Na edição da semana passada, a reportagem de capa da revista The Economist foi sobre o crony capitalism, capitalismo de compadrio em português. Basicamente, consiste em extrair renda (rent-seek) através de conexões políticas, o que pode ou não envolver corrupção. Como destaque da edição, esse tema teve várias reportagens especiais.
A primeira
tratava dos problemas que vários países estão enfrentando com corrupção, como
Ucrânia, Turquia e China, enquanto uma reportagem inteira foi dedicada
à Índia. Em mercados emergentes, o capitalismo de compadrio é bastante
forte, mas há indícios de que isso está mudando, com o escrutínio sobre os
governantes aumentando, a parcela de setores conhecidos por serem afeitos ao
compadrio (commodities e infraestrutura)
diminuindo e o crescimento menor podendo obrigar os governantes a fazer
reformas, inclusive nas leis antitruste.
A
principal reportagem, e a mais interessante, é sobre o índice
de capitalismo de compadrio. O índice é calculado utilizando a porcentagem
do patrimônio dos bilionários em setores considerados mais propensos ao
compadrio como uma porcentagem do PIB. O país mais “compadrista” é Hong Kong e
o segundo a Rússia. Brasil aparece apenas em 13º, o que não é uma posição muito
ruim. Talvez a posição do Brasil estivesse pior se o ranking fosse feito há uns
três, quatro anos atrás, quando um Xerto bilionário fervoroso adepto e defensor
do capitalismo de compadrio estava em alta.
Esse
índice não é perfeito. Ignora pessoas que escondem a sua riqueza, como muitos
dos chineses mais abastados. A caracterização dos setores “compadristas” pode
ser frágil e ainda é possível apropriar renda em outros setores através de
conexões políticas. Ao considerar apenas bilionários, ignora os
multimilionários que enriqueceram graças às suas conexões políticas, mas não chegaram
na marca do bilhão.
Esse
é um assunto importante tanto do ponto de vista do crescimento quanto do
desenvolvimento/distribuição de renda. Para os defensores do livre mercado, é
importante atacar o capitalismo de compadrio para que isso não se confunda com
a verdadeira livre iniciativa. Um excelente livro brasileiro sobre o tema é o Capitalismo
de Laços, resenhado aqui.
Atualização
A propósito de rent-seeking, o blog Brasil, Economia e Governo tem um ótimo texto sobre o assunto.
Atualização
A propósito de rent-seeking, o blog Brasil, Economia e Governo tem um ótimo texto sobre o assunto.
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