Já escrevi em outros textos do blog sobre os fatores determinantes da participação no mercado acionário. Capital Social é um desses fatores e outro artigo procura determinar especificamente se os investidores são influenciados por seus vizinhos.
O artigo NeighborsMatter (Vizinhos Importam, em português) de Brown, Ivkovic, Smith e
Weisbenner publicado no Journal of
Finance examina se a interação social influencia a decisão de investir em
ações. Já sabemos que QI,
preferências
políticas e literacia
financeira são fatores determinantes. A conexão do capital social e a
participação no mercado acionário indica que a interação social é sim um fator
determinante, mas é necessário examinar essa questão de maneira mais
específica.
Os autores utilizaram dados de pagamento de
impostos no período entre 1987 e 1996. O desafio era encontrar uma base que
possa separar as pessoas em uma área geográfica que representem a proximidade
das pessoas. Se a base mostrar apenas a cidade em que a pessoa mora, essa
informação não é muito útil, já que pessoas da mesma cidade não necessariamente
são próximas socialmente. Mas se for possível separar as pessoas por bairro as
chances disso ocorrer são maiores. A base utilizada inclui informações a
respeito do CEP do pagador de impostos e também a informação sobre se a pessoa
é nativa no estado ou não, os autores só considerando os “nativos”. Outra
característica para ser considerado nativo é residir na mesma Área
Metropolitana Estatística (MSA) por todo o período da amostra.
Uma limitação da base utilizada é que ela não
informa se a pessoa tem ações, e sim se recebe rendimentos tributáveis de
ações. Assim, se a ação não paga dividendos ou se os rendimentos vão para
contas protegidas, então não vai constar da base. Isso não é o ideal, mas os
autores determinam que há uma correlação razoável (62%) entre a aproximação
deles e os dados reais obtidos em outra base para medir a participação no
mercado. Nessa definição, 25% das pessoas investem em ações.
A definição de comunidade é pessoas vivendo na
mesma MSA. Essa definição é restrita o suficiente para termos alguma confiança
de que medirá, mesmo que imperfeitamente, as interações sociais e permite a
utilização de outras bases de dados que informem a área metropolitana de
residência das pessoas.
A hipótese do estudo é a de que a participação no
mercado acionário de uma pessoa é influenciada pela decisão tomada por pessoas
de sua comunidade. O desafio é controlar por outras variáveis que influenciam a
decisão de investir em ações além de eventuais efeitos comunitários. Para
evitar problemas de correlação espúria, os autores procuraram isolar a
influência de não-nativos sobre os nativos em um MSA a fim de identificar de
maneira mais precisa o efeito das relações sociais.
Para isso, os autores recorrem a uma regressão em
dois estágios, no primeiro criando uma variável instrumental. Aqui temos três
variáveis, a chance de uma pessoa investir em ações (pelo que entendi), a proporção
de pessoas de uma comunidade que investem em ações e essa proporção na
comunidade de nascimento dos não nativos. A ideia é examinar a primeira
variável (proporção individual), o instrumento sendo a terceira variável
utilizada para estimar a segunda. O comportamento em outro MSA não deveria
influenciar um indivíduo nativo de outro MSA exceto através de interações
sociais. Além do mais, o comportamento dos outros estados é estimado em atraso
(“lagged”), reduzindo a chance de
efeitos simultâneos ocorrerem nos dois locais. É importante realizar essa
análise para que um histórico em comum entre pessoas de uma mesma comunidade
afetem os resultados. É provável que fatores não observados além da interação
social influenciem o comportamento dos indivíduos de uma mesma localidade e
essa é uma maneira de excluir o efeito desse background em comum.
No primeiro estágio da regressão, os autores
determinam a proporção investida em uma comunidade em função do investimento
médio do estado de origem dos não-nativos. No segundo estágio, essa variável é
incluída na regressão que estima a proporção investida em ações pelos
indivíduos.
O resultado da segunda regressão mostra que o
comportamento da comunidade em função dos não-nativos influencia o
comportamento dos nativos. Dessa forma, é possível imaginar que uma pessoa seja
influenciada através da interação com pessoas com ideias diferentes das suas.
Para melhor examinar essa questão, os autores
incluem uma variável sobre o capital social da base de dados DDB Life Style Data. A pergunta
utilizada foi se a pessoa pede conselhos para membros da comunidade, a média do
MSA sendo empregada no modelo dos autores. A interação da proporção de pessoas
de uma comunidade que investem em ações e essa pergunta é positiva e
significativa, o que indica que há um efeito boca-a-boca na medida em que a
proporção aumenta quanto mais forte é a interação social em uma comunidade.
Na parte da significância econômica, o aumento em
10 pontos porcentuais na posse de ações pela comunidade aumenta em 4 pontos
porcentuais a chance de um dado investidor aplicar em ações, tudo o mais
constante. Esse corte de 10 pontos porcentuais representa sair do 25% percentil
para o 75% percentil na posse de ações. Os autores estimam qual é o impacto da
decisão dos pais investirem ou não em ações, determinando que esse efeito é da
ordem de 3,6 pontos porcentuais. Ou seja, um aumento em 10 pontos porcentuais
na posse de ações pela comunidade é comparável com a influência dos pais.
Em suma, ficou determinado que há uma externalidade
positiva do investimento em ações entre membros de uma comunidade. Aqui, a
aproximação foi uma área geográfica grande, mas é de se imaginar que em grupos
menores (colegas de trabalho, amigos, parentes etc.) esse efeito deva existir,
só sendo mais difícil de examinar empiricamente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário