Continuando a série sobre os fatores que determinam o retorno no primeiro dia de ofertas iniciais, a próxima variável é a idade.
Se a subprecificação está diretamente ligada à incerteza, a idade da empresa deveria estar negativamente relacionada com os retornos iniciais. Quanto mais antiga for a empresa, maior é o conhecimento geral sobre a emissora. Esse conhecimento pode não ser perfeito e o mercado vai conhecendo mais sobre a empresa conforme aumenta o tempo como companhia aberta (hipótese analisada em artigos aqui resumidos). Mas uma empresa mais antiga é menos incerta do que uma empresa mais nova, que pode ainda nem existir ou pode ter começado há muito pouco tempo (o que foi comum durante a bolha pontocom).
Para o mercado internacional, essa hipótese se confirma e é constatada relação negativa entre idade e retorno inicial. As referências são: Beatty (1989), Megginson e Weiss (2001), Habib e Ljungqvist (2001), Ljungqvist e Wilhelm (2003), Loughran e Ritter (2004), Flagg e Margetis (2008), Bradley et. al. (2009) e Chambers e Dimson (2009). No mercado brasileiro, no entanto, Zierth (2008) encontrou relação positiva.
Uma das dificuldades em utilizar essa variável é que nem sempre a data de criação da empresa é tão fácil de se definir. Em muitos casos, há uma reorganização da empresa, o que inclui troca de nome, de objeto social, a mudança para sociedade anônima e até a criação de uma holding, o que leva a empresa a ter uma data de criação recente, mas com atividades remontando um tempo mais pretérito. Outra possibilidade é a empresa ser resultado da fusão de algumas empresas (caso da Trisul, para não falar de BR Brokers ou BR Insurance) e a data de criação sendo a data de fusão. Tentei seguir mais o conteúdo do que a forma na definição do valor dessa variável, sem cair em alguns exageros. A Sul América, por exemplo, tem sua origem remontando 1895. Porém, atribuir 112 anos de idade para a empresa me parece um exagero e a própria empresa define sua data de criação como 13/03/1978 a partir da formação da holding. No fim, muitas empresas tiveram que ser analisadas minuciosamente para definir a melhor data de criação sem que eu possa garantir ter feito a melhor escolha.
Na análise univariada, separando as ofertas pela metade, não há diferença significativa entre as empresas mais antigas e as mais novas, a média do primeiro grupo sendo 5,09% e a do segundo 4,11%. Na análise multivariada com dados esperados, a variável IDADE não é estatisticamente significativa, e na multivariada é apenas ao nível de 10% (p-valor de 0,072). Isso ocorre tanto originalmente no meu TCC quanto com os dados atualizados. Ou seja, não é possível afirmar com tanta certeza haver uma relação entre idade da empresa e retornos iniciais.
A empresa mais antiga é a Bovespa Holding (117 anos quando da IPO), que (por um acaso?) é a oferta com maior retorno inicial. Observando as 10 mais antigas, nenhuma caiu e o retorno médio é de 13,20% (8,87% sem Bovespa Holding). Há três altas expressivas além da Bovespa, Nossa Caixa (17,58%, segunda mais antiga), Lopes Brasil (15,75%) e São Martinho (18,30%). A Cremer, sexta mais antiga, é um caso peculiar, já que se trata de uma empresa que havia fechado capital alguns anos antes de reabri-lo em 2007 em uma oferta com variação nula no primeiro dia. No final de 2010, ocorreu a oferta da terceira empresa mais antiga dentre as listagens recentes, a Raia (74 anos declarados pela própria empresa).
Analisando as 10 empresas mais novas que tenham mais de um ano de existência (o que inclui as empresas X e outras criadas na IPO), empresas com 1,2 ou três anos, o retorno médio é de 4,22% e três caíram no primeiro dia (Ecodiesel, HRT e Brazil Pharma). Altas expressivas apenas BR Brokers (13,68%), Terna e Dufry (quase 10%). Ou seja, nos extremos, até que parece haver uma relação.
Em uma das minhas hipóteses sobre porque as ofertas no Brasil parecem ser negativamente afetadas pela incerteza (a relação positiva com a idade indo nessa direção), conjecturei que talvez esses resultados se deem pelo perfil das empresas que vieram a mercado a partir de 2004, empresas grandes e razoavelmente consolidadas, o que pode ter tirado um pouco da demanda pelas empresas mais incertas. A idade média das empresas é de 24,49 anos (mediana 18,5). Segundo Flagg e Margetis (2008), a idade média das empresas analisadas no mercado dos Estados Unidos foi de 15,16. Segundo Chambers e Dimson (2009), a média foi de 36,02 (mediana de 27) no Reino Unido. Só com uma análise comparativa para saber se essa hipótese tem algum sentido. Há uma análise de retornos em diferentes mercados (ver aqui), mas não sei se esclarece esse ponto.
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