terça-feira, 3 de março de 2009

Telebrás


Esse será um perfil diferente do feito para as outras empresas. O mais relevante não são os dados contábeis, de mercado, governança, perspectivas futuras ou outra coisa qualquer. Tem mais caráter histórico.

Muito se usa a Telebrás como um exemplo de Blue Chip que deu errado, de ação que era a mais negociada da Bovespa e hoje é um mico, etc. Isso não é de todo verdadeiro.

Sim, a ação preferencial da Telebrás foi a ação mais negociada entre Set/91 e Set/98, mas foi, na época, era uma empresa muito diferente da que é hoje, compartilhando apenas o nome e o código (TELB, após a reforma dos códigos para quatro letras). A Telebrás de hoje é o que restou da privatização da Telebrás, um esqueleto completamente inútil cuja dissolução já estava prevista quando da privatização. A Telebrás que foi a ação mais negociada era um conglomerado que reunia empresas estatais de telecomunicações. A privatização foi feita com uma cisão da Telebrás em 12 empresas:

Telefonia Fixa e Longa Distância::
Telesp – Comprada pela Telefônica, ainda como Telesp no pregão brasileiro.
Tele Centro Sul – Hoje Brasil Telecom
Tele Norte Leste – Telemar
Embratel – Controlada pela América Móvil.

Telefonia Móvel
Telesp Celular – Hoje, parte da Vivo
Tele Sudeste Celular – Hoje, parte da Vivo. Comprada na privatização.
Telemig Celular – Ainda existe como tal, a Vivo comprou.
Tele Celular Sul – Tim Participações
Tele Nordeste Celular – Tim Participações
Tele Centro Oeste Celular – Hoje, parte da Vivo.
Tele Leste Celular – Hoje, parte da Vivo.
Tele Norte Celular – Holding da Amazônia Celular, pertence à Telemar, ainda de capital aberto.

Os acionistas da antiga Telebrás receberam um recibo de ações que representava as ações dessas 12 empresas. O primeiro recibo (TELEBR 30 e 40, ON e PN respectivamente) incluía as ações da nova Telebrás (o zumbi de hoje) e o segundo (TELEBR 31 e 41) já excluía a atual TELB.

Se fossemos nos referir à Telebrás antiga ação mais líquida, deveria ser uma soma de: Telesp, Brasil Telecom, Telemar, Embratel, Vivo e Tim Participações (Tele Norte Celular está inclusa na Telemar). A soma resulta em um valor de mercado de R$ 82.950.038.000 (02/03/2009) e seria a terceira maior empresa por valor de mercado (a quarta após a fusão Itaú-Unibanco).

A Telebrás de hoje tem como atividade principal, conforme site da Bovespa: “Respondendo pelas obrigações legais e contencioso judicial”.

Há a discussão da reativação da Telebrás para levar a banda larga para regiões do país não atendidas atualmente usando a rede da falida Eletronet, fora outros objetivos como cuidar das comunicações militares. Não pretendo discutir qual é a probabilidade da Telebrás ser reativada. Mas, sou da opinião de que isso não faz sentido. Concordo com a opinião de Ethevaldo Siqueira exposta em um artigo no jornal Estado de São Paulo (disponível no site dele). O benefício de se fazer a “inclusão digital”, como diz o jargão, poderia ser feito a um custo muito menor se o governo pagasse para que uma ou mais operadoras fizessem esse serviço. Atualmente, as operadoras não prestam esse serviço por não ser lucrativo. É menos oneroso ao contribuinte pagar para as operadoras, tornando o projeto economicamente viável, do que fazer isso via uma estatal. Isso acontece porque as operadoras já possuem competências para operar redes de telecomunicações (competência que a Telebrás não tem) e já possui uma estrutura administrativa.

Seria necessário criar uma estrutura administrativa para esse projeto. E essa seria a verdadeira razão para reativar a Telebrás: empregar correligionários (do governo, dos aliados do governo, sabe-se lá de quem mais) em uma empresa estatal, de preferência mais do que seriam necessários, certamente mais pessoas (e de um tipo diferente) do que aconteceria se fosse contratada uma operadora.

O melhor para o contribuinte, o menos oneroso, seria esquecer essa idéia de reativar a Telebrás. Pena que esse nunca é o critério utilizado.

Não é muito relevante, mas algumas informações da atual Telebrás:
Receita Líquida 2008: R$ 0,00 (nunca teve receitas operacionais em sua forma zumbi)
Patrimônio Líquido: R$3.840.000 (era negativo em 2007).
Lucro Líquido 2008: R$- 31.784.000
Valor de Mercado (2/03/2009): R$ 198.112.250

Curiosidade: Entre 1999 e 2005, a Telebrás teve lucro. Apesar de não ter receita operacional, a Telebrás investe em títulos de renda fixa, que vão rendendo jurosm e possui receitas não-operacionais. Passou a ter prejuízos por conta de maiores despesas gerais e administrativas (desligamento de pessoal, perdas com ações judiciais, etc.).

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