domingo, 13 de dezembro de 2009

Mercados

Três conceitos que, não obstante serem distintos, têm interpretações parecidas, não raro são confundidos como iguais e que geram o mesmo tipo de atitude: mercados eficientes, mercados racionais e mercados perfeitos.

Todas as pessoas respondem, explícita ou implicitamente, a seguinte questão análoga para os três casos:

A afirmação de que os mercados são eficientes/racionais/perfeitos:
a) É verdadeira, felizmente.
b) É verdadeira, infelizmente.
c) É falsa, infelizmente.
d) É falsa, felizmente.
e) Não tenho condições de responder.

Muitas pessoas que se julgam bem intencionadas poderiam responder as alternativas b e d. Cada uma dessas respostas transparecem certa atitude: a primeira um inconformismo com o “sistema” e a segunda uma idéia de ser novo e revolucionário e que 200 anos de Economia mudaram em 1 ano. Para muitos desses, entretanto, a resposta deveria ser a letra e.

A ideologia geral das respostas b e d é uma visão “contrária ao mercado”, “contrária à ganância”, pelo “bem-estar da coletividade global”, ou seja, contrária ao que é associado às grandes empresas capitalistas de forma que esse epíteto seja um palavrão. Que se pense assim vai de cada um. O que acontece, entretanto, é que as respostas b e d acabam por favorecer a ganância e o famoso “ganho de poucos e perda de muitos”.

Em mercados acionários ineficientes informacionalmente, existirão investidores desinformados que irão pagar preços maiores ou vender a preços menores do que deveriam, de forma que investidores “predadores” terão lucros acima do custo de capital. Em mercados irracionais, agentes econômicos irracionais farão mau negócios (de outra forma, o certo seria agir da forma considerada irracional) e os “frios e racionais” irão fazer bons negócios em cima deles. Em mercados imperfeitos, empresas venderão bens ou serviços em menores quantidades a preços maiores (poder de mercado), ou um agente econômico mais informado irá ganhar em cima de agentes menos informados (assimetria de informações) e certos bens (bens públicos) podem deixar de serem oferecidos. Não parece haver “bondade no coração” alguma nesse estado de coisas.

Contrariamente, em mercados acionários com eficiência na incorporação de informações nos preços, os investidores não terão lucros ou perdas anormais, exceto em desvios aleatórios (para mais ou para menos) que irão se anular no longo prazo. Em mercados racionais, todos os agentes comprariam bens e serviços a um preço igual ou menor ao preço que consideram justos de outros agentes que venderiam a preços iguais ou maiores a preços que consideram justos. Em mercados perfeitos, há a maximização de quantidades vendidas e minimização de preços, de forma que o bem-estar coletivo é maximizado. Em mercados com perfeita incorporação de informações e perfeitamente competitivos, os lucros econômicos (acima do custo de capital) são zero, situação totalmente indesejável para um capitalista.

Logo, quem dá vivas à constatação de que o mercado não funciona ou lamenta que funcionem, defende interesse de “oportunistas”, “gananciosos” e “porcos capitalistas”. Defende que investidores desinformados percam, que pessoas sem grande conhecimento econômico percam (gente que compra por impulso ou que compra ações de forma aleatória, por exemplo) e que capitalistas extraiam excedente do consumidor. Em suma, que poucos ganhem muito e muitos ganhem pouco ou percam, quando o que seria desejável (para a sociedade como,um todo) é que poucos ganhassem (aleatoriamente) acima da média e poucos ganhassem abaixo da média (também aleatoriamente).

Na minha opinião, a resposta à pergunta inicial é a letra c. A justificativa para mercados eficientes está em outro texto; é impossível um consenso de que mercados sejam eficientes, porque o consenso destruiria a eficiência. Qualquer investidor pode entrar no mercado e qualquer consumidor pode gastar no que quiser, podendo agir de forma irracional contra o melhor interesse deles. Não havendo livre entrada e saída, havendo poucos compradores e/ou poucos vendedores, havendo assimetria de informações, entre outras condições, os mercados não podem ser perfeitamente competitivos. Dependendo de que lado estou dessas relações, posso achar isso maravilhoso. Pensando no geral, há de se lamentar que assim seja.

Por fim, uma citação de Oskar Lange (extraída do livro “Lucro Sujo”): “a competição obriga os empreendedores a agirem exatamente como teriam de agir se fossem gerentes de produção num sistema socialista”. Os resultados finais de uma economia socialista perfeita e uma economia capitalista perfeita deveriam ser muito parecidos, mas nunca chegamos nem a um sistema perfeito de mercado nem a um sistema de planejamento central perfeito.

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