terça-feira, 29 de setembro de 2009

Journal of Financial Economics Vol. 94. Ed. 2 2009

(O link para o primeiro artigo é para uma versão parcial, mas o resumo foi baseado na versão completa. O link para o segundo artigo é para a versão final. Esse segundo artigo já foi comentado, muito brevemente, aqui)

CEO pay and the Lake Wobegon Effect
(Pagamento aos diretores-presidentes e o Efeito Lago Wobegon).
Rachel M. Hayes e Scott Schaefer

Efeito Lago Wobegon é apenas outro nome para a ilusão de superioridade. A maioria dos motoristas se acham acima da média, o que é matematicamente impossível. Isso pode se aplicar para as empresas: nenhuma quer admitir que seus presidentes estão abaixo da média e todas procuram fazer com que os seus presidentes fiquem acima através da remuneração. Essa é uma explicação que vinha sendo dada para o aumento na remuneração dos presidentes e é isso que esse artigo procura verificar usando um modelo de assimetria de informações e teoria dos jogos.

As premissas do modelo são: (1) Há informação assimétrica sobre a habilidade do executivo, seja habilidade geral ou específica à empresa; (2) A remuneração deve conter alguma informação sobre essa habilidade, ou seja, o executivo tem poder de barganha para capturar rendas criadas por ele. Isso leva à hipótese de haver uma relação positiva entre desempenho da empresa e remuneração; (3) A empresa deseja ter uma valor de mercado elevado.

Três fontes de assimetria de informações são consideradas entre os participantes internos e externos da empresa: a incerteza sobre as habilidades do executivo, incerteza sobre a produtividade das empresas e sobre a produtividade da combinação empresa-executivo. É considerado ainda o poder de barganha dos executivos em conseguir extrair rendas da relação (diferença entre a transação e a segunda melhor alternativa) e um coeficiente de miopia em relação ao preço das ações.

O modelo (que confesso não ter entendido completamente) resulta que o efeito Lago Wobegon pode existir, mas duas condições adicionais são necessárias: a miopia do mercado deve ser grande o suficiente e a contribuição marginal da habilidade do administrador quando trabalhando com a empresa é positiva. Os autores deixam em aberto se essas novas premissas são realistas. Se forem, há evidências de que as empresas tentam se mostrarem mais valiosas e produtivas distorcendo os salários para cima.

Women in the boardroom and their impact on governance and performance
(Mulheres no conselho e seu impacto na governança e no desempenho)
Renée B. Adams e Daniel Ferreira

A presença feminina nos conselhos de administração ainda é baixa. Apesar de mais da metade das empresas em diversos países terem ao menos uma mulher no conselho, poucas têm mais de uma e a maior presença total relatada no artigo é de 13,5% nos Estados Unidos (no Brasil, segundo o Anuário de Governança Corporativa 2009, a proporção é de 12,6%). Muitos governos têm buscado maneiras de aumentar a presença feminina (alguns, via cotas) alegando que a diversidade de gênero pode melhorar o desempenho do conselho. É isso que esse artigo procura examinar.

Um primeiro conjunto de análises estudou a relação entre presença feminina e governança corporativa. Primeiro, foi analisado se as mulheres têm menores problemas em comparecer às reuniões (se comparecem a pelo menos 75% das reuniões). Controlando por outros fatores que poderia explicar esse resultado, foram encontradas evidências de que as mulheres têm 30% menos probabilidade de terem esses problemas.

Uma análise feita de forma semelhante examinou se a maior presença de mulheres modifica o comportamento dos conselheiros homens. Cada aumento em um desvio padrão na proporção de mulheres (8,3%) está associado com uma redução de 9% nos problemas de comparecimento dos homens.

Os autores testaram se esse efeito é puramente devido ao gênero ou se também se deve a comparação que os conselheiros fazem com novos conselheiros. De fato, novos conselheiros comparecem mais às reuniões do que os mais antigos. Porém, os resultados mostram que o efeito de conselheiros homens recém eleitos nos conselheiros mais antigos não é significativo. Também, mulheres recém eleitas não comparecem mais ou menos do que as que já estavam no conselho.

Em seguida, os autores estudaram se mulheres assumem mais cargos em comitês de governança (auditoria, governança corporativa, nomeação e remuneração). Controlando por diferenças (incluindo assiduidade nas reuniões), a probabilidade de uma mulher ter cargos nesses comitês é maior exceto no comitê de remuneração.

Disso conclui-se que as mulheres assumem um maior papel no monitoramento da empresa. Por sua vez, um maior monitoramento também tem suas conseqüências, algumas previsíveis. Os autores passam a examinar os efeitos de uma maior presença feminina (com maior monitoramento) na sensibilidade da rotatividade dos diretores-presidentes ao preço das ações. Os resultados mostram haver um efeito positivo (mais mulheres no conselho, maior rotatividade) e isso não se deve a outros fatores como o número de diretores independentes.

Em seguida, é estudada a relação com a remuneração dos diretores tanto a parcela atrelada ao valor das ações quanto o total pago. Há fortes evidências de maior remuneração atrelada às ações com maiores proporções de mulheres no conselho e fracas evidências da relação com a remuneração total. Porém, examinando especificamente os diretores-presidentes, não há qualquer relação entre remuneração e presença feminina.

Das análises até agora, conclui-se que mais mulheres nos conselhos melhoram a governança das empresas, aumentando o monitoramento e o alinhamento dos interesses dos administradores e dos acionistas. Um outro conjunto de análises diz respeito ao desempenho da empresa.

Estudos passados encontraram evidências de que um nível muito elevado de monitoramento destrói valor ao invés de criar. Por outro lado, maior alinhamento entre administradores e acionistas deveria levar a um valor maior. Primeiro, é estudada a relação com a relação Preço/Valor Patrimonial (como aproximação do Q de Tobin). Os testes dão mais suporte à idéia de que maior presença feminina reduz o P/VPA do que aumenta. O mesmo acontece examinando o Retorno sobre Ativos, levando à conclusão de que maior presença feminina (ou maior monitoramento) piora o desempenho da empresa.

Os autores interpretam esses resultados como evidências de um excesso de monitoramento que destrói valor. Formulam e testam a hipótese de que maior presença feminina/monitoramento em empresas com governança fraca cria valor. A interação de um indicador que mede a qualidade da governança e a proporção de mulheres no conselho resulta em efeitos positivos no desempenho da empresa.

A conclusão é que maior presença feminina no conselho de administração pode melhorar a governança da empresa e aumentar o monitoramento sobre os executivos, mas que há efeito negativo no desempenho da empresa, podendo ter efeito positivo em empresas mal governadas.

Um comentário:

  1. Muito interessante este artigo sobre a presença feminina nos conselhos.

    Contudo, ainda acho que o Brasil é um país com pouco espaço para mulheres em conselhos. A característica é predominante masculina.

    Acredito que uma extensão interessante deste estudo seria examinar países onde a presença feminina em cargos executivos é maior, como por exemplo os países escandinavos.

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