Paul Volcker, ex-presidente do Federal Reserve, disse: “Quantas outras (recentes) inovações você pode me dizer que estão sendo importantes para os indivíduos além dos caixas eletrônicos, que na verdade são mais uma inovação mecânica do que financeira”, deixando implícito desconhecer alguma, acrescentando que a economia ia muito bem sem esses CDS, CDOs e etc.
O autor desse artigo argumenta que existem várias inovações que se mostraram benéficas, inclusive as que foram creditadas como vilãs da crise. Foram analisadas inovações que ocorreram após 1960, período que Volcker alegou não haver inovação financeira útil alguma. As contribuições dessas inovações podem ser de quatro tipos: possibilitar que as partes negociem (meio de pagamento); facilitando a poupança; canalizando essa poupança para investimentos produtivos; e alocando risco para quem está mais disposto ou capaz de correr esses riscos. E essas quatro contribuições afetam o bem-estar social de três maneiras: acesso, conveniência para os usuários e impacto na produtividade e no PIB.
As inovações analisadas e suas classificações foram (as notas são, na ordem, para acesso, conveniência e produtividade/PIB):
Pagamentos
Caixa eletrônico; ++; ++; +
Expansão dos cartões de crédito; ++; ++; +
Cartões de débito; ++; ++; +
Essas três inovações tornaram a vida das pessoas e das empresas muito mais simples, agilizando e possibilitando transações. Por conta disso, ganharam ++ em acesso e conveniência. Para caixa eletrônico, a nota de efeito no PIB é + porque permitiu reduzir o custo (monetário e de perda de tempo) nas operações bancárias. Para cartão de crédito, é um + tímido, já que não aumenta o consumo (por não afetar a produtividade), poderia ser negativo se afetasse a poupança (não há evidências que isso ocorra), mas é utilizado (nos EUA) como uma forma de financiamento de curto prazo para empreendedores. Cartões de débito possuem méritos similares tanto ao caixa eletrônico quanto ao cartão de crédito.
Poupança
Fundos de curto prazo; ++; ++; 0
Fundos indexados; ++; ++; +
ETF; +; +; 0/+
Expansão dos hedge funds; 0; 0; 0/+
Private Equiy; 0; 0; +
TIPS; ++; ++; 0/+
A maioria dessas inovações (exceto hedge funds e private equity) tornaram alternativas de poupança acessíveis a pequenos aplicadores, permitindo a aplicação em títulos de curto prazo, a indexação e diversificação, a proteção contra a inflação.
Apesar dessas inovações em instrumentos de investimento, a taxa de poupança chegou a estar próxima de 0% nos Estados Unidos antes da crise. Isso se deveu ao fato do preço das casas e dos ativos em geral terem subido e provocado uma sensação de prosperidade que tornou as pessoas menos dispostas a poupar. As inovações aumentaram a poupança em relação ao que seria sem os novos instrumentos de investimento. Logo, a nota de algumas inovações foram nulas. Fundos indexados e ETFs têm o mérito adicional de reduzirem custos de transação. Para TIPS, existem duas hipóteses de efeitos positivos: os TIPS poderiam reduzir o endividamento do governo (em períodos de alta inflação, os governos estariam menos dispostos a se endividarem por conta do efeito da inflação no encargo com os TIPSs) e melhoraria a observação das expectativas de inflação do mercado, podendo aumentar a eficiência da política monetária. Na dúvida, o autor atribuiu 0/+.
Investimento
Classificação de crédito; ++; ++; 0
ARM; ++; 0/+; -/--
HELOC; ++; ++; -
Securitização; ++; ++; -/+
CDO; ++; ++; --
SIV; ++; ++; --
Expansão do Venture Capital; +;+.++(mas futuro incerto)
Essa seção é a mais interessante. Todos inovações (exceto a última) estavam relacionadas com a crise financeira, mas todas receberam boas notas em acesso e conveniência. E está justamente ai o problema, ao tornarem acessíveis empréstimos para pessoas que simplesmente não deveriam ter acesso a crédito (os subprimes). A classificação de crédito permitiu a descriminação dos tomadores de crédito, dando acesso a devedores de baixa qualidade, com a compensação de uma taxa de juros maior. ARM, CDOs e SIVs permitiram que mais crédito fosse concedido para a compra de casas. E o HELOC permitiu aumentar o consumo por meio de dívidas atreladas aos artificiais preços das casas. Isso tudo teve um duplo efeito: queda na poupança e maus investimentos, e esses fatores foram decisivos para a crise.
Transferência de risco
Bolsas de opções e futuros e precificação de derivativos; +; +;+/++
Swaps;m ++;++;+/++
CDS; +;+;+
De forma geral, o autor tem uma opinião favorável a essas inovações, por motivos similares. Esses derivativos permitem que as empresas se planejem melhor, incentivaram o comércio exterior ao permitir que o risco cambial fosse repassado das empresas para especuladores (ou outras empresas), reduzirem os custos de transação (para derivativos de moeda) e aumentarem as transações ao possibilitar a transferência de risco. Se bem utilizados, esses derivativos têm contribuições positivas para a produtividade.
A conclusão do autor é que muitas dessas inovações foram benéficas, embora algumas mal desenhadas e outras mal utilizadas e contribuíram, de fato, para a crise. Outros tipos de inovações (carros, aviões e internet) também tiveram (têm) efeitos indesejados, e nem por isso foram banidas (e nem deveriam).
Essa discussão é importante já que há a discussão (principalmente nos Estados Unidos) de regular essas inovações financeiras o que, se o que autor analisa estiver correto, pode ter os efeitos inversos aos desejados pela inovação, dificultando a inovação e tendo efeitos adversos na economia já que muitas das inovações analisadas foram benéficas. Muitas outras inovações futuras podem também benéficas, e coibir a criação de novos instrumentos financeiros pode ter efeitos adversos na economia. Uma abordagem melhor (ou menos ruim) é regular essas inovações depois de feitas, como é feito em outros ramos de atividade. Na verdade, é inevitável que seja assim, já que muitas criações financeiras foram feitas para contornar as leis (e mesmo essas foram positivas) e, para evitar esses contornos, seria necessário coibir toda e qualquer novidade, o que seria muito prejudicial para todos.
Eu acrescentaria às inovações financeiras benéficas o empréstimo pessoa para pessoa (ou social lending) e o microcrédito.
O autor desse artigo argumenta que existem várias inovações que se mostraram benéficas, inclusive as que foram creditadas como vilãs da crise. Foram analisadas inovações que ocorreram após 1960, período que Volcker alegou não haver inovação financeira útil alguma. As contribuições dessas inovações podem ser de quatro tipos: possibilitar que as partes negociem (meio de pagamento); facilitando a poupança; canalizando essa poupança para investimentos produtivos; e alocando risco para quem está mais disposto ou capaz de correr esses riscos. E essas quatro contribuições afetam o bem-estar social de três maneiras: acesso, conveniência para os usuários e impacto na produtividade e no PIB.
As inovações analisadas e suas classificações foram (as notas são, na ordem, para acesso, conveniência e produtividade/PIB):
Pagamentos
Caixa eletrônico; ++; ++; +
Expansão dos cartões de crédito; ++; ++; +
Cartões de débito; ++; ++; +
Essas três inovações tornaram a vida das pessoas e das empresas muito mais simples, agilizando e possibilitando transações. Por conta disso, ganharam ++ em acesso e conveniência. Para caixa eletrônico, a nota de efeito no PIB é + porque permitiu reduzir o custo (monetário e de perda de tempo) nas operações bancárias. Para cartão de crédito, é um + tímido, já que não aumenta o consumo (por não afetar a produtividade), poderia ser negativo se afetasse a poupança (não há evidências que isso ocorra), mas é utilizado (nos EUA) como uma forma de financiamento de curto prazo para empreendedores. Cartões de débito possuem méritos similares tanto ao caixa eletrônico quanto ao cartão de crédito.
Poupança
Fundos de curto prazo; ++; ++; 0
Fundos indexados; ++; ++; +
ETF; +; +; 0/+
Expansão dos hedge funds; 0; 0; 0/+
Private Equiy; 0; 0; +
TIPS; ++; ++; 0/+
A maioria dessas inovações (exceto hedge funds e private equity) tornaram alternativas de poupança acessíveis a pequenos aplicadores, permitindo a aplicação em títulos de curto prazo, a indexação e diversificação, a proteção contra a inflação.
Apesar dessas inovações em instrumentos de investimento, a taxa de poupança chegou a estar próxima de 0% nos Estados Unidos antes da crise. Isso se deveu ao fato do preço das casas e dos ativos em geral terem subido e provocado uma sensação de prosperidade que tornou as pessoas menos dispostas a poupar. As inovações aumentaram a poupança em relação ao que seria sem os novos instrumentos de investimento. Logo, a nota de algumas inovações foram nulas. Fundos indexados e ETFs têm o mérito adicional de reduzirem custos de transação. Para TIPS, existem duas hipóteses de efeitos positivos: os TIPS poderiam reduzir o endividamento do governo (em períodos de alta inflação, os governos estariam menos dispostos a se endividarem por conta do efeito da inflação no encargo com os TIPSs) e melhoraria a observação das expectativas de inflação do mercado, podendo aumentar a eficiência da política monetária. Na dúvida, o autor atribuiu 0/+.
Investimento
Classificação de crédito; ++; ++; 0
ARM; ++; 0/+; -/--
HELOC; ++; ++; -
Securitização; ++; ++; -/+
CDO; ++; ++; --
SIV; ++; ++; --
Expansão do Venture Capital; +;+.++(mas futuro incerto)
Essa seção é a mais interessante. Todos inovações (exceto a última) estavam relacionadas com a crise financeira, mas todas receberam boas notas em acesso e conveniência. E está justamente ai o problema, ao tornarem acessíveis empréstimos para pessoas que simplesmente não deveriam ter acesso a crédito (os subprimes). A classificação de crédito permitiu a descriminação dos tomadores de crédito, dando acesso a devedores de baixa qualidade, com a compensação de uma taxa de juros maior. ARM, CDOs e SIVs permitiram que mais crédito fosse concedido para a compra de casas. E o HELOC permitiu aumentar o consumo por meio de dívidas atreladas aos artificiais preços das casas. Isso tudo teve um duplo efeito: queda na poupança e maus investimentos, e esses fatores foram decisivos para a crise.
Transferência de risco
Bolsas de opções e futuros e precificação de derivativos; +; +;+/++
Swaps;m ++;++;+/++
CDS; +;+;+
De forma geral, o autor tem uma opinião favorável a essas inovações, por motivos similares. Esses derivativos permitem que as empresas se planejem melhor, incentivaram o comércio exterior ao permitir que o risco cambial fosse repassado das empresas para especuladores (ou outras empresas), reduzirem os custos de transação (para derivativos de moeda) e aumentarem as transações ao possibilitar a transferência de risco. Se bem utilizados, esses derivativos têm contribuições positivas para a produtividade.
A conclusão do autor é que muitas dessas inovações foram benéficas, embora algumas mal desenhadas e outras mal utilizadas e contribuíram, de fato, para a crise. Outros tipos de inovações (carros, aviões e internet) também tiveram (têm) efeitos indesejados, e nem por isso foram banidas (e nem deveriam).
Essa discussão é importante já que há a discussão (principalmente nos Estados Unidos) de regular essas inovações financeiras o que, se o que autor analisa estiver correto, pode ter os efeitos inversos aos desejados pela inovação, dificultando a inovação e tendo efeitos adversos na economia já que muitas das inovações analisadas foram benéficas. Muitas outras inovações futuras podem também benéficas, e coibir a criação de novos instrumentos financeiros pode ter efeitos adversos na economia. Uma abordagem melhor (ou menos ruim) é regular essas inovações depois de feitas, como é feito em outros ramos de atividade. Na verdade, é inevitável que seja assim, já que muitas criações financeiras foram feitas para contornar as leis (e mesmo essas foram positivas) e, para evitar esses contornos, seria necessário coibir toda e qualquer novidade, o que seria muito prejudicial para todos.
Eu acrescentaria às inovações financeiras benéficas o empréstimo pessoa para pessoa (ou social lending) e o microcrédito.
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