Como tradicional desde o começo do blog, um texto para o dia do Super Bowl, retomando o tema do Super Bowl Stock Market Predictor, indicador divertido mas, na minha opinião, inútil, e tratando de outros assuntos.
Super Bowl Stock Market Predictor
Kester (2010) escreveu o artigo mais recente sobre o SBSMP que eu conheço. O autor trata de algumas complicações para esse indicador. A lenda original era que o mercado subia quando um time da antiga NFL (antes da unificação da NFL com a AFL e transformação em conferências) ganhava o Super Bowl. A grande maioria dos times da antiga NFL faz parte da atual Conferência Nacional (NFC). No primeiro artigo que eu conheço sobre o SBSMP (Krueger e Kennedy (1990)) os autores citavam duas exceções, times da antiga NFL e que agora fazem parte da Conferência Americana (AFC): Pittsburgh Steelers e Baltimore Colts (hoje Indianapolis Colts). Esses dois times, vencedores de Super Bowl, contam como previsão de alta por serem parte da antiga NFL.
Na Wikipedia consta que são três os times da antiga NFL que foram para a AFC, os dois já citados mais o Cleveland Browns, que não havia ganhado Super Bowl na época do artigo de Krueger e Kennedy. Porém, esse é um caso peculiar. Era um time da antiga NFL que em mudança controversa se transformou no Baltimore Ravens para a temporada de 1996. Os jogadores e a equipe técnica do antigo Browns foram para o Ravens, só o nome que não pode ser transferido. Hoje, há um novo Cleveland Browns na AFC. Essa história seria irrelevante para o SBSMP se o Ravens não tivesse ganho o Super Bowl em 2001 (mais adiante). Além desses times, existem três novas franquias criadas já na era do Super Bowl e que continuam na liga, Jacksonville Jaguars, Houston Texans e o novo Cleveland Browns. O Tennessee Titans é o antigo Houston Oilers, que pertencia à antiga AFL.
Como dito, a lenda original dizia respeito à filiação do time nas antigas ligas, mas o que fazer com os novos times? Kester adotou uma abordagem curiosa: quando um desses novos times ganha, a previsão passa a ser definida pelo vice. Caso o vice seja da antiga NFL, então a previsão é de baixa; caso o vice seja da antiga AFL, a previsão é de alta. Por exemplo, em 2003 os Buccaneers, time novo que não fazia parte da antiga NFL, mas fazem parte da atual NFC, foram campeões sobre os Raiders, da antiga AFL, resultando em previsão de alta. Ele incluiu o Baltimore Ravens como sem filiação anterior, de forma que a previsão de 2001 (quando os Ravens foram campeões) passou para o vice, o New York Giants da antiga NFL e atual NFC (portanto, previsão de alta). Para sorte do autor, não houve até agora nenhum Super Bowl com dois times novos (Bucs contra Ravens, por exemplo).
Com essa abordagem, a precisão do indicador foi de 76,2% no período 1967-2008. O autor propõe mudar o SBSMP para ignorar o período anterior à unificação e tratar só das atuais conferências, o vencedor sendo da NFC prevendo alta. Com isso, a precisão no período de Krueger e Kennedy seria de 68,2% (contra 90,9% do original) e a precisão entre 1967 e 2008 seria de 59,5%. Porém, a proporção de altas foi de 73,8%, de forma que o indicador renovado é pior do que chutar que o mercado subirá todos os anos e o indicador original marginalmente melhor. O desempenho da carteira que aplica no S&P 500 quando a previsão é de alta e em títulos públicos quando é de baixa é superior ao de uma carteira sempre comprada no S&P 500, o diferencial sendo maior para os critérios originais embora a carteira SBSMP com critérios novos seja levemente superior.
Eu atualizei o indicador com minhas próprias análises. Inclui o Ravens como sendo da antiga NFL, o que prevê alta (o S&P 500 caiu em 2001). Defini a previsão do Super Bowl do Bucs em 2003 como sendo de alta, já que o time faz parte da atual NFC (o mercado subiu). Em 2009 a previsão foi de alta e o mercado subiu (como Kester colocou no posfácio), em 2010 a previsão foi de alta e o mercado subiu e em 2011 a previsão era de alta, mas o mercado caiu (embora apenas -0,003%). A precisão do indicador é agora de 73,33%, que é exatamente a proporção de anos em alta. Quando a previsão é de alta, o retorno médio é de 11,88% e quando é de baixa o retorno médio é de -3,61%, a diferença sendo estatisticamente significativa.
Desde 2006 o SBSMP indica alta, mas o desempenho das ações foi sofrível no período (0,75% em 6 anos). Isso inclui 2008, quando o New York Giants venceram o até então invicto New England Patriots em uma campanha que incluiu uma das jogadas mais impressionantes do Super Bowl. Porém, como o leitor deve saber, o mercado desabou em 2008, ano da quebra do Lehman Brothers e tudo o mais. Com isso, fica cada vez mais claro que esse é um indicador espúrio. Mas continua sendo algo curioso para se comentar (e desculpa para escrever sobre futebol americano).
A final desse ano será a reedição do Super Bowl de 2008 e pela primeira vez desde justamente essa final que o SBSMP não está decidido antes do jogo, já que nas últimas três edições ou o Steelers ou o Colts foram para a final.
Comerciais do Super Bowl
Uma das atrações do Super Bowl é a veiculação de comerciais feitos especialmente para esse evento, algumas pessoas (4% dos espectadores, segundo uma das referências que serão citadas) assistindo o jogo apenas pelos comerciais. O atual custo médio de um comercial de 30 segundos no Super Bowl está girando em torno de 3,5 milhões. Será que vale a pena? Já tratei do tema anteriormente e retomo-o esse ano.
Yelkur et. al. (2004) estudaram a eficácia do anúncio nos intervalos do Super Bowl. Os autores citam um caso famoso, o do Macintosh da Apple em 1984 (ver vídeo) como exemplo de um anúncio bem sucedido, com as vendas superando em 44 as projeções sendo que esse comercial foi exibido apenas uma vez. O artigo analisou especificamente a bilheteria de filmes que anunciaram durante o Super Bowl contra os que não anunciaram.
Foram estudados apenas os filmes que chegaram a figurar entre as 10 maiores bilheterias em uma dada semana no período 1998-2001, chegando ao número de 21 filmes com comercial no Super Bowl e 481 sem comercial. Para lidar com amostras de tamanho tão diferentes, os autores usaram técnicas estatísticas para tirar amostras aleatórias do grupo maior (técnica Jackknife). Com isso, puderam comparar a bilheteria média de filmes com e sem anúncios no Super Bowl. Com dez amostragens amelatórias, constatam que os filmes que anunciaram tiveram bilheteria na primeira semana, no primeiro fim de semana e no total maiores do que os que não anunciaram, observando-se tanto o ano inteiro quanto os seis meses seguintes ao jogo (fevereiro-agosto). E a diferença é grande, o anúncio chegando a representar o dobro a mais de bilheteria.
Esses resultados podem se dar por outras características que fazem os filmes atraírem mais bilheteria. Por exemplo, filmes de maior orçamento geralmente são os que atraem mais público. Os autores filtraram a amostra excluindo os filmes com orçamento inferior a US$ 35 milhões, restando 18 filmes que anunciaram e 109 que não anunciaram. O comercial continua sendo um fator que eleva a bilheteria, porém, o ganho passa a ser apenas de 36% controlando pelo orçamento do filme.
Kelley e Turley (2004) analisaram o conteúdo dos comerciais e a relação das características com a nota obtida na pesquisa de preferência (USA Today Super Bowl Ad Meter). Foram estudados 362 comerciais entre 1996 e 2002.
Os resultados indicam que anúncio de produtos foram melhor classificados do que comerciais de serviços. Anúncios com personagens animados (p.ex. os M&Ms) tiveram classificação melhor e com executivos tiveram a pior nota. Comerciais com mini encenações tiveram melhor classificação e anúncios diretos as piores. Apelos emocionais, slogans, humor e animais foram características que melhoraram a nota, enquanto que reivindicações de qualidade superior, colocação do site no anúncio e divulgação de preço (absoluto ou relativo) tiveram o efeito contrário. Esses resultados são confirmados
Os comerciais desse ano (não sei se todos) podem ser vistos aqui.
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