terça-feira, 15 de setembro de 2009

Capital Aberto nº. 73

Os abacaxis da bolsa
Essa reportagem analisa quatro IPOs recentes que estão tendo um mau resultado desde a abertura de capital. Foram excluídas as mais exemplares (Agrenco, Laep e Ecodiesel). A reportagem trata da UOL, Tempo, Nutriplant e Metalfrio. Em comum, as quatro empresas apresentaram resultados ruins nos últimos tempos. Ainda, UOL e Tempo não estão sendo tão transparentes na divulgação das informações e a Nutriplant tem uma liquidez extremamente baixa.

Alguém pode explicar...
Para comemorar os seis anos de existência, a reportagem da capa são seis páginas com seis perguntas sobre os temas abordados na revista. Abaixo, as perguntas e um resumo das respostas.

Por que a Câmara de Arbitragem do Mercado não é usada? Três possíveis explicações: não há litígios, os acionistas são passivos demais ou os litígios estão sendo resolvidos de outras maneiras (pela CVM, por exemplo). A última foi dada como a mais razoável.

Por que o BNDES financia empresas que não teriam dificuldades para levantar recursos de outra maneira? Porque a taxa de juros praticada (TJLP) é muito menor do que se encontra no mercado bancário ou de debêntures (que também não tem mercado secundário líquido) e porque as emissões de ações têm sido mais para dar liquidez aos acionistas do que captar (tenho minhas dúvidas sobre esse último argumento).

Por que as incorporações se tornaram mais freqüentes? Porque a incorporação contorna o Tag Along e as pílulas de veneno. (Eu mudei o título; não é porque a operação é feita com troca de ações que deixa de ser uma aquisição ou uma fusão).

Por que as companhias investem tanto em relatórios anuais? Gasta-se em média entre R$100 e R$300 mil para produzir o material, com R$ 25 mil adicional para fazer uma versão on-line. Para piorar, demoram para sair, sendo disponibilizados apenas lá pelo meio do ano seguinte à referência. O benefício que os relatórios prometem é de dar mais transparência e sinalizar qualidade da informação e comprometimento com o mercado.

Por que algumas empresas ainda mantêm o capital aberto? Essa pergunta não é direcionada para as grandes empresas ou para as empresas menores que têm razoável liquidez das ações. Refere-se principalmente às empresas com muito poucas ações em circulação. Os exemplos começam com Tupy, que tem uma liquidez baixa, mas não de todo insignificante. Depois, passam por Neoenergia, Lark Máquinas e Construtora Beter, pouquíssimo conhecidas (as três constam de minhas bases de dados, mas não possuem valores de mercado). Algumas das empresas citadas pretendem realizar ofertas no mercado no futuro (talvez até com migração de segmento de listagem) e outras não têm condições de fechar capital, embora os controladores desejem.

Por que os analistas de investimento ainda raramente recomendam venda? Porque há conflitos de interesse entre analistas de ações da parte da área de research e a área de bancos de investimento. Recomendações de venda podem ser prejudiciais a futuros negócios que o banco ou a corretora poderia ter a oportunidade de fazer.

Mania de Ações
A reportagem traz o curioso caso do mercado acionário indiano. Um dos fatos mais impressionantes é o anúncio de ofertas de ações em outdoors como se as ações fossem um produto de consumo qualquer (tem fotos mostrando isso).

Isso se explica pelo predomínio dos investidores pessoas físicas no mercado indiano. A fatia desses investidores nas ofertas é de 50%, o resto indo para investidores institucionais estrangeiros. O segmento de investidores institucionais é muito baixo nas ofertas e no movimento do mercado como um todo (apenas 3,17%, segundo a reportagem). 75% do volume diário é feito por 30 milhões de pessoas (menos de 3% da população) que investem em ações.

As ofertas são lançadas a preços baixos, o que gera elevados retornos no primeiro dia. Muito desse fenômeno explica-se pelo fato das multinacionais terem sido obrigadas durante uma época (não sei se ainda são) a venderem 60% da participação da subsidiária indiana aos investidores locais, ainda por cima a preços baixos. Por muito tempo, o lançamento de ações era feito de forma desregulamentada, o que gerou uma série de fraudes que minaram a confiança no mercado. O mercado de emissões de ações foi regulamentado em 1992 e em 2006 foram introduzidas regras de boa governança para as empresas.

Um quadro da reportagem trata especialmente da governança. Há casos extremamente negativos como a Satyam, onde os donos e o presidente da empresa maquiavam balanços e desviavam dinheiro da empresa. E também há casos positivos, como a Infosys, que divulga seus balanços em oito contabilidades e aderiu a sete códigos de governança.

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