segunda-feira, 27 de junho de 2011

Perdas de Longo Prazo

Charles P. Jones
Journal of Investing. Verão. 2011.

A década de 2000-2009 foi a pior da história para o mercado acionário americano (referenciado pelo S&P 500), pior até do que 1920-1929 quando ocorreu a Grande Depressão. A perda, levando em conta o reinvestimento dos dividendos (o que o S&P 500 não faz automaticamente), foi de aproximadamente 10%. Essa estatística leva em conta apenas décadas completas (1900-1909, 1910-1919 etc.) e não períodos quaisquer de 10 anos, mas é um dado importante. O que o autor procura responder é se um investidor que tivesse entrado no mercado no começo de 2000 poderá algum dia recuperar seu capital investido.

O primeiro ponto é a definição de “recuperação”. Ter de volta apenas o principal não parece ser uma tarefa das mais difíceis, porém, o investidor continuaria tendo a perda em relação à renda fixa e a não compensação pelo risco incorrido. O autor utiliza o referencial de 10% a.a. como uma taxa adequada para as ações no longo prazo. Considerando as atuais taxas dos títulos de 30 anos (4,18% a.a.), isso significaria um prêmio por risco de 5,82%, um valor próximo ao que Pablo Fernández encontrou em pesquisa com professores, analistas e empresas, na média 5,50% com mediana de 5%.

O desempenho fraco do mercado na primeira década do século XXI se deveu ao duplo mercado do urso, aquele entre 2000 e 2003 e outro mais recente a partir do topo histórico em outubro de 2007. A perda poderia ser muito maior não fosse o desempenho do ano de 2009, entre 2000 e 2008 o retorno sendo de -27,8%. A década de 1980 foi a terceira melhor e a de 1990 a melhor, a década de 2000 e quem tivesse investido em 1990 teria um retorno de 8,23% a.a., abaixo dos 10% de referência do autor e um pouco acima do rendimento do T-Bond de 30 anos (8%) no começo de 1990.


O autor simula o desempenho da carteira do investidor que iniciou no ano 2000 nos horizontes de 20, 30 e 40 anos, 10 já tendo se passado, assumindo diversas taxas de retornos médias para o futuro. Como dito, até uma baixa taxa de 5% levaria o investidor a recuperar o valor investido, porém, seria necessária uma taxa de 15% a.a. por 40 anos para que o investidor pudesse ter uma taxa média de 10% a.a. no período 2000-2039, sendo necessária uma taxa ainda maior para chegar nesses 10% em menor tempo. Se o mercado tiver o desempenho de 15% a.a. a taxa de 30 anos seria de 9,43%. Sendo que a taxa do T-Bond de 30 anos era de 6,6% no começo de 2000, isso seria um prêmio por risco de apenas 2,83% a.a., o que não parece ser um prêmio por risco que agrade muito.

Ou seja, com taxa de 15% a.a. pode-se ter um prêmio por risco de 2,83% em 30 anos, que não é grande coisa, e taxa média de 10,8% a.a. em 40 anos, que já é mais razoável. O problema é que obter essa taxa não é nada simples. A tabela abaixo tirada do artigo mostra as probabilidades (utilizando dados históricos) de se obter uma determinada taxa em um determinado período de tempo.



Em 20 e 30 anos (para as janelas de 30 e 40 anos), a probabilidade de obter taxa de 15% a.a. é de apenas 12% e 7% respectivamente. A taxa de 10% adotada pelo autor parece ser razoável, a probabilidade de ocorrência estando próxima de 50%. Ou seja, se a recuperação for conseguir uma taxa média de 10% apesar da década de 2000, a chance de isso ocorrer é de apenas 7%, que é bastante baixa.

O artigo termina comentando sobre o papel da sorte nos investimentos. O que se diz até agora é quão difícil será para o investidor que começou em 2000 recuperar seu dinheiro, seu tempo e o risco incorrido. Sua situação seria um pouco melhor se tivesse começado em 2001, quando teria um retorno total de 0,5% entre 2001 e 2009. Se tivesse começado em 2003, teria retorno de 46,4% entre 2003 e 2009 (5,6% a.a.), o que aumentaria a sua chance de recuperar o investimento. Ou seja, começar na hora errada pode custar muito caro.

Já havia comentado brevemente esse artigo. Resumindo, investimento em ações no longo prazo comprando e mantendo a carteira tem as suas falhas. Dizer que tem falhas não quer dizer que não seja algo bom ou adequado e que deve ser descartado, apenas que não é perfeito, como de resto nada é. O investidor pode começar na hora errada ou pode terminar na hora errada (se o longo prazo do investidor terminasse em 2008, a carteira teria sofrido um imenso impacto justo em seu último ano), podendo ter perda, rendimento menor do que a renda fixa ou um prêmio por risco muito menor do que gostaria quando iniciou. Acontece. Alternativas como a seleção de ações, alocação de ativos, operações de curto prazo com base em análise técnica ou qualquer outra estratégia também tem suas falhas e um investidor que começasse em 2000 empregando essas técnicas poderia estar em situação pior e com menos chances de recuperar-se no longo prazo. Investir em ações é arriscado, toda técnica tem falhas e o investidor tem que aceitar esses dois fatos.

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