Um artigo publicado na Financial Analysts Journal discute a questão sobre se o preço das ações se move por causa de fundamentos ou por outro fator, como o “reconhecimento” dos investidores.
Algumas ações podem receber mais atenção dos
investidores por algum motivo (ser uma marca famosa, por exemplo) e isso tem
influência na liquidez e no preço das ações. Para examinar essa questão, os
autores criam uma medida de “reconhecimento” dos investidores, calculando
quantos investidores institucionais investem na ação e depois controlando por
tamanho da empresa.
Quanto ao retorno das ações, os autores procuraram
separar o retorno em três componentes, retornos esperados no começo do período
(com base em previsões de analistas), mudanças no retorno por causa dos
fundamentos (mudanças na distribuição de fluxos de caixa, também estimado por
analistas) e um componente de erro aleatório da regressão, que os autores
passarão a verificar se está relacionado com o reconhecimento dos investidores.
A análise é feita entre 1986 e 2008.
O resultado da regressão dos retornos observados
com as variáveis mencionadas acima resulta em um r-quadrado de 38%, indicando
que é essa a porcentagem explicada por mudanças nos fundamentos. Ano a ano,
esse valor raramente é superior a 50% e teve mínima durante a Bolha Pontocom.
Indo para o reconhecimento dos investidores, essa
variável está positivamente relacionada com retornos observados, mas negativamente
com retornos esperados. A expectativa era que maior reconhecimento dos investidores
estivesse relacionado com retornos esperados inferiores e também que aumento no
reconhecimento resultasse em ganho de valor para a empresa (e,
consequentemente, maior retorno observado nesse período). Ou seja, fatores não
fundamentais podem ter um impacto positivo de curto prazo que se reverte no
longo prazo.
Para analisar mais rigorosamente essas relações, os
autores separaram as carteiras em termos de reconhecimento dos investidores e
analisaram os retornos dessas carteiras. A diferença entre decil superior (as
ações de empresas que mostraram maior aumento no reconhecimento dos
investidores) e o decil inferior (as que receberam menos atenção) foi de 84
pontos percentuais no período de análise. Esse efeito econômico é aumentado com
uma nova separação entre as ações entre baixo e alto risco idiossincrático
(desvio-padrão do resíduo da regressão dos retornos), a diferença entre alto e
baixo reconhecimento sendo maior no grupo de maior risco idiossincrático.
Logo, atenção dos investidores é importante, mas
quanto esse fator explica sobre os retornos, principalmente na comparação com
os fundamentos? Os autores realizam regressões múltiplas entre os retornos
observados, reconhecimento dos investidores e notícias sobre fundamentos. Em
separado, cada uma das variáveis explica por volta de um terço da variabilidade
dos retornos, enquanto que em conjunto explicam por volta de 47%. Logo, os dois
fatores são importantes para explicar os retornos das ações.
Isso vale para os retornos observados. A previsão
dos autores para os retornos esperados (rendimento da relação Lucro/Preço) é a
inversa, que os retornos esperados deveriam ser maiores para ações com maior
nível de reconhecimento dos investidores. De fato, os decis inferiores de
reconhecimento possuem maiores retornos esperados do que os decis superiores. A
diferença é maior para o grupo com maior risco idiossincrático. Esses
resultados mostram que empresas menos conhecidas são menos valorizadas pelos
investidores, o que acaba resultando em uma avaliação menores, medida pelo
múltiplo Preço/Lucro, por exemplo. Porém, não está claro se a maior
familiaridade dos investidores com uma ação responde sozinha por toda essa
diferença de retornos esperados ou se outros fatores (liquidez, por exemplo)
também teriam poder explicativo.
Os autores passam então a examinar como o
reconhecimento dos investidores afeta decisões corporativas como financiamento
e investimento, ambas informações extraídas da Demonstração de Fluxo de Caixa.
Os resultados mostram que as empresas que mais aumentaram o reconhecimento
pelos investidores aumentaram o seu financiamento e posteriormente seus
investimentos.
Voltando para a questão principal do artigo, o que
move os preços, a conclusão dos autores é que a atenção do investidor impacta
mais fortemente os preços no curto prazo, mas essas variações tendem a regredir
à média e mais a longo prazo os fundamentos é que passam a determinar os
movimentos de preços. Refazendo algumas análises, os autores determinaram que
em intervalos mais curtos o r-quadrado da regressão com variáveis de
reconhecimento dos investidores é maior, mas para intervalos mais longos as
variáveis de fundamentos é que explicam mais sobre a variabilidade dos
retornos. A análise de longo prazo combinando os dois grupos de variáveis
possui um r-quadrado superior, indicando que há uma série de outras variáveis
que afetam os retornos de curto prazo, ou seja, há muito ruído em intervalos
mais curtos.
Em suma, tanto a atenção dos investidores quanto os
fundamentos movem os preços, o foco maior do primeiro fator sendo no curto
prazo e do segundo no longo prazo.
What
Makes Stock Prices Move? Fundamentals vs. Investor Recognition
Scott
Richardson, Richard Sloan e Haifeng You
Financial
Analysts Journal. Volume 68. Nº 2. 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário