Narjess Boubakri, Omrane Guedhami,
Dev Mishra e Walid Saffar.
Journal of Corporate Finance.
Volume 18. 541-559. 2012.
Já escrevi
anteriormente (aqui e aqui) sobre o efeito das conexões políticas
(contribuições para campanhas ou donos que também são políticos) nos aspectos
econômicos das empresas, as evidências mostrando que as empresas se beneficiam
de suas conexões na forma de maior rentabilidade e alta nas ações quando as
conexões são eleitas. Por outro lado, quando há algum escândalo ou perda de
cargo, as empresas conectadas também sofrem, de forma que as conexões políticas
são bênçãos mistas para as empresas. Esse é um tema ainda bastante pesquisa e
sempre sai pesquisas novas. A pesquisa de Boubakri et. al. (2012) mostra o
efeito das contribuições no custo de capital analisando empresas de diversos
países (Brasil não incluso).
Os autores
utilizaram a mesma amostra utilizada por Faccio (2006), analisando 26 países no
período 1997-2001. A empresa é considerada conectada se o
principal acionista ou algum alto executivo é político eleito ou está
relacionado de alguma forma (por parentesco ou amizade) com algum político.
Para o cálculo do custo de capital, os autores procuraram utilizar uma
metodologia com dados ex-ante, mas que não dependam dos retornos históricos e
sim do custo implícito no preço das ações. Os autores adotam quatro
metodologias diferentes, na falta de um consenso sobre qual deveria ser
utilizada, tirando uma média do custo projetado por cada modelo: Gebhardt (2001), Claus e Thomas (2001), Easton (2004) e Ohlson and Juettner-Nauroth (2005). As análises são feitas comparando com
empresas não conectadas semelhantes, cada empresa conectada sendo combinado com
uma empresa do mesmo país, da mesma indústria e com mesmas características
(tamanho, alavancagem, Preço/Valor Patrimonial etc.).
Os autores
passam então a analisar o custo de capital em função do fato da empresa ser
conectada e uma série de controles. As análises são feitas utilizando a base
completa ou apenas as empresas conectadas e as suas semelhantes. Em todas as
análises, os autores encontram evidências de que há uma relação negativa entre
conexão política e custo de capital, ou seja, as empresas conectadas possuem
menor custo de capital. Os autores expandem a análise discriminando o tipo de
conexão que a empresa possui. Primeiro, examinam se a relação é através do
governo, do parlamento ou de relacionamento próximo, apenas o último tipo de
conexão afetando de maneira significativa o custo de capital. Depois, examinam
se a conexão se dá na diretoria ou através de propriedade, os autores
determinando que a relação negativa com o custo de capital se concentra nas
conexões através de propriedade. As variáveis de controle se comportam do modo
esperado, tamanho estando negativamente relacionado com o custo de capital, por
exemplo.
A análise
principal é complementada por testes de robustez. O primeiro é utilizar uma
variável instrumental para mitigar possíveis problemas de endogeneidade
(conexão política estar relacionada com outra variável e esta seria a
verdadeira razão do menor custo de capital). A variável instrumental escolhida
foi a exigência de divulgação de informação da conexão. A regressão em dois
estágios começa estimando a conexão política através da exigência de
divulgação, sendo encontrado que em países em que é exigido que as conexões
divulguem suas relações possuem menor probabilidade de terem empresas
conectadas. Mesmo considerando essa nova variável, há relação entre conexão
política e custo de capital. Uma série de outros testes são realizados.
Primeiro, modificam a variável dependente, utilizando os modelos individualmente,
e não uma média dos quatro, ou utilizam o prêmio sobre o risco ao invés do
custo de capital bruto ou modificam os parâmetros para o cálculo do custo de
capital. Depois, incluem novas variáveis de controle, como uma aproximação para
o nível de desenvolvimento do país (logaritmo do PIB per capita), a classificação
de crédito do país como variáveis de controle e o crescimento de longo prazo
nos lucros. Também modificam as variáveis já nos modelos, mudando a estimativa
de erro dos analistas e trocando a variável tamanho por cobertura de analistas,
já que entende-se que o efeito do tamanho está relacionado com a
disponibilidade de informações. Por fim, há mudanças na composição da amostra,
eliminando as empresas financeiras, removendo países com menos de cinco
empresas conectadas, excluindo Indonésia e França, ao mesmo tempo ou em
separado, e modificando a maneira de combinar as empresas comparáveis. De todas
essas mudanças, apenas a exclusão de Indonésia e França juntas da base altera a
significância estatística (para o nível de 10%), mas nada muda o sinal do
coeficiente que indica que a empresa é conectada e indicando haver relação negativa
entre conexão e custo de capital.
Na última
parte do artigo, os autores fazem testes adicionais e examinam como outros
fatores influenciam a relação observada. O primeiro teste é sobre os resgates
de empresas, a amostra sendo separada entre países que tiveram casos de resgate
e os que não tiveram, a relação negativa se verificando apenas nos países em
que tiveram resgates. Isso pode indicar que os investidores em países com maior
compadrio entre governo e empresas acreditam que as empresas conectadas são
menos arriscadas e aceitam retornos menores. É como se a ação da empresa
conectada viesse com uma opção de venda, que é o resgate governamental. A
segunda questão é sobre o desenvolvimento do mercado, relacionado com a
liquidez das ações, verificando-se que o efeito negativo no custo de capital só
se dá nos mercados menos desenvolvidos. Em países menos democráticos (segundo
indicadores de um guia sobre o assunto) e mais corruptos (conforme Kaufmann et.
al. (2008)) e em países com menor liberdade de imprensa (segundo Dyck
e Zingales (2004)) registram a relação negativa estabelecida entre custo de
capital e conexão política, mas não as suas contrapartes (países mais
democráticos, menos corruptos e com maior liberdade de imprensa). Curiosamente,
hoje em dia os países menos democráticos e com menor liberdade de imprensa são
os que mais se dizem amigos do povo, mas, aparentemente são os reis do
capitalismo de compadrio. Assim, de forma geral, pior ambiente institucional
está associado com menor custo de capital para as empresas conectadas,
favorecendo os compadres do governo em detrimento do restante da economia.
Por fim,
separando a amostra em relação a alguma característica da empresa permite
examinar quais são os fatores mais relacionados com maior valor das conexões
políticas. Coerente com a literatura anterior, os autores determinam que
empresas maiores e mais antigas se beneficiam das conexões, mas não as empresas
menores e mais novas. Com relação à alavancagem, tanto as muito quanto as pouco
alavancadas registram uma queda no custo de capital por conta da conexão política.
Se muito, o efeito parece ser maior para as empresas mais alavancadas, mas os
autores não examinaram essa questão.
Em suma,
empresas conectadas politicamente registram um menor custo de capital, efeito
concentrado em países com pior ambiente institucional e mais significativo para
empresas maiores e mais antigas. Isso complementa a literatura sobre o valor
das conexões políticas ao mostrar também os efeitos no custo de capital das
empresas.
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