quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Ganância

A crise de 2008 tem muitas causas e uma das apontadas é a ganância dos participantes do mercado (em especial, os tais banqueiros de Wall Street). Mas o que significa exatamente ganância?

Quando não se sabe o significa de uma palavra, recorre-se ao dicionário. Consultando o Aurélio, temos que ganância é a sede ou ambição de ganho. Ainda segundo o mesmo dicionário, ambição é desejo intenso. Portanto, podemos afirmar que ganância é o desejo intenso por ganho.

É um bom começo. Para avançar mais, basta lembrar como a Economia trata os objetivos das pessoas e das organizações: maximizar o valor para o acionista para empresas, maximizar utilidade (coeficiente numérico que indica o grau de satisfação) para consumidores, investidores e trabalhadores, maximizar lucro em empresas (para questões microeconômicas como gestão de estoques ou definição de preço e quantidade produzida). Trata-se, em suma, de maximizar algo que represente um ganho.

Conclui-se então que a economia trata os indivíduos racionais como gananciosos, sempre buscando ter cada vez mais, mais sedentos após que antes. As pessoas encaram isso com asco, a frase “maximizar valor para o acionista” para definir o objetivo da empresa parece um absurdo infame para muitos. Mas, na verdade, a ideia de maximização é algo importante.

Em problemas de Pesquisa Operacional, define-se um problema adotando uma função objetiva (maximizar ou minimizar uma equação) e uma série de restrições para as variáveis que compõem essa função. Através de algum algoritmo, as variáveis assumem um valor tal que atingem o objetivo respeitando as restrições impostas. É útil adotar uma função objetiva visto que esta define os critérios para se avaliar o resultado final. Adotar uma função como “alcançar meta”, não é tão eficiente, já que é possível se atingir uma meta de diversas maneiras e sem um critério definido não é possível descobrir qual dessas maneiras é a mais desejável.

Mesmo adotando-se um critério, é possível incorrer em erros se esse critério não for adequadamente formulado. Um desses erros é adotar um critério que leve em conta apenas os benefícios, sem considerar os custos decorrentes. Imagine se o objetivo da empresa fosse maximizar receita. Chega-se a um valor maior de receita do que se chegaria com outro critério, mas a um custo muito maior, talvez até resultando em prejuízos para a empresa.

Outro problema é adotar um critério míope que considere apenas os resultados do período mais próximo, desconsiderando os resultados futuros além desse. Um exemplo é o de adotar como objetivo da empresa a maximização de lucro, não de valor. É possível que um administrador consiga maximizar o lucro do ano atual tomando atitudes que prejudiquem os lucros futuros (agir antieticamente, vender para clientes com duvidosa capacidade de pagamento, adiar investimentos, cortar gastos com propaganda e etc.), o que prejudica os acionistas no futuro. A busca dos administradores por lucros de curto prazo (para maximizar o bônus recebido por eles) foi apontada como uma das causas para a crise do subprime (reagindo aos incentivos dados pelos acionistas).

Por fim, ignorar os riscos e levar em conta apenas os retornos também é um problema. Para não recorrer ao mesmo exemplo do parágrafo anterior, cito como exemplo a escolha do investidor. Se o investidor só se importar com o retorno de seu investimento e ignorar os riscos associados, vai alocar o seu patrimônio em ativos de altíssimo retorno esperado, mas que também possuem altíssimo risco. Com isso, ou ele vai ganhar montanhas de dinheiro ou vai perder tudo e mais um pouco. Existem pessoas que agem dessa maneira, mas essa não me parece ser a atitude mais racional ou razoável.

Em suma, a ganância é o comportamento maximizador de ganhos e somos todos gananciosos (ou alguém pode afirmar que, tudo o mais constante, não aceitaria um aumento de salário?). E é bom que sejamos, pois isso nos dá critérios para nossas ações e ajuda a promover o progresso econômico (uma tese que não cabe aqui neste post discutir).

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