sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

O que é capital de giro?

Capital de Giro

Capital de giro é a diferença entre o ativo circulante e o passivo circulante. Essa é a definição padrão para capital de giro, é uma conceituação correta, mas penso que é possível ir além na explicação, principalmente no seu uso em avaliação de empresas.


Para calcular o fluxo de caixa livre ao acionista, partimos do lucro líquido, depois deduzimos os investimentos necessários, levando ainda em conta os efeitos do financiamento com dívidas. Esses investimentos podem ser em capital fixo (CAPEX) ou em capital de giro. Enquanto o primeiro é um desembolso (um fluxo de caixa negativo), o segundo, como será mostrado, não é exatamente uma saída de caixa.

Imagine uma empresa comercial que venda $ 1.000 em produtos, ao custo de $ 500 e que ainda pague despesas de $ 200. Se toda a produção fosse vendida e se as vendas fossem à vista assim como o pagamento das despesas, então a geração de caixa seria igual ao lucro ($ 300, nesse caso).

Porém, na prática parte das vendas é realizada a prazo, nem toda a produção é vendida e nem toda a despesa é paga imediatamente, de forma que são criadas no balanço patrimonial as contas de Estoques e Contas a Receber (lado do ativo) e Contas a Pagar (no passivo). Contas a Receber é resultado das vendas a prazo, Estoques da não venda de todos os produtos (e ainda a produção inacabada de mercadorias) e Contas a Pagar do diferimento do pagamento de contas.

Imagine que um quarto das compras fosse recebido apenas no próximo exercício, metade das despesas pagas também no próximo exercício e que o estoque de produtos fosse de $ 80. Para simplificar o argumento, os valores anteriores no balanço patrimonial eram nulos.  Isso significa que a empresa recebeu $ 750, pagou $ 580 no custo de mercadorias vendidas e das produzidas, mas não vendidas, e ainda desembolsou $ 100 em despesas. Subtraindo custos e despesas desembolsados da receita recebida sobra $ 70, ou seja, $ 230 ficam “empatados” no capital de giro.

Esse é o valor da geração de caixa, que pode ser usado para pagar dividendos aos acionistas ou investir em capital fixo. Partindo do lucro líquido, tivemos lucro de $ 300 e investimento em capital de giro de $ 230 resultando em fluxo de caixa livre de $ 70. Em uma terceira visão, o capital de giro da empresa aumentou em $ 250 no contas a receber, $ 80 nos estoques e reduziu em $ 100 no contas a receber e totalizou aumento de $ 230.

Dessa forma, o investimento em capital de giro é uma espécie de investimento virtual, não algo que a empresa deve desembolsar, e sim dinheiro que a empresa não tem como gastar a partir de sua geração de resultados. O capital de giro reflete a parcela não-caixa do resultado do exercício. Outra parcela não-caixa do resultado, depreciação e amortização, é levado em conta no investimento em capital fixo, considerado por seu valor líquidos (Investimentos – Depreciação – Amortização).

Para complementar, um breve exercício sobre como uma melhor gestão do capital de giro pode aumentar o valor da empresa. Suponha que a empresa pudesse fazer com que apenas 10% de suas receitas fosse recebida a prazo sem que isso ocasionasse redução em vendas, que o estoque fosse de apenas $ 40 (por uma melhor estimativa das vendas a serem realizadas, por exemplo) e que 75% das despesas fosse paga apenas no próximo exercício. Sem nenhuma mudança em receitas e custos, a empresa teria um fluxo de caixa livre de $ 310, com um investimento em capital de giro negativo em $ 10. Essa situação é um tanto extrema, mas ilustra o efeito da melhor gestão do capital de giro, a liberação de caixa para poder ser investido em capital fixo (ignorado nessa análise) ou distribuído para os acionistas.

No caso acima, o capital de giro é negativo e o índice de liquidez circulante inferior a 1. Essa pode ou não ser uma situação financeira perigosa, a depender de cada empresa. Indica que a empresa não poderá pagar as contas que ficaram pendentes do exercício anterior apenas com o que tem a receber de lançamentos efetuados no exercício anterior. Porém, se a empresa consistentemente consegue adiar os seus pagamentos, essa situação pode ser considerada normal e até positiva. Por outro lado, se adia os seus pagamentos por conta da incapacidade de honrá-los em prazos menores, isso é indicativo de problemas financeiros. Como mencionado, depende de empresa para empresa.

Essa é uma explicação mais intuitiva para o capital de giro e, mais especificamente, para o investimento em capital de giro em avaliação de empresas. Talvez não seja muito “ortodoxa” do ponto de vista da Contabilidade, mas acredito que ajude a entender melhor esse conceito.

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