No
blog da Apogeo, escrevi um texto sobre o Certificado de Operações
Estruturadas.
Basicamente, é a transformação de todos os fundos de capital protegido e
semelhantes em um outro produto de investimento na forma de certificado e
seguindo uma regulação própria. Resta ainda a CVM definir mais detalhes sobre
como será feita a distribuição dos COEs.
Sobre
esse assunto, só alguns acréscimos. Para entender melhor esse texto, leia antes
o texto do blog da Apogeo para entender o que é um COE. Primeiro, como aponta Drom e Strauss (2012), o produto é complexo até mesmo
para os especialistas, o que dizer para os investidores. Em seguida, é preciso
avaliar o risco de crédito do emissor e o risco de liquidez, os detalhes sobre
como liquidar o investimento antes do vencimento ainda não sendo tão claro.
Além do mais, é importante diversificar e os autores referidos sugerem no
máximo 6,5% em notas estruturadas (nome do COE nos Estados Unidos) e não mais
de 1,5% em cada um.
Estrutura de Rentabilidade
Sobre
a rentabilidade, o grande atrativo do COE é a limitação de perdas e consequente
desempenho melhor durante mercados de baixa. Partindo das evidências de que os
investidores são avessos a perdas, parece que esse é um produto que atende as
necessidades dos investidores, porém, se você levar em conta que agir assim é pior para o investidor, essa ideia passa a não ser tão boa
assim. Muita gente parece confundir como o investidor age (avesso a perdas) com
como ele deveria agir em seu melhor interesse (avesso a risco). Se você fica
com muito medo de perder e não liga mais para perdas uma vez estando no
negativo (situação clássica dos estudos de aversão a perdas), a tendência é
perder dinheiro com isso.
Me
parece ser esse o caso do COE. Em troca de uma garantia, total ou parcial, você
abre mão de parte considerável dos retornos. Em estruturas com barreiras, você
pode perder parte considerável da rentabilidade e ficar com apenas o principal
(ou seja, perdendo dos juros que poderia ganhar em outra aplicação) ou com uma
parcela do ganho caso o índice do COE bata na barreira. E esse é o ponto que
mais me incomoda no COE. Em uma carteira tradicional, você sabe os fatores que
determinam o retorno da carteira: juros, bolsa, inflação etc. de uma maneira
contínua. Juros sobem, seus pós-fixados em juros têm um retorno maior, seus
pré-fixados caem. Se as ações que você tem em carteira sobem, você ganha.
Agora, com alguns COEs (como esse), você ganha até certo ponto e depois pode
perder esse ganho. Quando for marcado a mercado, o investidor tem uma perda na
hora em que atinge a barreira e essa perda pode ser abrupta (imagine um COE que
estava ganhando 19% até bater na barreira de 20% e voltar para 0% ou para 10%,
por exemplo). Você ainda está no lucro ou não perdeu nominalmente, mas
enxergando na figura completa, você tem uma perda quando o COE atinge a
barreira.
Se
a pessoa quer investir em ações, mas tem medo, o mais adequado é limitar a sua
exposição investindo uma parcela pequena em ações. Recorrer a truques como estratégia do custo médio ou produtos estruturados não vão
ajudar na verdade. Ou seja, a segurança do principal oferecida pelos COEs me
parece psicológico, e não algo que vai melhorar a carteira do investidor.
Precificação
Estudos
mencionados por Deng e Dullaney (2014) analisaram a precificação das notas
estruturas (com uma informação adicional interessante: em 2013, foram emitidos
mais de US$ 40 bi em notas estruturadas). A conclusão geral foi a de que há um
grande erro de precificação nas notas estruturadas, desnecessário dizer que em
favor do emissor. Esse erro de precificação é em relação ao custo de proteger
essa posição. O COE (ou a nota estruturada) é um passivo para o banco e um
ativo para o aplicador. É utilizado como uma fonte de captação de recursos, mas
entre o pagamento do valor devido e a venda do COE, o emissor protege essa
posição com derivativos. O erro de precificação vem do fato do custo do hedge é
menor do que o que é oferecido no COE. Ou seja, se o investidor sintetizasse o
COE teria um ganho maior (se é possível ou não um investidor específico
sintetiza a posição é outra história). Outra informação interessante é que o
Lehman Brothers utilizou bastante de notas estruturadas meses antes de quebrar.
A complexidade do produto ajuda a vendê-lo por um preço desfavorável ao
investidor.
O
foco de Deng e Dullaney é analisar os retornos efetivos dos produtos
estruturados. Eles analisaram uma série de produtos estruturados, chegando a um
número pouco superior a 20 mil entre 2007 e 2014. Eles avaliam as notas
estruturadas com o modelo mais adequado para cada uma das quatro classes de
notas (não cabe aqui entrar em maiores detalhes) e com o valor justo das notas
foram construídos os índices utilizados na análise. O peso de cada produto no
índice é determinado pelo valor de mercado dele.
O
gráfico abaixo mostra o desempenho do índice de produtos estruturados (SP
Index) e as ações e renda fixa.
Fonte:
Deng e Dullaney (2014)
Pela
inspeção visual do gráfico, os resultados são bem claros. Separando por
subcategorias de produtos estruturados, a única que teve desempenho próximo ao
das outras classes de ativos foi a Tracking Securities, que são semelhantes às
opções de compra. E, em termos de Índice de Sharpe, essa categoria não chegou
nem perto nem das ações e três índices de produtos estruturados (inclusive o
agregado) estão com Sharpe negativo. Outras análises só reforçam o mau
desempenho dos produtos estruturados.
O
erro inicial de precificação certamente afeta o retorno dos produtos
estruturados. Eliminando esse erro inicial, o retorno dos produtos estruturados
melhora significativamente, embora, mesmo assim, continuem tendo um desempenho
inferior ao das ações e da renda fixa.
A
correlação entre os produtos estruturados, no agregado e individualmente, e o S&P
500 é elevadíssima (acima de 90%). A consequência disso é que os produtos
estruturados não são capazes de melhorar a alocação de ativos ao expandir a fronteira
eficiente. Mesmo que tivesse um desempenho ruim, uma correlação baixa com
ações permitiria que o produto estruturado entrasse na carteira do fundo ao
permitir um ganho de diversificação, mas não é isso o que ocorre. E mal dá para
chamar de uma classe de ativos própria, e sim uma modificação das ações.
Conclusão:
uma simples carteira que misture ações e renda fixa superam os produtos
estruturados na média e na maior parte do tempo.
Conclusão
Na
minha opinião, o COE pode ser um produto mais de oportunidade do que para
compor uma carteira de maneira consistente. Uma das fontes de oportunidade é se
expor a um fator de risco (commodities, por exemplo) que não é tão fácil assim
de conseguir em investimentos acessíveis ao investidor pessoa física. Dependendo
do que for oferecido (e isso fica na mão do banco emissor), o COE pode até ser
interessante para o investidor, mas as características da evolução da
rentabilidade complica analisar o COE do ponto de vista da alocação de ativos. Se
for contar o erro de precificação e a rentabilidade histórica, conforme visto
acima, o COE se torna ainda menos atrativo.
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