Católica. Mas as entidades privadas (Imprensa, grandes empresas e pequenas e médias empresas) possuem grau de confiança superior ao Governo Federal, que é mais confiável que o Congresso e os partidos políticos.

Assim, chegamos a um paradoxo (que o autor chamou de esquizofrenia): os brasileiros amam o Estado, mas o consideram ineficiente e pouco confiável. O autor atribuiu essa situação à ideologia popular: as pessoas querem que o Estado cuide delas, que interfira na Economia, independente do Estado ser eficiente ou confiável. Para mim, o paradoxo continua a existir. Não deixa de me surpreender que as pessoas queiram dar mais dinheiro e poder para instituições que consideram ineficientes e pouco confiáveis. É parecido com a situação em que uma pessoa não confia em um mecânico que demora muito para realizar seu serviço, mas que, não obstante, passa com razoável freqüência nesse mecânico e faz tudo que ele sugere.

Que se prefira mais ou menos atuação estatal na economia é uma questão de opinião. O que acho perturbador é que as pessoas queiram mais Governo, apesar de não confiar nos governantes e de acharem que o Governo é ineficiente.

Outra pesquisa interessante sobre assunto semelhante é uma reportagem já antiga (2004) da revista Exame. A pesquisa perguntou qual das missões mencionadas se aplica para as empresas. 93% dos entrevistados consideraram que a missão das empresas deveria ser gerar emprego, 60% “ajudar a desenvolver o país”, 42% “desenvolver trabalhos comunitários”, 31% “aliar crescimento à justiça social” e por aí vai. Dar lucro para os acionistas foi considerado como a missão das empresas apenas para 10%, perdendo até para “sem ferir a ética, derrotar a concorrência”. Não acho que muito tenha mudado nos últimos 6 anos. Em uma pesquisa com empresários, 82% mencionam como missão da empresa dar lucro para os acionistas, sendo essa a alternativa com mais menções.

Essa pesquisa não foi feita, mas imagine que se fizessem perguntas semelhantes às pessoas a respeito da pessoa enquanto trabalhador. Suponho que “gerar bem-estar para a própria pessoa” não seria a missão menos mencionada, “gerar emprego para outras pessoas” não seria a principal e tenho minhas dúvidas se 42% concordariam que a destinação dos salários deveria ser para trabalhos comunitários. Essas suposições se baseiam na hipótese (bastante intuitiva, a se verificar mais rigorosamente) de que as pessoas são extremamente liberais no uso do dinheiro dos outros (ou palpite sobre o uso), mas bastante conservadoras quando se trata do próprio dinheiro.

Pelas porcentagens, fica claro que as pessoas atribuíram mais de uma missão para a empresa (de outra forma, a soma das porcentagens seria 100%). Como argumentado por Jensen, múltiplos objetivos/missões é nenhum objetivo/missão, mesmo ignorando por completo o lucro. Desenvolver trabalhos comunitários e gerar empregos em algum momento entram em conflito. Eu poderia maximizar o lucro da empresa e direcioná-lo para o desenvolvimento de trabalhos comunitários, sobrando apenas 10% para os acionistas. Porém, para maximizar o desenvolvimento de trabalho comunitário com 90% do lucro da empresa, preciso contratar menos pessoas. Se eu contrato mais pessoas, desenvolvo menos trabalho comunitário. Mesmo que tire os 10% que iriam para os acionistas, o conflito persiste.

Resistir é inútil. O charme da idéia de que as empresas não deveriam buscar “meramente o lucro”, mas que deveriam buscar o objetivo de um “amplo público” é irresistível. No entanto, me mantenho na minoria dos 10% que acha que a empresa tem como missão gerar lucro para os acionistas, ou em uma minoria ainda menor trocando “lucro” por “valor” ou ainda na minoria da minoria que acha que esse deveria ser o objetivo único.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

A natureza do governo



(The nature of government)
Ayn Rand – 1963
Ensaio publicado no livro Virtue Of Selfishness (e republicado no Capitalism: The Unkown Ideal)

Quando se estuda o objetivo das empresas, é inevitável tratar do papel que o governo tem na economia. O governo deve ficar fora dos assuntos econômicos e deixar o livre mercado (ou seja, a livre interação entre as pessoas) cuidar da economia? O governo deve regular os agentes privados? Deve estimular a economia? Deve suavizar os ciclos de baixa? Deve dirigir a economia? Deve controlar totalmente a economia sem dar liberdade alguma às pessoas?

Não pretendo tratar agora de todas essas questões, tarefa complexa e que demandaria muito mais espaço neste blog. Demandaria também mais tempo e esforço de minha parte para alcançar respostas na melhor das hipóteses insatisfatórias. Porém, como dito no começo, é inevitável tratar desse assunto. Para prosseguir com os meus textos que tratam do assunto, devo escrever algo sobre o papel do governo. A solução que encontrei foi analisar o que pensa sobre o governo uma autora que defende um estado mínimo e defende as liberdades individuais, sem, no entanto, negar que um Estado deva existir. Essa será a linha mestre desse texto: as razões para alguém que mesmo quem não tem nenhuma simpatia por um Estado ainda assim defenda a sua existência.

Ayn Rand, no ensaio A natureza do governo, começa com uma definição de governo: “uma instituição que detém o poder exclusivo de forçar certas regras de conduta social em uma dada área geográfica”. Essa idéia não é nova, sendo a definição dada por Max Weber de Estado como monopolista do uso legítimo da força escrita em outras palavras. O ponto principal da argumentação da autora é que a força serve para submeter a vontade das pessoas à vontade de quem usa a força e que só é legítimo usar a força para garantir os direitos individuais. Pessoas ou grupos de pessoas não podem (ou não deveriam poder) usar da força contra outras pessoas ou grupos e que só o Estado deveria poder fazer isso justamente para garantir os direitos individuais. Só a força pode violar os direitos individuais e é necessário que alguém (Estado) use do mesmo meio para coibir a violação desses direitos.

O uso da força é um instrumento altamente tentador. Deixado à discrição das pessoas o uso da força, as pessoas iriam ou procurar meios de usar da força para realizar seu interesse próprio ou seriam forçadas a despender recursos para se proteger da força dos outros. Por isso, seria necessário um árbitro neutro para mediar conflitos e impedir o uso da força. Esse árbitro neutro, porém, não deve poder tomar suas decisões com base em critérios próprios, deve se sujeitar a regras que as mesmas pessoas que devem ser protegidas do uso da força concordaram que devem ser seguidas e concordam que a força deve ser usada contra elas caso descumpram essas regras. Segundo Rand, seria essa a função do Estado e a origem das leis. “Um governo é o meio de colocar o uso retaliatório da força sob um controle objetivo – ou seja, sobre leis objetivamente definidas”. As leis restringem a atuação do governo e impedem (ou deveriam impedir) que as pessoas que controlam o Estado usem de seus poderes extraordinários de acordo com seu capricho, violando os direitos individuais que deveriam estar protegendo. Viver em uma sociedade livre e civilizada implica o abandono do uso da força que deve ser exercido por uma instituição designada para usar desse meio sob certas regras para proteger os direitos das pessoas.

Dessa forma, as leis restringem a atuação livre das pessoas de forma a justamente assegurar a liberdade das pessoas. O governo e seus agentes, por outro lado, não possuem atuação livre devendo se ater a cumpri a lei. Não é o governo que define as regras: são os cidadãos que definem as leis por meio de seus representantes e a autoridade do governo vem do consentimento do governado. O governo não é o senhor de seu povo, é agente de seu povo, não tem direitos ou obrigações próprias, mas sim aquelas delegadas pelo povo.

A força pode ser empregada de várias formas, em especial a mais evidente, a violência física. Apesar de menos sangrentos (em geral), também são exemplos de uso ilegítimo da força o rompimento unilateral de contratos (uma parte se beneficia da transação e força a outra a não receber o que foi prometido), fraude (o recebimento de algum valor por uma parte sob falsas promessas de retribuição à outra) e extorsão (a ameaça do uso da força condicionada ao não recebimento de um valor). Todos os quatro casos acima seguem um mesmo princípio, o de que ninguém pode obter valor (dinheiro, produtos, trabalho etc.) de outra pessoa sem o consentimento dessa pessoa e que o direito de posse não pode ser deixado ao arbítrio de alguém (seja do usurpador, seja de uma terceira parte não orientada por leis objetivas).

Assim, a autora vê, sob essa perspectiva, três funções principais do Estado: poder de polícia (proteger as pessoas de criminosos), forças armadas (para proteger os cidadãos de invasores estrangeiros) e cortes para resolver disputas entre as pessoas de acordo com uma lei. Sem um governo, nas palavras de Rand, a sociedade estaria à mercê do primeiro criminoso que surgisse e levasse a sociedade ao caos e à guerra de gangues. A existência do Estado possibilita a convivência em sociedade, protegendo quem extrai e distribui benefícios com transações consensuais e coibindo que as pessoas façam mal uma às outras pelo meio da submissão da vontade dos outros.

Ayn Rand termina o ensaio com a seguinte preocupação a respeito dos Estados Unidos em sua época: “Ao invés de ser protetor dos direitos das pessoas, o governo está se tornando o mais perigoso violador; ao invés de guardar a liberdade, o governo está estabelecendo a escravidão; ao invés de proteger as pessoas dos iniciadores do uso da força, o governo está iniciando a força e coerção em qualquer modo que lhe agrada; ao invés de servir como instrumento de objetividade nas relações humanas, o governo está criando um reino mortal e subterrâneo de incerteza e medo por meio de leis não objetivas cuja interpretação é deixada para as decisões arbitrária de burocratas aleatórios; ao invés de proteger as pessoas da injúria por capricho, o governo está usurpando para si o poder do capricho ilimitado – de forma que estamos rapidamente nos aproximando do estado da máxima inversão: o estágio onde o governo é livre para fazer o que lhe agradar, enquanto que os cidadãos só podem agir sob permissão”. Uma das fontes para tal estado de coisas é que as leis deixam de ter objetividade para serem ditadas pelas boas intenções.

Há de se acrescentar mais algumas funções ao Estado dentro do conceito de falhas de mercado, em conformidade com as idéias expostas pela autora. O estado que uma anarquia poderia causar, conforme descrito por Rand (uma sociedade incivilizada), pode ser entendido como uma falha de mercado, ou seja, as pessoas tomando decisões livremente podem acabar obtendo resultados socialmente indesejáveis. Em qualquer livro texto de economia discute-se três falhas de mercado, a assimetria de informações, as externalidades e os bens públicos, algo a ser discutido em outro texto. A responsabilidade limitada das empresas, garantida por lei, também é algo que requer outro texto.

Isso é o que alguém sem a menor simpatia pelo governo acredita que essa instituição deva fazer. Se o Estado deveria fazer algo mais é algo a ser discutido em outro lugar, em outro momento.

sábado, 3 de abril de 2010

Mensais: Bovespa (Mar/10)

Índices Brasileiros
Índice; 60 meses; Ano; 12 meses
Ibovespa; 164,45%; 2,60%; 71,95%
IBX 50; 168,26%; 2,54%; 58,79%
IBX; 172,12%; 1,92%; 59,98%
ISE; -; 0,66%; 67,09%
ITEL; 57,51%; -13,27%; 25,39%
IEE; 238,93%; -0,44%; 44,74%
INDX; 124,30%; 4,12%; 94,72%
IVBX2; 89,82%; -2,35%; 61,64%
IGC; 164,41%; 2,35%; 78,91%
ITAG; 166,47%; 0,14%; 79,93%
Small Cap; -; -1,96%; 138,88%
Mid Large Cap; -; 2,29%; 55,47%
Consumo; -; -1,94%; 80,38%
Imobiliário; -; -11,73%; 134,56%

Ibovespa:
Maiores altas (2010):

MMXM3: 35,03%
CSNA3: 27,39%
USIM3: 24,76%
USIM5: 23,68%
VALE5: 17,42%

Maiores altas (12 meses)
LLXL3: 423,13%
MMXM3: 400,78%
GOLL4: 246,21%
RSID3: 241,55%
FIBR3: 223,89%

Maiores baixas (2010)
BRTO4: -31,94%
BTOW3: -19,52%
TMAR5: -19,45%
BTOW3: -19,45%
RSID3: -19,02%

Maiores Baixas (12 meses)
TLPP4: -16,05%
BRTO4: -11,63%

Amostra de 162 ações:
Maiores altas em 5 anos
TELB4: 2.564,87%
JFEN3: 1.681,74%
HGTX3: 1.439,53%
BMTO4: 1.014,09%
WHRL4: 873,19%

Maiores baixas 5 anos
KEPL3: -94,38%
JBDU4: -78,24%
ELE4: -70,85%
VPTA4: -59,41%
UNIP6: -58,44%

Maiores sequências (162 ações)
Alta: HGTX3 (13 meses)
Baixa: BRTO4 e TMAR5 (4 meses)

Fontes:
Bovespa.com
Planeta Dinheiro (www.pladin.com.br)

Datas Importantes e/ou curiosas
03/04: 103 anos da Alpargatas
11/04: 16 anos de listagem da Usiminas
30/04: 2 anos de grau de investimento para o Brasil

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Mensais: Índices Internacionais (Mar/10)

Maiores altas (mês)
Ucrânia: 33,36%
Mongólia: 31,73%
Emirados Árabes: 15,73%
Indonésia: 15,68%
Hungria: 14,00%

Ibovespa: 41º lugar (maior alta – maior baixa)
Altas 79/98

Maiores altas (ano)
Ucrânia: 64,11%
Mongólia: 60,36%
Letônia: 41,33%
Romênia: 27,18%
Quênia: 25,41%

Ibovespa: 59ª (maior alta – maior baixa)
Altas: 74/98

Maiores altas (12 meses)
Ucrânia: 313,57%
Cazaquistão: 175,89%
Romênia: 151,97%
Bangladesh: 128,14%
Rússia: 128,02%

Ibovespa: 20º (Maior Alta – Maior Baixa)
Altas: 85/97

Maiores altas (5 anos)
Mongólia: 873,94%
Malawi: 448,10%
Bangladesh: 235,60%
Peru: 215,04%
Tunísia: 192,44%

Ibovespa: 11ª maior alta
Altas: 56/90

Maiores baixas (mês)
Bermudas: -25,17%
Nepal: -8,65%
Costa Rica: -6,00%
Palestina: -4,19%
Malawi: -3,58%

Maiores baixas (ano)
Bermudas: -31,39%
Nepal: -19,15%
Espanha: -9,55%
Eslováquia: -8,23%
Bósnia: -7,92%

Maiores baixas (12 meses)
Bermudas: -39,81%
Nepal: -33,27%
Eslováquia: -26,84%
Moldava: -16,61%
Barbados: -11,75%

Maiores baixas (5 anos)
Islândia: -88,76%
Emirados Árabes: -74,69%
Bermudas: -63,39%
Irlanda: -56,85%
Palestina: -55,42%

Maiores sequências:
Altas: Moldava e Paquistão (5 meses)
Baixas: Ilhas Fiji (9 meses)

Desvio-padrão (mensal)
S&P 500: 4,62%
Brasil: 7,06%
Rússia: 11,37%
Índia: 8,64%
China: 10,48%

Países da moda:
Algumas estatísticas sobre as bolsas de alguns países que estão aparecendo muito na imprensa:

País; Retorno 5 anos; Retorno 2010; Retorno mês; Desvio-padrão 60 meses
Portugal; -5,99%; -4,27%; 7,18%; 5,78%
Irlanda; -56,85%; -%; 10,58%; 7,30%
Grécia; -43,48%; -5,86%; 8,07%; N/D
Espanha; -2,87%; -9,55%; 4,55%; 5,39%


Bermudas

As Ilhas Bermudas estão em crise financeira. Essa notícia provavelmente não vai afetar em nada a vida de qualquer leitor desse blog e não deve precipitar novo débâcle financeiro, mas fica o registro e a curiosidade. Como pode-se notar nos dados acima, Bermudas figura entre as maiores baixas. Em um dia a baixa foi de 15%. A baixa foi puxada pelo Butterfield Bank que está em dificuldades financeiras e teve que fazer uma emissão de ações. Não tenho mais detalhes, porque é um tanto difícil encontrar informações sobre essa simpática ilha. Mas segue alguns links para quem tiver curiosidade de saber mais sobre isso.

http://www.royalgazette.com/rg/Article/article.jsp?sectionId=65&articleId=7da37a730030021
http://www.royalgazette.com/rg/Article/article.jsp?articleId=7da35b730030027§ionId=65

http://www.royalgazette.com/rg/Article/article.jsp?sectionId=60&articleId=7da315230030001

http://www.royalgazette.com/rg/Article/article.jsp?sectionId=60&articleId=7da315230030001

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Mensais: IPOs (Mar/10)

Serão consideradas as ofertas:
* Ocorridas a menos de 5 anos
* Que sejam realmente ofertas públicas iniciais
* Que ainda sejam negociadas, excluídas as que foram incorporadas por outras empresas.

Taxa a.m. Retorno desde o primeiro dia de negociações expresso em meses.
IBOV a.m. Retorno do Ibovespa desde o primeiro dia de negociações do ativo
Ganho s/ Ibov: Taxa a.m. – IBOV a.m.

5 maiores altas relativas ao Ibovespa
Empresa; Taxa a.m.; IBOV a.m.; Ganho s/ IBOV
Fleury; 5,45%; 1,52%; 3,93%
Hypermarcas; 4,18%; 0,35%; 3,83%.
GVT Holding: 3,23%; 1,18%; 2,05%
OGX Petróleo; 1,84%; 0,22%%; 1,62%
MMX Mineração; 3,15%; 1,55%; 1,60%

5 maiores baixas relativas ao Ibovespa
Empresa; Taxa a.m.; IBOV a.m.; Ganho s/ IBOV
Ecodiesel; -5,00%; 1,33%; -6,32%
Inpar; -5,02%; 0,92%; -5,94%
Laep; -5,54%; 0,26%; -5,80%
Agrenco; -4,63%; 0,47%; -5,09%
Nutriplant; -4,40%; 0,43%; -4,83%

23/96 ações estão com ganhos relativos (23,96%)

45/96 ações estão com ganhos absolutos (46,88%)