segunda-feira, 28 de junho de 2010

Investidor x Apostador

Comparing the traits of Stock Market Investors and Gamblers
Janice W. Jadlow e John C. Mowen
Journal of Behavioral Finance. Volume 11. Ed. 2 2010

O artigo procura determinar os traços de personalidade que diferenciam investidores e apostadores no mercado acionário.Primeiros, os autores apontam as diferenças entre investimento e aposta. Graham e Dodd no Security Analysis estabelecem que investimento “promete segurança de principal e um retorno satisfatório”, enquanto que a especulação não o faz. Investimento depende de análise e aposta apenas na sorte. Investir é a tomada de riscos disciplinada direcionada para investimentos produtivos e aposta é a tomada de risco apenas pelo prazer. Por fim, apostas possuem um valor esperado negativo ou abaixo de uma taxa livre de risco, enquanto que investimentos rendem essa taxa livre de risco ou espera-se que rendam mais (no caso de investimentos de maior risco como ações). Por essa definição, incluem-se como aposta as loterias (que possuem valor esperado negativo), ações-loterias e títulos de capitalização. Isso levaria a indicar que investidores são avessos a risco e exigem um prêmio por risco para tomarem risco e os apostadores gostam do risco pelo risco e aceitam uma taxa de retorno esperada menor.

Mas essa é a diferença entre investimento e aposta. O que o artigo procura são os fatores determinantes para diferenciar um apostador de um investidor em ações (ou apenas “investidor”). Os autores escolheram 17 traços de personalidade e procuraram determinar quais diferem um investidor de um apostador. Os pesquisadores realizaram pesquisas com mais de mil respondentes americanos, fazendo perguntas relacionadas com os traços de personalidade e a propensão de investir e de apostar.

Foram feitas diversas hipóteses e confirmadas as seguintes relações por meio de testes estatísticos:

Traço; Relação; Investimento/Aposta
Necessidade de Excitação; Positiva; Aposta
Instabilidade Emocional; Negativa; Investimento
Afabilidade; Negativa; Investimento
Necessidades materiais (desejo de ganhar dinheiro); Positiva; Aposta
Necessidades materiais; Positiva; Investimento
Competitividade; Positiva; Aposta
Competitividade; Positiva; Investimento
Impulsividade; Positiva; Aposta
Imediatismo; Positiva; Aposta
Imediatismo; Negativa; Investimento
Superstição; Positiva; Aposta
Superstição; Positiva; Investimento
Conservadorismo Financeiro; Negativa; Aposta
Conservadorismo Financeiro; Negativa; Investimento
Talentos Matemáticos; Positiva; Aposta
Talentos Matemáticos; Positiva; Investimento

Relação positiva significa que o traço leva a pessoa a investir ou apostar mais, e relação negativa que a pessoa investe ou aposta menos. Pessoas mais imediatistas apostam mais e investem menos, por exemplo.

E as hipóteses descartadas, sem que fosse encontrada qualquer relação positiva ou negativa:

Necessidade de Excitação; Positiva; Investimento
Instabilidade Emocional; Positiva; Aposta
Extroversão; Positiva; Investimento
Necessidade de aprendizado; Positiva; Investimento

Outras análises incluem variáveis demográficas. Constatou-se que homens, pessoas mais jovens e de menor nível educacional são mais propensos a apostar. Idade e educação estão positivamente relacionados com investimentos.

Por meio de métodos estatísticos, os autores separaram os respondentes em quatro grupos. O contraste é reforçado entre os dois primeiros e entre os dois últimos.

Cautelosos Financeiramente: Não investem nem apostam muito. São pouco impulsivos, materialistas, competitivos e supersticiosos. Também não possuem grande necessidade de aprender, não são bons com números e são financeiramente conservadores. São 38% dos respondentes e a maior parte é mulher.

Tomadores de risco: Apostam e investem muito. Possuem grande necessidade de excitação, são impulsivos e materialistas. São 22% dos respondentes e geralmente jovens.

Jogadores: Apostam muito e investem pouco. São orientados para o curto prazo, impulsivos e instáveis emocionalmente. São 24% do total e possuem traços semelhantes com compradores compulsivos, altamente endividados, de acordo com outros estudos.

Investidores em ações: Investem muito e apostam pouco. São orientados para o longo prazo e possuem grande desejo de aprender. São 16% do total.

Com base nessa análise, os autores sugerem algumas aplicações práticas dos resultados empíricos da pesquisa:

Para tentar convencer o grupo de “Cautelosos Financeiramente” a investir mais em ações, não se deveria utilizar muito de números, nem de argumentos muito sofisticados ou apelar tanto para o aumento de ganhos. Mostrar que investir em ações esteja de acordo com conservadorismo financeiro, que faz parte de uma poupança segura, talvez como uma proteção contra inflação, possa atrair esse público.

As evidências mostraram que apostadores possuem boa familiaridade com números. Quem deseja desincentivar as apostas pode mostrar matematicamente que essa não é uma boa maneira de ganhar dinheiro (apesar de desejar excitação e de serem impulsivos, apostadores querem ganhar dinheiro tanto quanto investidores).

Os principais fatores que diferenciam os grupos “Investidores em ações” e “jogadores” são que investidores são menos imediatistas, menos impulsivos e menos supersticiosos. Se alguém deseja se classificar como investidor e tem alguma dessas características, poderia pensar em trabalhar em cima disso.

Alguns tipos de empresas (corretoras, bancos, bancos de investimento etc.) poderiam utilizar as evidências sobre o perfil de “Tomadores de Risco” para evitar esse tipo de profissional, embora, façam o contrário, na prática. Um "tomador de risco", conforme o perfil traçado, que goste muito de apostar e de investir, pode tomar decisões que tragam prejuízo para a empresa, à lá Jérôme Kerviel. Um profissional de perfil "investidor em ação" pode ser preferível.

Notas Metodológicas
A análise de traços de personalidade é feita segundo o Modelo 3M (metatheoretic model of motivation). Pelo que pude entender do resumo dos autores, esse modelo separa os traços de personalidade em quatro níveis de abstração: elementar, composto, situacional e superficial.

O nível elementar é o nível mais básico, resultado da genética ou da história pessoal do indivíduo. Foram incluídos no estudo as variáveis: Abertura para experiência, conscienciosidade (tradução para conscientiousness. Significa cuidadoso, escrupuloso), extroversão, afabilidade (agreeableness), instabilidade emocional, necessidade de excitação, de recursos corporais e de recursos materiais (needs for arousal and body and material resources, três traços separados).

O segundo nível é o composto, traços duradouros oriundos da cultura e da sub-cultura e da combinação com traços elementares, traços que se manifestam em diversas situações. Quatro características foram utilizadas: competitividade, impulsividade, imediatismo (present-time orientation) e necessidade para aprendizado.

Em seguida, há os traços de situação, resultado dos dois níveis anteriores em um contexto geral. Foram utilizados: supertição, conservadorismo financeiro e talentos matemáticos (numerancy).

O último nível, superficial, trata de traços em um nível mais específico. Foram utilizadas variáveis sobre comportamentos (“eu gosto de investir/apostar”) e tendências comportamentais (“sempre que puder, comprarei/apostarei”).

Não sou psicólogo e dediquei tempo suficiente para que o benefício marginal de estudar o assunto igualasse o custo marginal em termos psicológicos e de tempo, portanto, não sei se a descrição é boa e duvido muito de algumas traduções terminológicas.

A pesquisa foi feita pela internet com 1.158 respondentes nos Estados Unidos. São questionários com perguntas com resposta dentro de uma escala para avaliar os 17 traços de personalidade descritos acima (essas perguntas são encontradas ao final do artigo). Apesar de ser perguntado a propensão a jogar ou investir como traços de personalidade, os pesquisadores perguntaram sobre se a pessoa realmente joga ou investe, encontrando elevada correlação entre propensão e atitude.

Foram utilizados dois métodos estatísticos: A Modelagem de Equações Estruturadas e correlações de duas variáveis (investir/apostar e o traço). Caso o resultado no primeiro método não seja o esperado, mas haja correlação estatisticamente significativa, uma terceira variável pode explicar essa correlação.

Hipóteses confirmadas são aquelas cujos resultados estão em linha com as hipóteses e também são estatisticamente significantes. As hipóteses descartadas o foram por falta de significância estatística.

A classificação em grupos foi feita por meio da Análise de Conglomerados.

OBS1: Algures, os autores afirmam que o mercado acionário é um jogo de soma zero. Não é.

OBS2: Os autores afirmam que o grupo de investidores em ação não são avessos a risco, já que há uma média baixa para a variável “Conservadorismo Financeiro”. Aversão a risco não requer que a pessoa seja conservadora financeiramente, apenas que deseja um prêmio por correr risco. Uma média baixa nessa variável indica que os investidores são pouco avessos a risco, não que não sejam (nem que sejam, as perguntas feitas não conseguem medir isso).

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Estratégia do Custo Médio

Uma dica de investimentos referida em diversos lugares é que a melhor estratégia de investimento é ir comprando aos poucos, e não investir tudo de uma vez. Isso é chamado de estratégia do custo médio (“CM” de agora em diante). A estratégia alternativa tem o nome em inglês de Lump Sum Investing (“LSI” de agora em diante).

Os defensores do CM argumentam mostrando o caso do investidor ter comprado tudo antes de um período de alta (ou mesmo no topo) tendo um resultado pior do que se o investidor tivesse comprado periodicamente. Até Benjamin Graham se mostrou a favor dessa estratégia.

Não há mágica nenhuma nessa estratégia. Se o investidor tem hoje o dinheiro necessário para aplicar tudo de uma vez, terá uma das duas carteiras:

A: 100% investido [LSI]
B: X% investido + (1 – X%) não investido (ou em renda fixa) [CM]

E a carteira B iria periodicamente convergindo para 100% investido até que as duas carteiras tenham aportado o mesmo principal. Essas porcentagens se refere apenas à parcela do capital a ser investido em ações.

Partindo da data do primeiro investimento (tudo de uma vez ou a primeira “parcela”), se a ação cair logo após essa data, os resultados do CM será melhor do que o da LSI. Na queda, o CM terá um retorno menos negativo; caso a ação supere o patamar inicial depois de cair, o retorno será menor. Tudo isso porque o custo médio é menor.

Esse é o argumento utilizado para defender a estratégia CM, mas há o outro lado. Caso a ação suba após a compra, os resultados são inversos. Na alta, a estratégia LSI terá um custo menor do que o custo médio e terá retornos maiores na alta. Caso a ação venha a cair depois de subir, a perda será menor para quem comprou periodicamente.

O cálculo da volatilidade das duas carteiras mostraria que a carteira B é menos arriscada, em termos de volatilidade. Por motivos óbvios: enquanto que a carteira A está totalmente exposta ao risco, a carteira B tem uma exposição menor, que vai crescendo até que as duas carteiras estejam totalmente investidas.

A estratégia do custo médio pode ser preferível caso o investidor tenha a expectativa de queda na ação, mas, mesmo assim, deseje começar a investir na ação, até para não deixar de investir caso o cenário oposto se realize. A estratégia LSI pode ser preferível caso o investidor tenha expectativa de alta.

Sem partir de nenhuma expectativa no curto prazo, nenhuma estratégia é, a princípio, melhor do que a outra. O que o investidor tem que definir inicialmente é se prefere ter uma carteira de ações 100% aplicada ou (por exemplo) 90% fora do mercado e 10% investida.

A minha opinião é que, uma vez decidido aplicar uma certa parcela em renda variável e o restante em renda fixa, o investidor deveria colocar em prática essa alocação de ativos o quanto antes. Se deseja correr menos risco, se teme uma queda logo após a compra, que invista menos em renda variável.

Observação 1: Os defensores do CM argumentam que os praticantes do LSI se julgam profetas, que acreditam que a ação irá se valorizar e por isso investem tudo de uma vez. Como dito, se a expectativa for de alta, LSI é preferível. Mas, também como argumentado, sem expectativa alguma LSI também pode ser preferível. CM envolve mais “previsão”, mais expectativa (ou medo) do que LSI.

Observação 2: Uma outra defesa do CM seria a de que o investidor iniciante deve antes entender melhor o mercado, “sentir” o mercado e assim ir investindo aos poucos. Isso faz mais sentido, mas não é CM, apenas uma variação na disposição a correr riscos que aumenta com a familiarização com o mercado. CM é uma estratégia que aumenta automaticamente a exposição ao risco, não envolve qualquer aprendizado. Investir mais conforme se conheça melhor o mercado é aumentar a exposição a risco: inicialmente o investidor quer investir 90% em renda fixa e 10% em renda variável e, conforme seu conhecimento aumenta, vai ficando mais disposto a correr risco até chegar a uma proporção que julgue apropriada.

Observação 3: Dizer que LSI é preferível não é criticar a prática de periodicamente investir em ações, comprando um pouco de cada vez. E fazer compras periódicas também não é CM, é apenas utilizar o dinheiro quando este se torna disponível. Uma pessoa que poupe parte do salário para aplicar em ações poderia comprar algumas ações por mês e a única alternativa seria aumentar a periodicidade para comprar menos frequentemente e gastar menos em corretagem.

Observação 4: Uma desvantagem do CM é que envolve mais custos caso haja corretagem fixa. Se a corretora cobrar corretagem fixa e o investidor decidir separar o seu capital em doze partes para aplicar mensalmente em ações, irá incorrer em doze corretagens ao invés de apenas uma. A depender do valor do capital inicial, doze corretagens pode significar muito. Se a corretagem for apenas variável, não há diferença entre as duas estratégias.

A estratégia do custo médio não é comumente recomendada em livros-textos de investimento e raramente é abordada nesses livros. Mas é bem vista fora dos meios acadêmicos. Há estudos que analisam o desempenho dessa estratégia e eu tratarei disso no futuro. Pelo que pude apurar inicialmente, as evidências pendem mais para desfavoráveis ao custo médio.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Esclarecimento Econômico

(Economic Enlightenment in relation to college-going, ideology, and other variables: A Zogby Survey of Americans)
Zeljka Buturovic e Daniel Klein
Econ Journal Watch. Volume 7, Nº2.

Essa pesquisa sobre assuntos econômicos básicos foi feita com 4.835 respondentes adultos nos Estados Unidos procurando determinar o grau de “esclarecimento econômico” dessas pessoas. Os autores da pesquisa procuraram determinar a relação entre conhecimento econômico e escolaridade, ideologia (conservador x liberal) e outras variáveis (menos importantes).

As perguntas foram:

1) Restrição no desenvolvimento imobiliário faz com que menos pessoas consigam comprar casas?

2) Licenciamento obrigatório de serviços profissionais aumenta o preço desses serviços?

3) Na média, o padrão de vida hoje é maior do que era 30 anos atrás?

4) Controle de aluguéis leva a escassez de casas?

5) A empresa com maior participação de mercado é um monopólio?

6) Trabalhadores do terceiro mundo trabalhando para empresas americanas estão sendo explorados?

7) Comércio livre leva a desemprego?

8) Leis de salário mínimo levam ao desemprego?

Cinco respostas são possíveis: concordo fortemente, concordo, discordo, discordo fortemente e não tenho certeza. São consideradas certas a concordância ou discordância forte ou normal e o “não tenho certeza” não conta nem como certa nem como errada.

Na pesquisa e em outros comentários dessa pesquisa (Free Market Mojo e Wall Street Journal) as respostas consideradas corretas são informadas junto com as perguntas, o que só farei ao final do texto. O leitor pode responder essas questões e depois consultar uma das três referências atrás das respostas.

Os autores alegavam que as respostas não são tão suscetíveis a discussões, ou seja, esquerda e direita deveriam responder a mesma coisa e mesmo defensores de certas políticas (salário mínimo, restrições imobiliárias etc.) deveriam ser capazes de entender os efeitos indesejados dessas políticas, alegando outros benefícios para defendê-las. Várias perguntas são clássicas de livros-textos de econômico, algumas simples aplicações da lei da oferta e da demanda (1, 4 e 8), outra é uma questão até trivial (5). A pergunta 2) é a lei de oferta e demanda um pouco mais sofisticada. A 6) foi tratada no livro Lucro Sujo.

Além dessas perguntas, foi pedido informações sobre a ideologia (auto-proclamada) do respondente, seu grau de escolaridade, questões sócio-demográficas e outras como se a pessoa compra no Walmart ou gosta de Nascar.

No geral, dos que responderam sobre sua escolaridade, a porcentagem de respostas incorretas varia de um mínimo de 20,2% (questão 5) para um máximo de 50,6% (questão 6). Esse é um resultado muito melhor do que o de outro estudo aqui analisado, onde nem um quarto dos pesquisados conseguiram acertar uma pergunta sobre custo de oportunidade.

Por escolaridade, os pesquisados não encontraram diferenças no grau de acerto entre pessoas com colegial ou menos, superior incompleto ou de superior completo para cima. Ou seja, não foi constatada uma correlação positiva entre escolaridade e esclarecimento econômico.

Por ideologia, foi constatado que muito conservadores, libertários e conservadores (nessa ordem) conseguiram um grau de acerto maior enquanto que progressistas, liberais e moderados (nessa ordem) tiveram as piores “notas”. A pergunta com maior grau de respostas incorretas foi a resposta para a pergunta 8 dos progressistas (92,5%) e o menor porcentagem de respostas incorretas foi a pergunta 5 respondida pelos libertários (6,8%). Excluindo essa pergunta 5 (muito trivial), a menor proporção de respostas incorretas foi para pergunta 8 respondida por conservadores (11,3%).

Outros resultados que considerei interesse:
• Votantes no Partido Libertário tiveram o menor índice de erro e partidários do Partido Verde tiveram o maior índice de erro

• Resultado contraditório: Ateus/realistas/humanistas tiveram o melhor desempenho separando por religião, mas (em outra separação) quem mais vai à igreja (ou outro templo) erra menos.

• Aqueles que se declaram habitantes do planeta Terra erraram mais do que os que se declaravam habitantes de sua cidade ou dos Estados Unidos.

• Fãs de Nascar acertaram mais perguntas (confesso não saber o que isso implica)

• Investidores (aqueles que se julgam pertencentes da “classe investidora”) tiveram melhor desempenho do que os demais.

• Compradores mais frequentes do Walmart, essa praga que insiste em oferecer produtos mais baratos para os consumidores, são mais esclarecidos do que os demais.

• Foi constatada uma relação positiva entre renda e esclarecimento

• Homens tiveram um desempenho melhor do que as mulheres

Os autores da pesquisa preferiram manter tudo simples, sem realizar nenhuma análise estatística sobre esses resultados. Logo, várias das diferenças de médias (homens x mulheres, por exemplo) podem não ser estatisticamente significantes.

terça-feira, 8 de junho de 2010

"Fui pescar"

(Gone fishin’: Seasonality in trading activity and asset prices)
Harrison Hong e Jialin Yu
Journal of Financial Markets. Volume 12 p. 672-702. 2009

"Fui pescar". Eu não, os investidores.

Esse artigo examina a relação entre verão (e, consequentemente, férias e viagens), o giro na bolsa e nos retornos. No artigo, o verão é definido como os meses de Julho a Setembro para o hemisfério norte e Janeiro a Março para o hemisfério sul. Foram utilizados dados de 51 países. A expectativa é de que comprove-se uma menor liquidez no verão para então ser capaz de discutir o efeito disso nos retornos. Esse exame não é apenas referente a estratégias de investimento, mas também à avaliação de ativos com queda na liquidez (efeito do baixo volume).

O primeiro conjunto de testes estatísticos dos autores é sobre a relação entre a estação do ano e duas variáveis relacionadas às férias: tráfego aéreo e ocupação nos hotéis. Os resultados obtidos foram os esperados (e nada surpreendentes): há uma relação positiva entre verão e tráfego aéreo e com ocupação nos hotéis, logo, verão igual a férias. Em seguida, os autores analisam o efeito do verão no giro das ações (quantidade de ações movimentadas/quantidade total de ações). Os autores encontram que há uma relação negativa, ou seja, há uma queda no movimento do mercado no verão. Nas palavras dos autores, os investidores “foram pescar”, saíram de férias.

A queda no volume durante o verão é de 7,9% na média dos 51 países, sendo maior para os 10 maiores mercados (12,9% de queda), para América do Norte (13,5%) e Europa (15,8%). O efeito é menor nas demais regiões, não sendo estatisticamente significativo na maioria.

O mesmo procedimento foi feito para estabelecer a relação entre retornos e verão. O resultado foi um efeito negativo nos retornos durante os meses de verão. A evidência para a média dos 51 países é de um retorno de -0,9% no período, -2,1% para os maiores mercados, -1,11% para América do Norte e -2,1% para Europa. O efeito é positivo em 2,1% na América do Sul. Ainda, existe correlação de 40% entre o efeito do verão no volume e o efeito do verão no retorno (45% utilizando retornos ponderados igualmente). Mais de 70% dos países que tiveram queda nos volumes também tiveram queda nos retornos, algo que não pode ser explicado pelo acaso. Logo, há uma relação positiva entre volume e retorno (se um cai, o outro também cai).

Todos os resultados permanecem semelhantes se for desconsiderado o mês de Janeiro (por conta do Efeito Janeiro) e/ou desconsiderado Setembro (que outros estudos mostravam ser o principal mês de queda no volume e nos preços durante o verão). Também, análises incluindo as demais estações do ano continuavam a mostrar resultados semelhantes aos analisados acima, sem que outra estação do ano explique consistentemente volume negociado e variação das ações.

Esse estudo está relacionado com a dica de investimento “Sell in May and go away”, que sugere aos investidores que vendam em Maio e voltem em Novembro. Os autores do artigo repetem esse estudo, passando a abranger o período Maio-Outubro. Encontram um retorno negativo para esse período, porém, sem que houvesse uma queda no giro das ações nesse período. Os autores confirmam o Sell in May, mas não conseguiram explicá-lo como uma queda no volume negociado.

Por conta disso tudo, uma explicação para um desempenho ruim dos mercados durante o verão é a queda no volume negociado. Porém, outros fatores poderiam explicar o desempenho das ações no período. Os autores fazem análises semelhantes para a volatilidade, tanto das ações quanto dos fundamentos (sazonalidade no PIB, nas previsões de lucros e nas notícias sobre as empresas). Poderia acontecer de uma maior volatilidade em um período levasse o preço das ações a terem um desempenho inferior aos demais períodos, já que há uma relação negativa entre risco e retorno. Porém, não foi encontrada uma relação significativa entre nenhuma dessas medidas de volatilidade e o retorno das ações.

Em busca de maiores esclarecimentos, os autores separaram as operações por tamanho (pequeno, médio e grande) e relacionam com o giro das ações. A hipótese é de que ou pequenos investidores ou grandes investidores institucionais deixam o mercado no verão e a saída desse investidor acaba por levar a um retorno negativo no verão. As evidências são de que há uma queda de magnitude semelhante para todos os tamanhos de negócios, ou seja, tanto pequenos quanto grandes investidores “vão pescar” e deixam o mercado.

Por fim, os autores analisam a sazonalidade nos custos de transação, medido pelo bid-ask spread (diferença entre a melhor ordem de compra e de venda) no verão e no resto do ano, encontrando que esse spread aumenta durante o verão. Ou seja, o verão leva a maiores custos de transação.

Resumindo, o verão faz com que os investidores (principalmente nos Estados Unidos e outros grandes mercados) saiam de férias e deixem de operar nos mercados. Isso significa uma redução na liquidez, conseqüentemente, aumento nos custos de transação. Redução na liquidez e aumento nos custos de transação estão relacionados com os preços, levando a uma queda nas cotações.

Nota metodológica
Os autores utilizam regressões lineares utilizando como variável dependente o que se procura estudar (giro das ações, retorno, volatilidade etc.) e como variável independente uma dummy com valor 1 para o caso de ser verão e outras variáveis para controlar por outros fatores que expliquem retornos e liquidez além da estação do ano. Se o valor do coeficiente da variável Verão for positivo e significativo, há uma relação positiva entre a variável dependente e o verão. Se for negativo e significativo, há uma relação negativa. Se o coeficiente não for estatisticamente significativo, não há relação (o coeficiente não é diferente de zero).

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Mensais: Bovespa (Maio/10)

Índices Brasileiros
Índice; 60 meses; Ano; 12 meses
Ibovespa; 150,11%; -8,08%; 18,51%
IBX 50; 158,14%; -8,02%; 12,93%
IBX; 162,70%; -7,73%; 15,26%
ISE; -; -5,78%; 24,78%
ITEL; 71,74%; -9,62%; 13,16%
IEE; 183,35%; -6,12%; 15,87%
INDX; 136,65%; -5,11%; 28,14%
IVBX2; 94,11%; -7,76%; 23,42%
IGC; 158,00%; -5,12%; 27,82%
ITAG; 153,54%; -6,75%; 26,49%
Small Cap; -; -5,89%; 54,05%
Mid Large Cap; -; -7,61%; 12,87%
Consumo; -; -2,68%; 35,80%
Imobiliário; -; -11,41%; 41,33%

Ibovespa:
Maiores altas (2010):
LREN3: 23,24%
CRUZ3: 18,81%
SBSP3: 11,64%
MMXM3: 9,88%
CPFE3: 8,00%

Altas: 19/65

Maiores altas (12 meses)
GOLL4: 145,12%
DTEX3: 112,29%
LLXL3: 110,83%
LREN3: 106,21%
MMXM3: 99,27%

Altas: 52/65

Maiores baixas (2010)
BTOW3: -35,81%
BRTO4: -29,01%
TAMM4: -26,20%
ECOD3: -23,85%
BRKM5: -23,37%

Maiores Baixas (12 meses)
PETR3: -18,57%
TLPP4: -15,81%
PETR4: -10,95%
TCSL3: -8,49%
LIGT3: -7,99%

Amostra de 162 ações:
Maiores altas em 5 anos
TELB4: 3.422,10%
JFEN3: 2.737,87%
HGTX3: 1.760,69%
BMTO4: 1.220,24%
WHRL4: 989,31%

Maiores baixas 5 anos
KEPL3: -95,15%
JBDU4: -77,97%
UNIP6: -64,50%
ELEK4: -57,92%
CTNM4: -55,85%

Maiores sequências (162 ações)
Alta: HGTX3 (15 meses)
Baixa: CNFB4, EMAE4, FJTA4, IDNT3, UNIP6 (5 meses)

Fontes:
Bovespa.com
Planeta Dinheiro (www.pladin.com.br)

Datas Importantes e/ou curiosas
06/06: 10 anos da fundação da Marfrig tal como é hoje
07/06: Seria 66 anos de existência da Sadia, hoje parte da Brasil Foods
11/06: 38 anos da fundação da Eletrobras (agora sem acento)
13/06: 15 anos de listagem da Coelce
30/06: 15 anos de listagem da Dixie Toga
30/06: 39 anos de listagem da Cemig

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Mensais: IPOs (Maio/2010)

Serão consideradas as ofertas:
* Ocorridas a menos de 5 anos
* Que sejam realmente ofertas públicas iniciais
* Que ainda sejam negociadas, excluídas as que foram incorporadas por outras empresas.
* Das IPOs de 2010, vou considerar Ecorrodovias, Júlio Simões, Mills e OSX como muito recentes, mas não Aliansce e Multiplus. As três primeiras seriam as três maiores altas relativas ao Ibovespa e a OSX a maior baixa relativa.

Taxa a.m. Retorno desde o primeiro dia de negociações expresso em meses.
IBOV a.m. Retorno do Ibovespa desde o primeiro dia de negociações do ativo
Ganho s/ Ibov: Taxa a.m. – IBOV a.m.

5 maiores altas relativas ao Ibovespa
Empresa; Taxa a.m.; IBOV a.m.; Ganho s/ IBOV
Aliansce; 5,11%; -0,93%; 6,04%
Multiplus; 3,56%; -2,27%; 5,83%
Hypermarcas; 4,36%; -0,12%; 4,48%
Fleury; 2,08%; -1,20%; 3,27%.
Tivit; 2,64%; 0,36%; 2,28%

5 maiores baixas relativas ao Ibovespa
Empresa; Taxa a.m.; IBOV a.m.; Ganho s/ IBOV
Ecodiesel; -5,53%; 1,00%; -6,53%
Laep; -5,97%; -0,12%; -5,85%
Nutriplant; -5,77%; 0,03%; -5,79%
Inpar; -5,10%; 0,55%; -5,65%
Springs; -4,45%; 0,53%; -4,97%

25/97 ações estão com ganhos relativos (25,77%)

38/97 ações estão com ganhos absolutos (39,17%)

A GVT Holding (GVTT3) fechou capital no dia 11/05/10, último negócio em 10/05 ao preço de R$ 57,70. Subiu 220,56% desde a abertura de capital, uma média de 3,07% a.m. contra uma alta média do Ibovespa no mesmo período de 0,83% a.m. Seria a quinta maior alta relativa ao Ibovespa se ainda fosse contada.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Mensais: Índices Internacionais (Maio/2010)

Maiores altas (mês)
Nepal: 16,89%
Gana: 10,02%
Bangladesh: 8,01%
BSX: 6,83%
Tunísia: 1,61%

Ibovespa: 51º lugar (maior alta – maior baixa)
Altas 11/100

Maiores altas (ano)
Mongólia: 52,68%
Estônia: 34,94%
Bangladesh: 34,67%
Quênia: 30,61%
Ucrânia: 29,02%

Ibovespa: 77ª (maior alta – maior baixa)
Altas: 41/100

Maiores altas (12 meses)
Bangladesh: 137,46%
Mongólia: 102,19%
Sri Lanka: 91,21%
Estônia: 73,90%
Lituânia: 73,72%

Ibovespa: 45º (Maior Alta – Maior Baixa)
Altas: 71/99

Maiores altas (Dez/05)
Mongólia: 827,25%
Malawi: 433,80%
Bangladesh: 267,19%
Tunísia: 208,64%
Venezuela: 204,69%

Ibovespa: 16ª maior alta
Altas: 51/92

Maiores baixas (mês)
Ucrânia: -26,98%
Cazaquistão: -19,24%
Grécia: -17,07%
Chipre: -16,46%
Romênia: -13,84%

Maiores baixas (ano)
Bermudas: -34,20%
Grécia: -29,38%
Chipre: -28,47%
Montenegro: -23,42%
Espanha: -22,15%

Maiores baixas (12 meses)
Bermudas: -41,97%
Eslováquia: -39,69%
Montenegro: -35,79%
Grécia: -33,37%
Chipre: -31,17%

Maiores baixas (5 anos)
Islândia: -89,38%
Emirados Árabes: -78,31%
Bermudas: -64,89%
Irlanda: -59,97%
Grécia: -57,61%

Maiores sequências:
Altas: Irã (5 meses)
Baixas: Ilhas Fiji (11 meses)

Desvio-padrão (mensal)
S&P 500: 4,73%
Brasil: 7,03%
Rússia: 11,45%
Índia: 8,60%
China: 10,54%

PIGS

País; Retorno 5 anos; Retorno 2010; Retorno mês; Desvio-padrão 60 meses
Portugal; -17,95%; -16,44%; -4,54%; 5,86%
Irlanda; -59,97%; -0,92%; -13,23%; 7,51%
Grécia; -57,61%; -29,39%; -17,07%; N/D
Espanha; -16,40%; -22,15%; -11,05%; 5,59%

Zimbábue
O formidável adversário da Seleção Brasileira desta quarta-feira também tem bolsa de valores e tem índice acionário, incluído neste mês em minha base de dados (junto com Gana). O índice industrial do Zimbábue está caindo 13,43 nesse ano. Os números não são influenciados pela inflação, pelo que pude perceber, já que o índice deve estar em dólares. Digo deve porque o site da bolsa de lá tem pouquíssimas informações, mas deve ser, já que a capitalização de mercado em dólares caiu em porcentual semelhante.