A volta das ofertas de ações.
Essa reportagem trata da retomada das ofertas públicas de ações, tomando como gancho a IPO da Visanet. Alguns comentários sobre alguns trechos da reportagem:
Na IPO da Visanet, muitas corretoras foram retiradas da oferta por divulgarem material publicitário não aprovado pela CVM. A reportagem mostra alguns exemplos do que foi veiculado nesses materiais. “Não é preciso dinheiro para entrar em um (sic) IPO” (o que é falso: a liquidação da reserva é, geralmente, em d+2, nunca depois, e o recebimento no caso da venda no primeiro dia é em d+3). “Nessa oferta (Visanet), a possibilidade de ganho é de 40%” (não há análise séria que pudesse indicar tal perspectiva). “Nos deparamos (CVM) com um extenso material de corretoras que reunia casos gritantes, como garantia de lucro na operação, comparando com o desempenho da oferta de Visa no ano passado no exterior” (não deveria haver ligação alguma desse tipo entre a oferta da Visa Internacional em 2008 com a da Visanet recentemente).
A reportagem fala de uma suposta vantagem das ofertas primárias sobre as secundárias. Os números da variação no primeiro dia não mostram isso. Analisando apenas as IPOs, a média simples dos retornos das ofertas primárias, secundárias e mistas são, respectivamente, 1,13%, 14,86% e 6,20%. Nenhuma oferta secundária registrou desempenho negativo no primeiro dia. Excluindo as variações negativas das ofertas primárias e mistas, o desempenho das secundárias continua superior.
Comparando os preços de lançamento com os preços atuais (30/06/09), os resultados são parecidos. 45% das ofertas secundárias estão com ganhos absolutos e 55% estão com retornos acima do Ibovespa. Em ambos os casos, as ofertas primárias estão com 16% e os resultados das ofertas mistas, apesar de melhores que os das primárias, estão abaixo das ofertas secundárias. Nada disso prova o argumento de que ofertas secundárias são melhores (seriam necessários testes estatísticos mais complexos), mas indicam que o argumento oposto (primárias são melhores) não parece tão promissor quanto intuitivamente parece.
Por fim, algo que a reportagem escreveu várias vezes, de formas variadas: é dever do investidor fazer sua própria análise, lendo o prospecto, analisando ofertas passadas e o que mais achar necessário. Nem a CVM, nem a Bovespa, nem os coordenadores e muito menos as companhias farão isso por ele/a.
Órfãos de cobertura
Essa reportagem fala das empresas que deixaram de ter cobertura de analistas por diversos fatores como redução do número de analistas nas corretoras, saída de investidores estrangeiros e perda de liquidez.
A redução no número de analistas que cobrem a empresa tem diversas implicações. A formação de preços se torna menos eficiente (“eficiente” no sentido exposto em outro texto). Menos informações estão contidas nos preços porque existem menos investidores/analistas buscando informações. Isso poderia abrir oportunidade para explorar essa ineficiência, mas há uma complicação. Causa ou conseqüência, há uma redução na liquidez desses ativos que ficam com escassa ou nula cobertura de analistas. Isso aumenta os custos de transação, em especial a diferença entre as ofertas de compra e de venda (bid-ask spread). Quem porventura desejasse, por algum motivo insólito, comprar a ação na ponta vendedora e imediatamente vender na ponta compradora, o faria com perdas elevadas, o que não acontece com ativos mais líquidos (nesse caso, a perda seria menor).
A baixa liquidez e as elevadas diferenças entre ofertas de compra e de venda influenciam não só a negociação como o preço das ações também. Há um prêmio por iliquidez que aumenta o custo de capital das empresas e diminui o valor das empresas. A idéia de “prêmios” (por risco, por iliquidez, por baixa capitalização, etc.) é que os investidores exigem retornos maiores de um ativo por conta da existência de um desses fatores adversos. Isso pode ser observado comparando ações ordinárias e preferenciais que possuem grandes diferenças de liquidez entre os dois tipos (Itaú, Bradesco, Gerdau, etc.), as ações preferenciais valendo mais do que as ordinárias, quando o contrário deveria ocorrer (e como ocorre com Petrobras e Vale, por exemplo). Antes de afirmar que determinada ação é uma barganha, é bom examinar se a baixa liquidez não está afetando o valor da ação.
Essa reportagem trata da retomada das ofertas públicas de ações, tomando como gancho a IPO da Visanet. Alguns comentários sobre alguns trechos da reportagem:
Na IPO da Visanet, muitas corretoras foram retiradas da oferta por divulgarem material publicitário não aprovado pela CVM. A reportagem mostra alguns exemplos do que foi veiculado nesses materiais. “Não é preciso dinheiro para entrar em um (sic) IPO” (o que é falso: a liquidação da reserva é, geralmente, em d+2, nunca depois, e o recebimento no caso da venda no primeiro dia é em d+3). “Nessa oferta (Visanet), a possibilidade de ganho é de 40%” (não há análise séria que pudesse indicar tal perspectiva). “Nos deparamos (CVM) com um extenso material de corretoras que reunia casos gritantes, como garantia de lucro na operação, comparando com o desempenho da oferta de Visa no ano passado no exterior” (não deveria haver ligação alguma desse tipo entre a oferta da Visa Internacional em 2008 com a da Visanet recentemente).
A reportagem fala de uma suposta vantagem das ofertas primárias sobre as secundárias. Os números da variação no primeiro dia não mostram isso. Analisando apenas as IPOs, a média simples dos retornos das ofertas primárias, secundárias e mistas são, respectivamente, 1,13%, 14,86% e 6,20%. Nenhuma oferta secundária registrou desempenho negativo no primeiro dia. Excluindo as variações negativas das ofertas primárias e mistas, o desempenho das secundárias continua superior.
Comparando os preços de lançamento com os preços atuais (30/06/09), os resultados são parecidos. 45% das ofertas secundárias estão com ganhos absolutos e 55% estão com retornos acima do Ibovespa. Em ambos os casos, as ofertas primárias estão com 16% e os resultados das ofertas mistas, apesar de melhores que os das primárias, estão abaixo das ofertas secundárias. Nada disso prova o argumento de que ofertas secundárias são melhores (seriam necessários testes estatísticos mais complexos), mas indicam que o argumento oposto (primárias são melhores) não parece tão promissor quanto intuitivamente parece.
Por fim, algo que a reportagem escreveu várias vezes, de formas variadas: é dever do investidor fazer sua própria análise, lendo o prospecto, analisando ofertas passadas e o que mais achar necessário. Nem a CVM, nem a Bovespa, nem os coordenadores e muito menos as companhias farão isso por ele/a.
Órfãos de cobertura
Essa reportagem fala das empresas que deixaram de ter cobertura de analistas por diversos fatores como redução do número de analistas nas corretoras, saída de investidores estrangeiros e perda de liquidez.
A redução no número de analistas que cobrem a empresa tem diversas implicações. A formação de preços se torna menos eficiente (“eficiente” no sentido exposto em outro texto). Menos informações estão contidas nos preços porque existem menos investidores/analistas buscando informações. Isso poderia abrir oportunidade para explorar essa ineficiência, mas há uma complicação. Causa ou conseqüência, há uma redução na liquidez desses ativos que ficam com escassa ou nula cobertura de analistas. Isso aumenta os custos de transação, em especial a diferença entre as ofertas de compra e de venda (bid-ask spread). Quem porventura desejasse, por algum motivo insólito, comprar a ação na ponta vendedora e imediatamente vender na ponta compradora, o faria com perdas elevadas, o que não acontece com ativos mais líquidos (nesse caso, a perda seria menor).
A baixa liquidez e as elevadas diferenças entre ofertas de compra e de venda influenciam não só a negociação como o preço das ações também. Há um prêmio por iliquidez que aumenta o custo de capital das empresas e diminui o valor das empresas. A idéia de “prêmios” (por risco, por iliquidez, por baixa capitalização, etc.) é que os investidores exigem retornos maiores de um ativo por conta da existência de um desses fatores adversos. Isso pode ser observado comparando ações ordinárias e preferenciais que possuem grandes diferenças de liquidez entre os dois tipos (Itaú, Bradesco, Gerdau, etc.), as ações preferenciais valendo mais do que as ordinárias, quando o contrário deveria ocorrer (e como ocorre com Petrobras e Vale, por exemplo). Antes de afirmar que determinada ação é uma barganha, é bom examinar se a baixa liquidez não está afetando o valor da ação.
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