domingo, 10 de outubro de 2010

Big Bad Banks

Thorsten Beck, Ross Levine e Alexey Levkov
Journal of Finance. Volume 65. 2010
http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=1415502

Foram diversos os culpados “encontrados” para a crise iniciada em 2007. Dois desses foram o tamanho dos bancos e a desregulamentação das atividades dessas instituições são dois desses proclamados culpados.

Esse artigo não examina a participação desses fatores na crise, mas trata dos efeitos na distribuição de renda da desregulação bancária que levaria ao aumento do tamanho dos bancos. Em especial, trata do fim das restrições para aberturas de agências de um banco em outros estados, o que possibilitou a expansão dos bancos. O fato de grandes bancos atuarem em regiões que antes eram exclusivas de bancos regionais poderia conferir poder de mercado a esses grandes bancos e assim prejudicar principalmente os mais pobres. Por outro lado, a desregulamentação cria competição em regiões antes monopolizadas e essa competição reduziria tarifas e taxas.

Os resultados da pesquisa indicam que a desregulação possui um efeito negativo (matematicamente falando) sobre a desigualdade de renda, ou seja, após a desregulação a desigualdade de renda cai. Esses resultados são robustos, permanecendo com o mesmo sinal negativo em dez modelos diferentes com cinco medidas de desigualdade de renda (índice Gini ou Theil, em diferentes fórmulas de cálculo) e que incluem ou não variáveis de controle como a taxa de desemprego e o crescimento do PIB per capita. Ou seja, mesmo incluindo fatores como o efeito positivo do desemprego na desigualdade (menor desemprego diminui a desigualdade), a desregulação bancária melhora a distribuição de renda.

Os resultados podem se dever tanto por conta do empobrecimento dos ricos quanto o enriquecimento dos pobres. As evidências do artigo são de que a desregulação aumentou a renda dos 40% que ganham menos e não afetou de maneira significativa (estatisticamente) os demais níveis de renda, indicando que o efeito foi o enriquecimento dos pobres. O impacto da desregulação é maior em regiões onde haviam “unit banks” (bancos que só exerciam uma atividade), onde a população é mais dispersa, onde havia mais bancos menores e onde havia mais empresas pequenas (que sofrem mais com restrição de crédito), ou seja, onde havia mais condições para a formação de monopólios locais. Esses resultados diminuem a possibilidade de causalidade inversa (diminuição na desigualdade levar à desregulação). Se o efeito fosse maior nas situações não previstas inicialmente, não faria sentido atribuir à desregulação a redução na desigualdade.

Os autores oferecem e analisam diversas explicações para a redução na desigualdade. A primeira é que maior acesso ao crédito possibilita que os pobres tomem emprestado para investir em educação, aumentando a chance de conseguir um emprego de maior salário. A segunda possibilidade é que o crédito viabiliza o empreendedorismo. A terceira é que menores taxas de juros favorecem as empresas locais, que podem investir mais, aumentando a demanda por capital e trabalho.

Separando entre assalariado e autoempregados, a redução na desigualdade se dá dentro dos grupos, não entre os grupos. E a desregulação só afeta significativamente os assalariados, indicando que a melhoria não veio por meio do aumento no acesso de crédito aos empreendedores.

Separando por nível educacional (com e sem ensino superior), as evidências apontam que a redução é mais explicada pelas diferenças dentro dos grupos educacionais do que entre os grupos. Há uma redução significativa na desigualdade para os que não têm nível superior, porém, outras análises não encontram uma relação entre idade e diminuição da desigualdade, sendo que seria de se esperar maior ganho para os mais jovens, que seriam mais beneficiados em caso da melhoria nas condições de crédito facilitar o investimento em educação. Logo, melhorias educacionais motivadas pelo melhor acesso a crédito não parecem ser a explicação para a redução na desigualdade.

Analisando a última hipótese, de que a desregulação diminui o custo de capital e aumenta a demanda por trabalho, os autores não analisam se a primeira parte (redução no custo da dívida), apenas a segunda. Os resultados mostram um aumento tanto dos salários quanto das horas trabalhadas dos trabalhadores menos qualificados (12 anos ou menos de educação) relativamente aos trabalhadores mais qualificados. Isso indica maior demanda por trabalhadores não qualificados, o que levaria a redução na desigualdade. Confirmando resultados anteriores, há uma relação negativa entre anos de desregulação e desemprego (ou seja, quanto mais tempo se passa desde que houve a desregulação, menor o desemprego).

O estudo apenas comprova alguns fatos: 1) O governo cria e protege monopólios em nome do “bem comum”; 2) Competição é o melhor incentivo para eficiência; 3) Bancos e crédito melhoram a vida das pessoas.

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