quarta-feira, 10 de junho de 2009

Capital Aberto no. 70

Ponto para elas

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Antes que a “Nova 202” saia, algumas empresas já se adiantaram na abertura individual de salários. Hoje, só é obrigatória a divulgação da remuneração global da diretoria e do conselho de administração. Algumas empresas como a Usiminas e o Banrisul já divulgaram os salários divididos por executivos. 31 de 93 empresas de um levantamento feito para o Anuário de Governança Corporativa (publicado junto com essa edição da revista) já divulgam separadamente a remuneração para a diretoria e para o conselho (mas nem todas divulgaram individualmente).

Além desses fatos, a reportagem discute a questão dos benefícios e malefícios da abertura dos salários. A leitura dessa reportagem acrescenta ao meu texto sobre o tema alguns argumentos e contra-argumentos. Sobre a possível desvantagem que as companhias de capital aberto teriam ao abrir os dados enquanto suas concorrentes não precisam fazer isso, um diretor da Watson Wyatt diz que as companhias de capital aberto já fazem levantamentos sobre esse assunto e dispõem dessa informação.


Um argumento contrário interessante é o da negociação com os sindicatos. Divulgar que o presidente ganhou um bônus vultuoso no mesmo ano (ou no ano anterior) em que demitiu funcionários ou baixou salários certamente não soa nada bom aos sindicatos e à opinião pública. Embora aparentem, as duas coisas não tem nada a ver. Bônus para os executivos tem a ver com os lucros da empresa e a decisão de contratar e demitir tem mais a ver com a atividade da empresa. Da mesma forma que, em sendo lucrativa, uma empresa pode demitir enquanto dá bônus aos executivos, uma empresa pode contratar funcionários mesmo tendo prejuízos, o que é ruim (o prejuízo) para os acionistas e para os executivos (embora estes possam mesmo assim receber bônus se os resultados forem apenas menos ruins). Tratei do conflito dividendos e empregos em outro texto.


Lições da crise

O texto, resultado de uma conversa que reuniu diversos especialistas do mercado, analisa alguns dos problemas relacionados à crise financeira. Os principais problemas enfrentados pelo Brasil e pelas empresas brasileiras não foram tiveram as mesmas causas da crise nos outros países, mas mais um efeito colateral. Enquanto os demais países desregulavam o mercado, o Brasil aprimorava a sua regulação. Mas isso não impediu todos os problemas.


Um deles foi o uso dos derivativos cambiais por parte das empresas para além do hedge, que expôs deficiências no controle de riscos e na gerência dessas empresas. Ligado a isso, o problema da remuneração dos executivos (de que outro texto da revista, comentando abaixo, também trata). O problema da administração voltada ao curto prazo não se manifestou de maneira tão generalizada no Brasil, como ocorreu alhures, mas, como foi apontado, o problema dos derivativos certamente estava relacionado com bônus que incentivavam essa prática. Foi apontada também a parcela de responsabilidade dos investidores, que implantaram ou deixaram que fossem implantados sistemas de remuneração que incentivam a tomada excessiva de riscos. A provável abertura individual dos salários também foi discutida.


Plano de remuneração: mocinho ou vilão?

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O interessante desse artigo são as sugestões para melhorar os planos de remuneração variável:


1) Reajustar os bônus, stock options ou bônus em ações de acordo com os competidores, empresas pares e o mercado. Isso evita que o executivo seja remunerado por um desempenho que pouco teve a ver com seu esforço. Se a empresa vai bem, mas abaixo de outras empresas, por conta de um esforço insuficiente de seus executivos, o bônus não deveria ser tão vultuoso quanto o resultado absoluto sugeriria.


2) Aplicar um prêmio acima do preço de mercado como preço de exercício da stock option e não reajustar o preço.


3) Incentivar a compra de ações por parte dos executivos, para que o impacto de seu desempenho se reflita mais diretamente em seu patrimônio pessoal.


4) Usar mais ações do que stock options e obrigar a manutenção das ações por períodos mais longos. Isso ajuda a focar os executivos no desempenho de longo prazo da empresa.

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