Nas ciências, na filosofia e nos ditados populares, o dinheiro já foi visto pelos mais diversos pontos de vista, tanto positivos quanto negativos.
No artigo The Psychological
Consequences of Money publicado na revista Science os autores realizam uma série de experimentos e concluem
que o dinheiro faz as pessoas se sentirem autossuficientes e leva as pessoas a
agirem de acordo com isso. Dinheiro levaria as pessoas a conseguir atingir os
seus objetivos sem a ajuda de outros.
Nesses testes, examinadores trabalharam com o
“conceito” de dinheiro e não com propriedades ou posses, procurando estimular
inconscientemente a noção de dinheiro e examinar seus efeitos nos
participantes. O objetivo era relacionar o estímulo “monetário” com atitudes na
direção de agir por conta própria, seguindo a hipótese inicial do estudo.
Contrariamente, falta de dinheiro deveria fazer com que as pessoas se sentissem
ineficazes.
No primeiro teste, os participantes desempenhavam
inicialmente uma tarefa de desembaralhar palavras, alguns resolvendo o problema
com palavras neutras (não relacionadas com dinheiro) e outros com palavras que
remetem a dinheiro. Em seguida, participaram da resolução de outro
quebra-cabeça. Aqueles que tiveram o estímulo relacionado a dinheiro demoraram
mais para pedir ajuda.
No experimento 2, os examinadores testaram
manipular os estímulos positivos (abundância de dinheiro) e negativos (falta de
dinheiro). Em seguida, submeteram os participantes a um desafio insolúvel sem
ajuda e aqueles que receberam os estímulos positivos foram os que mais
demoraram a pedir ajuda.
O terceiro teste verificou agora a disposição para
ajudar. Primeiro, passaram pelo primeiro desafio assim como no experimento 1.
Depois, uma pessoa pede ajuda para o participante para decodificar uma planilha
de dados, deixando a critério do participante decidir em quantas planilhas irá
ajudar. Aqueles que receberam o estímulo em torno do dinheiro se voluntariaram
menos do que o grupo de controle.
O experimento 4 utilizou novamente as tarefas para
oferecer o estímulo e depois colocou os participantes para preencher
questionários irrelevantes. Um auxiliar dos examinadores aparecia e resolvia
uma tarefa, em seguida pedindo ajuda para o participante e o tempo gasto no
auxílio era a variável de interesse. Aqueles que receberam o estímulo em
direção ao dinheiro foram menos prestativos.
O quinto experimento verificou se a ajuda nas
demais situações tinha a ver com habilidades, a ajuda exigida sendo a de
meramente recolher lápis caídos. O estímulo foi diferente, com os participantes
jogando Banco Imobiliário por alguns minutos e depois dando muito, pouco ou
nada de dinheiro de Banco Imobiliário para o participante. Em um segundo passo,
os participantes que receberam bastante dinheiro tiveram que pensar em um
futuro abundante em termos financeiros, os que receberam menos em um futuro
financeiramente ruim e os que nada receberam (que agiam como controle) em
planos para o futuro. No fim, um auxiliar simulava um acidente deixando cair
vários lápis e o participante ajudava a recolhê-los. Consistente com os demais
testes, os que receberam o estímulo monetário positivo ajudaram menos do que os
que receberam estímulo negativo ou o grupo de controle.
O sexto teste envolveu caridade. No início, foram
dados 2 dólares em moedas de 25 cents para cada participante. Em seguida,
participaram de um teste parecido com o 1, terminando com o preenchimento de um
questionário que supostamente deveria ser o teste de verdade. No final, foram
pedidas doações para a universidade. Aqueles que receberam o estímulo em torno
do dinheiro doaram menos do que o grupo de controle.
Por fim, os últimos testes examinaram outras
questões relacionadas com a “autossuficiência”. No teste 7, o estímulo agora
era ver um descanso de tela (vulgo, screensave)
com ou sem estímulo relacionado a dinheiro. No final, foi pedido para que o
participante se aproximasse de outro para conversar um pouco e a variável
dependente era a distância entre as cadeiras. Aqueles que receberam o estímulo
relacionado a dinheiro ficavam em média mais distante do que o grupo de
estímulo neutro ou de controle.
O teste 8 foi parecido com o 7 e no final foi
passado um questionário com diversas atividades que podiam ser desempenhadas
sozinhas ou em grupo. Aqueles que receberam o estímulo relacionado a dinheiro
(um pôster com vários tipos de moedas) optaram mais pelas atividades
solitárias. Por fim, o teste 9, que teve os mesmos tipos de estímulos do 7,
pediu para que os participantes optassem por trabalhar sozinhos ou em grupo na
elaboração de um anúncio. Assim como os demais testes, aqueles que receberam o
estímulo relacionado a dinheiro optaram mais por trabalhar sozinhos.
Em todos os testes, a diferença entre o estímulo
neutro ou nenhum estímulo era estatisticamente nula, indicando que o efeito
está isolado na lembrança de dinheiro, em especial lembrança positiva.
Esse estudo indica que pensar em dinheiro faz a
pessoa se sentir mais autossuficiente, diminuindo o senso de comunidade,
ajudando menos os outros, mas também pedindo menos ajuda. Sem entrar em juízos
de valor, esse artigo tem implicações para Marketing (área de estudo de alguns
dos autores), em especial para instituições financeiras, que poderiam pensar em
como esse senso de autossuficiência pode ser explorado em sua comunicação com o
cliente.
Fonte da imagem: Mark Morgan no Flickr.
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