Robert C. Jones e Russ Wermers.
Financial Analysts Journal. Volume
67. Ed. 6. 2011
Já escrevi
diversas vezes sobre desempenho de fundos (ver aqui), a conclusão geral sendo a de que os fundos
ativos não conseguem na média obter desempenho superior aos fundos passivos.
Jones e Wermers não contestam esses resultados, mas sugerem que é possível
detectar “ex-ante” quais são os gestores que terão desempenho superior. A
abordagem dos autores parte de uma visão de que os mercados são quase
eficientes à lá Grossman e Stiglitz (1980). Não se trata de uma pesquisa empírica nova,
mas o resumo da literatura sobre fatores que levam alguns fundos a terem
desempenho superior.
Os autores
identificaram quatro fatores que podem ajudar a identificar gestores com
desempenho superior: 1) Desempenho passado; 2) Condições macroeconômicas; 3)
Características do fundo ou do gestor; 4) Análise da carteira do fundo. No
primeiro fator, os autores afirmam que fundos com melhor desempenho passado
conseguem retornos futuros superiores, mas enfatiza que é necessário ajustar os
retornos ao risco de maneira adequada e levar em conta a possibilidade de não-normalidade
dos retornos e outras questões.
Estudando o
desempenho passado, é possível analisar como o fundo se saiu durante
determinada condição macroeconômica. Segundo estudos anteriores, o fundo ativo
médio se sai melhor durante as recessões em relação aos fundos passivos.
Conforme os autores, Avramov e Wermers (2006) argumentam que é possível determinar quais são
os gestores que terão melhor desempenho com base em dados macroeconômicos, como
o nível de taxas de juros e a estrutura a termo das taxas. Os autores defendem
que o investidor diversifiquem a carteira de fundos procurando incluir fundos
de forma a incluir um grande número de cenários econômicos, já que pode é extremamente
difícil prever o cenário econômico.
Analisar as
características dos gestores ou dos fundos também podem ajudar. Gestores mais
experientes conseguem retornos superiores aos obtidos pelos gestores menos
experientes para fundos maiores, o inverso ocorrendo para fundos menores.
Gestores podem assumir posições maiores em empresas que possuem alguma conexão
social e os fundos geridos por eles conseguem desempenho superior. Gestores com
maiores notas no exame SAT e com MBA de melhores instituições conseguem
desempenho superior. Em fundos de hedge, gestores que “colocam sua pele no
jogo”, ou seja, investem nos próprios fundos, se saem melhor. Analisando a
gestora de fundos, a literatura indica que patrocinadores maiores conseguem
desempenho melhor em seus fundos, assim como as gestoras com estrutura
organizacional menos hierárquica. Analisando o próprio fundo, fundos com
menores gastos, mais bem classificados na Morningstar e que não têm restrições
a vendas a descoberto geram maiores retornos. A forma como o caixa é utilizado
pelo gestor também é um indicativo, sendo preferível que o gestor utilize-o de
forma tática. Na discussão sobre a especialização contra a flexibilização, não
há um consenso sobre o que é melhor. Especificamente para hedge funds, além de
ser detectado que esses fundos possuem desempenho superior, fundos com maiores
marcas d’água (que precisam gerar retornos maiores para receberem taxas de
performance), com maior base de ativos e mais velhos conseguem retornos
superiores.
É possível
examinar a composição da carteira dos fundos, simular essa carteira e depois
comparar com os resultados efetivos. Quando há uma grande diferença positiva
entre os retornos realizados e os simulados, o fundo supera o desempenho
conseguidos pelos fundos com grande diferença negativa (o que os autores não
mencionaram é a capacidade preditiva desse indicador). É possível também
comparar a volatilidade efetiva e simulada. Quando há uma grande diferença,
positiva ou negativa, o fundo gera retornos inferiores na comparação com
aqueles que são mais estáveis. Quando o “deslocamento do risco” (risk shifting,
em inglês), ou o gestor está protegendo bons retornos obtidos no período
anterior ao da divulgação da carteira ou estão aumentando o risco para tentar
alcançar seus pares. Examinando a carteira, é possível determinar se o gestor é
contrário ou de momento (ou de “rebanho”, “herd”), outras análises mostrando
que os primeiros conseguem desempenho superior. Gestores que tomam uma postura
mais ativa (comprando mais de determinada ação do que o índice referência
possui) conseguem retornos superiores aos obtidos por um gestor menos ativo
(nessa definição de “ativo”).
A
recomendação para o investidor seria aplicar em cotas de fundos com essas
características. Os autores não realizam testes mais sofisticados para
verificar se é realmente possível identificar gestores melhores e obter
retornos superiores. Não é tão direto juntar no liquidificador todas essas
evidências e gerar uma boa estratégia de investimentos. Porém, a postura dos
autores não é a de que o trabalho de identificar os melhores gestores é
trivial. Resumindo tudo, na média a gestão ativa gera retornos inferiores na
comparação com a gestão passiva, mas não seria impossível obter retornos superiores via gestão ativa. Porém, isso é um grande
desafio e a média joga contra o investidor ativo, e os autores procuram
fornecer algumas dicas baseadas em estudos empíricos de como identificar bons
gestores.
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