... e as bolsas podem passar a subir? Um estudo publicado no Journal of Financial and Quantitative and Analysis pesquisou a relação entre um índice acionário americano (NYSE Composite) e a Copa do Mundo da Fifa no período entre a Copa no Brasil (1950) e 2007, um anos após a (agora) penúltima Copa (2006 na Alemanha).
A primeira pergunta seria: por que analisar os Estados Unidos, país que não se importa muito com o futebol (ver aqui algumas razões para isso)? Talvez fosse melhor analisar os resultados locais, talvez relacionando desempenho da seleção com retornos. A abordagem dos autores foi buscar uma estratégia que independa dos resultados. Ao final da fase de grupos, 16 seleções são eliminadas; na próxima fase, restam apenas 8, depois 4, depois apenas duas seleções podem ser campeãs até que apenas uma de fato será. Outro estudo mostrou que uma queda se segue à derrota na Copa do Mundo e que vitórias não se convertem em retornos positivos. Logo, vender a descoberto ações dos dois países pode ser lucrativo. Para simplificar a estratégia, para que não se torne muito complexa, estuda-se o mercado americano. Como este é o maior mercado acionário do mundo, com muitos investidores estrangeiros e com ações de empresas estrangeiras nele sendo negociadas, eventuais pessimismos locais podem transbordar para o mercado americano, o que se refletirá nos retornos.
Foi analisado o retorno diário durante e fora da Copa. Constatou-se que, após controlar por diversas outras variáveis, o retorno médio diário é afetado negativamente pela Copa, ou seja, é reduzido, podendo ser negativo.
Os autores testaram esses resultados como uma forma de estratégia de investimento com uma carteira hipotética que está posicionada sempre que há jogo de Copa, posteriormente comparada com uma carteira que rende a taxa livre de risco e outra que rende a taxa média do retorno das ações. Em três Copas (54. 58 e 70) o retorno da carteira “anti-Copa” foi superior à taxa livre de risco e em apenas uma, a de 1954, é superior ao retorno médio das ações. Testando a média anualizada do período de Copa contra o retorno no ano, em apenas uma Copa o retorno foi superior ao ganho anual (1970). As piores diferenças (retorno na Copa – Retorno no Ano) ocorreu em 1950 e 1974, -124,08% e -111,34% (será que a tristeza do Maracanazo e da derrota da Laranja Mecânica contagiou os investidores?).
Uma estratégia mais realista é estar sempre comprado em ações, exceto quando há Copa. Durante o evento, o investidor vende as ações e compra Letras do Tesouro de Três Meses. Investindo US$ 1,00 no começo do período, o resultado seria US$ 6.948 comparado com US$ 4.386 comprando ações em 1950 e mantendo-as até 2007 (achei esses números exagerados, pelos dados que possuo, mas isso não parece mudar os resultados). Além de obter retornos superiores, o risco da carteira anti-Copa é inferior, levando a uma menor relação Retorno/Risco.
Resumindo, segundo o estudo, o retorno nas Copas é de -2,58% a.m., enquanto que nos demais dias é de +1,21% a.m. Outro estudo, inspirado no primeiro, encontrou resultados semelhantes. Em 2010, o S&P 500 caiu 1,25% entre 11 de Junho e 9 de Julho, enquanto que o Ibovespa caiu 0,25% no período encerrado em 8 de Julho. Ou seja, mais uma Copa com queda na Copa, porém, precisa esperar o final do ano para saber a comparação anual.
Essa estratégia de investimento é mais sofisticada do que o Super Bowl Stock Market Predictor analisado anteriormente, sendo mais bem fundamentado do que esse outro indicador absolutamente espúrio. Além disso, o período é mais curto, levando apenas um mês para se saber se a estratégia rendeu ou não. A quem interessar, fica a dica para 2014.
Nota Metodológica
A primeira análise, a dos retornos diários, foi feita por meio de regressões multiplicas, levando em conta diversos fatores que poderiam explicar os retornos. Considerou-se o dia da semana, se a data é após um feriado, o período do ano (poderia acontecer de Junho-Julho, quando ocorrem as Copas, ser um período constantemente ruim para as ações), se o dia foi de uma alta ou baixa extraordinária e se o dia é ou não de Copa (essa é a variável de interesse). Cada uma dessas variáveis foi transformada em variáveis dummies tendo o retorno como variável dependente. Foi utilizado um modelo contando os dias de jogos e os seguintes e outro que associa todos os dias do começo ao fim como sendo dia de Copa.
O sinal da variável que indica ser dia de jogo é negativo, por isso concluiu-se que o retorno é afetado negativamente pelo torneio.
Não foram encontradas evidências de que os meses de Junho e Julho sejam particularmente ruins para as ações. Os autores analisaram se eventos extremos que ocorreram na Copa (apenas dois, o início da Guerra da Coréia em 1950 e o fim da Guerra das Malvinas em 1982) afetaram os resultados, não encontrando evidências de que isso tenha ocorrido.
Outra análise foi feita desconsiderando as Copas que tiveram pior desempenho comparado com o retorno no ano (1950, 1974 e 2002). Os resultados se mantêm após a remoção dessas observações.
Por fim, os autores poderiam ter considerado o efeito da liquidez como fez outro artigo (aqui analisado). Ainda sobre esse outro artigo, os autores encontraram efeito negativo nas ações por conta do verão, definido como Julho-Setembro, sendo que os autores do artigo agora analisado não encontraram um efeito dos meses de Junho e Julho. Como há apenas um mês em comum nas duas análises, os resultados não podem ser considerados contraditórios.
A primeira pergunta seria: por que analisar os Estados Unidos, país que não se importa muito com o futebol (ver aqui algumas razões para isso)? Talvez fosse melhor analisar os resultados locais, talvez relacionando desempenho da seleção com retornos. A abordagem dos autores foi buscar uma estratégia que independa dos resultados. Ao final da fase de grupos, 16 seleções são eliminadas; na próxima fase, restam apenas 8, depois 4, depois apenas duas seleções podem ser campeãs até que apenas uma de fato será. Outro estudo mostrou que uma queda se segue à derrota na Copa do Mundo e que vitórias não se convertem em retornos positivos. Logo, vender a descoberto ações dos dois países pode ser lucrativo. Para simplificar a estratégia, para que não se torne muito complexa, estuda-se o mercado americano. Como este é o maior mercado acionário do mundo, com muitos investidores estrangeiros e com ações de empresas estrangeiras nele sendo negociadas, eventuais pessimismos locais podem transbordar para o mercado americano, o que se refletirá nos retornos.
Foi analisado o retorno diário durante e fora da Copa. Constatou-se que, após controlar por diversas outras variáveis, o retorno médio diário é afetado negativamente pela Copa, ou seja, é reduzido, podendo ser negativo.
Os autores testaram esses resultados como uma forma de estratégia de investimento com uma carteira hipotética que está posicionada sempre que há jogo de Copa, posteriormente comparada com uma carteira que rende a taxa livre de risco e outra que rende a taxa média do retorno das ações. Em três Copas (54. 58 e 70) o retorno da carteira “anti-Copa” foi superior à taxa livre de risco e em apenas uma, a de 1954, é superior ao retorno médio das ações. Testando a média anualizada do período de Copa contra o retorno no ano, em apenas uma Copa o retorno foi superior ao ganho anual (1970). As piores diferenças (retorno na Copa – Retorno no Ano) ocorreu em 1950 e 1974, -124,08% e -111,34% (será que a tristeza do Maracanazo e da derrota da Laranja Mecânica contagiou os investidores?).
Uma estratégia mais realista é estar sempre comprado em ações, exceto quando há Copa. Durante o evento, o investidor vende as ações e compra Letras do Tesouro de Três Meses. Investindo US$ 1,00 no começo do período, o resultado seria US$ 6.948 comparado com US$ 4.386 comprando ações em 1950 e mantendo-as até 2007 (achei esses números exagerados, pelos dados que possuo, mas isso não parece mudar os resultados). Além de obter retornos superiores, o risco da carteira anti-Copa é inferior, levando a uma menor relação Retorno/Risco.
Resumindo, segundo o estudo, o retorno nas Copas é de -2,58% a.m., enquanto que nos demais dias é de +1,21% a.m. Outro estudo, inspirado no primeiro, encontrou resultados semelhantes. Em 2010, o S&P 500 caiu 1,25% entre 11 de Junho e 9 de Julho, enquanto que o Ibovespa caiu 0,25% no período encerrado em 8 de Julho. Ou seja, mais uma Copa com queda na Copa, porém, precisa esperar o final do ano para saber a comparação anual.
Essa estratégia de investimento é mais sofisticada do que o Super Bowl Stock Market Predictor analisado anteriormente, sendo mais bem fundamentado do que esse outro indicador absolutamente espúrio. Além disso, o período é mais curto, levando apenas um mês para se saber se a estratégia rendeu ou não. A quem interessar, fica a dica para 2014.
Nota Metodológica
A primeira análise, a dos retornos diários, foi feita por meio de regressões multiplicas, levando em conta diversos fatores que poderiam explicar os retornos. Considerou-se o dia da semana, se a data é após um feriado, o período do ano (poderia acontecer de Junho-Julho, quando ocorrem as Copas, ser um período constantemente ruim para as ações), se o dia foi de uma alta ou baixa extraordinária e se o dia é ou não de Copa (essa é a variável de interesse). Cada uma dessas variáveis foi transformada em variáveis dummies tendo o retorno como variável dependente. Foi utilizado um modelo contando os dias de jogos e os seguintes e outro que associa todos os dias do começo ao fim como sendo dia de Copa.
O sinal da variável que indica ser dia de jogo é negativo, por isso concluiu-se que o retorno é afetado negativamente pelo torneio.
Não foram encontradas evidências de que os meses de Junho e Julho sejam particularmente ruins para as ações. Os autores analisaram se eventos extremos que ocorreram na Copa (apenas dois, o início da Guerra da Coréia em 1950 e o fim da Guerra das Malvinas em 1982) afetaram os resultados, não encontrando evidências de que isso tenha ocorrido.
Outra análise foi feita desconsiderando as Copas que tiveram pior desempenho comparado com o retorno no ano (1950, 1974 e 2002). Os resultados se mantêm após a remoção dessas observações.
Por fim, os autores poderiam ter considerado o efeito da liquidez como fez outro artigo (aqui analisado). Ainda sobre esse outro artigo, os autores encontraram efeito negativo nas ações por conta do verão, definido como Julho-Setembro, sendo que os autores do artigo agora analisado não encontraram um efeito dos meses de Junho e Julho. Como há apenas um mês em comum nas duas análises, os resultados não podem ser considerados contraditórios.
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