Antti
Ilmanen e Jared Kizer
Journal
of Portfolio Management. Primavera, 2012.
Há sessenta anos se fala do poder da diversificação
na redução de riscos no investimento em ações, especialmente na volatilidade
dos preços. Compor uma carteira de forma que os ativos não sigam exatamente na
mesma direção, o que requer correlações baixas entre os ativos, faz com que as
desvalorizações de uns ativos sejam contrabalanceadas por valorizações de
outras e vice-versa. Não é a solução para todos os problemas, mas a
diversificação é um conselho válido do ponto de vista positivo e normativo. Há
críticas pertinentes à diversificação, como o fato de a correlação entre os
ativos subir durante as crises justamente quando a redução no risco é mais
necessária. Ilmanen e Kizer, no entanto, argumentam que os descontentamentos
com a diversificação é mais pelo mau uso do que por deficiências da técnica e
sugerem a diversificação de fatores do que a de classes de ativos.
Adicionalmente, o sucesso da redução de risco no longo prazo, mesmo
considerando a relativa ineficácia durante crises, e alguns títulos como os
bônus de baixo risco de crédito geraram uma adequada proteção no mercado de
2007-2009.
O principal argumento dos autores é que a
diversificação por classes de ativos (ações de alta capitalização, de baixa
capitalização, títulos públicos, títulos privados de baixo risco de crédito,
commodities etc.) poderia ser substituída pela diversificação pelos fatores que
determinam os preços dos ativos (fatores de risco, se preferir). Isso
representaria duas mudanças de foco, mudando da alocação em termos monetários
para a alocação em termos de risco e a diversificação por fatores possibilita a
incorporação de estratégias dinâmicas que envolvam compras e vendas.
Os fatores de risco que foram sendo identificados
pelos estudos ao longo das últimas décadas (incluindo os artigos de Fama
e French de 1992 e 1993) são:
1) Prêmio por risco: O mais básico e bem conhecido
de todos, a diferença de rentabilidade entre ativos de risco e a taxa livre de
risco.
2) Efeito tamanho: Ações de baixa capitalização
costumam ter retorno maior do que ações de alta capitalização.
3) Prêmio de valor: Ações com baixa relação
Preço/Valor Patrimonial (ou alta Valor Patrimonial/Preço) costumam ter retorno
maior do que as ações de alta relação P/VPA.
4) Momentum:
Ações que tiveram melhor desempenho recente tendem a estender um pouco mais
esse desempenho superior.
5) Estrutura a termo: Outro prêmio bem conhecido é
o desempenho superior de títulos de longo prazo sobre os de curto prazo.
6) Prêmio por risco de crédito: Também muito
disseminado, é a diferença entre os títulos com maior risco de crédito e os de
menor risco.
Há muita discussão sobre o relacionamento entre
esses prêmios observados e risco (por exemplo, o que torna as ações de baixa
capitalização mais arriscadas, ignorando a diferença de volatilidades e o
beta?) e se esses diferenciais de desempenho são fatores de risco ou
ineficiências de mercado. Já observei anteriormente que ainda falta
caracterizar os fatores determinantes de desempenho 2 a 4 na lista acima como
fatores de risco na literatura sobre retorno de ativos e eficiência de mercado.
Minha hipótese sendo que o prêmio de valor venha de diferenças na alavancagem
da empresa ou da liquidez das ações. Mas, por ora, essa é uma discussão a ser
deixada para outro momento.
Os autores examinam os seis fatores com dados de
uma ampla janela (1927-2010), encontrando médias geométricas positivas em todos
os fatores. Além disso, calcularam a correlação entre os fatores, encontrando
um coeficiente médio de 0,03 (mediano de -0,04), indicando alto poder de
diversificação através da seleção de carteiras por fatores de risco. Ao longo
do tempo, a correlação média entre os fatores flutua entre -0,14 e +0,20 e não
há aumentos repentinos durante crises, anulando a crítica feita para a
diversificação em torno de classes de ativos.
O passo seguinte é comparar carteiras simuladas com
os dois tipos de composição de carteira. Na diversificação por classes de
ativos, os autores alocam parcelas iguais (20%) entre ações americanas, ações
globais, bônus governamentais globais, títulos privados globais e uma quinta
categoria com ações de mercados emergentes, ações de baixa capitalização
futuros de commodities e imóveis (5% cada). A carteira é rebalanceada
mensalmente. A carteira composta em termos de fatores têm em parcelas iguais
(20%) ações americanas de alta capitalização de mercado (fator 1 da lista
acima), carteira global long-short
separando as ações em termos de relação Valor Patrimonial/Preço (Valor),
carteira global long-short separando
as ações em termos de desempenho passado recente (momentum), carteira de carry
trade (me parece) com quatro moedas e carteira long-short sem ações que procura acompanhar a tendência dos ativos.
A métrica de desempenho utilizada é o índice de Sharpe. A janela de tempo para
a composição das carteiras é 1976-2010.
O índice de Sharpe médio das carteiras de classes
de ativos é de 0,40 enquanto que o índice de Sharpe da carteira de classes de
ativos é 0,48, um aumento importante, mas modesto comparado ao aumento ocorrido
com a classificação em fatores, que vai da média de 0,70 para 1,44 da carteira
simulada. Isso ocorre porque a primeira forma de diversificação reduz a
volatilidade para 77% da média, enquanto que o segundo tipo reduz em mais da
metade. É importante para o argumento da diversificação de fatores que a
vantagem esteja na queda na volatilidade, já que os custos de transação provavelmente
reduzirão muito a eficácia do índice de Sharpe superior, considerando que os
custos são maiores para as carteiras dinâmicas formadas para a classificação
por fatores.
Além da volatilidade, o risco é reduzido de outras
formas. A pior queda entre topos e picos é menor na classificação por fatores
(-17% contra -36%, -7% contra -20% antes das crises recentes). Durante
expansões (conforme medido pelo NBER), as duas carteiras possuem desempenho
médio parecido, mas, durante recessões, o retorno médio da carteira de fatores
é superior. Nos 90% meses de melhor desempenho das ações, as duas carteiras têm
desempenho parecido, mas nos piores meses a carteira de fatores cai muito
menos.
Os autores fazem uma modificação na carteira de
fatores, removendo as vendas a descoberto de ações, afetando a parte de valor e
momentum. Essas duas carteiras passam
a ter maior correlação com o prêmio por risco e a correlação negativa entre os
dois deixa de existir e se torna +0,73. A correlação com ações americanas e com
a carteira diversificada em classes de ativos se torna bastante elevada e a
redução no risco pela diversificação é de apenas 72%. O índice de Sharpe sobe
da média de 0,68 para 0,86.
Alguns cálculos são realizados para considerar a
composição da carteira para buscar uma meta de volatilidade (15% na simulação)
ao invés de alocar em partes iguais entre as partes no espírito da “risk parity”
(ainda não estudei esse assunto). Os resultados melhoram um pouco para os dois
tipos de diversificação e mesmo considerando a carteira de fatores que não
vende a descoberto. E mesmo acrescentar a diversificação por fatores aos poucos
(20%, por exemplo) em uma carteira diversificada por classes de ativos já
aumenta de maneira relevante o desempenho da carteira.
E por que os investidores não utilizam essa
estratégia de forma generalizada? Os autores atribuem quatro razões. A primeira
é a simples falta de contato com esses estudos, aliado ao “risco maverick”
(fazer o que ninguém faz e se dar mal) e à possibilidade de isso distanciar
negativamente o desempenho do investidor com seus pares. A sustentabilidade dos
prêmios sobre os fatores identificados, sem falar na sustentabilidade da
estratégia em si, também é algo ainda em disputa e é sempre salutar ceticismo
sobre novas estratégias de investimentos. Exceto pelo prêmio por risco, não há
consenso sobre quais outros fatores deveriam ser incluídos na carteira. Por
fim, estratégias que envolvem venda a descoberto e alavancagem podem ou não
estar acessíveis à maioria dos investidores ou esses investidores não estão
muito dispostos a adotar esse tipo de técnicas. E, como visto, eliminar as
vendas a descoberto limita significativamente a eficácia da diversificação por
fatores, que, mesmo assim, continua atrativa.
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