Recentemente, um banco lançou um CDB que paga juros mensais de 1% ao mês. Aqui, alguns comentários sobre esse produto.
O
primeiro é sobre o próprio cálculo de rentabilidade do produto. A melhor
solução para calcular o retorno do título é através da taxa interna de retorno
dos juros mensais e a devolução do principal no vencimento. Seria possível
acumular os retornos mensais, mas essa não me parece ser a melhor solução, já
que esse seria mais um cálculo do desempenho médio do produto do que de retorno
efetivo do investidor. (No futuro, pretendo escrever mais sobre essa
diferença). Sendo assim, o investidor tem uma percepção errônea ao olhar a taxa
anualizada esperada (10,30% a.a. em três anos, 10,43% a.a. em cinco anos) e
comparar com a de um produto que paga juros apenas no vencimento. Essa taxa do
CDB mensal mostraria o retorno do investidor caso ele reinvestisse os juros
mensais à mesma taxa interna de retorno (o que é uma situação irreal; por que
alguém receberia juros mensais e reinvesti-los se poderia receber tudo no
final?). Ou seja, a taxa de retorno desse produto não é um indicativo da
evolução do patrimônio do investidor ao ter aplicado nesse produto (mais sobre
isso adiante).
O
banco que oferece esse produto não mostra a rentabilidade anualizada/TIR (mas
uma reportagem sobre o assunto, provavelmente com orientação do emissor, o fez),
e sim a rentabilidade mensal. Isso dificulta ainda mais a comparação, já que a
maioria dos produtos (exceto poupança) é expressa em porcentagem anualizada. Ou
seja, o pagamento mensal de juros acaba por tornar esse um produto mais
complexo de entender, apesar da aparente simplicidade.
E
um fator que reduz a rentabilidade do investimento é o pagamento de imposto de
renda. São dois fatores em curso aqui: primeiro, a alíquota dos juros recebidos
em até dois anos é maior do que 15%, ao contrário de um CDB de dois anos que
pagaria 15% apenas no resgate, supondo prazo superior a dois anos. Outro fator
é o pagamento antecipado do imposto de renda, sendo melhor
você pagar o imposto de renda o mais tarde possível. Mesmo que a alíquota
fosse a mesma nos dois produtos, esse segundo fator ainda pesaria contra o
pagamento mensal dos juros.
Em
números: a taxa interna de retorno do CDB de três anos que paga juros mensais
de 1% é de 0,82% após imposto de renda. Um CDB de 12,68% a.a.a que paga juros
apenas no vencimento do título junto com o principal têm taxa de retorno de
0,87% a.m. Um CDB que pague 11,93% a.a. (0,94% a.m.) tem a mesma taxa interna
de retorno do CDB que paga juros mensais. Aumentando o prazo para cinco anos, a
taxa do CDB de juros mensais é de 0,83% a.m., equivalente a um CDB normal de
12,05%.
Para
comparar, fiz algumas cotações de CDBs. Em um grande banco, o CDB de três anos
pagava no valor de R$ 250 mil 11,512% (não havia opção de cinco anos). Um banco
médio que opera com conta
digital (permitindo que o investidor pessoa física invista facilmente)
pagava 12,50% (quase 1% a.m.) no CDB de 3 ou 4 anos. Além disso, a LTN com
vencimento em 2018 paga também 12,50%. Ou seja, uma alternativa pior em termos
de rentabilidade, o grande banco, como seria de se esperar, e alternativas
melhores em banco médio e Tesouro Direto sem os problemas mencionados nos
parágrafos anteriores.
Formação de Patrimônio ou Renda
Outro
aspecto relevante a notar é que esse produto não serve para a formação de
patrimônio. O investidor compra o CDB por um valor e irá receber o mesmo valor no
vencimento, mais os juros daquele mês. Claro que o investidor pode reinvestir
os juros, em outro produto ou no mesmo (fazendo um novo CDB), mas, se essa é a
intenção, para que comprar um produto que paga juros mensais em primeiro lugar?
Mais compensa comprar um CDB com rentabilidade equivalente que paga tudo no vencimento,
terminando com um valor futuro muito superior ao valor presente aplicado.
Agora,
se a intenção é de conseguir uma renda, esse CDB pode servir para esse
propósito. Na verdade, qualquer produto com liquidez imediata poderia ter essa
função, basta a cada vez o investidor resgatar o rendimento do mês passado e
manter apenas o valor principal. Nesse caso, o CDB de juros mensais ganha
pontos em conveniência (já que o “resgate” é automático). E na rentabilidade o
CDB de juros mensais também levaria vantagem, já que tem taxa de 12,68% contra
os 12,50% do CDB normal que não tem liquidez imediata. No banco médio citado, é
possível conseguir liquidez imediata, porém, a remuneração é 100% do CDB, bem
menor do que os 12,68% do CDB de juros mensais. A questão passa a ser se para
alguém é interessante investir R$ 250 mil em um CDB e conseguir uma renda
mensal de no máximo R$ 2.125 (250000*0,01*0,85).
Em
suma, esse produto é muito menos revolucionário do que se diz e a parte nova
(pagamento mensal dos juros) não é muito boa, exceto se você estiver procurando
uma renda, e mesmo assim não é uma renda muito grande (no máximo 0,85% do valor
investido, que não deve ser todo o patrimônio do investidor).
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