segunda-feira, 24 de março de 2014

Capitalismo de Compadrio na The Economist

Capitalismo de Compadrio

Na edição da semana passada, a reportagem de capa da revista The Economist foi sobre o crony capitalism, capitalismo de compadrio em português. Basicamente, consiste em extrair renda (rent-seek) através de conexões políticas, o que pode ou não envolver corrupção. Como destaque da edição, esse tema teve várias reportagens especiais.


A primeira tratava dos problemas que vários países estão enfrentando com corrupção, como Ucrânia, Turquia e China, enquanto uma reportagem inteira foi dedicada à Índia. Em mercados emergentes, o capitalismo de compadrio é bastante forte, mas há indícios de que isso está mudando, com o escrutínio sobre os governantes aumentando, a parcela de setores conhecidos por serem afeitos ao compadrio (commodities e infraestrutura) diminuindo e o crescimento menor podendo obrigar os governantes a fazer reformas, inclusive nas leis antitruste.

A principal reportagem, e a mais interessante, é sobre o índice de capitalismo de compadrio. O índice é calculado utilizando a porcentagem do patrimônio dos bilionários em setores considerados mais propensos ao compadrio como uma porcentagem do PIB. O país mais “compadrista” é Hong Kong e o segundo a Rússia. Brasil aparece apenas em 13º, o que não é uma posição muito ruim. Talvez a posição do Brasil estivesse pior se o ranking fosse feito há uns três, quatro anos atrás, quando um Xerto bilionário fervoroso adepto e defensor do capitalismo de compadrio estava em alta.

Esse índice não é perfeito. Ignora pessoas que escondem a sua riqueza, como muitos dos chineses mais abastados. A caracterização dos setores “compadristas” pode ser frágil e ainda é possível apropriar renda em outros setores através de conexões políticas. Ao considerar apenas bilionários, ignora os multimilionários que enriqueceram graças às suas conexões políticas, mas não chegaram na marca do bilhão.


Esse é um assunto importante tanto do ponto de vista do crescimento quanto do desenvolvimento/distribuição de renda. Para os defensores do livre mercado, é importante atacar o capitalismo de compadrio para que isso não se confunda com a verdadeira livre iniciativa. Um excelente livro brasileiro sobre o tema é o Capitalismo de Laços, resenhado aqui.

Atualização
A propósito de rent-seeking, o blog Brasil, Economia e Governo tem um ótimo texto sobre o assunto.

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