segunda-feira, 5 de março de 2012

O que querem os investidores?

Meir Statman.
Journal of Porfolio Management. Edição Especial. 2004

Em outros textos, tratei de como outras questões além do risco e do retorno afetam a escolha de carteiras. No artigo, o autor explica porque isso ocorre com uma interessante analogia com a escolha de cardápio (como já havia feito anteriormente).

Ao escolher comidas, a preocupação mais imediata é quanto aos nutrientes e ao custo, procurando obter valores mínimos para cada nutriente minimizando o custo. Mas certamente que essa não é a única preocupação das pessoas na hora de escolher suas refeições. Sabor, variedade, preocupações éticas (como o vegetarianismo) e status também influenciam nessa escolha. Desse ponto de vista, um cardápio que minimize custos seria bem pouco interessante: o autor cita um artigo que calculou qual seria esse cardápio, resultando em uma combinação de apenas farinha de trigo, leite, repolho, espinafre e feijões. Da mesma forma, embora no aspecto normativo a prescrição de que os investidores deveriam se preocupar apenas com o retorno e o(s) risco(s), outros aspectos acabam tendo a sua influência e é discutível se isso é um erro ou não. O que o autor e outros (como Fama (2007)) argumentam é que os investidores extraem utilidade dos ativos que selecionam (ou “benefícios expressivos”, como Statman coloca).

Dessa forma, o viés local, a maior disposição para investir em ativos locais, é uma forma de patriotismo. Há hoje o conceito de Social Responsible Investing (SRI – Investimento Socialmente Responsável), com os investidores deixando de adquirir ativos de empresas “más” e investindo mais nas consideradas “boas”. Assim como uma pessoa pode ser contra investir em uma fabricante de bebidas, cigarro ou armas, por exemplo, uma pessoa pode ser contra comer carne ou ter outras restrições de ordem religiosa, mesmo que carne possa ser um elemento nutritivo importante e ser barata. O status também influencia a escolha de um restaurante ou de vinho (ou a decisão de possuir uma vinícola) e pode levar os investidores a aplicarem em hedge funds ou outros tipos de fundos de maior investimento inicial apenas por ser exclusivo.

As implicações para os gestores de recursos (o autor cita fundos de pensão e aconselhadores financeiros) é que eles devem procurar levar em conta essas outros interesses dos investidores além do retorno e do risco. A sugestão do autor é que o gerenciamento de carteiras não deve ser feito considerando todos os ativos, e sim em “camadas”, podendo uma parte ser reservada para ativos de maior risco (ações-loteria, por exemplo) e outra para ativos mais seguros para preservação de capital. E há implicações para o estudo do retorno de ações, com os modelos de precificação de ativos multifatoriais (como o de três fatores) podendo procurar incorporar essas outras preferências dos investidores (o desafio já foi aceito).

Uma discussão que o autor não colocou é entre até onde selecionar os ativos de acordo com outros critérios além do risco e do retorno é buscar extrair utilidade ou adequar a carteira à personalidade da pessoa é uma prática importante e onde começa erros de avaliação. Me parece que utilizar as opiniões pessoais ou o afeto por uma empresa para inferir maior desempenho futuro das ações seria um erro, mas não comprar ações da mesma empresa como uma forma de satisfação. Pense em um applemaníaco comprando ações da empresa além de ter todos os produtos da empresa. Porém, não é porque ele acha que os produtos são superiores ou porque goste da empresa que deveria esperar um desempenho superior da ação. A minha modesta sugestão seria partir da otimização média-variância (não é porque essa abordagem tem erros que deveria ser sumariamente descartada) obtendo uma carteira bem diversificada (fundo passivo ou ETF, por exemplo) e destinar alguma parcela da carteira para buscar outros objetivos que o investidor possa ter.

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