Todos os anos, em Fevereiro ou Março, a capa da revista Exame é “Onde Investir em 20XX”. Na reportagem da capa, há uma parte de recomendações de ações para o ano, resultado de uma consulta com analistas de mercado, o que cria uma primeira lista, e de um estudo da Economática, que seleciona melhor as ações da primeira lista. Chamarei essas recomendações de carteira sugerida apesar de não ser essa, exatamente, a intenção das reportagens.
A pergunta natural que surge é: qual teria sido o desempenho de alguém que investisse na carteira recomendada? Ou ainda: vale a pena seguir o que revista sugere, ou, de forma mais precisa, seguir o que os analistas sugerem?
Analisar as recomendações dessas edições não pode sequer começar a responder a segunda pergunta, mas a primeira pergunta pode ser respondida. Montei carteiras com as ações recomendadas na “Onde Investir em 20XX”, uma versão com pesos iguais para as ações e outra com pesos proporcionais ao valor de mercado de final de Março do ano da edição (só tenho os valores de mercado nessa data). Os preços usados foram ajustados por proventos (ou seja, supõe reaplicação de dividendos). A fonte é o site Pladin. Os resultados:
A pergunta natural que surge é: qual teria sido o desempenho de alguém que investisse na carteira recomendada? Ou ainda: vale a pena seguir o que revista sugere, ou, de forma mais precisa, seguir o que os analistas sugerem?
Analisar as recomendações dessas edições não pode sequer começar a responder a segunda pergunta, mas a primeira pergunta pode ser respondida. Montei carteiras com as ações recomendadas na “Onde Investir em 20XX”, uma versão com pesos iguais para as ações e outra com pesos proporcionais ao valor de mercado de final de Março do ano da edição (só tenho os valores de mercado nessa data). Os preços usados foram ajustados por proventos (ou seja, supõe reaplicação de dividendos). A fonte é o site Pladin. Os resultados:
Existe uma forma melhor para se montar a carteira, usando as técnicas de carteiras eficientes usando retornos esperados (fornecidos pela revista) e risco (não fornecidos precisamente). Posso fazer um novo estudo com essa abordagem, no futuro.
Apenas em 2008 a carteira sugerida ponderada por valor de mercado teve desempenho pior do que o Ibovespa (caiu mais). A carteira com pesos iguais ganhou apenas uma vez do Ibovespa, ganhando também da outra carteira, e em 2007 teve um desempenho absolutamente patético.
Qual das duas carteiras deve ser levada em conta? Ponderar por valor de mercado é a melhor abordagem, na maioria dos casos, este incluso. Porém, nesse estudo acaba causando um problema: acaba ficando muito concentrada nas maiores empresas. Em 2008, Petrobras e Vale responderam por 72,65% da carteira. A terceira maior participação foi Itaúsa, com 5,14% (ficaria maior se fosse usado Itaubanco no lugar). A Tenda ficou apenas com 0,14%, o que se mostrou uma decisão sábia, mas é desnecessário acrescentar tal ativo em uma carteira com apenas 20 ativos. O mesmo ocorreu em 2006 e 2007 e em 2005 a concentração ficou em Vale e Itaubanco.
Isso acaba tornando desnecessária a recomendação de empresas menores (Ideiasnet por duas vezes, Randon, Coteminas, etc.). O maior mérito entre 2005 e 2007, me parece, foi saber escolher quais ações do Ibovespa não incluir na carteira sugerida. É mais uma seleção de ações por exclusão do que por inclusão.
Algumas observações sobre a reportagem:
1 – As justificativas das sugestões podem ser boas para indicar “empresas boas”, “bem administradas”, com “boas perspectivas”, como queira. Seria uma sugestão de investimento para qualquer momento, independente de ser 2009 ou 2010. Mas nada na reportagem indica que essas empresas estão baratas, fora os retornos esperados (em 2009, a reportagem não divulgou retornos esperados, ou “potencial de alta”). Alegam no texto que fizeram essa consideração (com o estudo da Economática), mas não mostraram isso.
2 – Dentre as ações sugeridas em 2009, existem algumas redundâncias em termos de correlações. Itaúsa e Bradesco são muito correlacionadas, assim como Gerdau, Usiminas e CSN. Ao se montar carteiras “no papel” isso não é um problema. Pagando corretagens por ordem executada, tendo que monitorar a carteira e reaplicando dividendos, ter essas 5 ações pode ser ineficiente.
3 – A reportagem não sugere que o investidor compre as ações e deixe até Dezembro (ou até a próxima edição, como fiz), listando alguns riscos que poderiam prejudicar o rendimento das ações. Não inclui essa consideração no meu estudo, pois seria muito difícil modelar isso.
4 – Os resultados foram até que bastante favoráveis à reportagem. O que não significa que alguém deveria seguir cegamente as sugestões da revista. De forma geral, investidor algum deveria confiar cegamente em conselheiro algum, seja uma revista, um analista, eu ou Warren Buffett. Mas uma análise pode servir como uma sugestão de estudo ou uma primeira ideia sobre onde investir.
Apenas em 2008 a carteira sugerida ponderada por valor de mercado teve desempenho pior do que o Ibovespa (caiu mais). A carteira com pesos iguais ganhou apenas uma vez do Ibovespa, ganhando também da outra carteira, e em 2007 teve um desempenho absolutamente patético.
Qual das duas carteiras deve ser levada em conta? Ponderar por valor de mercado é a melhor abordagem, na maioria dos casos, este incluso. Porém, nesse estudo acaba causando um problema: acaba ficando muito concentrada nas maiores empresas. Em 2008, Petrobras e Vale responderam por 72,65% da carteira. A terceira maior participação foi Itaúsa, com 5,14% (ficaria maior se fosse usado Itaubanco no lugar). A Tenda ficou apenas com 0,14%, o que se mostrou uma decisão sábia, mas é desnecessário acrescentar tal ativo em uma carteira com apenas 20 ativos. O mesmo ocorreu em 2006 e 2007 e em 2005 a concentração ficou em Vale e Itaubanco.
Isso acaba tornando desnecessária a recomendação de empresas menores (Ideiasnet por duas vezes, Randon, Coteminas, etc.). O maior mérito entre 2005 e 2007, me parece, foi saber escolher quais ações do Ibovespa não incluir na carteira sugerida. É mais uma seleção de ações por exclusão do que por inclusão.
Algumas observações sobre a reportagem:
1 – As justificativas das sugestões podem ser boas para indicar “empresas boas”, “bem administradas”, com “boas perspectivas”, como queira. Seria uma sugestão de investimento para qualquer momento, independente de ser 2009 ou 2010. Mas nada na reportagem indica que essas empresas estão baratas, fora os retornos esperados (em 2009, a reportagem não divulgou retornos esperados, ou “potencial de alta”). Alegam no texto que fizeram essa consideração (com o estudo da Economática), mas não mostraram isso.
2 – Dentre as ações sugeridas em 2009, existem algumas redundâncias em termos de correlações. Itaúsa e Bradesco são muito correlacionadas, assim como Gerdau, Usiminas e CSN. Ao se montar carteiras “no papel” isso não é um problema. Pagando corretagens por ordem executada, tendo que monitorar a carteira e reaplicando dividendos, ter essas 5 ações pode ser ineficiente.
3 – A reportagem não sugere que o investidor compre as ações e deixe até Dezembro (ou até a próxima edição, como fiz), listando alguns riscos que poderiam prejudicar o rendimento das ações. Não inclui essa consideração no meu estudo, pois seria muito difícil modelar isso.
4 – Os resultados foram até que bastante favoráveis à reportagem. O que não significa que alguém deveria seguir cegamente as sugestões da revista. De forma geral, investidor algum deveria confiar cegamente em conselheiro algum, seja uma revista, um analista, eu ou Warren Buffett. Mas uma análise pode servir como uma sugestão de estudo ou uma primeira ideia sobre onde investir.
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