sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Redecard e seus três balanços

Se você fosse um professor e tivesse perguntado qual foi o crescimento do lucro da Redecard em 2008, qual das alternativas consideraria certa?

A) 33,4%
B) 43,4%
C) 70,69%
D) Nenhuma das anteriores
E) A) B) e C) estão certas

Por mais estranho que possa parecer, a última resposta é a certa. A companhia divulgou a sua Demonstração de Resultados do Exercício de três maneiras distintas.

A forma “Contábil”, de acordo com Legislação Societária, é a que consta no DFP (Demonstração Financeira Padronizada), disponível no site da companhia, no site da Bovespa e que foi divulgado em vários jornais (como o Valor Econômico de 13/02/2009). Nessa forma, o crescimento foi de 70,69%.

Há ainda o “Pro-forma” que modifica os resultados de 2007. Até 31 de Março de 2007, a Redecard era um consórcio dos seus três controladores: Itaú, Unibanco e Citigroup. Após o fim do consórcio, a contabilidade da Redecard passou a ser feita de outra maneira e essa demonstração “Pro-forma” reflete essas mudanças. Esse demonstrativo está na Nota Explicativa nº. 18 do DFP. Consta dois lucros líquidos, um antes e outro depois da distribuição de resultados do consórcio. O lucro depois da distribuição é igual ao da forma “Contábil”. Nessa forma, o crescimento do lucro (antes da distribuição) foi de 33,36%.

Há ainda o demonstrativo “Recorrente”, disponível na divulgação de resultados no site da companhia, nas páginas 19 e 20 (páginas do documento, não do arquivo pdf). A Receita Operacional Líquida é reclassificada como a Receita Líquida (do DFP), mais a Receita Financeira Líquida e mais o efeito da mudança de contabilização da remuneração dos emissores. Para o cálculo do lucro líquido, o efeito líquido das reclassificações é nulo, mas há os efeitos não recorrentes que aumentaram o lucro, que foram a receita com venda de ações da Mastercard e reversão de provisão de ISS. O demonstrativo subtrai essas receitas não-recorrentes e soma de volta (de forma correta) os impostos que foram pagos sobre essas receitas.

Os resultados são como se segue:


O título do texto poderia ser mais preciso. Na verdade, deveria ser “Redecard e suas três DREs”, já que o Balanço Patrimonial não mudou conforme mudaram os critérios.

Qual dos três usar? Pessoalmente, como se três alternativas não bastassem, vou usar uma quarta possibilidade. Essa possibilidade que usarei é para preservar a história e conseguir usar os resultados desde 2004 (apresentados no prospecto da IPO). A série a ser registrada possui os mesmos valores do pro-forma para lucros, mas modifica a receita de uma forma parecida com a da forma recorrente, somando a Receita Líquida e o Resultado Financeiro (como foi feito no prospecto). A diferença é que o “Recorrente” fez uma outra reclassificação e somou a Receita Financeira Líquida. Como não descobri qual é esse valor para 2004 e 2005, usei o Resultado Financeiro.

Fazendo assim:



Para cálculos de variação anual, prefiro os dados recorrentes. O crescimento em 2007 seria 17,76% e 38,91% (receita e lucro, respectivamente) e em 2008 26,5% e 43,42%. Em quatro anos, usarei taxa composta com o crescimento em 2005 e em 2006 como na tabela acima e os demais anos com os dados recorrentes. Assim, a receita cresceu, em média, 21,05% a.a. e o lucro 40,56% a.a.

Para cálculo de Retorno sobre Patrimônio Líquido (ROE), o lucro usado é o lucro líquido recorrente. Em 2008, o ROE foi de 152,62% (sim, a empresa gerou mais Lucro Líquido do que tem de Patrimônio Líquido). Comentarei esse (e outros) números em outro texto.

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