domingo, 26 de setembro de 2010

Planos de investimento automático

Os investidores precisam tomar diversas decisões, dentre as principais, escolher quais ativos comprar e quando executar as compras e eventuais vendas. Para simplificar a segunda decisão, existem diversos planos de investimento automático inventados. Esses planos indicam o momento de comprar e quanto investir por vez de maneira mecânica, sem que o investidor tenha que tomar nenhuma decisão a mais.

As primeiras menções datam da década de 40. Lucile Tomlinson escreveu uma série de artigos na Barron’s sobre “Fórmulas de Investimento de Sucesso”. Frente ao desapontamento com a projeção de preço das ações em um mercado eficiente (é claro que a autora não se expressa dessa maneira), passou-se a buscar uma maneira de investir automaticamente sem ter que se fiar nessas projeções. A ideia era criar uma fórmula matemática e mecânica para determinar a quantidade de ações a serem adquiridas a qualquer momento.

Essa série incluía o já aqui tratado Custo Médio (Dollar-Cost Averaging) em dois artigos em 1943: “How and Why “Dollar Averaging” Works” em 31/05 e “”Dollar Averaging” Applied to Individual Stocks and to Funds of Fixed Size” na semana seguinte. Esses artigos não possuem nada de novo. Ou antes: as ideias expostas neles, muito difundidas hoje em dia, são bastante velhas. Considerando que o DCA existia antes da Sra. Tolmilson escrever sobre isso, são mais de 70 anos de história. Como será mostrado em outro texto, uma história não muito boa.

Alternativamente, há o Equal Shares Amount (ESA), que consiste em comprar a mesma quantidade de ações em cada período. Essa estratégia não teve direito a defesa nos artigos de Tomlinson e a comparação com o DCA se mostrava desfavorável ao DCA.

Uma terceira estratégia é o que Tomlinson chamou de Constant Ratio Plan e que hoje chamam de Optimal Balancing (Balanceamento Ótimo). Consiste em procurar começar com uma proporção entre renda fixa e ações e, quando os preços modificarem muito essa proporção, ajustar para restaurar a proporção inicial.

Outra estratégia é a Constant Stock Plan, que procura manter o mesmo valor investidor em ações. Caso o preço suba, vende para manter o mesmo valor; se sobe, compra-se mais. A ideia seria vender quando a ação fica cara e comprar mais quando fica barata. O leitor deve achar essa uma ideia estapafúrdia e aparentemente diversas gerações de investidores acham o mesmo, já que não se vê essa sugestão circulando, diferente do DCA.

Uma última estratégia da série sugerida por Tomlinson é a de Preços Normais, que envolve um pouco mais de projeção. O investidor determina um valor médio, máximo e mínimo para o índice de referência. Caso o preço esteja acima do médio, vende ações; quando abaixo, compra. Caso atinja o limite superior, o investidor fica com o máximo determinado em ações; caso atinja o limite inferior, fica com o máximo determinado em renda fixa. Outra ideia que não vingou minimamente (surgiram variações mais sofisticadas que também não tiveram um futuro próspero).

Uma estratégia semelhante ao DCA, só que mais recente e mais sofisticada, é o Valor Médio (Value Averaging, VA) que procura manter o mesmo valor da carteira. Essa estratégia foi primeiro proposta por Michael Edleson em seu Value Averaging de 1988. Se o primeiro aporte é de $ 1.000 e a carteira se valoriza para $ 1.200, compra-se $ 800 para inteirar $ 2.000, equivalente a dois aportes de $ 1.000; se a ação cair a $ 700, compra-se $ 1.300 ações para inteirar $ 2.000.

A ideia por traz do DCA e do VA é comprar mais ações quando o mercado cai e menos quando o mercado sobe de forma a diminuir o custo médio. Mesmo que isso seja assim, a estratégia não é mais rentável só por isso, como será visto em outro texto. DCA e VA só são claramente melhores do que ESA, que, como argumentou um autor, é uma estratégia feita para perder do DCA e do VA. O ESA não se beneficia de modo algum da suposta diversificação no tempo: compra o mesmo número de ações “caras” quando o mercado sobe e o mesmo número de ações “baratas” quando cai. Se o mercado sobe, o preço médio do ESA é maior; se cai, também é.

Para serem comparáveis, as estratégias devem ter o mesmo valor investidor. Comparar LSI com DCA é simples, bastando dividir o valor investido no LSI pelo número de períodos que se deseja dividir no DCA ($ 1.200 dividido em 12 meses igual a $ 100 por mês, por exemplo). Os estudos a serem examinados em outro texto fazem simulações com diferentes períodos, dividindo o valor em um ano, dois anos, três e por ai em diante.

Se ESA e VA são variantes do DCA (ou DCA e VA são do ESA, não se sabe qual surgiu primeiro), o LSI também tem suas variantes. Pode-se comprar tudo de uma vez e manter essas compras inalteradas ou ir alterando a composição da carteira. A segunda alternativa é o Balanceamento Ótimo, tratado acima. Outra é o Buy and Hold, com uma compra LSI diversificando entre renda fixa e variável e não alterando a proporção (usa-se o termo Buy and Hold em outros sentidos, mas para esse texto e para outros deve-se considerar o sentido aqui exposto).

Os testes sobre qual das estratégias é melhor podem ter sido realizados de dois tipos: simulação de Monte Carlos, onde se presume um retorno médio das ações e da renda fixa, um desvio-padrão dos retornos e um padrão de distribuição de retornos, basicamente. Outro é com dados históricos, montando carteiras hipotéticas seguindo cada estratégia, em diferentes períodos de tempo. Para ações de grande porte, o índice usado costuma ser o S&P 500 e para ações de pequeno porte o Ibbotson Composite. A análise pode ser em termos de retornos absolutos, retornos ajustado ao risco, índice de Sharpe, índice de Sortino ou função utilidade.

Resumindo e para não se perder nas siglas em um texto futuro:
LSI: Lump Sum Investing. Investir tudo de uma vez.
BH. Buy and Hold. LSI diversificando entre renda fixa e variável sem alterar a composição da carteira
Bal: Optimal Balancing. LSI diversificando entre renda fixa e variável alterando a composição da carteira
DCA: Dollar Cost Averaging. Comprar ações gastando uma quantia monetária fixa por período.
VA: Value Averaging. Comprar ações periodicamente para ir aumentando o valor da carteira de forma constante, aplicando mais se as ações caem, menos se sobem.
ESA: Equal Shares Amount. Comprar a mesma quantidade de ações sempre.

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