terça-feira, 19 de março de 2019
A primeira vez que o Ibovespa chegou a 100 mil pontos
domingo, 17 de março de 2019
Qual foi a primeira empresa brasileira a valer USD 1 bi?
Fui perguntado se eu sabia qual era a primeira empresa brasileira a valer US$ 1 bilhão em bolsa. A inspiração foi esse artigo que afirma que a U.S. Steel foi a primeira empresa americana a chegar nessa marca no começo dos anos 1900s. Não sabia qual era, mas fui pesquisar e encontrei a resposta.
quinta-feira, 31 de julho de 2014
Retorno sobre investimentos colecionáveis
quarta-feira, 25 de julho de 2012
Investindo em selos
O artigo de Dimson e Spaenjers analisa o desempenho como investimentos financeiros de selos raros, uma classe de investimentos alternativos como obras de artes e vinhos finos. Selos são muito procurados por colecionadores apaixonados, mas é interessante examinar se também podem ser um investimento rentável e que possa proteger contra oscilações das ações ou contra a inflação.
domingo, 5 de fevereiro de 2012
Super Bowl XLVI
domingo, 6 de fevereiro de 2011
Super Bowl e Mercado Acionário
(A test of the representativeness bias effect on stock prices: A study of Super Bowl commercial likeability)
Charles Chang, Jing Jiang e Kenneth Kim
Economic Letters. Volume 103. 2009
Os autores analisaram como o grau com que as pessoas gostam de um comercial exibido durante o Super Bowl (a final do futebol americano) afeta o preço das ações da empresa anunciante. Não deveria haver relação significativa alguma, na medida em que o efeito de uma peça publicitária, por melhor que seja, exibida em apenas um dia, por mais importante seja esse dia e por mais visibilidade que o evento traga, não deveria ter um impacto economicamente significativo no valor de uma empresa. Porém, um viés comportamental conhecido como “viés de representatividade”, poderia fazer com que os investidores (que, como a maioria dos americanos, deveriam estar assistindo ao Super Bowl) prestassem mais atenção às empresas com melhores comerciais, poderiam ter uma atitude mais positiva a respeito dessas empresas e o resultado seria a alta das ações. De algum modo, os investidores acreditam que essas empresas possuem melhor perspectivas do que as demais baseados apenas no comercial de TV.
O grau com que as pessoas gostaram dos comerciais exibidos durante o Super Bowl é medido por uma pesquisa da USA Today. Duas medidas foram desenvolvidas pelos autores a partir dessa pesquisa, a primeira com o ranking dos comerciais exibidos (valor 1 sendo o comercial favorito) e a outra medida é separar os comerciais entre os 10 melhores e os 10 piores, em ambos os casos excluindo empresas não listadas ou estrangeiras.
Na análise univariada a partir da segunda métrica, foi encontrado que as empresas com os 10 melhores comerciais tiveram desempenho superior às empresas com os 10 piores comerciais, em diversas janelas temporais e sempre com a diferença sendo estatisticamente significante. A medida de desempenho é o retorno anormal, a diferença entre o retorno da ação e do S&P 500.
Foram feitas análises multivariadas por meio de regressões de mínimos múltiplos quadrados com as mesmas janelas temporais e acrescentando variáveis como o tamanho da empresa e a variação das vendas da empresa. A classificação dos comerciais tem efeito negativo nos retornos, ou seja, os melhores comerciais (com classificação mais próxima de 1) reduzem menos os retornos do que os piores comerciais em três das quatro regressões. Na análise com essa variável, o efeito da variação de vendas é negativo em uma das quatro regressões, diferente do que seria esperar e confirmando que qualquer efeito nas ações não é fruto de mudanças no valor da empresa. Utilizando como variáveis o fato da empresa estar entre os 10 melhores ou os 10 piores comerciais, foi encontrado um efeito positivo em três das quatro regressões para os 10 melhores comerciais, e nenhum efeito significativo para os piores. Novamente, em uma das quatro regressões o efeito da variação das vendas é negativo.
Esses resultados indicam que há um efeito positivo para as empresas que exibiram bons comerciais durante o Super Bowl. Porém, uma ressalva dos autores é que é necessário examinar se há de fato uma relação de causa e efeito entre qualidade do comercial e retorno das ações. E uma ressalva que eu faço é que o coeficiente de determinação (r-quadrado) varia entre um mínimo de 0,76% e 2,09%, portanto, pior do que a (ingênua) análise do rali de Dezembro. Mostra de que esse fenômeno deve ser melhor estudado antes de tirarmos qualquer conclusão.
Super Bowl Stock Market Predictor
Voltando ao tema do SB SMP, o “indicador” acabou por acertar o rumo do mercado em 2010, com a vitória do New Orleans Saints (da conferência nacional) coincidindo com uma alta do mercado americano no mesmo ano. Com isso, a precisão do “indicador” passa a ser de 75%, ligeiramente superior à quantidade de anos que fecharam em alta (72,72%). Em termos de retornos, os anos em que o SB SMP previa alta tiveram um retorno médio de 11,99% enquanto que os anos que o “indicador” previa baixa tiveram retorno de -3,54%, a diferença sendo estatisticamente significativa.
Ou seja, esse “indicador” ainda conserva parte de sua validade (com todos os problemas já apontados anteriormente), mas sua eficiência está caindo. No artigo de 1990 sobre esse tema, a precisão era de 90% (bem superior à proporção de anos em alta), os retornos com previsão de alta eram de 15,24% e com previsão de baixa era de -10,93%, uma diferença mais absurda do que a de hoje em dia.
Foi publicado um artigo mais recente sobre o SB SMP a que não tive acesso. Pelo resumo, parece chegar às mesmas conclusões descritas acima.
A quem interessar, independente de quem ganhe hoje, o “indicador” está definido antes do jogo final pelo terceiro ano consecutivo, já que uma das duas exceções (times da AFC que contam como da NFC para o SB SMP) chegou ao Super Bowl (O Pittsburg Steelers). Ou seja, a previsão para 2011 é de alta.
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
Decompondo um índice acionário
Os índices acionários são calculados multiplicando a quantidade teórica de cada ação e multiplicando pelo seu preço e depois somando o resultado dessas multiplicações. Ou:
Os índices calculados pela BM&F Bovespa (exceto o ISE) são revisados quadrimestralmente em Janeiro, Maio e Setembro modificando a última carteira do mês anterior (Dezembro, Abril e Agosto). A revisão segue os critérios de cada índice, sendo um critério para a escolha das ações (escolher um grupo de ações que corresponda a 80% do total dos índices de negociabilidade, pegando o exemplo do Ibovespa) e outro para ponderar as ações (critério de liquidez, medida pelo índice de negociabilidade, pegando o exemplo do Ibovespa). Seguindo esse critério de ponderação das ações, o valor do Ibovespa é decomposto e cada ação recebe uma parcela da pontuação total. A quantidade de ações é definida como a divisão do valor que a ação deve ter no índice depois da revisão pelo seu preço. Por exemplo: O índice ao final de Dezembro, Abril ou Agosto está em 70.000 pontos, a ação deveria ter 10% de peso segundo o critério de ponderação, o que equivale a ter 7.000 pontos e, com a ação a R$ 7,00, a quantidade teórica dessa ação é de 1.000 ações. Essa quantidade é ajustada supondo o reinvestimento dos proventos ao preço ex-proventos, de forma que esses eventos não afetam a pontuação e a variação do índice. O cuidado que deve ser tomado é não utilizar as quantidades teóricas de um período (mês anterior, por exemplo) e multiplicá-las pelo preço em outro período (hoje, por exemplo) sob o risco de ter havido um evento que tenha mudado a quantidade teórica de ações.
O que ocorreu com frequencia nos últimos anos era a Vale se valorizar mais do que a Petrobras e se tornar a ação com maior peso no índice por conta disso. Porém, a Petrobras voltava ao topo após a revisão do índice porque tinha maior liquidez do que a Vale. Ou seja, depois da revisão, os pesos voltam a ser o que deveriam ser. Isso mudou em setembro de 2010, quando a Vale passou a ter mais liquidez nos últimos 12 meses do que a Petrobras.
Seria possível manter a carteira com os pesos das ações constantes, revisando diariamente a carteira, mas isso dificultaria ainda mais a possibilidade de replicar o índice teórico, diminuindo a utilidade como um referencial de desempenho. Nos meus comentários após a revisão dos índices, o peso das 10 principais ações está conforme a carteira após a revisão (a carteira revisada do final do mês anterior à revisão). No meu texto sobre a história do Ibovespa, os pesos também são de acordo com a revisão da carteira. Escrevi que a Vale ficou poucas vezes como a principal ação do Ibovespa, isso ocorrendo considerando as carteiras após a revisão.
Para calcular o valor do índice sem algumas ações, basta calcular o índice da forma mostrada acima e excluir as ações indesejadas. Quando da oferta subseqüente primária (não OPA e muito menos IPO) da Petrobras, realizei esse cálculo tentando imaginar como seria o Ibovespa sem PETR3 e PETR4, que vinham tendo um mau desempenho na época. Estava correta a forma de calcular o índice sem esses ativos, porém, a comparação entre a carteira sem Petrobras em Agosto com a carteira sem Petrobras em dezembro de 2009 estava incorreta.
Essa análise foi feita supondo que um investidor tivesse comprado todas as ações do Ibovespa ao preço de encerramento do ano nas quantidades indicadas pelo Ibovespa (após a revisão) exceto a Petrobras, simplesmente deixando de comprá-la. Não é necessário recalcular os pesos ou as quantidades, basta tirar PETR3 e PETR4 da carteira. Comparar a carteira sem Petrobras no final de Abril (antes da revisão) com a carteira em dezembro de 2009 está correto, porém, a revisão quadrimestral muda os pesos dentro das carteiras de forma que não se pode comparar a carteira sem Petrobras no final de Maio com a do final de Abril.
A solução é focar no retorno mensal e não tanto nos valores das carteiras. Para os três primeiros meses, utilizar retornos ou valores das carteiras têm o mesmo resultado. O retorno em Abril de 2010 deve ser calculado utilizando as quantidades teóricas antes da revisão da carteira. Já o retorno de Maio deve ser calculado utilizando as quantidades no final de Maio (já naturalmente após a revisão) e a carteira no final de maio após a revisão.
Na planilha, na pasta “Decomposição”, calculei o valor de cada ação. O valor da soma está muito próximo ao valor divulgado do Ibovespa, com erros de no máximo dois pontos (ou 0,00%) de forma que o cálculo é bem confiável. Note-se as carteiras antes e depois da revisão (há duas linhas para Abr/10, Ago/10 e Dez/10, a primeira antes e a segunda depois). A carteira antes é calculada com o preço de fechamento no final de Abril e com as quantidades teóricas antes da revisão. A carteira depois da revisão é calculada utilizando as quantidades da nova carteira teórica e os preços ajustados por proventos, já que a nova composição leva em consideração o preço ex-proventos distribuídos no final de abril.
Em abril, a carteira sem Petrobras valia 57.843 pontos antes da revisão e valia 58.500 depois, ou seja, além da perda de participação pela desvalorização, houve a perda por conta de uma menor liquidez relativa das ações da Petrobras em relação às demais.
O mesmo procedimento é feito em agosto e (desnecessariamente) em dezembro. Os retornos da carteira sem Petrobras entre maio e agosto levam em conta a composição após a revisão em maio e os retornos entre setembro e dezembro levam em conta a carteira após a revisão de setembro.
Uma alternativa que tinha aplicado anteriormente e achava que seria mais simples é calcular a carteira no final de dezembro de 2009 e ir aplicando os retornos mensais das ações no valor dentro do índice. Isso não exigiria utilizar as quantidades teóricas mês a mês, mas ainda precisaria revisar quadrimestralmente. Acabou sendo mais complicado (talvez por falhas na planilha anterior), mas também pode ser feito assim. Outra possibilidade seria recalcular o valor das ações dentro do índice recompondo a carteira. Os 57.843 da carteira sem Petrobras no final de abril seriam divididos entre as ações que compõem o Ibovespa sem Petrobras após a revisão, aplicando as mudanças de pesos exclusivamente para as ações que não sejam da petrolífera. Isso é mais realista, porém, para efeitos de cálculos de retorno mensal, tem o mesmo resultado com muito mais trabalho. O único benefício é que não seria mais necessário utilizar os retornos mensais para chegar ao retorno mensal, podendo utilizar o valor da carteira no final de 2010 com e comparar com o final de 2009. Isso pode ser conferido na tabela “Recomposição”, válido para o mês de Maio (perceba que o retorno da carteira recomposta tem o mesmo valor calculado anteriormente).
Os retornos mensais são colocados em uma série (ver as células começando em A22 na pasta “Decomposição”). É atribuído o valor 100 para dezembro de 2009, o retorno de janeiro é aplicado sobre esses 100, o de janeiro sobre o resultado da conta anterior e assim sucessivamente. No fim, a carteira teria o valor de 105,24, ou seja, sem Petrobras, o índice teria subido 5,24%. Por um acaso, próximo dos 5,11% calculados erroneamente anteriormente.
O exemplo utilizado foi de carteira sem Petrobras, mas certamente que as considerações aqui feitas podem ser aplicadas para diferentes fins. Alguém poderia, por exemplo, calcular o Ibovespa sem IPOs, sem bancos, sem Souza Cruz, sem Ambev ou sem o que a pessoa desejar, mantendo o resto da metodologia do índice. E, claro, outro índice além do Ibovespa pode ser utilizado, sem muitas mudanças na forma de cálculo (exceto o Dow Jones Industrial Average).
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Rali de Dezembro
Primeiro, é necessário adotar um procedimento mais rigoroso para se analisar essa questão. Uma possibilidade é utilizar de estatísticas um pouco mais avançadas (dizer que em 86,67% dos Dezembros há alta é usar estatística, mas de maneira bastante rudimentar). Segundo, é altamente problemático querer fazer inferências em cima de 15 observações, porque esse tamanho de amostra é baixo para se tirar alguma conclusão estatisticamente válida. Isso se verificará mais adiante.
Uma primeira análise é por diferença de médias. Um primeiro exame seria se Dezembro tem uma proporção de altas maior do que outros meses e seja possível afirmar que haja essa diferença com um certo índice de confiança. Esse índice de confiança é o p-valor das estatísticas de diferença de médias (teste-t) ou de regressão múltipla. Caso o p-valor seja inferior a um nível usualmente aceito (pelo menos 10%, em geral), então é possível dizer que existe diferença de médias (em uma regressão, é possível dizer que o coeficiente é diferente de zero). Caso isso ocorra, rejeita-se a hipótese de que as duas médias analisadas sejam iguais.
Fazendo o teste de diferença de médias da proporção de altas em um mês contra Dezembro, a diferença é significativa para os seis primeiros meses (Janeiro-Junho), não o sendo nos demais meses. Por essa análise, em Dezembro há mais altas do que nos primeiros seis meses, mas não há diferença nos demais. Quem está esperançoso de que suba em Dezembro, deveria, por essa análise, considerar que não é possível afirmar com confiança que a proporção de altas em Dezembro seja diferente da de Novembro (que, por sinal, registrou queda nesse ano).
É possível fazer uma regressão múltipla tendo como variável dependente uma dummy que indique 1 se o Ibovespa subiu e 0 no caso contrário. As variáveis independentes são dummies análogas, mas para cada mês (a dummy de Janeiro assume valor 1 se subir em um Janeiro, 0 do contrário). É atribuído valores para essas variáveis em cada mês de Janeiro/95 até Dezembro/09.
O resultado da regressão é que um dos poucos coeficientes estatisticamente significativos (que podemos afirmar com confiança que seja diferente de zero) é a constante. Além desse, o coeficiente para Janeiro, Maio e Junho também são e todos negativos. Quer dizer que em Janeiro, Maio e Junho há a tendência de queda? Até poder-se-ia afirmar isso, porém, o r-quadrado da regressão é baixo (microscópicos 0,24%). Ou seja, o mês do ano, por si só, explica apenas 0,24% da probabilidade do Ibovespa subir ou cair.
Porém, é necessário avaliar o retorno médio de cada mês. Mesmo que todos os dezembros sempre subissem, não seria de muita utilidade se subir pouco. Repeti as mesmas análises para o retorno médio. A média de retorno dos dezembros é de 4,91%, é a segunda maior (Novembro tem média de 6,45% e Abril não fica longe de Dezembro com 4,61%). A diferença de médias entre Dezembro e todos os outros meses não é diferente de zero segundo o teste-t. Isso ocorre porque o número de observações para cada mês é baixo (14). O mesmo ocorre com a proporção de altas, porém, a variância dos retornos é maior do que a variação da proporção de altas. De forma que não é possível sequer afirmar que Dezembro tenha melhor desempenho do que Agosto, que tem média de -1,37% (muito por conta da queda de quase 40% em 1998).
Na regressão múltipla, o coeficiente de Dezembro é significativo, assim com de Novembro. O coeficiente de regressão é o mesmo da média, pela forma como a análise foi feita. Ou seja, por essa análise, até é possível dizer que a média de Dezembro é de 4,91%, mas a de Novembro é de 6,45%. E o Ibovespa caiu no Novembro desse ano. O r-quadrado dessa regressão é 2,86%, não tão microscópico, mas ainda baixo. Por fim, o F de significação das duas regressões é superior a 10%, de forma que não é possível afirmar que haja qualquer relação entre proporção de altas e retornos e o mês do ano.
Muito por conta do baixo número de observações, não é possível dar respaldo à estória de que Dezembro tende a ser mês de alta. Quem quiser afirmar que isso ocorre, que afirme que o mês do ano explica os retornos do mercado, deixando de explicar 99,76% da variação dos retornos mês a mês, que diga isso. O que afirmo é que não tem como concluir coisa alguma com tão poucas observações. A análise que fiz é ingênua, deixa de considerar uma infinidade de outros fatores, mas a análise de que se em 86,67% dos Dezembros há alta e, portanto, a tendência é de alta, é ainda mais ingênua.
segunda-feira, 12 de julho de 2010
A Copa acabou...
A primeira pergunta seria: por que analisar os Estados Unidos, país que não se importa muito com o futebol (ver aqui algumas razões para isso)? Talvez fosse melhor analisar os resultados locais, talvez relacionando desempenho da seleção com retornos. A abordagem dos autores foi buscar uma estratégia que independa dos resultados. Ao final da fase de grupos, 16 seleções são eliminadas; na próxima fase, restam apenas 8, depois 4, depois apenas duas seleções podem ser campeãs até que apenas uma de fato será. Outro estudo mostrou que uma queda se segue à derrota na Copa do Mundo e que vitórias não se convertem em retornos positivos. Logo, vender a descoberto ações dos dois países pode ser lucrativo. Para simplificar a estratégia, para que não se torne muito complexa, estuda-se o mercado americano. Como este é o maior mercado acionário do mundo, com muitos investidores estrangeiros e com ações de empresas estrangeiras nele sendo negociadas, eventuais pessimismos locais podem transbordar para o mercado americano, o que se refletirá nos retornos.
Foi analisado o retorno diário durante e fora da Copa. Constatou-se que, após controlar por diversas outras variáveis, o retorno médio diário é afetado negativamente pela Copa, ou seja, é reduzido, podendo ser negativo.
Os autores testaram esses resultados como uma forma de estratégia de investimento com uma carteira hipotética que está posicionada sempre que há jogo de Copa, posteriormente comparada com uma carteira que rende a taxa livre de risco e outra que rende a taxa média do retorno das ações. Em três Copas (54. 58 e 70) o retorno da carteira “anti-Copa” foi superior à taxa livre de risco e em apenas uma, a de 1954, é superior ao retorno médio das ações. Testando a média anualizada do período de Copa contra o retorno no ano, em apenas uma Copa o retorno foi superior ao ganho anual (1970). As piores diferenças (retorno na Copa – Retorno no Ano) ocorreu em 1950 e 1974, -124,08% e -111,34% (será que a tristeza do Maracanazo e da derrota da Laranja Mecânica contagiou os investidores?).
Uma estratégia mais realista é estar sempre comprado em ações, exceto quando há Copa. Durante o evento, o investidor vende as ações e compra Letras do Tesouro de Três Meses. Investindo US$ 1,00 no começo do período, o resultado seria US$ 6.948 comparado com US$ 4.386 comprando ações em 1950 e mantendo-as até 2007 (achei esses números exagerados, pelos dados que possuo, mas isso não parece mudar os resultados). Além de obter retornos superiores, o risco da carteira anti-Copa é inferior, levando a uma menor relação Retorno/Risco.
Resumindo, segundo o estudo, o retorno nas Copas é de -2,58% a.m., enquanto que nos demais dias é de +1,21% a.m. Outro estudo, inspirado no primeiro, encontrou resultados semelhantes. Em 2010, o S&P 500 caiu 1,25% entre 11 de Junho e 9 de Julho, enquanto que o Ibovespa caiu 0,25% no período encerrado em 8 de Julho. Ou seja, mais uma Copa com queda na Copa, porém, precisa esperar o final do ano para saber a comparação anual.
Essa estratégia de investimento é mais sofisticada do que o Super Bowl Stock Market Predictor analisado anteriormente, sendo mais bem fundamentado do que esse outro indicador absolutamente espúrio. Além disso, o período é mais curto, levando apenas um mês para se saber se a estratégia rendeu ou não. A quem interessar, fica a dica para 2014.
Nota Metodológica
A primeira análise, a dos retornos diários, foi feita por meio de regressões multiplicas, levando em conta diversos fatores que poderiam explicar os retornos. Considerou-se o dia da semana, se a data é após um feriado, o período do ano (poderia acontecer de Junho-Julho, quando ocorrem as Copas, ser um período constantemente ruim para as ações), se o dia foi de uma alta ou baixa extraordinária e se o dia é ou não de Copa (essa é a variável de interesse). Cada uma dessas variáveis foi transformada em variáveis dummies tendo o retorno como variável dependente. Foi utilizado um modelo contando os dias de jogos e os seguintes e outro que associa todos os dias do começo ao fim como sendo dia de Copa.
O sinal da variável que indica ser dia de jogo é negativo, por isso concluiu-se que o retorno é afetado negativamente pelo torneio.
Não foram encontradas evidências de que os meses de Junho e Julho sejam particularmente ruins para as ações. Os autores analisaram se eventos extremos que ocorreram na Copa (apenas dois, o início da Guerra da Coréia em 1950 e o fim da Guerra das Malvinas em 1982) afetaram os resultados, não encontrando evidências de que isso tenha ocorrido.
Outra análise foi feita desconsiderando as Copas que tiveram pior desempenho comparado com o retorno no ano (1950, 1974 e 2002). Os resultados se mantêm após a remoção dessas observações.
Por fim, os autores poderiam ter considerado o efeito da liquidez como fez outro artigo (aqui analisado). Ainda sobre esse outro artigo, os autores encontraram efeito negativo nas ações por conta do verão, definido como Julho-Setembro, sendo que os autores do artigo agora analisado não encontraram um efeito dos meses de Junho e Julho. Como há apenas um mês em comum nas duas análises, os resultados não podem ser considerados contraditórios.
domingo, 24 de janeiro de 2010
Super Bowl Stock Market Predictor (II)
Quem quiser ler mais, pode ler aqui mesmo. Esse texto é só uma pequena atualização. Ano passado, com a vitória dos Steelers na decisão da AFC, o indicador já estava decidido antes mesmo do Super Bowl e o mercado foi de alta. Com isso, a precisão do indicador é de 74,12% contra 72,73% (pelas minhas contas) de altas do S&P 500 entre 1967 e 2009.
Com a vitória da outra exceção da AFC, os Colts, na decisão da AFC desse ano, a previsão é de alta para 2010 antes mesmo do Super Bowl. Pelos mesmos motivos expostos no meu texto anterior, essa informação sequer me faz pensar que o mercado tenha mais chance de subir do que se os Jets tivessem vencido os Colts e futuramente vencessem o Super Bowl. Essa história toda só serve como curiosidade.
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
Romantismo e Consumo
Vladas Griskevicius, Joshua Tybur, Jill Sundie, Robert Cialdini, Geoffrey Miller e Douglas Kenrick.
Journal of Personality and Social Psychology. Volume 93. Nº.1 2007
Apesar do artigo ser de Psicologia, tem algumas implicações econômicas interessantes. Trata de analisar as decisões de consumo em bens de luxo e de filantropia em função de gênero e de emparceiramento (tradução feia, mas adequada, de mating). A ideia é que essas decisões são influenciadas pelo que na zoologia se chama de “sinalização custosa”, o comportamento dos animais de produzirem sinais custosos (obviamente que não em termos de dinheiro, mas de tempo, de energia, risco etc.) para sinalizarem seus melhores prospectos reprodutivos (não sei até que ponto esses termos influenciaram ou foram influenciados pelas teorias de Informação Assimétrica na Economia).
Diversas teorias estudam a filantropia, procurando motivos egoístas para tal comportamento. Uma teoria enquadra a filantropia na Teoria dos Jogos, dizendo que, em um jogo repetitivo, as pessoas procuram ajudar as outras esperando que em “rodadas” subseqüentes, se eles precisarem de ajuda, serão ajudados. A hipótese do artigo é a de que a filantropia serviria para sinalizar riqueza, status e prospectos reprodutivos, algo que não é novo (os autores citam esse comportamento em tribos indígenas).
São apontadas quatro condições para existir a sinalização custosa: 1) Deve implicar custos em termos de recursos econômicos, tempo, energia, risco ou outro sacrifício relevante; 2) Deve ser observável por outros; 3) O sinal traz algum benefício para quem emite o sinal; 4) O sinal indica características desejáveis de se encontrar no emissor. (tornei mais geral esses conceitos que se referiam a emparceiramento). A filantropia pode sinalizar dois fatos: que a pessoa tem recursos e que tem uma personalidade pró-social. Essas duas características são desejáveis em um parceiro, mas pode ser mais ou menos desejável dependendo do gênero da pessoa que, digamos, recebe o sinal. Analisar essas atratividades relativas é o objetivo do artigo.
Doar dinheiro é uma boa maneira de sinalizar que a pessoa tem dinheiro. Outra, mais comum, mais prazerosa e mais efetiva é gastar em compras caras e desnecessárias (a isso dá-se o nome de consumo conspícuo). Não é machismo de minha parte ou da parte dos autores (grupo que inclui uma mulher) fazer a hipótese de que as mulheres valorizam mais demonstrações de riqueza do que os homens. O senso comum e evidências empíricas (não apresentadas aqui)indicam isso também. (Goethe escreveu uma parte autocensurada do Fausto que trata disso também). A pessoa também pode demonstrar personalidade pró-social de outras maneiras além da doação em dinheiro, com trabalho voluntário, por exemplo. Qual gênero valoriza mais esses traços no outro não é uma questão tão resolvida. Ambos os gêneros possuem razões para valorizar esse comportamento caritativo no gênero oposto. Em outro texto, citei um artigo que afirma que mais mulheres trabalham no terceiro setor e analisa os motivos, e sinalizar comportamento para os homens não era um deles. A pesquisa procura terminar as atratividades relativas de cada comportamento.
A pesquisa foi feita com base em vários estudos. O primeiro estudou o comportamento de um grupo de pessoas “românticas” e um grupo de controle. No primeiro grupo, são mostradas fotos de pessoas atraentes do sexo oposto e é pedido para a pessoa imaginar ter um encontro com a pessoa mais atraente. Ao grupo de controle foram mostradas imagens de uma paisagem urbana e pedido ao participante que descrevesse a condição de tempo mais agradável para se passear nessa paisagem. Aos dois grupos, foi pedido que indicassem quanto a pessoa estaria disposta a gastar em cinco tipos de produtos como um novo carro ou férias na Europa. Foi pedido também que a pessoa imaginasse ter 60 horas mensais de tempo livre e que indicassem quanto tempo estaria disposta a utilizar em trabalho voluntário e em qual tipo de trabalho. O grupo 1 não deve considerar a pessoa do “encontro ideal” na resposta às perguntas, já que, na aplicação da pesquisa, foi dito aos participantes que a imaginação do encontro e as perguntas que testam as hipóteses são independentes.
As evidências indicam que os homens do grupo 1 (que imaginaram um encontro) gastaram significativamente mais do que os homens do grupo 2 e que não há diferença significativa entre mulheres. No trabalho voluntário, ocorreu o contrário, com mulheres do grupo 1 mais dispostas a utilizar o tempo em trabalho voluntário do que mulheres do grupo 2 e não havendo diferença significativa entre os homens.
O segundo estudo objetiva analisar se o comportamento dos homens não é dirigido a qualquer tipo de consumo (ou seja, os homens do grupo 1 gastam mais em qualquer coisa, e não apenas em bens de luxo) ou se as mulheres do grupo 1 se voluntariam mais em qualquer situação ou apenas em público. Pela teoria da sinalização custosa, os homens do grupo 1 devem gastar mais em produtos de luxo e as mulheres do grupo 1 devem se voluntariar mais de uma forma que outros vejam. Esse estudo foi parecido com o anterior (com diferenças metodológicas, mas mesma idéia), mas incluindo bens que não sejam de luxo (folha de papel, por exemplo) para estudar o consumo e atividades caritativas que não sejam visíveis publicamente (como postar uma carta que tenha caído da caixa do correio), dessa vez, medindo a disposição a ajudar, não o tempo gasto. Em todos os casos, no Estudo 2, foram perguntadas a disposição a pagar e a disposição a ajudar comparado com os estudantes da Universidade (os participantes do estudo 2 e os subseqüentes eram estudantes que, vejam só, tinham que responder a pesquisa como requisito da matéria).
Os resultados do Estudo 2 foi a de que os homens do grupo 1 realmente gastam mais em consumo de luxo do que o grupo 2 e que o grupo 1 na verdade gasta menos em produtos não-conspícuos do que o grupo 1. Logo, rejeita-se a hipótese de que homens do grupo 1 gastam mais do que o grupo 2, independente do que for. Para as mulheres, o consumo dos dois grupos não difere significativamente em nenhum dos casos. O estudo da benevolência obteve os resultados esperados (a benevolência das mulheres do grupo 1 se deve à benevolência conspícua e não há efeito nos homens).
Há um grupo de atitudes benevolentes muito associado a homens, que é o heroísmo. A priori, os homens não agem heroicamente para conquistar mulheres, mas certamente que isso pode favorecê-los. Para mulheres, por outro lado, heroísmo não é, a priori, uma qualidade procurada pelos homens nas mulheres. Além disso, há um tipo de consumo que pode ser utilizado não para sinalizar riqueza, mas personalidade pró-social, que é doação em dinheiro. Um terceiro estudo procura determinar o comportamento dos homens e das mulheres sobre esses tópicos.
O Estudo 3 é parecido com o 2, incluindo cinco situações heróicas (como enfrentar dois ladrões armados que estão roubando uma casa) e consumo filantrópicos (doar dinheiro para vítimas de desastres naturais, por exemplo). Os resultados confirmam que os homens são mais heróicos do que as mulheres nos dois grupos e os homens do grupo 1 estão mais dispostos a agir heroicamente do que os homens do grupo 2. Consumo filantrópico afeta tanto homens quanto mulheres (lembrando que filantropia de outras maneiras não afetavam os homens), mas ainda afeta mais as mulheres.
Insatisfeitos com os resultados da benevolência masculina, que só se manifestou no heroísmo, os autores fizeram mais um estudo. Bondade e generosidade são traços desejáveis nos homens, e isso deveria se manifestar de algum modo. O teste agora é se incluir atitudes generosas de maior prestígio são mais ou menos desejáveis pelos homens. Cuidar de sem teto ou de crianças carentes é uma atitude pública, mas não muito amplamente divulgada. Fazer o que as celebridades fazem, por outro lado, é. O Estudo 4 inclui atitudes desse tipo nas questões, assim como questões sobre atitudes que indiquem assertividade e liderança (como fazer um discurso sobre uma boa causa para uma platéia hostil). Os resultados indicam que os homens do grupo 1 ajudam significativamente mais do que os homens do grupo 2 na situação de filantropia prestigiosa. Indicam ainda que os homens do grupo 1 são mais propensos a ajudar nas situações que indiquem assertividade e liderança do que não apenas os homens do grupo 2, mas também do que as mulheres.
A Economia e as Finanças “tradicionais” (não gosto dessa expressão, mas vá lá) não ignoram questões como essa. Apenas não se manifestam sobre elas. Supõem que as pessoas seguem uma determinada função utilidade, mas fazem poucas suposições sobre essa função utilidade. Os resultados desse artigo indicam, traduzidas no jargão econômico, que romantismo afeta a função utilidade em algumas situações e afeta homens e mulheres de maneira diferente.
As evidências também indicam vieses que as pessoas podem estar sujeitas. Cabe dizer que o artigo examinou as decisões de consumo e de filantropia em termos de romantismo, mas nada fala da efetividade dessas estratégias de sinalização custosa. Nem que o custo da sinalização supera o eventual benefício. Uma pessoa pode se perguntar se algum romantismo de sua parte está afetando as suas decisões e se vale a pena os custos dessa sinalização.
Uma última nota. A escola comportamental procura contribuições de outras ciências para o estudo da Economia. Isso pode trazer uma série de contribuições para melhorar o entendimento da Economia, mas pessoalmente tenho minhas dúvidas que torne a Economia mais “humana” ou menos lúgubre, a se ver a linguagem desse e de outros artigos.
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Instrumentos financeiros com componentes de loteria esportiva
Journal of Banking and Finance, Vol. 33, Ed. 12, 2009
Wolfgang Breuer, Guido Hauten e Claudia Kreuz
O artigo estuda instrumentos financeiros (não veículos de apostas convencionais oferecidos por casas de apostas) com características de loterias esportivas, mais especificamente, de produtos sobre a Copa do Mundo de 2006 na Alemanha. Um investidor poderia valer-se da Copa do Mundo para (tentar) ganhar dinheiro de duas maneiras: investindo em empresas que supostamente se beneficiariam da Copa ou apostar nos resultados dos times.
Os autores descartam o primeiro motivo. Por mais intuitivo que possa parecer, não há razões para se acreditar que investir em empresas que ganhariam com a Copa (construtoras, hotéis etc.). Que os mercados sejam informacionalmente ineficientes é uma coisa: que ignore um evento como a Copa do Mundo e deixe de incorporar esse evento nos preços requereria que os mercados fossem absolutamente idiotas.
Mas essa não é a principal questão do texto, e sim os instrumentos de apostas nos resultados dos jogos. Os autores fazem hipóteses sobre a conveniência desses instrumentos para os investidores. Uma potencial vantagem não seria diminuir o risco de carteiras, já que não há correlação entre os retornos de outros ativos, além do próprio instrumento de aposta ter muito de risco não diversificável (como um investidor poderia diminuir, legalmente, a chance de um time perder?).
Os instrumentos financeiros de apostas funcionam da seguinte maneira geral: são depósitos remunerados que pagam taxas abaixo das oferecidas por depósitos com características similares (mesmo prazo, mesmo montante). Mas, além dessa taxa, há um bônus na contingência de um resultado esportivo (a seleção alemã ganhar um jogo ou a Copa ou ser eliminadas nas Oitavas, por exemplo). Um exemplo é Sparkassen-KickTipp (SKT), em duas versões: Na versão A (“patriótica”, digamos) o investidor ganha 2,5% a.a. se a Alemanha ganhar a Copa e na versão B o investidor ganha 2,5% a.a. se a Alemanha for eliminada na fase de grupos. O investidor receberá com certeza 1,5% (se a Alemanha cair na fase de grupos na versão A e se for campeã na versão B).
Na época, o banco oferecia remuneração para depósitos no mesmo período uma taxa de 1,90% (5.000 €) ou 2,15% (acima de 10.000€). A média das taxas na época era de 2,29%. Ao invés de aplicar nesse instrumento, o investidor poderia aplicar um pouco menos do que 10.000€ à taxa de 1,90% e conseguir o mesmo rendimento sem risco do SKT (1,5%), ainda apostando em casas de apostas nos mesmos resultados que um SKT aposta. Na análise dos autores, replicar o SKT do tipo A custa menos do que 10.000 € (9.995,59 €) e , portanto, é preferível replicar do que comprar o SKT. À taxa de 1,90%, o SKT do tipo B poderia ser preferível (replicar custa 10.007,6€), mas à taxa de quase 1,98% replicar seria preferível, de forma que o SKT não parece ser interessante como investimento.
Mesmo nessa situação, há alguns motivos para se investir nesse instrumento. Pode haver heterogeneidade de expectativas, o que permitiria que um investidor com maior capacidade de analisar as probabilidades de vitórias de um time tenha vantagem. Ou, que uma pessoa pense que tenha capacidade analítica superior e que pense ter vantagem sobre os demais. Sob essa condição, o investimento pode não parecer ser de retorno esperado baixo para esse investidor.
Outra explicação seria o comportamento de busca pelo risco. Um investidor pode gostar de correr risco porque os ganhos possíveis lhe parecem muito mais importantes do que as perdas, mesmo que o valor médio seja mais de perda do que de ganho
Uma terceira explicação seria a de que a aposta gera outras utilidades além do dinheiro. O investidor poderia compensar “perdas” futebolísticas com ganhos monetários ou compensar perdas monetárias com “ganhos” futebolísticos.
Ainda, há um viés conhecido como framing hedônico: as pessoas contabilizam perdas e ganhos de maneira diferente, valorizando mais os ganhos do que as perdas. Dessa forma, os investidores podem encarar o SKT como um ganho certo de 1,5%a.a. com possibilidade de bônus, enquanto que a estratégia replicante é um ganho certo de 1,5% a.a. com possibilidade de perdas nas apostas. Na estratégia replicante, se a Alemanha caísse na fase de grupos, o investidor teria 10.150€ nas duas alternativas, mas sentiria que perderia o dinheiro da aposta, embora já tivesse pago as apostas (34,84€ no STK A). Assim, investir no STK poderia parecer mais vantajoso (embora não seja).
Um viés que torna o produto menos atraente é a ilusão de controle. Uma vez feito o investimento pelo produto, o investidor já não tem mais controle. Apostando de acordo com as probabilidades estimadas pelo investidor na hora da aposta dão ao investidor/apostador uma ilusão de controle. Certo ou errado, esse ganho de flexibilidade faz com que o apostador preferira apostar diretamente do que pelo SKT.
Isso é o que a teoria existente (incluindo contribuições comportamentais) pode nos dizer sobre esse assunto. Para melhor compreendê-lo, fez-se uma pesquisa com 385 alunos que tiveram a disciplina de “Orçamento de Capital”, uma das mais básicas de Finanças na RWTH Aachen University (de forma que os alunos não tenham grandes conhecimentos de Finanças). Agora o estudo é feito em cima da primeira divisão Alemã (Bundesliga). São feitos diversos testes sobre a atratividade de instrumentos financeiros de apostas, alguns com probabilidades dadas pelo teste e outras que requerem que os alunos estimem as probabilidades.
As hipóteses de framing hedônico, comportamento de busca pelo risco e ganho de flexibilidade foram rejeitadas. Os estudos corroboraram parcialmente a hipótese de utilidade não-monetária, totalmente a de heterogeneidade de expectativas com aversão à ambigüidade e a de que o banco pode lucrar com a venda desses produtos.
Apesar dos resultados levarem a conclusão de que, na média, os investidores não serão atraídos por esses instrumentos às taxas oferecidas (inferiores a uma taxa de risco menor), ainda assim os bancos podem oferecer os produtos lucrativamente. Há suficiente número de investidores amantes ao risco para que o banco ofereça o produto e atraia clientes. Ou seja, a atratividade está na diversidade dos clientes, não em sua média.
Porém, apesar dessas hipóteses confirmadas, os resultados não são muito auspiciosos para esses produtos. Em cada hipótese confirmada, há o porém de que apostar com bookmakers pode ser mais vantajoso para o cliente. Na verdade, o SKT e outros instrumentos estão “presos no meio”: não oferecem a segurança da renda fixa, o retorno esperado superior ao da renda fixa das ações ou a diversão das apostas. Isso conduz à conclusão dos autores de que esses produtos são mais marketing gimmick (ou seja, diferente e notável, mas inútil) do que um bom produto de investimento.
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Origem do WACC
WACC: Weighted Average Cost of Capital, usualmente traduzido como Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC).
O WACC é dado pela fórmula:
WACC =( Ke*E)/(E+D) + (Kd*D)/(E+D)
Essa relação é uma das várias igualdades em avaliação de empresas:
F = E + D
FCFF = FCFE + FCFD
(E+D)*WACC = Ke*E + Kd*D
WACC é a média ponderada das taxas exigidas por acionistas e credores para investir na empresa. Em avaliação de empresas, é a taxa usada para descontar os fluxos de caixa livres para acionistas e credores. Em finanças corporativas, é a taxa mínima de atratividade dos projetos da empresa.
A primeira referência que eu conheço a essa fórmula do WACC é de Ezra Solomon em seu Theory of Financial Management (1963). Nesse livro, Solomon refere-se à fórmula como “weighted average of the cost of equity and the cost of debt funds with the stock and bond components of total market values used as weights”, que, em algum momento, ficou denominada mais sinteticamente. Um artigo bem antigo do Journal of Finance também afirma ser Solomon o primeiro a tratar do WACC tal como é conhecido hoje.
No artigo de Franco Modigliani e Merton Miller da irrelevância da estrutura de capital no valor da empresa, não há referência nem ao conceito nem à fórmula do WACC.
Dois maus usos comuns, apontados por Pablo Fernandez.
1 – Usar valores contábeis como pesos. Fazendo isso, as relações acima não se mantêm em termos de mercado.
2 – Supor alavancagem variável, mas WACC constante. Os fluxos de caixa devem ser descontados ao WACC usando os valores de mercado no período em que o fluxo de caixa ocorre. Descontar o fluxo em n+1 usando a alavancagem em n+1, descontar os fluxos em n+2 usando alavancagem em n+2 etc. O que não é uma tarefa fácil.
Siglas:
F = Valor de mercado da empresa
E = Valor de mercado do capital próprio (ações)
D = Valor de mercado da Dívida
FCFF = Fluxo de Caixa Livre da Empresa
FCFE = Fluxo de Caixa Livre dos acionistas
FCFD = Fluxo de Caixa Livre da Dívida (não há essa nomenclatura, mas o conceito existe).
Ke = Custo do capital próprio
Kd = Custo da dívida