O Journal of Portfolio Management lançou uma edição especial de aniversário de 40 anos. Uma feliz quase coincidência é que também há 40 anos foi criada a empresa de fundos de investimento Vanguard de John Bogle, como ele mesmo aponta em um dos artigos.
Disse que é uma quase coincidência porque o próprio
Bogle aponta um dos artigos publicados na primeira edição da revista como uma
fonte de inspiração. Trata-se do Challenge do Judgment de Paul
Samuelson, um curto artigo no qual o prêmio Nobel de 1970 chega ao veredicto de
que “desempenho superior em investimentos não está provado”. Samuelson não nega
que existam gestores de desempenho superior, mas no abstract (que, até alguns anos atrás, era um parágrafo logo abaixo
do título, mas que aboliram em tempos recentes, infelizmente) afirma que eles
se escondem muito bem. Além disso, afirma que os “fatos brutos” não mostram
evidência de que existam de maneira consistente.
A consequência disso, segundo Samuelson, é que a
indústria de gestão estava atraindo recursos demais (em especial, recursos
humanos) e que ao menos as grandes fundações deveriam investir em uma carteira
que seguisse o S&P 500. Essa não era uma prática em voga e não havia nenhum
produto de investimento que seguisse essa linha. E foi esse o ponto que chamou
a atenção de Bogle e o inspirou a criar a Vanguard. Ou seja, alguém poderia
imaginar que a Hipótese
de Mercados Eficientes (que já estava em circulação em 1974) era a
inspiração de Bogle, ou que era o CAPM,
mas a verdade é que a grande “musa” de Bogle foi Paul Samuelson, citado várias
vezes ao longo do artigo (diferente de Fama ou Sharpe). Na verdade, mesmo em um
mercado ineficiente a gestão passiva teria um imenso valor, dada a Aritmética
da Gestão Ativa e a Hipótese
de que custos importam. Bogle até trata com certa ironia a HME, dizendo que
a sua abordagem é muito mais pragmática e simples.
São dois temas comuns dos trabalhos de Bogle, em
especial na própria JPM, um deles a gestão passiva e outra a estrutura da
indústria de fundos (tema de sua tese de graduação). Nesse segundo ponto, a
Vanguard foi pioneira também ao focar nos custos e eliminando taxas de
carregamento, que eram comuns na época e hoje estão bem menores e menos
frequentes. A filosofia de Bogle era a de colocar o interesse do cotista (ou
acionista, como se fala nos Estados Unidos) do fundo em primeiro lugar, o que
inclui a eliminação de custos. A estratégia de Bogle era oferecer o primeiro
fundo indexado da história ao menor custo possível (0,05% hoje em dia com
investimento inicial de US$ 10 mil e adicional mínimo de US$ 100, sendo essa a
coisa que mais invejo nos americanos, ter acesso a esse fundo).
No artigo, Bogle conta a história da criação da
Vanguard em 1974 como cisão da empresa que ele dirigia, a Wellington, e o
lançamento do primeiro fundo indexado no ano seguinte, o (Vanguard) First Index
Investment Trust. Não foi uma trajetória fácil, já que ele encontrou diversos
obstáculos e até acusação de ser antipatriótico. Analisa também a sua alegação
de que foi realmente o primeiro fundo indexado (spoiler: sim, foi). E demoraria
uma década para que o segundo fosse lançado e hoje temos uma série de fundos
indexados e até ETFs. O artigo aborda outros temas, basicamente uma revisão de
todos os artigos publicados por Bogle na JPM, mas considero a criação da
Vanguard o principal.
Considero John Bogle a pessoa mais importante de
investimentos (teoria e prática) do século XX ao criar um excelente e barato
produto de investimento que basicamente é a única coisa que qualquer investidor
precisa ter ao investir em ações (não significa que todo mundo deveria investir
apenas em um fundo indexado, mas que fazer isso já é suficiente para a maioria
das pessoas). Como Paul Samuelson comparou, a invenção do fundo indexado é o
equivalente à imprensa de Gutenberg para os investimentos, criando um produto
valioso a um baixíssimo custo.
John
Bogle
Journal
of Portfolio Management – 40 years. 2014
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