segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O que significa pobreza?

Robert Rector e Rachel Sheffield
Backgrounder. Nº 2575. 18/07/2011

De acordo com o U.S. Census Bureau, 43,6 milhões de americanos (14,3%) são considerados pobres pelas estatísticas oficiais. Os 1% mais ricos ficam com 20% da renda bruta ajustada, enquanto que os 50% mais pobres ficam com 12,75% (ver aqui). Fatos que não condizem com o status de maior economia do mundo. O que não se analisa comumente é o padrão de vida dos que as estatísticas oficiais classificam como pobre, o que o artigo procura remediar.

Quando se pensa em pobreza, a imagem que surge é a de estado de privação, fome e moradia ou em más condições ou, pior, ausência de moradia, ou seja, sem que as condições básicas de sobrevivência sejam supridas. O que outras estatísticas do governo mostram é um retrato bem diferente. Os autores analisaram a da Residential Energy Consumption (RECS), a pesquisa Survey of Income and Program Participation (SIPP), a American Housing Survey (AHS) e outras referenciadas no artigo

A pesquisa RECS mostra as amenidades possuídas pelos americanos, ou seja, bens de luxo ou ao menos não tão essenciais. Os autores fazem uma lista de 30 amenidades e mostram a porcentagem de lares que possuem esses itens em 2005, o primeiro gráfico mostrando todos os lares e o segundo apenas os pobres. O segundo gráfico mostra, entre outras coisas, que 78,3% dos pobres possuem ar condicionado (contra 84% dentre todos os domicílios), 63,7% possuem TV paga (79,1% no geral) e 29,3% possuem videogame (31,3% no geral). Há inclusive 0,6% de pobres que possuem uma jacuzzi.

Para melhor examinar essa questão, criaram um Indicador de Amenidades que vai de 0 a 30 de acordo com o número de amenidades que há nos domicílios. O lar mediano possui Índice de 19 amenidades e os pobres 14. O domicilio pobre mediano possui: Ar condicionado, máquina de lavar, secadora de roupa, ventilador de teto, telefone sem fio, duas TVs coloridas, TV paga, DVD player, tocador de VCR, geladeira, forno, micro-ondas e cafeteira.

Analisando apenas os domicílios com crianças, o índice para os pobres sobe para 16, e o lar pobre mediano possui: ar condicionado, computador, TV paga, três TVs a cores, DVD player, tocador de VCR, videogame, geladeira, forno, micro-ondas, cafeteira, celular, telefone sem fio e lavadora de roupa.

Muitos desses itens poderiam ser considerados itens de luxo há algumas décadas e agora, como se vê, são bastante disseminados nos Estados Unidos. Com o tempo, há uma tendência natural de queda nos preços por conta de ganhos de escala, aumentos na eficiência, aumentos na experiência de produção, competição e outros fatores que só não resultam em maior queda por conta da emissão de moeda por parte do governo (ou seja, inflação).

A pesquisa AHS fornece mais informações sobre as condições de moradias das pessoas, de particular interesse dos pobres. A visão de moradias em condições precárias não se reflete nas estatísticas. Em 2009, apenas 6,1% dos pobres moram em domicílios com mais de uma pessoa por quarto. Segundo outro estudo de um dos autores, Robert Rector (ver aqui), o americano pobre vive em moradias maiores do que cidadãos medianos em países de alta renda. Esse mesmo estudo mostra que 42,6% dos pobres possuem a própria casa e 73,4% possuem carros ou caminhões. O lar pobre médio tem três quartos, um banheiro e meio e garagem.

Outra questão é a nutrição. Segundo a pesquisa SIPP, 66,6% dos pobres alegam comer o suficiente do tipo que desejam, 25,9% comem o suficiente, mas nem sempre o que desejam, 5,9% nem sempre conseguem comer o suficiente e 1,5% geralmente não conseguem comer o suficiente. Na pesquisa anterior de, na tabela 4, nota-se que a ingestão média de nutrientes dos pobres é bem próxima do recomendado. Em 2009, ano de crise, 18,5% dos domicílios experimentaram ao menos uma vez redução na alimentação por conta de problemas financeiros, o porcentual sendo menor para crianças (3.9%). Menos de 5% da população utilizou ao menos uma vez algum serviço de caridade para se alimentarem.

Em seguida, há a questão de sem tetos. Segundo um relatório do governo, em um dado dia, 643 mil pessoas estão sem moradia, 403 mil dormindo em abrigos e o restante na rua. Em 2009 1,56 milhão de pessoas passaram por um abrigo de sem-teto ao menos por um dia (segundo entendi), ou 4% da população. Por fim, retomando a pesquisa anterior de Rector, 70% dos pobres alegam que conseguem atender suas necessidades básicas e apenas 13% dos pobres alegam não conseguir atendimento médico por problemas financeiros.

Em conclusão, o pobre mediano vive em boas condições nos Estados Unidos com um padrão de consumo que seria bem aceitável para padrões brasileiros: seguindo o mesmo critério do governo para definir quem é pobre, os dados mostram que o pobre mediano não vive em estado de privação. Certamente que nem todos os americanos são assim e uma parte possui dificuldades de atender suas necessidades básicas, mas esse valor é menor do que os 14,3% divulgados.

Mas é bem conveniente para alguns grupos superestimar o número de pobres, os autores fornecendo exemplos da exploração desse número de 43,6 milhões de pobres (ou quantia semelhante) por parte de políticos, grupos religiosos, ativistas , imprensa local e imprensa dos países inimigos dos Estados Unidos (que, não obstante sua situação não ser melhor, comemoram esses dados). O artigo mostra que esses números devem ser considerados com um grão de sal, como se diz em inglês.

Muitos dos indicadores de pobreza são definidos de forma relativa, como a estatística de desigualdade e o limite de renda para se considerar um domicílio como pobre (de forma a chegar aos 43,6 milhões de pobres). No fim do artigo, os autores relatam uma proposta de Obama de criar outro indicador com base em poder de compra. Ou seja, uma pessoa seria considerada pobre se seu poder de compra relativo é baixo. O problema dessa medida, aplicável a outras medidas relativas, é que (como apontado no artigo) se magicamente o poder de compra de toda a população triplicasse, o número de pobres não se alteraria, mas certamente a situação de todos se tornaria muito melhor (relativamente, a dos pobres melhoraria mais). O que o artigo argumenta, indiretamente, é que o mais importante são os níveis absolutos. Nesse quesito, não há 43,6 milhões de pessoas vivendo mal nos Estados Unidos.

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