sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A semana (29/10-04/11)

Finanças

1) “Quem não acompanha o mercado acaba fazendo um investimento passivo em ações, colocando dinheiro em um fundo que segue um índice como o Ibovespa”. Será? Na falta de evidências sobre o assunto, the jury is still out on that one

2) Em seguida, o anônimo fala de empresas com má governança. Cita Petrobras, “empresas X”, Hypermarcas e Vanguarda Agro (ex-Ecodiesel). Por que não citar a Vale também, que teve o caso da troca de presidente esse ano. Gerdau? Tam? Talvez seja dada importância exagerada para o Novo Mercado, mas, exceto pelo Banco do Brasil, que é estatal, nenhum dos grandes bancos faz parte do Novo Mercado (salvo engano, nenhum banco é do NM desde que a Nossa Caixa foi deslistada). Falando em estatais, precisaria excluir essas também. Nessa reportagem, alguns exemplos a respeito de estatais. Sem falar na Eletrobras, que ficou vários e vários anos sem pagar dividendos. Não podemos também esquecer das empresas familiares e as com estruturas societárias piramidais. Procure no formulário de referência uma por uma que achará várias. BDRs de empresas sediadas em paraísos fiscais (ou seja, quase todas as BDRs), então, nem pensar. Desse jeito não sobra nada.

3) “Hoje em dia, fica claro que ninguém sabia exatamente o que essa empresa [Hypermarcas] comprou.” Todos sabem o que a empresa comprou, o problema é que ficar fazendo aquisições nem sempre leva à criação de valor (pelo que me lembro vagamente, “criação de impérios” através de aquisições geralmente destrói valor). O problema seria de estratégia corporativa, não de governança. O que o anônimo poderia querer dizer é que ninguém sabia ao certo quais seriam os efeitos das aquisições. Por melhor que a governança de uma empresa seja, isso nós nunca sabemos ex-ante. Se ainda por cima fossemos excluir empresas por conta de suas estratégias empresariais, aí é que não sobra nada mesmo.

4) Analisando índices, o IGC está subindo 48,64% em 5 anos, contra 48,59% do Ibovespa. Em prazos mais curtos, o IGC cai menos, mais pelo desempenho menos ruim dos bancos do que por outra coisa.

5) O próprio anônimo diz que sobra bancos (um estatal e três fora do Novo Mercado) e “algumas outras exceções”. O anônimo esqueceu a Ambev e não me lembro de nada desabonador fora não fazer parte do Novo Mercado. Empresas de Telefonia e de Energia Elétrica não tem muito peso individualmente, mas também são importantes como um todo. Tem muitas estatais nesse grupo e tem ainda a Telemar (TNLP e TMAR). (Sobre essa última, preciso escrever alguma coisa?) Há ainda as siderúrgicas e também não me lembro de muita coisa sobre essas (exceto Gerdau), exceto não fazerem parte do NM.

6) E isso não é o que sobra do Ibovespa, é o que sobra do mercado. Tem muitas empresas que abriram capital recentemente. Embora muitas façam parte do Novo Mercado, são muito novas na bolsa e não sei se muitos cravariam essas empresas como exemplos indubitáveis de governança. A Agrenco tinha um conselho de administração estrelado e nem por isso deixou de ter problemas que transbordam a governança. De resto, empresas familiares, com estruturas piramidais, pequenas etc.

7) “Eu acho que a BM&FBovespa deveria fixar critérios que fossem bem além da liquidez ao avaliar a composição da carteira do Ibovespa”. O anônimo dá exemplo do Dow Jones. Ora, não consigo imaginar um Dow Jones brasileiro sem Petrobras e Vale (por algum motivo, o anônimo não citou Vale, mas me parece que deveria). Ou poderia ser um índice parecido com o S&P 500, mais amplo (e ponderado por valor de mercado, implicitamente o anônimo deveria ter acrescentado). Pois bem, temos o Ibx-100 com 100 ações e o IbrA com 156 na última composição, contra o Ibovespa com 68. Na última revisão dos índices o peso de Petrobras e da Vale no Ibovespa era de 24,97%, 30,27% no Ibx-100 e 28,64% no IbrA. Mais amplos, mas não necessariamente menos concentrados.

8) Ou seja, me parece duvidosa a tese de que o Ibovespa dá peso demais para empresas de má governança. O índice dá um peso consistente com o peso da ação no mercado brasileiro. Talvez as empresas brasileiras não tenham boa governança, mas isso é problema do mercado brasileiro, não do Ibovespa.

9) Mas, acima de tudo, não é porque a empresa tenha má governança que o investimento será necessariamente ruim (ou seja, de retorno esperado negativo). Pelos estudos que já resumi aqui, melhor governança tem efeito negativo no custo de capital (o que equivale dizer que tem efeito negativo nos retornos ajustados ao risco) e que falta de transparência nos demonstrativos contábeis aumenta a obliquidade negativa. Dessa forma, os retornos esperados de empresas com má governança podem ser maiores (por serem mais arriscadas), mas há também maior ocorrência de desvalorizações expressivas. Como ocorre na discussão sobre ações de empresas socialmente responsáveis, talvez as implicações para investimentos não sejam tão óbvias assim.

10) Em suma, tivesse eu escrito isso, também pediria para ficar anônimo!

Economia

Brasil: Leve um, pague dois! – “Governo intervirá no mercado do trigo para garantir preços mínimos: você pagará duas vezes!”


Tweet da semana
@mkarl: “A esquerda vê a liberdade de expressão da mesma forma que a direita vê os direitos humanos. Como se só existissem para quem não presta.”

Twitter
A revista Capital Aberto agora tem Twitter e, conforme seu único tweet por ora, passará a postar noticias no microblog a partir de dezembro. Até agora só tem um seguidor, que sou eu mesmo. Estou me sentindo solitário...

Frase da semana
“ (...) o desempenho de uma carteira de ações bom montada (sic) pode ser infinitamente superior ao CDI.” Oba! (1+CDI%)^∞. Conte-me mais, por favor...

Nenhum comentário:

Postar um comentário