quinta-feira, 26 de março de 2009

OGX



Em Junho de 2008, ocorreu a IPO da OGX Petróleo. Houve muito escarcéu pelo fato da empresa não estar em fase operacional, o que implicava que ela não possuía receita. Abaixo, alguns comentários soltos por ai:

1) Isso é um estelionato. O Eike (Fuhkren Batista, dono da empresa) vai vender a empresa, deixar cair e recomprar mais barato.
2) Isso é sinal de topo na bolsa. Parece coisa da bolha da Nasdaq
3) É ridículo! A empresa nem tem sede, não fez uma Nota Fiscal sequer.
4) Uma empresa sem receita vale R$ 0,00

Comentários meus:

1) Isso é uma disparatada besteira. A oferta é primária, o seu dono não recebeu nada. Após a oferta, a empresa dele passa a ter um valor de mercado de bilhões. Aparentemente, ele enriqueceu do nada. Na prática 1) Não foi do nada. Ele já era dono de um ativo (direito de exploração de campos de petróleo) que vale muito e a bolsa apenas evidencia essa riqueza e 2) Ele só vai ter esse dinheiro no bolso se vender as ações, o que é um tanto complicado, pelo tamanho de sua participação na empresa. E mesmo que fosse (seja) um estelionato, para que recomprar?

2) Isso não é verdade porque essa não foi a única operação do tipo. Houve em 2006 a IPO da Brasil Agro e da MMX e em 2007 a da MPX Energia e da Invest Tur. Todas empresas na fase pré-operacional que não geravam receita. Isso é um Venture Capital com ações em bolsa. Se isso foi sinal de topo, houveram sinais mais fortes em 2006 e 2007 e nada aconteceu.

3) A OGX tem sede no Rio de Janeiro, mais especificamente na Praia do Flamengo, número 154, 7º andar. De fato não gerou nenhuma nota fiscal, o que é normal de uma empresa pré-operacional. Apesar de não ter receita, teve lucro em 2008 (R$360 milhões) por conta das receitas financeiras da aplicação dos recursos levantados e ainda não investidos na operação.

4) O valor de qualquer ativo é o valor presente dos seus fluxos de caixa futuros. Uma empresa pode não ter receitas hoje e pode consumir fluxo de caixa hoje, mas no futuro pode ter fluxos de caixa positivos. Essa empresa não começa do zero absoluto: possui direitos de exploração de campos de petróleo e pretende, com o capital levantado na oferta, extrair e vender esse petróleo. O valor da empresa vem dessas bases. Se o valor de lançamento era justo ou não é outra história, só sei que não era R$ 0,00.

Alguém pode questionar se uma empresa sem fluxos de caixa deveria se financiar abrindo o capital na bolsa. Nesse caso, me parece a melhor alternativa. A empresa não poderia se financiar com dívida bancária por não ter fluxo de caixa para pagar o serviço da dívida. O dono da empresa sozinho não tem dinheiro para financiar a empresa (na época, ele alegava que tinha patrimônio acima do levantado na oferta, mas grande parte estava em ações das empresas do grupo dele, não em caixa). Talvez uma colocação privada poderia ser uma alternativa, mas seria mais difícil encontrar os sócios, o que é mais fácil de se fazer com oferta pública. Estar com ações na bolsa diminui o receio dos novos sócios e facilita futuras captações.

Esse texto não é uma defesa da companhia ou de seu dono. É uma exposição das besteiras que foram ditas quando de sua abertura de capital.

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