Inflação é um fator comumente levado em conta pelos investidores, que desejam uma proteção contra a perda do poder de compra do dinheiro.
Para que um investimento seja uma boa proteção
contra inflação, precisaria ter um beta em relação à inflação de 1, um beta
inferior a isso indicando que o retorno do investimento não acompanha uma
elevação na inflação. Isso não diz nada sobre se há ou não retornos reais,
apenas indicam que retornos e inflação covariam positiva ou negativamente e em
qual intensidade. Estudos anteriores determinaram que ações como um todo
possuem beta negativo, ou seja, um aumento na inflação resulta em retornos
inferiores por conta disso. O artigo de Andrew Ang, Marie Brière e Ombretta
Signori publicado na Financial Analysts Journal procura determinar se algumas
ações específicas poderiam servir de proteção.
Determinadas empresas podem sofrer menos com a
inflação dependendo do tipo de produto que vendem, da etapa na cadeia de
produção que estão e de seu poder de mercado para insumos ou bens finais. Para
examinar quantitativamente essa questão, os autores calcularam o beta em
relação à inflação, de maneira parecida com o Beta do CAPM,
mas com a inflação no lugar do prêmio de risco. A periocidade dos retornos e da
inflação é mensal, a amostra inclui ações pertencentes ao S&P 500 e o
período entre 1989 e 2010. A inflação é o índice de preços ao consumidor (CPI).
A escolha da amostra se deu por essas ações serem as mais importantes para
investidores institucionais, mas os resultados permanecem os mesmos usando uma
base mais ampla como a CRSP.
A primeira análise separa as ações em quintis de
acordo com o seu beta de inflação, ponderando pela capitalização de mercado. Os
retornos dessas carteiras são analisados através do modelo Fama-French, com o
fator Momento de Carhart. Os resultados mostram que algumas ações tiveram betas
de inflação até expressivos, chegando a 15 contra -0,52 do S&P 500 como um
todo. Os principais setores das ações com maiores betas são Materiais Básicos e
Petróleo & Gás.
Analisando as carteiras, as que melhor se
protegeram contra inflação (quintil superior de beta de inflação) mostraram um
desempenho superior. As carteiras com pior proteção contra a inflação se
mostraram mais arriscadas, tanto em termos de volatilidade quanto de
obliquidade e curtose. Analisando com o modelo Fama-French, o quintil inferior
de beta de inflação mostrou relação positiva com o fator tamanho, indicando que
as ações que compõem esse quintil são de empresas menores, possivelmente porque
possuem menor poder de repassar aumento nos preços. O fator HML também é
positivo, indicando que ações de valor são prejudicadas pela alta na inflação,
o que faz sentido se considerarmos que essas empresas possivelmente estão
perdendo poder de mercado e a capacidade de lançar novos produtos. Ou seja, as melhores
proteções contra inflação seriam empresas grandes e de crescimento.
Os setores de Petróleo & Gás e de Tecnologia
estão com uma participação maior no quintil superior do que no S&P 500,
indicando que são esses os setores que oferecem a maior proteção contra
inflação. O primeiro setor se beneficia da alta do preço de produtos básicos,
enquanto que o segundo oferece produtos diferenciados que podem ser vendidos a
preços superiores. O pior setor é o Financeiro, o que faz sentido na medida em
que os seus ativos são denominados em juros nominais em geral.
Todas essas análises são ex-post, com as carteiras sendo construídas e depois os resultados
analisados. A questão passa a ser se é possível construir ex-ante carteiras que se mostrarão posteriormente adequadas para
proteger contra a inflação. Para isso, os autores calcularam o beta de inflação
60 meses antes e construíram as carteiras mês a mês com base nas regressões. Os
resultados mostram que o quintil superior de beta de inflação costuma não
apenas se mostrar inadequado para proteger contra inflação (com beta
estatisticamente nulo), mas também se mostra pior nesse sentido do que o quintil
inferior. Ou seja, beta de inflação passado
não foi nem de longe indicativo de beta de inflação futuro.
Os betas de
inflação também se mostraram altamente instáveis, em média 23,7% das ações
mudando o sinal de seu beta de inflação ao longo de um ano. Na Grande Crise
Financeira de 2008, 68% dos betas trocaram de sinal. A distribuição dos betas
também pode variar muito, de uma quase normal em tempos mais calmos para uma distribuição
nada normal em 2008. Mesmo uma carteira efetiva na proteção contra a inflação
poderia não ser atrativa, pois incorreria em muitos custos de transação ao
rebalancear a carteira.
Os autores tentam estimar os betas de inflação a
partir dos fundamentos, como rendimento de dividendos, relação Preço/Lucro e
outras variáveis. Nenhum dos fatores se mostrou significativo na previsão de
betas de inflação.
Analisando por setores, nenhum mostrou beta de
inflação positivo, Materiais Básicos registrando beta de inflação estatisticamente
nulo. Surpreendentemente, Petróleo e Gás mostrou beta bastante negativo (-1,27).
Novamente é necessário ressaltar que esses números acabam escondendo a grande
variabilidade dos betas de inflação ao longo do tempo e dentro dos setores.
Quanto a ações boas pagadoras de dividendos, o beta de inflação do S&P High
Yield Dividend Aristocrat Index (que teria como equivalente brasileiro o IDIV) foi
negativo no período de vigência do índice contra um beta positivo para o
S&P 500 nessa mesma janela de tempo. Mesmo separando os componentes do
retorno total (dividendos e aumento de preço) não faz com que os dividendos
funcionem como uma boa proteção contra inflação.
Ou seja, algumas ações específicas mostraram alguma
capacidade de proteger contra a inflação, mas é totalmente imprevisível quais
serão essas ações porque os betas, além de difíceis de serem previstos, são
altamente instáveis.
Financial
Analysts Journal. Volume 68. Ed. 4. 2012
Andrew
Ang, Marie Brière e Ombretta Signori
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