Retomando uma questão apontada em artigo anterior, resumo artigo de Lubos Pastor e Robert Stambaugh sobre como liquidez afetam os retornos esperados.
Um fator pode afetar os retornos esperados se
houver uma covariância entre os dois. Caso haja um retorno baixo acompanhando a
piora nesse fator, os investidores exigem alguma compensação para assumirem
esse risco. Essa lógica foi bem resumida por Antti
Ilmanen definindo risco como retornos ruins em tempos ruins. Liquidez pode
ser um fator de risco se os retornos forem ruins em momentos de baixa liquidez.
Não fosse assim, os investidores prefeririam ativos que não são afetados pela
menor liquidez do mercado. Uma das vítimas da baixa liquidez foi o LTCM, hedge fund que afundou e quase levou o
mercado junto estando com posições ilíquidas que tiveram um desempenho muito
ruim quando a liquidez secou e tornaram o fundo insolvente.
Primeiro de tudo, os autores discutem a medida de
liquidez que irão utilizar, o que não é questão trivial. O que os autores
consideram relevante é a mudança temporária de preços associadas com o fluxo de
ordens. Será utilizada uma medida individual que depois será agregada para
medir a liquidez do mercado. A variável de liquidez é calculada através de uma
regressão linear que procura determinar o retorno de uma ação em D+1 a partir
de uma série de variáveis como o retorno em D+0 e o volume, conforme abaixo:
O coeficiente gama é a variável de interesse,
mostrando o efeito do volume e do sinal do retorno acima (ou abaixo) do mercado
nos retornos no dia seguinte. Essa variável consegue isolar os efeitos
específicos na ação dos efeitos do mercado. Dessa forma, os autores analisam o
efeito do fluxo de ordens nos retornos. Um gama negativo e elevado indicaria um
grande impacto negativo nos retornos com liquidez baixa, com a reversão do
movimento observado anteriormente. Ou seja, quando a liquidez é baixa, um
retorno anormal pode ser mais fortemente corrigido no futuro do que quando a
liquidez é alta.
Além da liquidez individual das ações, os autores
utilizam a liquidez agregada do mercado, uma média simples dos coeficientes
gama que servem de medida de liquidez. Essa medida agregada parece fazer
sentido, uma vez em que coincide com momentos que sabemos que houve uma crise
de liquidez, como o grande crash de 1987, a crise do petróleo em 1973 e a
quebra do LTCM, conforme se vê no gráfico abaixo:
Os autores também constroem uma medida de “inovação
em liquidez”, que é a mudança inesperada de liquidez. Essa variável possui
correlação de 36% com os retornos e é ainda mais forte em meses de retornos
negativos. Esse é o principal fator de análise no artigo.
A correlação entre volatilidade e liquidez agregada
é negativa e elevada (-57%), o que indica que os provedores de liquidez exigem
maiores prêmios justamente quando a volatilidade é mais elevada.
Há evidências de que há a “fuga para a qualidade”,
a correlação entre retorno das ações e retorno dos títulos de renda fixa sendo
negativo durante períodos de baixa liquidez, enquanto que nos demais períodos a
correlação é positiva. A relação entre volume e retornos é parecida.
Para analisar a questão principal do artigo, se
liquidez é um fator de risco, os autores calculam a “Inovação em Liquidez” dos
ativos e compõem dez carteiras com base nessa variável, chegando ao fator beta
em relação à liquidez assim como há outras betas nos modelos de precificação de
ativos. O modelo utilizado pelos autores parte do modelo Fama-French e inclui o
fator liquidez:
O BiL é a covariância do
ativo com a liquidez agregada do mercado. São duas análises distintas: usando
betas previstos ou betas históricos. Na primeira abordagem, os autores preveem
o beta de liquidez a partir de sete características da ação, incluindo o beta
histórico. Esses betas previstos são utilizados para classificar as ações e
aloca-las nas dez carteiras utilizadas para a construção do fator no modelo de
precificação. Uma nova regressão é realizada para calcular o “post-ranking
beta”, que é utilizado para análises posteriores.
As carteiras com menores betas “post-ranking” são
de empresas menores, de crescimento e menos líquidas. Por que isso ocorre?
Seria de se imaginar que as ações menos líquidas são aquelas que mais sofrem
com a escassez de liquidez. Porém, há também o fato de que quando os
investidores estão fugindo das ações, podem optar pelas mais fáceis de vender,
ou seja, as mais líquidas. Aqui, imagino que as ações menos líquidas só não
caem mais porque não há investidores dispostos a aceitar tão pouco para se
desfazerem de suas ações. Na crise de 2008, eu mesmo vi uma série de ações de
baixa liquidez com poucas ordens de compras e a preços muito baixos. Pode ser
que as ações não registrem queda, mas há uma severa desvalorização se fossemos
marcar a partir da melhor ordem de compra.
Mais relevante é comparar o alfa das carteiras
classificadas de acordo com o seu beta de liquidez. Se a sensibilidade a
mudanças na liquidez afeta o preço dos ativos, deveríamos perceber
comportamentos distintos das carteiras e é o que se verifica, a diferença do
alfa da carteira com maior beta para a de menor beta sendo positivo e
estatisticamente significativo. Ou seja, ações que se movimentam mais de acordo
com mudanças na liquidez agregada oferecem maiores retornos esperados na medida
que os investidores desejam compensação para quedas mais bruscas quando a
liquidez seca.
É possível calcular o prêmio por risco, utilizando
todas as 10 carteiras separadas por betas de liquidez. Essa é mais uma maneira
de determinar que a liquidez é um fator de risco, esse prêmio variando de 7,5%
a 10% em termos anualizados.
Utilizando agora betas históricos, ao invés de
previstos, há algumas mudanças importantes. Não há mais uma concentração de
ações de baixa capitalização ou de crescimento apenas no grupo de menores
betas, o grupo de maior beta também contendo ações com essas características.
Talvez small caps tenham estimativas
mais “ruidosas” do beta histórico. Para os retornos, não há diferença em
relação aos resultados encontrados utilizando betas previstos.
As implicações para investimento são difíceis de
analisar ou sugerir, como os próprios autores afirmam. Mas determinar como uma
ação reage a mudanças na liquidez do mercado pode ser uma fonte de alfa para a
carteira. Essa análise é bem complexa e sujeita a vários erros de estimação, no
entanto.
Conclusão: Ações mais sensíveis a variações na
liquidez agregada geram retornos superiores, mesmo considerando por outros
fatores de risco conhecidos, o que sugere que a liquidez também é um fator de
risco. Esse estudo tem implicações para os modelos de precificação de ativos,
ajudando a entender as anomalias dos modelos existentes. Porém, nesse artigo, a
liquidez só foi significativa para explicar o fator momento, que diminui de
importância após a inclusão da liquidez na análise. Estava esperando que a
liquidez fosse mais determinante nesse sentido, mas, ao menos levando em conta
esse único artigo, ainda não explica tanto sobre os preços dos ativos.
Liquidity Risk and Expected Stock Returns
Lubos Pastor e Robert Stambaugh
Journal of Political Economy. Vol. 111. Nº 3. 2003
Liquidity Risk and Expected Stock Returns
Lubos Pastor e Robert Stambaugh
Journal of Political Economy. Vol. 111. Nº 3. 2003
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