Jaako Aspara e Henrikiki Tikkanen
Journal of Behavioral Finance. Volume 12. Edição 2.
Em texto anterior, discuti sobre os investidores desejarem, além de aumentar o retorno e diminuir a variância da carteira, aumentar a ocorrência de retornos positivos extremos (aumentar a obliquidade positiva da distribuição de retornos) mesmo às custas de eficiência em termos de média e variância. O artigo de Aspara e Tikkanen discute se a compra de ações pode ser influenciada por motivos afetivos, grosso modo, pelo investidor gostar ou não da empresa emissora e a decisão ser guiada pela heurística afetiva
A pesquisa foi feita na Finlândia, país onde os autores lecionam (no departamento de Marketing e Gerenciamento, não de Finanças). Foram enviados 1.200 questionários, com 438 respostas utilizáveis, para pessoas que investiram em ações de quatro empresas (300 questionários por empresa). A principal pergunta foi se os investidores levaram em consideração não apenas aspectos puramente econômicos, mas “motivação de investimento extra baseada em sentimentos” em uma escala de 7 pontos, indo de 0 (motivação puramente econômica) a 6 (puramente afetiva), apenas 4,9% respondendo com 0. Essa é a variável dependente da análise.
As principais variáveis independentes foram a atitude em relação à empresa e “auto afinidade” com a empresa. A primeira variável é medida com uma pergunta sobre a atitude em relação à empresa e outra em relação aos produtos em escala de -3 a 3 (de muito negativa e muito positiva). Os autores só consideraram os respondentes cuja soma das duas respostas é maior do que zero, já que os autores analisam apenas a relação dos sentimentos positivos, não dos negativos, na decisão de investimento. A auto afinidade é medida com pergunta sobre o grau com que o respondente acredita que a empresa reflete o tipo de pessoa que ele ou ela é na escala de 0 a 6 (“em nada” a “muito bem”). As hipóteses são de que uma visão mais positiva sobre a empresa e a auto afinidade estão positivamente relacionadas com a decisão de investir nas ações com base em sentimentos.
Foram incluídas variáveis demográficas como forma de controle, mas que também podem ser úteis para a análise. Outra variável de controle foi a familiaridade com os produtos da empresa, sendo que os autores não formularam uma hipótese a esse respeito (por isso é variável de controle).
Os resultados corroboram as duas hipóteses, sendo mais forte o efeito da atitude positiva do que da auto afinidade. A familiaridade com a empresa afeta a decisão de investimento, mas não anula o impacto dos sentimentos, de forma que o resultado não se dá apenas por maior conhecimento sobre a empresa. A única variável demográfica que se mostrou significativa foi a escolaridade, reduzindo a pontuação da escala da motivação afetiva para investimentos: ou os com mais escolaridade são mais atentos a esse viés, ou esses investidores estão mais propensos a dar mais racionalidade após o fato do que efetivamente tiveram durante a decisão.
Assim, os autores encontram evidências de que sentimentos positivos sobre a empresa fornecem uma motivação extra para o investidor investir em suas ações. Como imaginava, é a constatação de um comportamento, mas não uma teoria muito sólida sobre isso, diferente do que foi feito com a obliquidade. Pergunta-se: é um erro ter essa motivação para investir em ações, seria um comportamento que prejudique os investidores sem que eles ganhem algo, qualquer coisa, com isso? Talvez Fama e French (2007) contenha algo nesse sentido, lerei o artigo e depois comentarei. O (pouco) que os autores colocam diz respeito à auto afinidade, essa motivação sendo uma auto expressão que traz benefícios emocionais para o investidor. Talvez o investidor possa atribuir peso um pouco maior para uma determinada empresa ou setor que tenha algo a ver com o investidor como uma forma de expressão de identidade, algo parecido com abrir um negócio com algo que se goste de fazer, mesmo que essa não possa ser financeiramente a melhor decisão. Algo a se pensar.
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