terça-feira, 19 de maio de 2009

Balanços 1T09

Geral
O lucro agregado das empresas (excluídas duplas contagens como Itaúsa, Metalúrgica Gerdau e Telemar NL) caiu 26,74% e a receita subiu meros 1,92% e o ROE médio foi de 12,71% (14,24% em 2008, diferente do que eu apresentei antes porque considera um conjunto de empresas ligeiramente diferente).

A relação Preço/Lucro de 322 empresas (incluindo as que não divulgaram balanços) ficou em 14,01 em 18/05/09 e a relação Preço/Valor Patrimonial ficou em 1,77. Em 31/03/09 esses números eram 10,76 e 1,86 respectivamente. O P/L aumentou porque as ações subiram de lá para cá e os lucros no primeiro trimestre caíram. O P/VPA diminuiu porque os Patrimônios Líquidos não foram reduzidos, já que a soma do lucro das empresas ainda é positiva, apesar de ser menor do que em 2008.

Bancos
Esse trimestre não foi bom para os bancos. A carteira de crédito de todos os bancos de capital aberto que já divulgaram os resultados subiu apenas 1,23% (as operações do SFN cresceram 1,12% no período). Para chegar a esse número, é necessário considerar que a carteira de crédito do Itaú Unibanco em 2008 foi de R$ 221 bilhões, de outra forma teríamos um crescimento irreal (pouco sensato) de mais de 12%. A variação positiva pode até parecer boa, mas essa variação foi muito influenciada pelos bancos públicos. Os bancos privados tiveram um recuo de 1,46% na carteira de crédito, com apenas 3 de 15 apresentando expansão da carteira (Cruzeiro do Sul, Panamericano e Finansinos). Os bancos públicos tiveram uma expansão de 7,20% e apenas um (o da Amazônia) não aumentou o volume de empréstimos.

O lucro líquido dos bancos caiu 22,33%, 15,87% se considerarmos os lucros ajustados de Itaú, Bradesco e Banco do Brasil. Apenas 5 bancos tiveram aumento nos lucros. O Cruzeiro do Sul está com prejuízo em 12 meses e a Nossa Caixa foi o único banco a ter prejuízo nesse trimestre. Cabe notar que o lucro dos bancos que expandiram a carteira de crédito (10 no total) caiu bem mais (-43,27% ou 36,39% ajustando o lucro do Banco do Brasil) do que o lucro dos bancos que reduziram os empréstimos (10,34%). Há uma pequena correlação negativa (4%) entre a variação da carteira de crédito e a variação do lucro.

O resultado bruto subiu 13,8% (ajustando o resultado bruto do Itaú) e a rentabilidade conjunta foi de 15,75% (16,50% em 2008), ajustando os lucros.

Bahema
A Bahema, uma empresa de participações com ações em bolsa, tinha mais de 5% das ações do Unibanco Holding. Com a fusão entre Itaú e Unibanco, a Bahema passou a ter menos do que 5% e entendeu que não era interessante continuar com essas participações e decidiu vender as ações. Mas, se fizesse isso, teria que pagar um imposto de renda considerável (segundo a reportagem do Valor Econômico, a Bahema comprou as ações por R$5 milhões e hoje essa participação vale R$ 580 milhões). Para não ter que fazer isso, vai distribuir essas ações como uma espécie de dividendo aos acionistas ao valor de mercado do Itaú, mas com preço de aquisição de R$2,94 (o custo para a Bahema). Isso faz todo sentido, já que os acionistas pagarão menos imposto do que a companhia pagaria e podem nem pagar esse imposto (se não venderem agora ou se venderem abaixo de R$20 mil por mês). Ou seja, se a empresa pagasse 34% de imposto de renda, poderia distribuir R$382 milhões de dividendos, enquanto que os acionistas, caso paguem 15%, terão R$493 milhões líquidos.

Muitos não devem ter sequer ouvido falar dessa empresa. Não é nem grande nem muito líquida, com média de 117 negócios por mês e volume médio mensal de R$5 milhões. Desde Outubro de 2006 é negociada ao menos uma vez por mês. Tem valor de mercado de R$ 613 milhões (irá cair muito após a distribuição das ações) e teve prejuízo de R$293 milhões em 2008.

A reportagem do Valor está disponível aqui.

Destaques positivos
Para não dizerem que só falei de desgraça. A Natura teve um bom desempenho nesse trimestre, +26,45% na receita e +76,48% no lucro, por conta do Plano de Ação de 2008, segundo consta o Relatório da Administração. Não por acaso, NATU3 rompeu o topo histórico que vinha desde 2006 (é a única ação que atingiu topo histórico em 2009, que eu saiba). Na Redecard, a receita aumentou 27,49% e o lucro ajustado 8,58%. Segundo a ABECS, o número de transações com cartões (débito, crédito e cartões de lojas e redes) aumentou 14,79%. Claro que outras empresas tiveram bons resultados, mas tratarei apenas desses dois casos.

Energia Elétrica
As empresas de energia elétrica, tão exaltadas como setores defensivos, tiveram queda de 21,42% no lucro e queda de 1,31% na receita. Mesmo excluindo a Eletrobrás (que teve um desempenho ruim e é a maior do setor), o lucro continua caindo (6,67%) e o aumento de receita não melhora tanto (2,42%).

Logística e Transporte Ferroviário
Das empresas do setor, apenas a Tegma teve lucro. As demais (ALL, Ferrovia Centro-Atlântico e Log-In) tiveram prejuízo.

Papel e Celulose
Apenas Melhoramentos (Melhor SP e Melpaper) e VCP tiveram prejuízo no trimestre, mas em 12 meses apenas a Melhor SP (por efeitos extraordinários) está com lucro.

Petrobras e Vale
As duas empresas tiveram queda nas receitas e nos lucros. A rentabilidade também caiu.
Petrobras: -9,05% na receita e -19,66% no lucro. ROE 21,86% (23,84% em 2008)
Vale: -8,56% na receita e -0,94% no lucro. ROE: 21,55% (22,10% em 2008).

O crescimento em 17 trimestres (crescimento de 4 anos mais o crescimento nesse primeiro trimestre):
Petrobras: 15,30% na Receita e 15,30% no lucro.
Vale: 25,96% na receita e 34,68% no lucro.

Siderúrgicas
As três grandes siderúrgicas brasileiras tiveram um desempenho uniformemente ruim. Queda de mais ou menos 20% na receita e quedas fortes nos lucros, 90% para Gerdau, 47,43% para CSN e -115,71% para Usiminas (ou seja, foi do lucro ao prejuízo). Se nenhuma das três têm prejuízo em 12 meses, o crescimento em 17 trimestres não está tão bom. A receita da Gerdau sobe a uma taxa anualizada de 11,12%, mas o lucro cai 0,87% (se acertei a complicada conta para combinar balanço em Legislação Societária e IFRS). A receita da CSN sobe 8,17% e o lucro +28,33%. A Usiminas é a que tem o desempenho mais tímido: +4,93% na receita e -5,57% no lucro.

Telefonia
O lucro conjunto desse setor, outro dito defensivo, caiu 75,02%. Mesmo desconsiderando as envolvidas na fusão Brasil Telecom-Telemar, que tiveram perdas extraordinárias com o processo, e a Tele Norte Celular (que incorporou a Amazônia Celular) a queda fica em 33,94%. O crescimento de receitas do setor foi de 27,03% e sem as empresas citadas foi de 9%. Caberia perguntar “e agora, quem irá nos defender”?

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