Comparing the traits of Stock Market Investors and Gamblers
Janice W. Jadlow e John C. Mowen
Journal of Behavioral Finance. Volume 11. Ed. 2 2010
O artigo procura determinar os traços de personalidade que diferenciam investidores e apostadores no mercado acionário.Primeiros, os autores apontam as diferenças entre investimento e aposta. Graham e Dodd no Security Analysis estabelecem que investimento “promete segurança de principal e um retorno satisfatório”, enquanto que a especulação não o faz. Investimento depende de análise e aposta apenas na sorte. Investir é a tomada de riscos disciplinada direcionada para investimentos produtivos e aposta é a tomada de risco apenas pelo prazer. Por fim, apostas possuem um valor esperado negativo ou abaixo de uma taxa livre de risco, enquanto que investimentos rendem essa taxa livre de risco ou espera-se que rendam mais (no caso de investimentos de maior risco como ações). Por essa definição, incluem-se como aposta as loterias (que possuem valor esperado negativo), ações-loterias e títulos de capitalização. Isso levaria a indicar que investidores são avessos a risco e exigem um prêmio por risco para tomarem risco e os apostadores gostam do risco pelo risco e aceitam uma taxa de retorno esperada menor.
Mas essa é a diferença entre investimento e aposta. O que o artigo procura são os fatores determinantes para diferenciar um apostador de um investidor em ações (ou apenas “investidor”). Os autores escolheram 17 traços de personalidade e procuraram determinar quais diferem um investidor de um apostador. Os pesquisadores realizaram pesquisas com mais de mil respondentes americanos, fazendo perguntas relacionadas com os traços de personalidade e a propensão de investir e de apostar.
Foram feitas diversas hipóteses e confirmadas as seguintes relações por meio de testes estatísticos:
Traço; Relação; Investimento/Aposta
Necessidade de Excitação; Positiva; Aposta
Instabilidade Emocional; Negativa; Investimento
Afabilidade; Negativa; Investimento
Necessidades materiais (desejo de ganhar dinheiro); Positiva; Aposta
Necessidades materiais; Positiva; Investimento
Competitividade; Positiva; Aposta
Competitividade; Positiva; Investimento
Impulsividade; Positiva; Aposta
Imediatismo; Positiva; Aposta
Imediatismo; Negativa; Investimento
Superstição; Positiva; Aposta
Superstição; Positiva; Investimento
Conservadorismo Financeiro; Negativa; Aposta
Conservadorismo Financeiro; Negativa; Investimento
Talentos Matemáticos; Positiva; Aposta
Talentos Matemáticos; Positiva; Investimento
Relação positiva significa que o traço leva a pessoa a investir ou apostar mais, e relação negativa que a pessoa investe ou aposta menos. Pessoas mais imediatistas apostam mais e investem menos, por exemplo.
E as hipóteses descartadas, sem que fosse encontrada qualquer relação positiva ou negativa:
Necessidade de Excitação; Positiva; Investimento
Instabilidade Emocional; Positiva; Aposta
Extroversão; Positiva; Investimento
Necessidade de aprendizado; Positiva; Investimento
Outras análises incluem variáveis demográficas. Constatou-se que homens, pessoas mais jovens e de menor nível educacional são mais propensos a apostar. Idade e educação estão positivamente relacionados com investimentos.
Por meio de métodos estatísticos, os autores separaram os respondentes em quatro grupos. O contraste é reforçado entre os dois primeiros e entre os dois últimos.
Cautelosos Financeiramente: Não investem nem apostam muito. São pouco impulsivos, materialistas, competitivos e supersticiosos. Também não possuem grande necessidade de aprender, não são bons com números e são financeiramente conservadores. São 38% dos respondentes e a maior parte é mulher.
Tomadores de risco: Apostam e investem muito. Possuem grande necessidade de excitação, são impulsivos e materialistas. São 22% dos respondentes e geralmente jovens.
Jogadores: Apostam muito e investem pouco. São orientados para o curto prazo, impulsivos e instáveis emocionalmente. São 24% do total e possuem traços semelhantes com compradores compulsivos, altamente endividados, de acordo com outros estudos.
Investidores em ações: Investem muito e apostam pouco. São orientados para o longo prazo e possuem grande desejo de aprender. São 16% do total.
Com base nessa análise, os autores sugerem algumas aplicações práticas dos resultados empíricos da pesquisa:
Para tentar convencer o grupo de “Cautelosos Financeiramente” a investir mais em ações, não se deveria utilizar muito de números, nem de argumentos muito sofisticados ou apelar tanto para o aumento de ganhos. Mostrar que investir em ações esteja de acordo com conservadorismo financeiro, que faz parte de uma poupança segura, talvez como uma proteção contra inflação, possa atrair esse público.
As evidências mostraram que apostadores possuem boa familiaridade com números. Quem deseja desincentivar as apostas pode mostrar matematicamente que essa não é uma boa maneira de ganhar dinheiro (apesar de desejar excitação e de serem impulsivos, apostadores querem ganhar dinheiro tanto quanto investidores).
Os principais fatores que diferenciam os grupos “Investidores em ações” e “jogadores” são que investidores são menos imediatistas, menos impulsivos e menos supersticiosos. Se alguém deseja se classificar como investidor e tem alguma dessas características, poderia pensar em trabalhar em cima disso.
Alguns tipos de empresas (corretoras, bancos, bancos de investimento etc.) poderiam utilizar as evidências sobre o perfil de “Tomadores de Risco” para evitar esse tipo de profissional, embora, façam o contrário, na prática. Um "tomador de risco", conforme o perfil traçado, que goste muito de apostar e de investir, pode tomar decisões que tragam prejuízo para a empresa, à lá Jérôme Kerviel. Um profissional de perfil "investidor em ação" pode ser preferível.
Notas Metodológicas
A análise de traços de personalidade é feita segundo o Modelo 3M (metatheoretic model of motivation). Pelo que pude entender do resumo dos autores, esse modelo separa os traços de personalidade em quatro níveis de abstração: elementar, composto, situacional e superficial.
O nível elementar é o nível mais básico, resultado da genética ou da história pessoal do indivíduo. Foram incluídos no estudo as variáveis: Abertura para experiência, conscienciosidade (tradução para conscientiousness. Significa cuidadoso, escrupuloso), extroversão, afabilidade (agreeableness), instabilidade emocional, necessidade de excitação, de recursos corporais e de recursos materiais (needs for arousal and body and material resources, três traços separados).
O segundo nível é o composto, traços duradouros oriundos da cultura e da sub-cultura e da combinação com traços elementares, traços que se manifestam em diversas situações. Quatro características foram utilizadas: competitividade, impulsividade, imediatismo (present-time orientation) e necessidade para aprendizado.
Em seguida, há os traços de situação, resultado dos dois níveis anteriores em um contexto geral. Foram utilizados: supertição, conservadorismo financeiro e talentos matemáticos (numerancy).
O último nível, superficial, trata de traços em um nível mais específico. Foram utilizadas variáveis sobre comportamentos (“eu gosto de investir/apostar”) e tendências comportamentais (“sempre que puder, comprarei/apostarei”).
Não sou psicólogo e dediquei tempo suficiente para que o benefício marginal de estudar o assunto igualasse o custo marginal em termos psicológicos e de tempo, portanto, não sei se a descrição é boa e duvido muito de algumas traduções terminológicas.
A pesquisa foi feita pela internet com 1.158 respondentes nos Estados Unidos. São questionários com perguntas com resposta dentro de uma escala para avaliar os 17 traços de personalidade descritos acima (essas perguntas são encontradas ao final do artigo). Apesar de ser perguntado a propensão a jogar ou investir como traços de personalidade, os pesquisadores perguntaram sobre se a pessoa realmente joga ou investe, encontrando elevada correlação entre propensão e atitude.
Foram utilizados dois métodos estatísticos: A Modelagem de Equações Estruturadas e correlações de duas variáveis (investir/apostar e o traço). Caso o resultado no primeiro método não seja o esperado, mas haja correlação estatisticamente significativa, uma terceira variável pode explicar essa correlação.
Hipóteses confirmadas são aquelas cujos resultados estão em linha com as hipóteses e também são estatisticamente significantes. As hipóteses descartadas o foram por falta de significância estatística.
A classificação em grupos foi feita por meio da Análise de Conglomerados.
OBS1: Algures, os autores afirmam que o mercado acionário é um jogo de soma zero. Não é.
OBS2: Os autores afirmam que o grupo de investidores em ação não são avessos a risco, já que há uma média baixa para a variável “Conservadorismo Financeiro”. Aversão a risco não requer que a pessoa seja conservadora financeiramente, apenas que deseja um prêmio por correr risco. Uma média baixa nessa variável indica que os investidores são pouco avessos a risco, não que não sejam (nem que sejam, as perguntas feitas não conseguem medir isso).
Janice W. Jadlow e John C. Mowen
Journal of Behavioral Finance. Volume 11. Ed. 2 2010
O artigo procura determinar os traços de personalidade que diferenciam investidores e apostadores no mercado acionário.Primeiros, os autores apontam as diferenças entre investimento e aposta. Graham e Dodd no Security Analysis estabelecem que investimento “promete segurança de principal e um retorno satisfatório”, enquanto que a especulação não o faz. Investimento depende de análise e aposta apenas na sorte. Investir é a tomada de riscos disciplinada direcionada para investimentos produtivos e aposta é a tomada de risco apenas pelo prazer. Por fim, apostas possuem um valor esperado negativo ou abaixo de uma taxa livre de risco, enquanto que investimentos rendem essa taxa livre de risco ou espera-se que rendam mais (no caso de investimentos de maior risco como ações). Por essa definição, incluem-se como aposta as loterias (que possuem valor esperado negativo), ações-loterias e títulos de capitalização. Isso levaria a indicar que investidores são avessos a risco e exigem um prêmio por risco para tomarem risco e os apostadores gostam do risco pelo risco e aceitam uma taxa de retorno esperada menor.
Mas essa é a diferença entre investimento e aposta. O que o artigo procura são os fatores determinantes para diferenciar um apostador de um investidor em ações (ou apenas “investidor”). Os autores escolheram 17 traços de personalidade e procuraram determinar quais diferem um investidor de um apostador. Os pesquisadores realizaram pesquisas com mais de mil respondentes americanos, fazendo perguntas relacionadas com os traços de personalidade e a propensão de investir e de apostar.
Foram feitas diversas hipóteses e confirmadas as seguintes relações por meio de testes estatísticos:
Traço; Relação; Investimento/Aposta
Necessidade de Excitação; Positiva; Aposta
Instabilidade Emocional; Negativa; Investimento
Afabilidade; Negativa; Investimento
Necessidades materiais (desejo de ganhar dinheiro); Positiva; Aposta
Necessidades materiais; Positiva; Investimento
Competitividade; Positiva; Aposta
Competitividade; Positiva; Investimento
Impulsividade; Positiva; Aposta
Imediatismo; Positiva; Aposta
Imediatismo; Negativa; Investimento
Superstição; Positiva; Aposta
Superstição; Positiva; Investimento
Conservadorismo Financeiro; Negativa; Aposta
Conservadorismo Financeiro; Negativa; Investimento
Talentos Matemáticos; Positiva; Aposta
Talentos Matemáticos; Positiva; Investimento
Relação positiva significa que o traço leva a pessoa a investir ou apostar mais, e relação negativa que a pessoa investe ou aposta menos. Pessoas mais imediatistas apostam mais e investem menos, por exemplo.
E as hipóteses descartadas, sem que fosse encontrada qualquer relação positiva ou negativa:
Necessidade de Excitação; Positiva; Investimento
Instabilidade Emocional; Positiva; Aposta
Extroversão; Positiva; Investimento
Necessidade de aprendizado; Positiva; Investimento
Outras análises incluem variáveis demográficas. Constatou-se que homens, pessoas mais jovens e de menor nível educacional são mais propensos a apostar. Idade e educação estão positivamente relacionados com investimentos.
Por meio de métodos estatísticos, os autores separaram os respondentes em quatro grupos. O contraste é reforçado entre os dois primeiros e entre os dois últimos.
Cautelosos Financeiramente: Não investem nem apostam muito. São pouco impulsivos, materialistas, competitivos e supersticiosos. Também não possuem grande necessidade de aprender, não são bons com números e são financeiramente conservadores. São 38% dos respondentes e a maior parte é mulher.
Tomadores de risco: Apostam e investem muito. Possuem grande necessidade de excitação, são impulsivos e materialistas. São 22% dos respondentes e geralmente jovens.
Jogadores: Apostam muito e investem pouco. São orientados para o curto prazo, impulsivos e instáveis emocionalmente. São 24% do total e possuem traços semelhantes com compradores compulsivos, altamente endividados, de acordo com outros estudos.
Investidores em ações: Investem muito e apostam pouco. São orientados para o longo prazo e possuem grande desejo de aprender. São 16% do total.
Com base nessa análise, os autores sugerem algumas aplicações práticas dos resultados empíricos da pesquisa:
Para tentar convencer o grupo de “Cautelosos Financeiramente” a investir mais em ações, não se deveria utilizar muito de números, nem de argumentos muito sofisticados ou apelar tanto para o aumento de ganhos. Mostrar que investir em ações esteja de acordo com conservadorismo financeiro, que faz parte de uma poupança segura, talvez como uma proteção contra inflação, possa atrair esse público.
As evidências mostraram que apostadores possuem boa familiaridade com números. Quem deseja desincentivar as apostas pode mostrar matematicamente que essa não é uma boa maneira de ganhar dinheiro (apesar de desejar excitação e de serem impulsivos, apostadores querem ganhar dinheiro tanto quanto investidores).
Os principais fatores que diferenciam os grupos “Investidores em ações” e “jogadores” são que investidores são menos imediatistas, menos impulsivos e menos supersticiosos. Se alguém deseja se classificar como investidor e tem alguma dessas características, poderia pensar em trabalhar em cima disso.
Alguns tipos de empresas (corretoras, bancos, bancos de investimento etc.) poderiam utilizar as evidências sobre o perfil de “Tomadores de Risco” para evitar esse tipo de profissional, embora, façam o contrário, na prática. Um "tomador de risco", conforme o perfil traçado, que goste muito de apostar e de investir, pode tomar decisões que tragam prejuízo para a empresa, à lá Jérôme Kerviel. Um profissional de perfil "investidor em ação" pode ser preferível.
Notas Metodológicas
A análise de traços de personalidade é feita segundo o Modelo 3M (metatheoretic model of motivation). Pelo que pude entender do resumo dos autores, esse modelo separa os traços de personalidade em quatro níveis de abstração: elementar, composto, situacional e superficial.
O nível elementar é o nível mais básico, resultado da genética ou da história pessoal do indivíduo. Foram incluídos no estudo as variáveis: Abertura para experiência, conscienciosidade (tradução para conscientiousness. Significa cuidadoso, escrupuloso), extroversão, afabilidade (agreeableness), instabilidade emocional, necessidade de excitação, de recursos corporais e de recursos materiais (needs for arousal and body and material resources, três traços separados).
O segundo nível é o composto, traços duradouros oriundos da cultura e da sub-cultura e da combinação com traços elementares, traços que se manifestam em diversas situações. Quatro características foram utilizadas: competitividade, impulsividade, imediatismo (present-time orientation) e necessidade para aprendizado.
Em seguida, há os traços de situação, resultado dos dois níveis anteriores em um contexto geral. Foram utilizados: supertição, conservadorismo financeiro e talentos matemáticos (numerancy).
O último nível, superficial, trata de traços em um nível mais específico. Foram utilizadas variáveis sobre comportamentos (“eu gosto de investir/apostar”) e tendências comportamentais (“sempre que puder, comprarei/apostarei”).
Não sou psicólogo e dediquei tempo suficiente para que o benefício marginal de estudar o assunto igualasse o custo marginal em termos psicológicos e de tempo, portanto, não sei se a descrição é boa e duvido muito de algumas traduções terminológicas.
A pesquisa foi feita pela internet com 1.158 respondentes nos Estados Unidos. São questionários com perguntas com resposta dentro de uma escala para avaliar os 17 traços de personalidade descritos acima (essas perguntas são encontradas ao final do artigo). Apesar de ser perguntado a propensão a jogar ou investir como traços de personalidade, os pesquisadores perguntaram sobre se a pessoa realmente joga ou investe, encontrando elevada correlação entre propensão e atitude.
Foram utilizados dois métodos estatísticos: A Modelagem de Equações Estruturadas e correlações de duas variáveis (investir/apostar e o traço). Caso o resultado no primeiro método não seja o esperado, mas haja correlação estatisticamente significativa, uma terceira variável pode explicar essa correlação.
Hipóteses confirmadas são aquelas cujos resultados estão em linha com as hipóteses e também são estatisticamente significantes. As hipóteses descartadas o foram por falta de significância estatística.
A classificação em grupos foi feita por meio da Análise de Conglomerados.
OBS1: Algures, os autores afirmam que o mercado acionário é um jogo de soma zero. Não é.
OBS2: Os autores afirmam que o grupo de investidores em ação não são avessos a risco, já que há uma média baixa para a variável “Conservadorismo Financeiro”. Aversão a risco não requer que a pessoa seja conservadora financeiramente, apenas que deseja um prêmio por correr risco. Uma média baixa nessa variável indica que os investidores são pouco avessos a risco, não que não sejam (nem que sejam, as perguntas feitas não conseguem medir isso).
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