Eugene Fama e Kenneth French.
Journal of Financial Economics.
Volume 105. Ed. 3. 2012.
O modelo de
três fatores já foi descrito anteriormente no blog, assim como a variante com quatro fatores após a inclusão da variável momentum feita por Carhart (ver aqui) e diversos artigos resumidos aqui
utilizaram-se desse modelo para análise do desempenho de carteiras ou de
retorno de ativos. Os próprios formuladores do modelo original procuraram no
artigo a ser comentado examinar outros mercados além dos Estados Unidos e
verificar se o modelo é válido.
Os autores
criam versões locais e globais do modelo de quatro fatores, utilizando dados da
Bloomberg e da Worldscope referentes ao período 1990-2011. São vinte e três
países examinados, desenvolvidos e emergentes, havendo a preocupação de
analisar ações grandes e pequenas nesses países, o que acabou tornando a janela
de tempo relativamente curta. A metodologia é a mesma do modelo de três
fatores, com a separação das ações em grupos em relação ao tamanho, relação
Valor Contábil / Valor de mercado e momentum. São dois grupos de tamanho,
grandes (que representam 90% da capitalização de mercado) e pequenas (os outros
10%). Para valor e momentum, as relações são separadas nos percentis 30 e 70.
As variáveis “do lado esquerdo” são vinte e cinco carteiras criadas a partir de
uma matriz 5 x 5 tamanho e valor ou 5 x 5 tamanho e momentum. Na matriz 5 x 5,
as fronteiras de tamanho são os 3º, 7º, 13º e 25º percentis, enquanto que a
parte de valor e de momentum são divididas em quintis.
Nas
estatísticas descritivas, no lado direito da equação (os fatores), constata-se
um prêmio por risco na maioria dos mercados (exceto Japão), um prêmio por valor
e um prêmio por momentum, mas não um prêmio por baixa capitalização de mercado.
Porém, constata-se que o prêmio por valor e por momentum são maiores para o
grupo de ações menores (exceto no Japão). Examinando agora o lado esquerdo (25
carteiras nas duas matrizes 5 x 5), constata-se a existência de prêmios por
valor e também por tamanho de forma linear na maior parte das vezes. No caso do
prêmio por tamanho, as exceções são as empresas com menor relação Valor
Patrimonial/Valor de Mercado (ou seja, as ações “de crescimento” mais caras).
Nesse grupo de ações, há um prêmio por tamanho reverso, embora a relação seja
muito menos linear do que nos demais grupos de valor. Outro fato a se observar
é que o prêmio por valor é extremamente alto no grupo das ações de menor
tamanho (microcaps no grupo que
representa as 3% ações de menor valor de mercado) e que esse prêmio vai
diminuindo conforme se aumenta o tamanho das empresas. O mesmo se aplica sem
muitas mudanças analisando as 25 carteiras tamanho x momentum.
A parte mais
importante (e já a última) é a análise da capacidade dos modelos de explicar os
retornos dos ativos. As variáveis de análise são o alfa médio das 25 carteiras,
o erro-padrão desses alfas, o coeficiente de determinação (r-quadrado), a
estatística do teste F para examinar se os modelos se adequam aos dados (à lá Gibbons et. al. (1989)) que os autores chamara de GRS e o índice de
Sharpe dos alfas (Sr(a) partindo da mesma referência do GRS).
Primeiro, os
autores analisam as carteiras globais formadas com fatores globais. Toda essa
primeira parte considera as 25 carteiras tamanho x valor, para depois serem
analisadas as carteiras tamanho x momentum. O CAPM é rejeitado pelo GRS e
mostra alfas significativos em diversas carteiras. O modelo de três fatores
obtém um melhor resultado, com r-quadrado de 95% e com a redução nos alfas
significativos, mas continua sendo rejeitado pelo teste-F/GRS. Um problema que
se repetirá em outros modelos é uma anomalia nas microcaps e um prêmio por valor reverso nas empresas no grupo de
maior capitalização de mercado. O modelo de quatro-fatores (com a variável de
momentum WML – “Winners minus losers”) melhora ainda mais os resultados, mas
continua sendo rejeitado pelo GRS. A solução dos autores foi eliminar as microcaps da amostra (apesar de isso
poder ser interpretado como um ajuste no modelo para torna-lo mais aceitável),
melhorando o desempenho dos três modelos, mas continuando a rejeitá-los pelo
GRS. Apesar disso, os autores acreditam que o modelo de quatro fatores possa
ser considerado aceitável (apesar do GRS), com elevado r-quadrado e baixo alfa
médio. A conclusão é que é razoável utilizar o modelo de quatro fatores com
fatores globais para analisar ativos globais, desde que a amostra desses ativos
não esteja concentrada em microcaps e
que os preços dos ativos parecem ser formados de forma integrada globalmente
exceto no caso das microcaps.
A próxima
análise é dos retornos regionais (Estados Unidos, Europa, Japão e
Ásia-Pacífico) por meio de fatores globais. Os modelos não são rejeitados
analisando Europa e Japão, mesmo considerando as microcaps, e excluir essas ações resulta na não rejeição dos
modelos por meio do teste GRS. A questão é a significância econômica, com os
alfas sendo elevados e com altos erros-padrões e o r-quadrado sendo baixo, o
Japão ainda contando com alfas médios negativos. Dessa forma, modelos com
fatores globais para explicar retornos locais são inadequados.
Analisando
agora os retornos locais com fatores locais, os modelos são válidos para as
regiões (exceto Ásia-Pacífico), nos Estados Unidos sendo necessário excluir as microcaps. No caso do Japão, os alfas
são estatística e economicamente indistinguíveis de zero, de forma que os
modelos de três e quatro fatores são adequados. As ações europeias mostram um
prêmio por valor anômalo no caso das microcaps
(alfas significativamente diferentes de nulos nesse grupo) e um prêmio por
valor reverso no grupo de maior capitalização de mercado nos extremos de valor
(megacaps). Na Ásia-Pacífico, os
modelos só se tornam significativos pelo GRS se as microcaps forem excluídas, mas o r-quadrado não é tão elevado e o
erro-padrão do intercepto é elevado, de forma que os modelos utilizados não têm
bom desempenho nessa região. Para o caso das ações americanas, o teste-F
rejeita a validade dos modelos que incluem microcaps,
mas não quando essas ações são excluídas. Há o mesmo padrão anômalo nos alfas
das microcaps encontrado na Europa e
o prêmio de valor reverso nas megacaps.
Na análise
das carteiras tamanho x momentum, os autores utilizam apenas o modelo de quatro
fatores. Nas carteiras globais com fatores globais, o resultado é o mesmo
obtido analisando-se as carteiras tamanho x valor, ou seja, o GRS rejeita as
carteiras considerando ou não as microcaps, mas desconsiderando as ações de
menor tamanho faz com que o poder explicativo seja alto (elevado r-quadrado e
baixo erro-padrão), de forma que os autores consideram aceitável utilizar o
modelo de quatro fatores para analisar carteiras globais.
Analisando os
modelos com fatores locais, as conclusões são parecidas com as obtidas no exame
das carteiras tamanho x valor. Nos Estados Unidos, o GRS rejeita o modelo de
quatro fatores que inclui as microcaps,
mas não quando essas ações são excluídas, havendo vários interceptos
significativamente diferentes de zero nas microcaps.
No Japão, o GRS não rejeita o modelo de quatro fatores, que também possui
elevado poder explicativo, mas há alfas significativamente positivos nas microcaps que tiveram pior desempenho.
No caso da Europa e Ásia-Pacífico, o GRS rejeita os modelos locais, que também
não têm muito poder explicativo (elevados erros-padrões).
Resumindo o trabalho
dos autores, modelos formados com fatores globais têm alguma capacidade de
explicar retornos de carteiras globais, desde que não haja um peso excessivo em
microcaps, indicando que há alguma
integração na formação de preços, exceto no grupo mencionado. Fatores globais
não podem ser utilizados para explicar retornos locais. Quanto aos fatores
locais, a análise das carteiras formadas na matriz tamanho x valor mostram que
o modelo de três e de quatro fatores explicam de forma adequada os retornos no
Japão, na Europa e Estados Unidos (excluindo microcaps), mas não na Ásia-Pacífico. Porém, a análise das
carteiras tamanho x momentum revela que os modelos são menos bem-sucedidos na
explicação dos retornos, principalmente na Europa e, novamente, Ásia Pacífico.
A maior parte das anomalias se concentra nos extremos da classificação entre
vencedores e perdedores, de forma que o modelo de quatro fatores não poderia
explicar os retornos de carteiras que atribuem elevado peso para ações que
tiveram desempenho extremos. Mas, segundo os autores, é raro fundos apostarem
tão fortemente em ações muito ganhadoras ou muito perdedoras, de forma que as
análises anteriores sobre desempenho de fundos podem ainda ser consideradas
válidas.
Em suma, esse
artigo mostra algumas fraquezas do modelo de quatro fatores em sua explicação
dos retornos dos ativos. A maior parte das aplicações do modelo se dá com
ativos americanos, e (na minha opinião) talvez o modelo não tenha um desempenho
tão mais ou menos quanto teve nesse artigo se for ampliado o horizonte de
análise (como no artigo de 1993 dos autores). Muitos estudos ainda precisarão
ser feitos sobre os retornos de ativos para termos um melhor entendimento desse
campo ainda nebuloso.
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