Em vários artigos, eu discuti o desempenho de fundos de investimento e as evidências de que, na média, eles geram um retorno abaixo do seu índice de referência. Além de reforçar esse ponto, o artigo de Charles Ellis publicado na Financial Analysts Journal procura determinar quem é o culpado por isso. Aponta quatro suspeitos e conclui: todos são culpados.
O foco do
artigo são os fundos institucionais, como fundos de pensão. Uma das fontes de
mau desempenho desses fundos está relacionada com a contratação de gestores de
carteira, como o livro The Quest for Alpha também relata. Os administradores dos fundos institucionais contratam
gestores que tiveram um bom desempenho em tempos recentes só para depois
dispensá-los quando não geram os mesmos retornos, só para que os mesmos voltem
a ter um bom desempenho depois da dispensa. Acabam comprando caro o gestor e
depois vendendo barato. A escolha de gestores também passa por aplicar em
ativos que tiveram um bom desempenho passado, mas que não necessariamente terão
bom desempenho futuro. Outro fator são os custos dos investimentos, situação
analisada em maiores detalhes em outros artigos. Os baixíssimos custos dos
fundos passivos criam um custo ainda maior para os fundos ativos na comparação
entre os dois. Na margem, o custo superior dos fundos ativos não é compensado
por retornos superiores.
Então, quem é
o “culpado”? (Culpado no sentido de responsável pelo baixo desempenho dos
fundos institucionais). O autor lista os suspeitos. O primeiro, e segundo o
autor, principal, são os gestores. Ellis argumenta que um dos problemas é que
os gestores se esforçam demais para passarem uma boa imagem de si mesmo,
mascarando a realidade com a escolha cuidadosa de dados, mostrando desempenho
antes de despesas, explicando de maneira simplória estratégias complexas de
investimento e por ai vai. Mais esforço deveria ser feito na comunicação com o
cliente para convencê-lo do quão difícil é obter desempenho superior e menos em
vender ilusões.
Outros
culpados são os consultores, que ajudam a selecionar os gestores para o comitê
de investimentos dos fundos institucionais. O comitê tem pouco tempo livre, já
que se dedicam a outras atividades, e precisam depender de consultores. Estes,
para reduzir o risco de perderem a conta com o cliente, diversificam em excesso
na sugestão de gestores. Além do mais, adotam posições muito defensivas, mais
pensando em seus interesses no que dos clientes. A rotatividade dos gestores de
mau desempenho também é uma prática defensiva, apresentando só aqueles que
deram certo sem se dar ao trabalho de fender os que tiveram pior desempenho no
passado, mas poderiam melhorar no futuro. Ou seja, nessa parte do mau
desempenho, contratar gestores com bom desempenho passado e dispensar os que
forma pior, os consultores são os culpados.
Os executivos
dos fundos também são culpados. Ellis aponta para o fato de uma mesma
instituição manter várias contas separadas, o que do ponto de vista de economia
de escala não parece muito inteligente. Aponta também o fato de que são eles
que contratam os demais participantes da administração e por isso também têm
uma parcela de culpa.
Segundo
Ellis, o comitê de investimentos também tem culpa, apesar das melhores das
intenções. Primeiro, os membros se reúnem muito infrequentemente, por pouco
tempo, se ocupam de algumas tarefas pouco relevantes e têm que tomar decisões
de contratar ou dispensar gestores no tempo que sobra. Ellis ainda acredita que
muitos dos membros não estão tão atualizados quanto às práticas de
investimentos mais modernas. O foco em decisões de investimentos, e não em boa
governança, também atrapalha o desempenho dos comitês e os tornam também
culpados pelo desempenho inferior dos fundos.
Isso leva
Ellis a concluir que o culpado são todos os suspeitos, que nem no livro Assassinato no Expresso do Oriente, de Agatha Christie, que serviu de inspiração
para a argumentação e o título do artigo. O pior: eles não estão dispostos a
reconhecer isso. Ellis aponta vários problemas na administração dos fundos
institucionais e mostra algumas das soluções que poderiam ser implantadas se
houvesse vontade para tal.
Charles Ellis
Financial Analysts Journal. Volume
68. Ed. 4. 2012
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