Reportagem do Valor Econômico de 29/01/2009 (“Dividendos da Discórdia”) dá conta que sindicalistas estão pedindo que as empresas que estão demitindo empregados reduzam ou cessem os pagamentos de dividendos.
Primeiro, os dois fatos (pagamento de dividendos e demissões) não têm relação direta. Em microeconomia, a produção da empresa é basicamente função de dois insumos: capital e trabalho. O nível de produção (a oferta) deve se ajustar ao nível de demanda. No longo prazo, os dois insumos são variáveis; no curto prazo, é mais fácil ajustar o insumo trabalho do que o capital (é mais fácil demitir do que vender ativos fixos). Se a demanda cai, cria-se um excesso de trabalhadores. As empresas podem contornar esse excesso diminuindo a jornada, reduzindo salários ou demitindo (três alternativas hoje utilizadas ou em discussão) ou, ainda, esperando que a demanda volte a aumentar em pouco tempo.
Os dividendos são distribuições dos lucros da empresa para seus acionistas. Empresas com bons projetos de investimento (com rentabilidade acima do custo de capital) vão distribuir poucos dividendos e empresas sem bons projetos distribuem mais lucro. A lógica é que, sem projetos rentáveis, o dinheiro servirá melhor aos acionistas na mão deles do que no caixa das empresas. No atual momento, duas situações podem estar ocorrendo: a recessão/desaceleração reduziu o número de bons projetos e a rentabilidade dos demais (ou não seria crise); ou, os projetos continuam a existir, mas o financiamento está mais caro (tanto dívida quanto capital próprio). No primeiro caso, faz sentido distribuir mais dividendos; no segundo, seria melhor reter lucros para financiar os projetos. Também, basta ter lucro para que esse possa ser distribuído, não importa se o lucro aumentou ou diminuiu.
A ligação entre os dois não é nada direta. Uma empresa pode aumentar o quadro de funcionários em resposta a aumentos na demanda e mesmo assim ter prejuízo (possivelmente, o aumento na demanda diminua o prejuízo). O que está acontecendo com muitas empresas ao redor no mundo é uma queda na demanda que, simultaneamente, provoca demissões e reduz o lucro das empresas (ou leva ao prejuízo).
Discuti aqui redução na demanda, mas poderia haver um choque de oferta (aumento de custos) no seu lugar. O efeito é uma redução na oferta e uma redução na quantidade demandada (por conta do aumento de preços). O efeito é o mesmo, mas ao invés de dizer “redução na demanda” devemos dizer “redução na quantidade demandada”.
No fundo, trata-se da cordialidade brasileira, do levar tudo para o lado pessoal ("ética de fundo emotivo"). Empresários que demitem não o fazem porque isso seja necessário, mas agem com maldade no coração porque são uns canalhas. Não acho que seja por aí.
Mas alguém poderia dizer: as empresas têm muito lucro e poderiam absorver o prejuízo dos trabalhadores. Antes de tudo, vamos parar de usar o termo “empresa” e vamos usar termos que representem pessoas físicas. O que acontece, nesse processo, é uma transferência de valor dos acionistas para os trabalhadores. Não vejo porque os acionistas deveriam aceitar isso, já que os trabalhadores não aceitariam trabalhar de graça se a empresa tivesse prejuízo. Se os trabalhadores querem compartilhar os riscos positivos (o lucro e o ganho de valor da empresa), deveriam aceitar compartilhar os riscos negativos (prejuízos e perda de valor). Tratarei mais disso em outro texto.
Em essência, cada lado está fazendo o certo, defendendo os interesses de quem eles representam (ao menos, supomos isso). Os administradores das empresas estão defendendo os interesses dos acionistas e os sindicalistas os interesses dos trabalhadores. Mas bem que os sindicalistas poderiam agir de forma melhor. Pedir para que uma pessoa dê um tiro no próprio pé em troca de nada não é, em situação alguma, um pedido provável de ser aceito.
Porém, os acionistas poderiam aceitar reduzir ou cessar os dividendos, mantendo um sorrisinho de canto de boca. Primeiro, é possível afirmar que a distribuição de dividendos não afete o valor da empresa (Irrelevância dos dividendos, a ser discutido em outro lugar). Segundo, nos casos em que existem bons projetos, basta investir nesses projetos usando o caixa, ou guardando-os para melhor oportunidade. Terceiro, pode ser decidido não pagar dividendo algum, mas recomprar ações, operação que pode ser recomendável em um momento desses (após perdas de valor de mercado) e que produz o mesmo efeito dos dividendos (distribuição de resultados).
Primeiro, os dois fatos (pagamento de dividendos e demissões) não têm relação direta. Em microeconomia, a produção da empresa é basicamente função de dois insumos: capital e trabalho. O nível de produção (a oferta) deve se ajustar ao nível de demanda. No longo prazo, os dois insumos são variáveis; no curto prazo, é mais fácil ajustar o insumo trabalho do que o capital (é mais fácil demitir do que vender ativos fixos). Se a demanda cai, cria-se um excesso de trabalhadores. As empresas podem contornar esse excesso diminuindo a jornada, reduzindo salários ou demitindo (três alternativas hoje utilizadas ou em discussão) ou, ainda, esperando que a demanda volte a aumentar em pouco tempo.
Os dividendos são distribuições dos lucros da empresa para seus acionistas. Empresas com bons projetos de investimento (com rentabilidade acima do custo de capital) vão distribuir poucos dividendos e empresas sem bons projetos distribuem mais lucro. A lógica é que, sem projetos rentáveis, o dinheiro servirá melhor aos acionistas na mão deles do que no caixa das empresas. No atual momento, duas situações podem estar ocorrendo: a recessão/desaceleração reduziu o número de bons projetos e a rentabilidade dos demais (ou não seria crise); ou, os projetos continuam a existir, mas o financiamento está mais caro (tanto dívida quanto capital próprio). No primeiro caso, faz sentido distribuir mais dividendos; no segundo, seria melhor reter lucros para financiar os projetos. Também, basta ter lucro para que esse possa ser distribuído, não importa se o lucro aumentou ou diminuiu.
A ligação entre os dois não é nada direta. Uma empresa pode aumentar o quadro de funcionários em resposta a aumentos na demanda e mesmo assim ter prejuízo (possivelmente, o aumento na demanda diminua o prejuízo). O que está acontecendo com muitas empresas ao redor no mundo é uma queda na demanda que, simultaneamente, provoca demissões e reduz o lucro das empresas (ou leva ao prejuízo).
Discuti aqui redução na demanda, mas poderia haver um choque de oferta (aumento de custos) no seu lugar. O efeito é uma redução na oferta e uma redução na quantidade demandada (por conta do aumento de preços). O efeito é o mesmo, mas ao invés de dizer “redução na demanda” devemos dizer “redução na quantidade demandada”.
No fundo, trata-se da cordialidade brasileira, do levar tudo para o lado pessoal ("ética de fundo emotivo"). Empresários que demitem não o fazem porque isso seja necessário, mas agem com maldade no coração porque são uns canalhas. Não acho que seja por aí.
Mas alguém poderia dizer: as empresas têm muito lucro e poderiam absorver o prejuízo dos trabalhadores. Antes de tudo, vamos parar de usar o termo “empresa” e vamos usar termos que representem pessoas físicas. O que acontece, nesse processo, é uma transferência de valor dos acionistas para os trabalhadores. Não vejo porque os acionistas deveriam aceitar isso, já que os trabalhadores não aceitariam trabalhar de graça se a empresa tivesse prejuízo. Se os trabalhadores querem compartilhar os riscos positivos (o lucro e o ganho de valor da empresa), deveriam aceitar compartilhar os riscos negativos (prejuízos e perda de valor). Tratarei mais disso em outro texto.
Em essência, cada lado está fazendo o certo, defendendo os interesses de quem eles representam (ao menos, supomos isso). Os administradores das empresas estão defendendo os interesses dos acionistas e os sindicalistas os interesses dos trabalhadores. Mas bem que os sindicalistas poderiam agir de forma melhor. Pedir para que uma pessoa dê um tiro no próprio pé em troca de nada não é, em situação alguma, um pedido provável de ser aceito.
Porém, os acionistas poderiam aceitar reduzir ou cessar os dividendos, mantendo um sorrisinho de canto de boca. Primeiro, é possível afirmar que a distribuição de dividendos não afete o valor da empresa (Irrelevância dos dividendos, a ser discutido em outro lugar). Segundo, nos casos em que existem bons projetos, basta investir nesses projetos usando o caixa, ou guardando-os para melhor oportunidade. Terceiro, pode ser decidido não pagar dividendo algum, mas recomprar ações, operação que pode ser recomendável em um momento desses (após perdas de valor de mercado) e que produz o mesmo efeito dos dividendos (distribuição de resultados).
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