Os perigos de se olhar para trás quando deveríamos olhar para frente. Fonte da imagem: http://www.flickr.com/photos/33033965@N00/6089902717/ |
No
capítulo 3 do livro Expected Returns, Antti Ilmanen começa a analisar o retorno
dos ativos em uma perspectiva histórica, a primeira abordagem das que serão
discutidas no livro. A análise adota a janela de tempo 1990-2009, uma escolha
arbitrária de período, como qualquer outra. Toda análise histórica sofre de
problemas com a janela de tempo e qualquer conclusão que se tire pode ser
específica dessa amostra. E esses não são os únicos problemas: uma janela de
tempo dá apenas um ponto de dados, sendo necessário ao mínimo algumas dezenas
de observações para se poder fazer alguma inferência. Adotar uma janela de
tempo mais longa pode dar mais credibilidade para algumas séries, mas também
pode conter informações antigas e aplicáveis a outra realidade de mercado. Por
fim, os retornos não são exatos, já que é necessário considerar tributação e
custos de transação. Não obstante, esse é o ponto de partida de qualquer
análise, o que é até natural, mas não pode ser o ponto final também.
Mas
há uma razão para a escolha de 1990 como começo, que é a disponibilidade de
dados para a maioria dos ativos e estratégias que serão analisadas. Além de
calcular o retorno, Ilmanen calcula volatilidade, grau de liquidez (estimado
com subjetividade), correlação com ações e o índice de Sharpe.
Dentre
os principais resultados, em termos de retornos, o prêmio por risco de ações
americanas foi baixo, e negativo no caso de ações de países desenvolvidos (por
conta do Japão), mas o prêmio foi maior para ações de países em
desenvolvimento. Títulos corporativos de alta qualidade dos Estados Unidos
também superaram por muito pouco os títulos do tesouro americano. Foi muito bem
recompensado o risco de duração para o caso dos títulos públicos (T-Bill vs
T-Bond), assim investir em títulos governamentais de países emergentes.
Analisando estratégias, comprar ações de valor e vender as de crescimento em
uma seleção global gerou um bom retorno, assim como carry com moedas e momento, apesar dos resultados mudarem um pouco
após a crise de 2008.
Analisando
risco e retorno, colocando em um gráfico que relaciona volatilidade com
retornos, a linha de regressão tem coeficiente angular positivo, indicando que
há uma relação positiva entre risco e retorno comparando as classes, o que não
quer dizer que também haja dentro das classes. Uma das possibilidades é que
outro fator de risco influencie nesse resultado, como a liquidez. Em um gráfico
que relaciona o índice subjetivo de liquidez e o índice de Sharpe, há uma
relação positiva, o que mostra que ativos menos líquidos vão bem em momentos
bons e mal em momentos ruins, mas também é resultado do vieses na volatilidade
(como os ativos menos líquidos são menos negociados, a falta de negócios e
consequente falta de variação subestima a volatilidade).
Além
dessas considerações, o autor tentou ajustar a janela de tempo para verificar
como o resultado muda. Modificar o final (adotando ou 2007 ou 2008) resulta em
uma figura melhor terminando antes da crise (2007) e ainda pior em 2008
(pós-crise e pré-recuperação). Adotando um começo antes de 1990 (que tal 1900?)
muda a situação para favorecer as ações na comparação com títulos
governamentais, mas é óbvio que é mais importante evidência mais recente (mais
de acordo com a realidade atual) do que um passado distante (a conjuntura de
1900 pouco importa para os dias atuais).
Isso
leva a outro ponto, que são as “reprecificações” que mais se devem a mudanças
nas condições de mercado do que ao retorno dos ativos por conta de risco e
outros fatores. A queda nos juros aumentou o retorno dos títulos públicos em 1
ponto percentual por ano. Desconsiderando essa reprecificação, o retorno seria
mais modesto, 5,8% a.a. Isso é relevante porque, por exemplo, um investidor
brasileiro pode ter comprado um título que pagava 10% a.a., mas hoje a taxa é
bem menor e os retornos futuros serão mais parecidos com, digamos, 7% do que
10% para títulos de mesma duração, revelando o perigo de extrapolar retornos
passados para o futuro. O mesmo ocorreu com títulos de países emergentes, mas
com a queda no prêmio por risco de crédito. Algo parecido para ações seria a
relação Preço/Lucro, que saiu de 15 para 20 com queda nos rendimentos de
dividendos de 3% para 2%.
Outra
análise útil é verificar subperíodos. Com relação à análise inicial, ações em
países desenvolvidos foram bem nos períodos 1993-2000 e 2003-2007, mas sofreram
grandes perdas entre os dois períodos e após 2007.
Ilmanen
termina o terceiro capítulo escrevendo sobre indicadores antecedentes, como os
de valor e de carry, que procuram solucionar alguns problemas de se olhar para
indicadores passados. Mais importante, olhar para trás pode levar o investidor
para um mercado justamente quando o preço está elevado, fato que um indicador
antecedente pode detectar. O autor faz uma breve explicação sobre esses
indicadores, mas isso será descrito em maiores detalhes em um capítulo futuro,
mas esse último trecho ajuda a apontar as limitações de utilizar retornos
históricos.
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