Francesca Gino e Francis J. Flynn
Journal of Experimental Social Psychology. Volume 47. 2011
O artigo estudou o processo de presentear as pessoas, o que responde por 4% do orçamento das famílias nos Estados Unidos, segundo as referências dos autores. Já escrevi sobre um artigo a respeito do peso morto dos presentes, onde as pessoas recebem presentes que valem menos do que custou ao presenteador e esse artigo retoma a questão.
Muitas vezes, as pessoas preferem escolher o que dar de presente ao invés de seguir sugestões de quem será presenteado. Afinal, troca de presentes é um "processo de troca social, repleto de significado simbólico e sutilezas interpessoais" e seguir a sugestão do presenteado pode dar a intenção de que o presenteador não conhece muito bem o presenteado ou que não deseja gastar tempo e esforço nesse processo, de forma que o presente passe a aparentar ser algo impessoal ao invés de um sinal de compromisso com a relação com a pessoas. Talvez o presente não venha a ser grande coisa, mas ao menos a pessoa teve o cuidado de pensar no que o outro gostaria de receber, tornando o presente mais pessoal e significativo.
Como diria um comentarista de esportes americanos, chega! Na decisão sobre o que escolher, as pessoas tendem a focar em seus próprios pontos de vista, tentar adivinhar o que a pessoa gostaria de receber e superestimam a extensão que o presenteado compartilhará seu ponto de vista. Dessa forma, seguir sugestões talvez seja a "estratégia ótima"para minimizar o peso morto. É o que as pesquisas do artigo procuram analisar.
O primeiro estudo é sobre presentes de casamento. 198 pessoas casadas participam da pesquisa sobre receber ou dar presentes de casamento pedidos (como nas tradicionais listas de casamento) ou não pedidos, de forma que a pessoa poderia estar em uma de quatro situações na matriz papel x tipo de presente (receber ou dar x presente requisitado ou não requisitado). A resposta é baseada em uma experiência passada do respondente, onde a pessoa deu ou recebeu um presente da lista (requisitado) ou de fora (não requisitado), e foi perguntado em uma escala de 1 a 7 quanto a pessoa gostou do presente ou acha que o recebedor gostou. Os resultados indicam que presentes requisitados foram mais bem avaliados, que os presenteadores não avaliam diferentemente presentes requisitados e não requisitados, mas que os presenteados avaliam de maneira diferente em favor dos presentes que haviam pedido. Preço e o relacionamento com a pessoa que recebe ou que dá o presente aumentam a avaliação do presente, mas não alteram os resultados.
No segundo estudo, relativo a presentes de aniversário, usando a mesma metodologia, com 140 respondentes casados ou que estão em um relacionamento sério, os resultados foram um pouco diferentes em alguns pontos. Presentes requisitados não foram melhor avaliados somando os dois papéis (presentear ou ser presenteado), mas, como no estudo 1, os presenteadores não avaliaram diferente os presentes, mas os presenteados sim preferindo presentes requisitados.
O terceiro estudo envolveu wishlists da Amazon. 90 respondentes foram escolhidos para um dos papéis. Os presenteados criam uma lista de desejos e envia aos pesquisadores. O presenteador então deve ou escolher um dos presentes da lista ou analisar a lista e escolher um presente de fora da lista (o que cada um fará é determinado pelos pesquisadores). 10 dos presenteados são sorteados e ganham o presente escolhido, de forma que essa é uma pesquisa com um grau a mais de realismo (envolve além de uma modesta quantia de dinheiro, um presente de verdade). Após essas etapas, os respondentes foram questionados sobre o que acharam da escolha em termos de apreciação, consideração (thoughtfulness) e o grau de impessoalidade e a motivação do presenteador (maximizar a própria satisfação ou a de quem recebe). Como os outros estudos indicam, a satisfação prevista pelos presenteadores não varia com o tipo, mas a satisfação dos presenteados sim. Ainda, presenteados consideraram o presente requisitado mais atencioso e mais pessoal do que o presente não requisitado, os presenteadores não vendo diferença.
As duas últimas pesquisas envolvem condições limites. No quarto estudo, é analisada a situação em que quem vai receber declara seu desejo por receber um presente específico, e não uma lista de possíveis presentes. A metodologia é a mesma dos demais estudos, envolvendo 200 respondentes. Com a eleição de um presente específico, a satisfação prevista pelo presenteador é maior e os presentes requisitados resultam em maior satisfação. Para lista múltipla, há o mesmo efeito e ainda quem presenteia não vê diferença entre presentes requisitados e não requisitados, mas quem recebe vê diferença e prefere aqueles que constam de sua lista. Os resultados são parecidos analisando a consideração do presenteado, quem recebe o presente achando que o presenteador teve maior consideração por ele caso tenha dado um presente da lista.
A condição limite do quinto experimento foi entre dar um presente da lista ou dinheiro. Os resultados mostraram que o presenteador atribuiu maior satisfação prevista do que a real satisfação de quem recebe. O principal resultado é que os presenteadores achavam que quem recebe iria gostar mais do presente, porém, os presenteados acabaram preferindo receber em dinheiro. Os presenteadores acreditavam que os presenteados iriam considerar o presente em itens mais atencioso, porém os que receberam acharam o contrário.
Uma conclusão geral é a de que quem vai dar presentes acaba sendo excessivamente otimista em relação à satisfação esperada de sua escolha e que não veem muita diferença entre presente pedido ou não pedido em termos de satisfação e de consideração, mas quem recebe o presente prefere receber aquilo que já tinha declarado querer receber. Ainda, o quinto estudo indica que as pessoas preferem receber em dinheiro acima até de presentes que pediram.
A dica prática passa a ser de que, tendo uma dica, o melhor mesmo é dar um presente que a pessoa tenha pedido. Sempre há a chance de haver surpresas positivas, mas parece haver uma tendência para superestimarmos a nossa capacidade de saber o que a outra pessoa deseja. Presente em dinheiro parece uma boa, como atesta também essa notícia, e pode ser um pouco mais pessoal com os vale-presentes (gift cards). Só que não é em toda situação que isso funciona.
Por fim, o artigo não tratou de uma questão: não seria a troca de presentes um jogo de soma zero? Uma pessoa dá um presente de determinado valor e recebe outro de valor semelhante, só havendo um ganho para uma das partes quando a outra morre, o que não parece fazer muito sentido. Bom, mas isso é uma convenção social não opcional.
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