segunda-feira, 18 de março de 2013

O valor da beleza (#1)


Há muito tempo que Daniel Hammermesh estuda o efeito da beleza nos salários em diversos artigos de Economia. Agora, ele resumiu o que descobriu em suas pesquisas e o resultado de outros trabalhos em um livro chamado O Valor da Beleza (Beauty Pays, na versão original). É um tópico (Economia da Beleza) interessante por lidar com assuntos econômicos fora dos usuais, o que pode atrair leitores que não estão geralmente interessados em Economia.

A preocupação com a beleza é muito presente nos dias de hoje, como evidenciam os gastos com roupas e produtos de beleza, principalmente por parte das mulheres, mas também por parte dos homens. E essa preocupação não é nova, em tempos mais remotos também havendo indícios de que a beleza era levada em conta, como mostram a existência de joias. Mas por que um economista teria interesse no tema?

Economia lida com a maneira como gerenciamos recursos escassos. Beleza é um recurso escasso, não apenas porque há menos gente bonita do que gente bonita, mas, acima de tudo, porque a busca pela beleza envolve uma procura pela diferenciação que continua ocorrendo mesmo que todos fossemos geneticamente idênticos.

Além de escassa, beleza tem valor de mercado e influencia os resultados econômicos em diversas esferas. No mercado de trabalho, beleza pode resultar em maiores salários e maior empregabilidade, seja por si própria, seja por uma característica relacionada. Também tem valor no “mercado do casamento”.

Hammermesh analisará os custos e os benefícios da beleza, mas não fará nenhum tratado sobre o que é beleza. Mas, para fins de análise econômica, é necessário medir de alguma forma a beleza para podermos comparar com outras variáveis econômicas. É o que o autor procura fazer no capítulo 2, que começa com várias ressalvas sobre o conceito de beleza. Resumindo, para os fins do trabalho de Hammermesh: Beleza está nos olhos de quem vê.

A operacionalização dessa definição é pedir para que as pessoas classifiquem as pessoas de acordo com a sua beleza. Essa é uma forma de se quantificar a beleza, mas ainda há uma série de problemas com essa abordagem inerentes ao elevado grau de subjetividade. Essa abordagem foi utilizada em diversas pesquisas e Hammermesh vale-se desses dados para grande parte de seus próprios estudos.

Um dos problemas é a questão dos padrões de beleza, sendo desejável que haja um padrão (senão, toda a influência da beleza seria específica a uma situação e não poderia ser generalizada). E, de fato, os padrões podem mudar, mas há determinados tipos físicos que são considerados mais belos em determinada época. E a questão não é só de época, podendo haver variações culturais no que é considerado belo ou feio.

O autor analisa algumas das pesquisas sobre a quantificação da beleza. A distribuição das notas é ligeiramente enviesada para a classificação como acima da média, com poucas notas extremas (de 1 a 5, ou 1 ou 5). Apesar da distribuição não ser perfeita, isso é fácil de ajustar. Um problema maior seria se as pessoas fossem inconsistente em suas notas, classificando de maneira diferente fotos da mesma pessoa, o que, segundo uma das pesquisas, não foi muito o caso, de forma que as pessoas são razoavelmente consistentes. Além disso, diferentes pessoas atribuem notas parecidas para uma mesma pessoa, raramente se desviando de duas notas na escala de 5. Em suma, há um bom grau de concordância sobre o julgamento da beleza e também os juízos são consistentes.

A próxima questão é sobre se fatores afetam a avaliação da beleza. Idade é um fator que pesa negativamente, apesar das pesquisas pedirem para que as pessoas tentem levar em conta a idade (ou seja, perguntam para avaliar a pessoa considerando a idade que ela tem). Quanto ao gênero, não há muitas diferenças significativas quando os entrevistados são selecionados aleatoriamente. Para “raça”, também não há grandes diferenças na avaliação da beleza.

Por fim, Hammermesh analisa se as pessoas podem se tornar mais belas de maneira significativa. Analisando primeira a questão das cirurgias, apesar de não haver uma quantificação disso, o alto custo financeiro e emocional dessas cirurgias provavelmente não superam os benefícios no aumento da nota (não transforma alguém de 1 para 5, por exemplo). Em uma das pesquisas, mulheres que mais gastava com roupas e cosméticos tinham média de 3,36, contra 3,31 das demais. Financeiramente, o gasto acaba não compensando, mas em termos de auto estima, cirurgias, roupas e cosméticos podem se pagar. Ou seja, acabamos ficando presos ao que a natureza nos deu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário