Será que a publicidade voltada para o consumidor pode afetar a maneira como os investidores analisam a empresa e afetar o retorno das ações? É o que o artigo de Dong Lou publicado na Review of Financial Studies procura examinar.
O escopo do estudo parte da variação nos gastos em
publicidade e segue com o efeito de maiores gastos no retorno das ações (curto
e longo prazo) e também no comportamento da empresa e de seus agentes internos.
Faz sentido que possa haver um efeito no mercado na presença de investidores
com atenção limitada, o que foi analisado anteriormente por Barber e Odean
(2008). A publicidade tornaria a empresa não apenas mais visível para os
consumidores, mas também para os investidores, analistas e gestores.
O período de análise é entre 1974 e 2010,
utilizando como base de dados a CRSP para o preço das ações e a Compustat e a
Thomson para outras informações. O gasto médio em publicidade foi de US$ 42
milhões, o que significa pouco menos de 5% das vendas anuais e dos ativos
totais, com crescimento anual médio de 27,56%.
O autor classifica as ações de acordo com as
mudanças percentuais nos gastos com publicidade, excluindo ações cotadas a
preços inferiores a US$ 5 e as empresas que gastaram menos de US$ 100 mil. Com
isso, cria dez carteiras de acordo com a classificação da ação em decis de
gastos com publicidade. As carteiras se mantêm por três anos (ano da formação
da carteira mais dois anos) e são rebalanceadas mensalmente para manter
proporções iguais. Os números mostram que no ano em que as carteiras são
criadas o retorno das carteiras do decil 10 são amplamente superiores aos
retornos do decil 1, ajustando ou não pelo risco. No entanto, nos dois anos
subsequentes esse padrão é revertido e as empresas que mais aumentaram seus
gastos em publicidade têm retornos das ações inferiores ao das que aumentaram
menos os gastos. Esses resultados se mantêm mesmo ajustando os gastos em publicidade
com a média da indústria ou analisando subperíodos. Dessa forma, no curto prazo
gastos maiores em publicidade geram um retorno anormal de ações, que é
posteriormente revertido nos dois anos seguintes. O retorno anormal de curto
prazo gira em torno de 1%, a reversão no ano 1 é de por volta de 0,5% e no ano
2 mais ou menos 0,8%.
Para isolar o efeito da variação nos gastos com
publicidade, o autor realiza uma regressão Fama-Macbeth. Os resultados mostram
que o aumento de um desvio-padrão nos gastos impacta negativamente os retornos
em 9,3 pontos-base nos anos 1 e 2 em uma regressão com controles adicionais. O
mesmo padrão se observa nos retornos ao redor do anúncio de resultados.
Na parte de interpretação dos resultados, seria
possível argumentar que o retorno de curto prazo se deve ao efeito sinalização
sobre as perspectivas futuras da empresa, porém, isso não explica a reversão
posterior. O autor dá mais força à interpretação da atenção do investidor
analisando como os gastos com publicidade afetam as ordens de compra e venda de
investidores pessoa física. Os resultados mostram que esses investidores são
compradores líquidos de ações que mais aumentam os gastos em publicidade, o
aumento de um desvio-padrão estando associado com um aumento de 3,4% nas
compras líquidas, não apenas no ano 0, mas também no 1 (os resultados para o
ano 2 não forma informados). Perceba que isso não estabelece necessariamente
uma relação de causalidade entre publicidade e retornos, apenas entre
publicidade e atenção do investidor pessoa física. Há também um aumento nas
vendas a descoberto das ações que aumentaram seus gastos com publicidade, o que
mostra que alguns investidores conseguem identificar o movimento e agem contra
ele.
Em análises adicionais, o autor determina que o
efeito é mais pronunciado para empresas que atuam com bens de consumo, que
possuem baixa cobertura de analistas, com mais investidores pessoa física (e
menos institucionais), com menor número de marcas (tornando mais fácil associar
o produto com a empresa) e empresas menores e que dependem de anúncios locais.
Se realmente anúncios publicitários podem
influenciar o retorno das ações, então a empresa ou seus agentes internos podem
se aproveitar dessa situação para obter algum tipo de ganho. A próxima análise
diz respeito à negociação de ações por parte de agentes internos em função de
mudanças de gastos em publicidade. Trata-se de insider trading, mas do tipo legalizado (nas formas e condições
previstas pela lei). Os resultados mostram que os gastos com publicidade sobem
no ano anterior e no mesmo ano de vendas significativas por parte de agentes
internos importantes na definição dos gastos com publicidade
(diretor-presidente, presidente do conselho, diretor de operações e outros). No
ano seguinte às vendas, os gastos tendem a ser reduzidos. Análises adicionais
mostram que o aumento nos gastos é maior quanto maior é a futura venda de
ações.
Duas explicações podem surgir: os agentes internos
vendem as ações simplesmente porque o momento é bom ou por conta de um
comportamento oportunista, sugerindo que gastaram em publicidade tendo em vista
vender as ações a preços mais elevados. A carência (vesting) das stock options pode ajudar a diferenciar
as duas hipóteses. Na análise dos autores, há uma relação entre haver carência
e haver a venda das ações, o que não é surpreendente, já que as stock options costumam ser exercidas
assim que possível. Mais importante, os autores utilizam uma regressão em dois
estágios, no primeiro analisando a probabilidade de evento em função da
carência e no segundo a relação dos gastos com publicidade e a venda dos
agentes, essa segunda variável vinda da primeira regressão, chegando a
resultados similares de uma regressão simples. Ou seja, há uma relação entre o
fim do período de carência, venda de ações e gastos com publicidades que dá
força à hipótese do comportamento oportunista.
Outra análise relaciona vendas futuras com o
aumento nos gastos com publicidade e a venda por parte de agentes internos. O
mais importante dessa análise é a interação entre as duas últimas variáveis,
que possui sinal negativo. Ou seja, as vendas futuras são menores quando há
venda de ações, indicando comportamento oportunista de agentes internos que se
antecipam a um crescimento de vendas baixo (ou negativo).
Uma análise adicional foca em agentes internos de
menor capacidade de influenciar os gastos com publicidade, mas que mesmo assim
são bem informados o suficiente para poderem identificar bons momentos de
venda, o que inclui o diretor-financeiro e tesoureiro. O resultado mostra que
não há relação entre venda de ações e mudanças nos gastos com publicidade
quando esses agentes são considerados. Outras análises indicam que os
resultados são mais pronunciados em empresas que atuam em um único segmento (e,
dessa forma, a decisão de publicidade é tomada em um nível hierárquico
superior) e em empresas “ditadura” (segundo o Índice
de Governança). O conjunto dessas análises indica que a venda das ações é
motivada por comportamento oportunista.
Por fim, é feita uma análise sobre o comportamento
da empresa em função dos gastos com publicidade, quais sejam, a emissão de
ações em ofertas subsequentes e aquisições por meio de troca de ações. Nos dois
casos, os gastos aumentam no mesmo ano e no ano anterior a esses eventos, o que
não ocorre com emissão de dívida ou aquisições realizadas em dinheiro.
Resumindo, gastos com publicidade afetam
positivamente o retorno de ações contemporaneamente e até um ano após e esse
efeito influencia as decisões da empresa e de seus agentes internos.
Dong
Lou.
Review
of Financial Studies. Volume 27. Ed. 1. 2014Fonte da imagem: Wikipédia
Quadro resumo das ideias principais do texto:
Nenhum comentário:
Postar um comentário